Moshe Dayan
(
Degania Alef
,
20 de maio
de
1915
?
Tel Aviv
,
16 de outubro
de
1981
), foi um
militar
e
politico
israelense
(
portugues brasileiro
)
ou
israelita
(
portugues europeu
)
. Como comandante da frente de
Jerusalem
na
Guerra Arabe-Israelense de 1948
, Chefe do Estado-Maior das
Forcas de Defesa de Israel
(
1953
-
1958
) durante a
Crise de Suez
de
1956
, mas principalmente como Ministro da Defesa durante a
Guerra dos Seis Dias
em
1967
, tornou-se um simbolo da luta mundial do novo
Estado de Israel
.
[
1
]
[
2
]
Na
decada de 1930
, Dayan ingressou no
Haganah
, a forca de defesa pre-
Estado judaico
do
Mandato Britanico da Palestina
,
[
3
]
e serviu nos
Esquadroes Noturnos Especiais
sob
Orde Wingate
durante a
revolta arabe
na
Palestina
.
[
4
]
Como oficial da
Palmach
, perdeu um
olho
em uma incursao contra forcas de
Vichy
no
Libano
, durante a
Segunda Guerra Mundial
.
[
5
]
[
6
]
Deste
ferimento
veio o iconico
tapa-olho
pelo qual e conhecido.
[
7
]
[
8
]
Dayan era proximo de
David Ben-Gurion
e se juntou a ele ao deixar o partido
Mapai
e fundar o partido Rafi, em 1965, com
Shimon Peres
. Dayan tornou-se
Ministro da Defesa
pouco antes da
Guerra dos Seis Dias
de 1967. Na
Guerra do Yom Kippur
de 1973, o General Dayan serviu como Ministro da Defesa. Apesar da guerra terminar favoravelmente para
Israel
, e junto aos demais na alta lideranca, Dayan foi culpado pelo publico pela falta de preparacao do pais. Apesar de ser absolvido,
[
9
]
Dayan permaneceu sendo hostilizado pela midia e opiniao publica, renunciando depois de um certo tempo. Durante o primeiro ano de sua renuncia, Moshe Dayan escreveu suas
memorias
.
[
10
]
Em 1977, apos a eleicao de
Menachem Begin
como
primeiro-ministro
, Dayan foi expulso do
Partido Trabalhista
porque ingressou no governo liderado pelo
Likud
como ministro das
Relacoes Exteriores
, desempenhando um papel importante na negociacao do
tratado de paz entre o Egito e Israel
.
[
11
]
Moshe Dayan nasceu em
20 de maio
de
1915
, no
kibbutz
Degania
, proximo ao
Mar da Galileia
na
Palestina
, localizada na entao
Siria otomana
e que era parte do
Imperio Turco Otomano
. Moshe foi o
primogenito
de tres
filhos
de Shmuel e Devorah Dayan,
judeus
-
ucranianos
emigrados
do
Imperio Russo
. Dayan foi a segunda
crianca
nascida
em Degania, depois de Gideon Baratz (1913?1988).
[
12
]
[
13
]
[
14
]
O primeiro nome Moshe, significando
Moises
em
hebraico
, foi dado em
homenagem
a Moshe Barsky, um dos primeiros integrantes de Degania.
[
15
]
Em
novembro
de
1913
, o jovem de 18 anos Moshe Barsky foi ao assentamento vizinho de Menahamia, no
Vale do Jordao
, para comprar
medicamentos
para Shmuel Dayan.
[
16
]
[
17
]
No caminho de volta, ele foi
morto
por saqueadores arabes que queriam
roubar
a sua
mula
.
[
16
]
[
18
]
Esse tipo de
violencia
era tipico dos pequenos
conflitos
da Palestina da epoca, seguindo o antigo sistema onde os
beduinos
, que viviam nas
montanhas
e
desertos
, pilhavam os
agricultores
; fossem eles
judeus
ou
arabes
.
[
16
]
Seu
pai
, Shmuel Dayan, nasceu em
1890
de uma familia
hassidica
pobre
perto de
Kiev
.
[
19
]
Shmuel tinha pouco estudo e, aos 13 anos, foi trabalhar como
aprendiz
de
comerciante
e foi pego nos
pogrons
de
1905
;
[
20
]
os quais impulsionariam as migracoes da segunda
alia
. Esta nova rodada de massacres comecou no preludio da
Revolucao Russa de 1905
, com o pogrom em
Kishinev
em
abril
de
1903
e depois em Homel em
setembro
.
[
21
]
Em
outubro
de 1905, no auge do fervor revolucionario, aproximadamente 690 pogrons separados foram registrados, principalmente na
Ucrania
;
[
21
]
com um total de 876 judeus massacrados.
[
21
]
Em
1908
, Shmuel e sua irma se mudaram para a Palestina seguindo o ideal
sionista
.
[
22
]
Ele passou os proximos tres anos mudando de um assentamento para outro, primeiro realizando trabalhos manuais e depois trabalhando como
seguranca
.
[
22
]
Em
1911
, Shmuel fundou o assentamento de Degania, o primeiro
kibbutz
.
[
23
]
[
24
]
As terras onde fora construido foram compradas do proprietario
persa
Majid a-Din, que nao morava ali, com fundos da Associacao de Colonizacao Judaica; a qual tambem forneceu aos colonos animais de criacao, equipamento e
credito
para ajuda-los ate a colheita das primeiras safras. Degania tinha uma populacao inicial de 14 pessoas, com doze
homens
e duas
mulheres
.
[
25
]
Todos eram
jovens
recem-chegados do
Leste Europeu
e totalmente despossuidos.
[
25
]
O
idioma
comum em Degania era o
iidiche
, a
lingua franca
dos judeus na regiao, e o
russo
.
[
25
]
A
mae
de Moshe Dayan, Dvora Zatulovsky, tambem nasceu no ano de 1890 na Ucrania, de uma familia de
ricos
comerciantes e teve boa escolaridade.
[
22
]
Dvora foi aluna da
Universidade de Sao Petesburgo
numa epoca em que era incomum que mulheres recebessem
educacao
.
[
22
]
Assim como muitos jovens russos de
classe alta
da epoca, ela foi influenciada pelos
ideais
socialistas
e por seu principal representante, o
escritor
Leon Tolstoi
.
[
22
]
Em
1910
, esteve presente no seu
velorio
entre a
multidao
chorando e tentando tocar em seu
corpo
.
[
22
]
Sob a influencia de Tolstoi, planejou dedicar sua vida a ajudar "o povo" a sair do atraso em que vivia. Durante a
Guerra dos Balcas
em
1911
, Dvora serviu como
enfermeira
voluntaria.
[
26
]
Depois tentou trabalhar como
assistente social
em
Kiev
, mas descobriu que o povo que tentava ajudar era profundamente
anti-semita
e nao tinha interesse em jovens
intelectuais
judias. Mantendo seus ideias apesar das frustracoes, emigrou em
1913
para a Palestina otomana.
[
27
]
Ela recebera uma carta de apresentacao enderecada a alguem em Degania e se apresentou no kibbutz. Dvora era delicada e sem experiencia agricola e no inicio os membros do kibbutz (
kibbutzniks
) nao a queriam;
[
27
]
mas no outono de
1914
ela se casou com Shmuel e se tornou um membro mesmo assim.
[
27
]
Shmuel viajava muito pela
Europa
e
Estados Unidos
e deixava Dvora sozinha com os filhos.
[
27
]
A partir da
decada de 1920
, ela publicou regularmente artigos em
jornal
, os quais tiveram muito sucesso na epoca ao mostrar imagens da vida simples no vilarejo de
Nahalal
.
[
15
]
Um dos seus temas favoritos era a posicao das
mulheres
nessa nova
sociedade
desbravadora agraria.
[
15
]
A ideia de independencia e forca femininas provaram-se uma
ilusao
- como a propria Dvora acabou reconhecendo - pois quanto melhor estabelecido o vilarejo, mais as mulheres tendiam a retomar suas tarefas tradicionais dentro da
familia
.
[
15
]
Dvora era uma
intelectual
e sempre pedia que Shmuel lhe enviasse
livros
.
[
15
]
No sistema
socialista
do
kibbutz
, o novo judeu seria uma pessoa totalmente dedicada ao trabalho agrario, mas Dvora acreditava na importancia da educacao intelectual alem do trabalho fisico, e incutiu nos seus filhos o amor pela
leitura
. Ela, Moshe e a filha competiam entre si para ver quem conhecia melhor
Tolstoi
ou
Dostoievski
. Eles eram tao familiarizados com seus
poetas
preferidos que conseguiam localizar
versos
isolados e cita-los de cor.
[
15
]
Aos 14 anos de idade Moshe Dayan iniciou sua carreira militar na
Hagana
, a forca de autodefesa
sionista
. Na
primavera
de
1937
, durante a
Grande Revolta Arabe
, ele se juntou a
Policia Supranumeraria
, a forca auxiliar judaica organizada pelos
britanicos
.
[
28
]
"
Orgulhoso
" do seu
soldo
de oito
libras esterlinas
por mes, foi encarregado de seis homens e uma
picape
.
[
28
]
Aos 21 anos, o jovem comandante de
pelotao
patrulhava as estradas
poeirentas
em volta de
Nahalal
durante o dia e realizava
emboscadas
contra infiltradores arabes a noite.
[
29
]
A patrulha motorizada de Dayan ("MAN") era famosa na regiao, com uma
musica
em sua homenagem dizendo "A picape esta circulando, a picape esta aqui".
[
29
]
No
outono
de 1937 houve uma calmaria na insurgencia e Moshe foi mandado para um curso de
sargentos
do
Exercito Britanico
, o qual foi ministrado em
ingles
.
[
29
]
Dayan achou tudo "limpinho demais" e sentiu uma antipatia imediata.
[
29
]
Ele qualificou as tecnicas como necessarias aos
britanicos
no comando do
Imperio
, mas inadequadas a
guerra irregular
da
Palestina
.
[
29
]
A este treinamento seguiu-se um curso de
comandante
de
pelotao
ministrado pelo
Hagana
, em
hebraico
, com duracao de seis
semanas
.
[
29
]
Este treinamento era mais adequado a "guerra suja" da regiao, e nele, Moshe Dayan foi ensinado tecnicas de
infantaria
: aprendeu o que vestir quando saisse em campanha, a escolher e explorar uma boa posicao, a avancar sem ser notado pelo inimigo, a arrombar uma cerca de perimetro, a atirar com armas portateis e a lancar
granadas
.
[
29
]
Destacou-se por seu
condicionamento fisico
- seus
bracos
eram incrivelmente fortes por anos de trabalho agrario no
kibbutz
e no
moshav
- e por suas solucoes "pouco ortodoxas" e altamente agressivas para problemas taticos.
[
30
]
O que mais gostava de fazer era servir na equipe "vermelha", a forca oponente que representava os inimigos arabes. Uma vez nesta funcao, recrutou alguns camaradas e se infiltrou numa base, que era supostamente muito bem vigiada. Os guardas nao foram avisados do exercicio e teriam atirado nos instruendos se os tivesse descoberto.
[
4
]
O
Capitao
Orde Wingate
, "O Terror do Sudao", que era considerado um
genio
por Moshe Dayan,
[
4
]
criou uma
forca especial
de contra-
guerrilha
cuja missao era erradicar o
terrorismo
arabe na parte norte da
Palestina britanica
.
[
4
]
Essa unidade movel de uma centena de homens chamou-se
Esquadroes Noturnos Especiais
(SNS). Durante o verao de
1938
, Orde Wingate chamou Moshe Dayan pois os SNS precisavam de guias locais, e a experiencia de Dayan nas patrulhas em
Nahalal
eram reconhecidas.
[
4
]
Pelos proximos meses, os SNS circularam por
Esdraelon
e pela baixa
Galileia
, atacando os arabes com eficiencia impiedosa. Wingate era um homem culto e experiente; ao contrario da maioria dos oficiais britanicos, falava
hebraico
e
arabe
. A sua sofisticacao era acompanhada da
excentricidade
, a maior delas o habito de ficar totalmente pelado entre operacoes com um
colar
pendendo uma
cebola
, a qual mordia como um lanche enquanto falava.
[
31
]
Em outras ocasioes, saia do
chuveiro
totalmente nu, usando apenas uma touca de banho, e dava ordens aos recrutas enquanto se esfregava com a escova de banho.
[
31
]
Seus multiplos interesses incluia a
musica
e o
misticismo judaico
, o que o tornava um inveterado
sionista
. Ele acreditava que a restauracao do sionismo era o cumprimento da promessa biblica e era conhecido pela lideranca sionista como "O Amigo".
[
4
]
Os homens sob o seu comando o consideravam brilhante, e Moshe Dayan aprendeu muito com ele. Foi com Wingate que Moshe Dayan aprendeu que o comandante
motiva
seus homens seguindo sempre a frente e que os
recompensa
depois de um arduo dia de trabalho.
[
32
]
Tambem aprendeu a escolher o melhor local para uma
emboscada
e a surpreender o inimigo com truques, como colocar as lanternas caseiras na frente do carro.
[
33
]
Quando
forcas paramilitares
judaicas foram declaradas ilegais pelos britanicos em
1939
, Dayan e outros elementos judeus foram presos durante 1 ano e tres meses pelas autoridades britanicas. Em
1941
, ja durante a
Segunda Guerra Mundial
, o
Hagana
formou unidades especiais chamadas Palmach -
Plugot Ma?atz
, companhias de assalto - armadas pelos britanicos e criadas para apoiar o esforco de guerra atuando na retaguarda do
Eixo
, sob o comando de
Yitzhak Sadeh
. Nessa epoca, a prioridade britanica na Palestina era a invasao do
Levante frances
sob o governo colaboracionista de
Vichy
; os britanicos novamente precisavam de guias experientes e ex-operadores SNS se faziam necessarios.
[
34
]
Moshe Dayan organizou e treinou uma unidade de 30 homens escolhida a dedo,
[
35
]
entre eles um jovem de 19 anos chamado
Yitzhak Rabin
,
[
35
]
para missoes de reconhecimento e vigilancia atras das linhas inimigas vestindo roupas tradicionais arabes. Acompanhado de um guia arabe, Rachid, Moshe Dayan passou dez dias e dez noites reconhecendo
estradas
e
pontes
no territorio libanes.
[
36
]
Um dia antes da
invasao britanica
, Dayan cruzou a fronteira com o Libano com uma forca de 5 homens do Hagana, 10 soldados
australianos
e Rachid na noite do dia
6
para o
7 de junho
de 1941.
[
36
]
Sua missao era tomar duas pequenas pontes sobre o
rio Litani
na estrada para
Beirute
e impedir que os franceses as explodissem.
[
36
]
Encontrando as pontes desertas e sem quaisquer preparativos para
demolicao
, a equipe incursora ficou "deslumbrada" com o seu sucesso mas logo souberam que os franceses os bloqueavam pela estrada mais ao sul.
[
36
]
Estando em um
vale
e com o risco do raiar do dia, encontravam-se numa posicao vulneravel. Rachid, o guia arabe, sugeriu que tomassem um posto policial proximo por ser a melhor posicao defensiva.
[
36
]
Coberto pelo restante dos homens, Moshe Dayan foi a frente lancando duas
granadas-de-mao
e silenciou a
metralhadora
que protegia o predio.
[
36
]
Ocupando o posto, Dayan e os demais se postaram no telhado e assestaram uma metralhadora capturada.
[
36
]
Logo ficaram sob fogo dos franceses e enquanto Dayan tentava encontrar a origem dos tiros, uma
bala
atingiu o seu
binoculo
, destruindo-o.
[
37
]
Estilhacos entraram no seu
olho
esquerdo, na base do
nariz
e na
mao
. Com o que foi descrito pelo historiador
Martin Van Creveld
como "um estoicismo espantoso", Dayan nao gritou ou chorou, mas simplesmente deitou e esperou ate poder ser evacuado;
[
37
]
o que so aconteceu seis horas depois. Dayan ainda teve que esperar horas descendo pelas "torturantes" estradas libanesas ate chegar ao
hospital
em
Haifa
.
[
37
]
O ferimento no olho era muito grave e levou meses para cicatrizar, o dano aos
musculos extraoculares
foi tal que varias tentativas de colocar um
olho de vidro
fracassaram e Dayan foi obrigado a adotar o
tapa-olho
preto
, que se tornou sua marca registrada.
[
7
]
[
38
]
Moshe Dayan odiou o tapa-olho no inicio, tirando-o assim que chegou em casa.
[
7
]
Segundo escreveu em suas
memorias
, a atencao que o objeto provocava lhe era intoleravel:
[
38
]
“Eu estava pronto para fazer qualquer esforco e suportar qualquer sofrimento, se ao menos pudesse me livrar do meu tapa-olho preto. A atencao que atraia era intoleravel pra mim. Eu preferia me fechar em casa, fazendo qualquer coisa, a enfrentar as reacoes das pessoas onde quer que eu fosse.”
Depois da fama, uma decada depois, Dayan foi presenteado com varios tapa-olhos por seus admiradores ao redor do mundo; formando uma grande colecao.
[
7
]
Pelo menos um modelo que ele recebeu era coberto de
ouro
, com uma
Estrela de Davi
gravada.
[
7
]
Alem da perda do olho esquerdo, o ferimento lhe ocasionava dores de cabeca intermitentes, o que tornava ler qualquer coisa muito dificil.
[
7
]
Apesar de conseguir dirigir e ate mesmo atravessar grandes distancias a pe a noite, Dayan sofria de insonia.
[
7
]
Isso lhe causava mau humor e introversao, que cresceram com o tempo.
[
7
]
[
39
]
Moshe Dayan chegou a passar por uma cirurgia ocular em
Paris
, mas a operacao se provou um insucesso.
[
38
]
“
|
Quando entro em guerra, estou absolutamente convencido de que vou ganhar e sair ileso. Sem isso, voce perde
|
”
|
Em 1947, Dayan foi nomeado para o
Estado-Maior
do
Hagana
, trabalhando no setor de "assuntos arabes", codigo para estabelecimento de
redes de inteligencia
.
[
40
]
Isto era feito recrutando agentes para obter informacoes sobre forcas arabes irregulares na Palestina.
[
40
]
[
41
]
Comecando uma rede de colaboradores em
Nahalal
, a sua rede se expandiu pelo pais. No fim do ano, Dayan se envolveu no treinamento de
comandos
que infiltrar-se-iam na Siria para coletar informacoes de inteligencia e estabelecer contatos onde possivel. No inicio de 1948, na vespera da guerra, participou de varias reunioes do Hagana, para decidir o destino de diversas areas habitadas por arabes. Em abril, um
batalhao
druso
veio de Siria para ajudar os arabes palestinos, e Moshe Dayan ajudou a
subornar
seus
oficiais
para que o batalhao mudasse de lado; sendo provavel que essa manobra tenha ligacao com as conexoes feitas anteriormente.
[
40
]
No mesmo mes, atuou na obtencao da rendicao da cidade portuaria de
Acre
, a primeira cidade arabe a ser ocupada pelo Hagana sem que a populacao arabe fugisse em massa.
[
40
]
Em meio a todos estes acontecimentos, Moshe Dayan teve que lidar com uma tragedia pessoal.
Em
14 de abril
de
1948
, seu irmao, Zorik, foi
morto em combate
aos 22 anos nas proximidades de
Nahalal
:
[
40
]
"Ele era alto, loiro e bonito, e seu corpo foi deixado ao sol por varios dias antes de ser resgatado. Moshe foi convocado e o identificou por uma
cicatriz
no pulso. Foi uma das poucas vezes em que o intocavel e auto-suficiente Dayan teve de pedir apoio emocional."
- Martin Van Creveld,
Moshe Dayan: Uma Biografia
, pg. 60.
Em 22 de abril, Dayan foi encarregado de uma propriedade arabe abandonada na recem-conquistada
Haifa
. Para acabar com a
pilhagem
descontrolada, ele ordenou que qualquer coisa que pudesse ser usada pelo exercito fosse armazenada em armazens do Hagana e o restante distribuido entre assentamentos agricolas judeus. A fuga em massa das populacoes arabes liquidou as redes de inteligencia de Dayan e ele ficou sem funcao por um curto periodo.
[
42
]
Em
14 de maio
de
1948
, o
primeiro-ministro
David Ben-Gurion
declarou a criacao do Estado de Israel
e no dia seguinte o pais foi invadido pelos exercitos arabes do
Egito
,
Transjordania
,
Siria
,
Libano
e
Iraque
.
[
42
]
O ataque arabe foi aberto pelo Egito na manha de 15 de maio, quando avioes bombardearam
Tel Aviv
.
[
43
]
Apenas algumas horas mais tarde, a Siria invadiu o norte de Israel com tres
batalhoes
de
infantaria
, um batalhao de
carros blindados
, uma
companhia
de tanques franceses
Renault R35
e um
regimento
de
artilharia
.
[
44
]
Esta forca, a 1ª Brigada, avancou pelo sul do
Mar da Galileia
e se entrincheirou diante do assentamento de
Samakh
, como preludio a um ataque. Este avanco no
Vale do Jordao
pegou os israelense completamente de surpresa, pois esperavam o ataque mais ao norte.
[
45
]
[
46
]
O Hagana contava apenas com um batalhao de 400 soldados da Brigada Golani, e um punhado de
fazendeiros
armados.
[
45
]
O kibbutz
Degania A
, vendo o perigo, enviou uma delegacao de tres homens para
Tel Aviv
para pedir ajuda.
[
45
]
Durante a noite de 15 para 16 de maio, os sirios lancaram um ataque inicial com infantaria apoiada por carros blindados e a companhia de tanques Renault.
[
46
]
A infantaria e os blindados avancaram de forma descoordenada, os israelenses detectaram o flanqueamento da infantaria pelo sul e os bloquearam. Os sirios recuaram para se reagrupar.
[
46
]
O
Hagana
ainda estava no processo de sair da clandestinidade para um exercito convencional, havia sido sangrado na
guerra comunal de 1947-48
, e o ataque simultaneo fez com que todos os comandos de setor gritassem por socorro a Tel Aviv. O exercito israelense nao poderia estar em todo lugar e Ben-Gurion disse a delegacao que nao havia reforco possivel e, nesse momento, o veterano da Degania A, Ben-Zion Ysraeli, desmoronou e chorou inconsolavel.
[
45
]
Em um clima de desespero, em
17 de maio
, o entao
Major
Moshe Dayan - "na falta de uma alternativa melhor"
[
42
]
- foi designado comandante da defesa das Deganias.
Enquanto isso, os kibutzim das Deganias A e B tentaram criar a impressao de que estavam sendo amplamente reforcados.
[
45
]
A noite, eles repetidamente dirigiram seus veiculos nas encostas das montanhas a oeste do Vale do Jordao, desligando os farois na descida de volta para voltarem com eles acesos. Alem disso, usaram
motores
de
trator
para imitar o som de tanques.
[
45
]
Tais artificios nao impressionaram os sirios, e nas primeiras horas da manha de 18 de maio, Samakh foi macetada por uma concentracao de
artilharia
. As
trincheiras
israelenses improvisadas eram muito rasas e os sobreviventes da saraivada tiveram que fugir enquanto os tanques sirios avancavam acompanhando a barragem de artilharia.
[
45
]
Os sirios haviam pre-registrado as missoes de fogo da artilharia durante os dois dias precedentes, e o voleio inicial foi muito preciso.
[
47
]
Os tanques Renault R35 se moveram pelo sul da cidade e os israelenses nao puderam conte-los, estando armados apenas com dois canhoes antiaereos de 20mm. O fogo dos obuseiros de 75mm e morteiros de 81mm foi preciso e mortifero.
[
48
]
Os defensores fugiram em confusao para a Degania A, deixando feridos e moribundos nos escombros do assentamento, enquanto eram perseguidos pela artilharia siria.
[
48
]
Os israelenses entao tentaram segurar o avanco sirio em um forte policial, os quais eram os pontos mais fortificados na Palestina, mas a concentracao de poder de fogo dos sirios os sobrepujou e o forte foi tomado ao meio-dia.
[
48
]
Os israelenses perderam 54 combatentes e tiveram tres capturados; a maioria deles kibbutzniks do Vale do Jordao.
[
48
]
A situacao era desesperadora e os assentamentos vizinhos de Shaar Hagolan e Masada foram abandonados sem ordens.
Mulheres
e
criancas
foram evacuadas das Deganias.
[
48
]
Com a queda de
Samakh
(hoje Zemach), os israelenses perceberam que enfrentavam uma ameaca seria ao sul do
Mar da Galileia
, e comecaram a trazer reforcos improvisados de todo o leste da Galileia e os enviaram para as Deganias. Moshe Dayan assumiu o comando e tentou um contra-ataque a Samakh com a companhia da Brigada Yiftach que trouxe de Tel Aviv, composta de jovens de 16 e 17 anos de idade, mas os sirios lutaram com firmeza e repeliram os israelenses.
[
47
]
[
48
]
A companhia relatou que se deparou com "dezenas de
cadaveres
" de judeus mortos no ataque sirio ao assentamento.
[
48
]
Naquela mesma
noite
, um pelotao do
kibutz
'Ein-Gev vindo pelo mar e desembarcando em Samra, ao sul, realizou uma incursao contra a concentracao siria em Tel al-Qasir.
[
49
]
Apesar de mal-sucedida, a incursao atrasou os sirios em 24 horas, dando mais tempo para os defensores melhorarem suas defesas. Ainda naquela noite, outra companhia da Brigada Yiftach cruzou o
Jordao
e atacou o acampamento sirio na
alfandega
proxima a Ponte B'nat Ya'cov. A incursao foi um completo sucesso.
[
50
]
Os defensores sirios - uma ou duas
companhias
- foram pegos completamente de surpresa e fugiram apos um breve tiroteio. Os palmachniks, sem quaisquer perdas, destruiram o acampamento e alguns veiculos, incluindo dois
carros blindados
.
[
50
]
O moral israelense, no entanto, continuava extremamente baixo devido as vitorias sirias e a presenca de
tanques
inimigos.
[
50
]
No dia
20 de maio
, os sirios atacaram as duas Deganias.
[
47
]
Os defensores israelenses eram em sua maioria habitantes dos kibutz, reforcados por efetivos do
Hagana
e
Palmach
; cerca de 70 na
Degania Alef
e 80 na
Degania Bet
.
[
50
]
Os defensores foram ordenados a lutar e morrer onde estavam, nao haveria retirada.
[
50
]
Os 70 defensores da Degania A foram confrontados com 5 tanques Renault R35, carros blindados, uma companhia de infantaria e um batalhao de artilharia; seu armamento pesado se resumia a um PIAT, um canhao AAe 20mm e um
morteiro
de 81mm. Os blindados lideraram o assalto com a infantaria seguindo atras, sendo apoiados pela artilharia. Apos destruirem as
casamatas
e
bunkers
de concreto, os tanques romperam a cerca externa do kibutz. O avanco foi deixando a infantaria para tras.
[
47
]
Dois carros blindados foram destruidos por um canhao de 20mm enquanto um tanque se aproximou da cerca interna. Um jovem lancou um
coquetel Molotov
no tanque a 10 metros, o incendiando e matando os dois tripulantes. Outros veiculos foram destruidos pelo morteiro de 81mm disparado em fogo direto, coqueteis Molotov e um tanque
Renault R35
foi destruido por um de tres
PIAT
que Dayan trouxe de Tel Aviv, com um tiro na torre.
[
47
]
Os israelenses destruiram quatro carros blindados e quatro tanques.
[
47
]
Quando a
infantaria
siria chegou, os seus blindados haviam sido derrotados e estavam recuando. A infantaria agora exposta foi metralhada pelos israelenses, sendo forcada a recuar.
[
47
]
[
51
]
O ataque a
Degania B
deveria ter ocorrido simultaneamente mas se iniciou apenas horas depois por desorganizacao. Novamente, os sirios tentaram manter a infantaria e os blindados juntos em apoio mutuo, mas atacaram frontalmente de novo. Dois assaltos sucessivos de tanque e infantaria, chegando a 30 metros das posicoes dos defensores, foram similarmente repelidos.
[
51
]
Conforme o dia avancou, a batalha das Deganias foi decidida com a chegada de quatro canhoes de montanha franceses de 65mm antiquados da
Primeira Guerra Mundial
, recem desembarcados, que foram trazidas as pressas. Os canhoes foram apelidados pelos israelenses de "Napoleonchiks",
[
52
]
e de tao raros e desesperadamente necessarios em outras frentes, foram cedidos a Moshe Dayan por apenas 24h.
[
51
]
Eles nao tinham sistemas de mira e seus artilheiros conheciam a sua operacao apenas vagamente.
[
52
]
Quando eles foram posicionados em uma elevacao observando o
Vale do Jordao
, os artilheiros praticaram disparando no
Lago Kinneret
e, conforme eles obtiveram um minimo de compreensao da sua operacao, eles comecaram a praticar atirando nos blindados sirios localizados entre Samakh e as Deganias.
[
53
]
Um dos canhoes enferrujados sofreu uma engripagem e explodiu, ferindo um artilheiro, mas os outros tres dispararam cerca de 500 obuses, matando cerca de 30 sirios enquanto eles se reagrupavam para um novo assalto as Deganias.
[
47
]
[
53
]
A precisao dos tiros nao foi grande mas os sirios se imaginavam os unicos possuidores de artilharia pesada, e depois de gozar desse monopolio durante uma semana, a subita aparicao de
artilharia
inimiga desestabilizou o seu
moral
.
[
54
]
Nao percebendo que os israelenses tinham apenas 4 pecas, os sirios recuaram.
As forcas sirias em torno de Samakh estavam com pouca municao e o re-suprimento prometido foi redirecionado para a 2ª Brigada ao norte do Mar da Galileia.
[
55
]
Em resposta, a 1ª Brigada se retirou, abandonando as suas posicoes em Samakh e recuando para as faldas das
Colinas de Gola
;
[
55
]
mas nao antes de arrasarem Shaar Hagolan e Masada.
[
53
]
Uma certa quantidade de blindados foi abandonada pelos sirios, levemente danificados ou inoperantes, os quais foram reparados e usados pelos israelenses. Embora os sirios fossem muito mais numerosos que os israelenses neste setor, com muito mais artilharia e blindados, eles nunca mais montariam uma ofensiva ao sul.
[
55
]
Em junho, tornou-se o primeiro comandante do 89º Batalhao, integrante da Brigada Blindada de
Yitzhak Sadeh
. Seus metodos de recrutamento de voluntarios de outras unidades do exercito, como as Brigadas Golani e Kiryati, provocaram reclamacoes de seus comandantes. Em 20 de junho de 1948, dois homens de uma de suas companhias foram mortos em um confronto com membros do
Irgun
que tentavam trazer armas no navio Altalena para Kfar Vitkin. Durante a Operacao Danny, ele liderou seu batalhao em uma breve incursao por Lod, no qual nove de seus homens foram mortos e o dispositivo jordaniano foi desestabilizado. Seu batalhao foi entao transferido para o sul, onde capturaram Karatiya, perto de Faluja, em 15 de julho.
Em
23 de julho
de
1948
, por insistencia de
David Ben-Gurion
sobre a oposicao do
Estado-Maior
, Dayan foi nomeado comandante militar das areas controladas pelos judeus em
Jerusalem
. No
outono
de 1948, ele se envolveu em negociacoes com
Abdullah el-Tell
, o comandante militar jordaniano de
Jerusalem Oriental
, sobre um
cessar-fogo
duradouro para a area de Jerusalem. Em
1949
, ele teve pelo menos cinco reunioes presenciais com o
rei Abdullah da Jordania
sobre o Acordo de Armisticio e a busca por um acordo de paz de longo prazo.
Na chefia das forcas armadas desde
1953
por cinco anos, planejou e liderou a invasao da
peninsula do Sinai
, em
1956
, o que lhe valeu a reputacao de grande comandante militar. Dayan foi eleito para o
Knesset
(Parlamento) em
1959
e designado Ministro da Agricultura no governo de
David Ben-Gurion
.
Em junho de
1967
, como Ministro da Defesa, comandou a vitoriosa
guerra dos seis dias
e passou a exercer crescente influencia na politica externa. Seu prestigio declinou em outubro de
1973
, quando o
Egito
e a Siria atacaram Israel de surpresa e desencadearam a
guerra do Yom Kippur
.
Em
1978
, Ministro das Relacoes Exteriores do governo de
Menachem Begin
, tornou-se um dos arquitetos dos acordos de
Camp David
, assinados no ano seguinte por Egito e Israel. Faleceu devido a
insuficiencia cardiaca
, no Hospital Tel Hashomer de Telavive, onde estava internado para tratamento de
cancer de estomago
.
[
39
]
Sua filha,
Yael Dayan
e escritora.
Dayan tambem foi
arqueologo
amador e escritor. Entre as obras publicados no Brasil esta “Guerra do Sinai” (Bloch Editores).
- Diary of the Sinai Campaign
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