Setembro Negro

Origem: Wikipedia, a enciclopedia livre.
  Nota: Se procura a organizacao militante palestina, veja Organizacao Setembro Negro .
Setembro Negro
Parte da Guerra Fria Arabe

Fumo sobe sobre Ama durante confrontos entre o exercito jordano e as Fedayin , 1 de Outubro de 1970.
Data 6 de Setembro de 1970 ? 17 de Julho de 1971
(fase principal 16?27 Setembro de 1970)
Local Jordania
Desfecho Vitoria militar jordana
Beligerantes
Territórios palestinos OLP

  Siria

  Jordania
Comandantes
Territórios palestinos Yasser Arafat
Territórios palestinos Khalil Al-Wazir
Territórios palestinos Abu Ali Iyad
Territórios palestinos George Habash
Territórios palestinos Nayef Hawatmeh
Síria Salah Jadid
Jordânia Rei Hussein
Jordânia Habis Al-Majali
Jordânia Zaid ibn Shaker
Jordânia Wasfi Al-Tal
Paquistão Zia-ul-Haq
Forcas
Territórios palestinos 15 000 ? 40 000
Síria 10 000
300 tanques
(dois blindados, uma brigada de infantaria mecanizada)
Jordânia 65 000 ? 74 000
Baixas
OLP : 3 400 mortos
Siria : 600 baixas sirias (mortos e feridos)
Jordania : 537 mortos

Setembro Negro foi um periodo que se estendeu de setembro de 1970 a julho de 1971, iniciado quando o exercito da Jordania entrou em confronto com as organizacoes guerrilheiras da OLP , entao baseadas na Jordania, visando a expulsa-las do pais. Em consequencia, os refugiados palestinos tiveram que emigrar em massa.

Estimativas do numero de vitimas dos dez dias do "Setembro Negro" variam de 3 mil a mais de 5 mil mortos. O numero de palestinos mortos em onze dias de luta foi estimado pela Jordania em 3,4 mil, enquanto as fontes palestinas calculam que 10 000 pessoas, na sua maioria civis, foram mortas. A epoca, Arafat disse que esse numero poderia ser bem superior - ate 20 mil mortos. [ 1 ] No Cairo, o programa radiofonico A Voz dos Arabes considerou ter havido genocidio .

Antecedentes [ editar | editar codigo-fonte ]

Apos a Guerra dos Seis Dias , a Jordania passou a receber milhares de refugiados palestinos .

Paralelamente, diante da sucessao de fracassos arabes na guerra convencional contra Israel, os palestinos decidiram adotar taticas de guerrilha e terrorismo , como o metodo para atacar os israelenses. Em fevereiro de 1969, Arafat , lider do Fatah , tornou-se chefe da Organizacao para a Libertacao da Palestina . No inicio de 1970, pelo menos sete organizacoes guerrilheiras foram identificados na Jordania. Uma das mais importantes foi a Frente Popular para a Libertacao da Palestina (FPLP), liderada por George Habash . Embora a OLP procurasse integrar os varios grupos, estes nunca foram efetivamente unidos.

A principio por conviccao e depois por necessidade, Hussein buscou uma acomodacao politica com os fedayin , oferecendo-lhes assistencia e locais para treinamento. Todavia a instalacao de organizacoes militantes palestinas em territorio jordano acabou por se tornar um grande problema para governo hachemita entre 1967 e 1971, instaurando-se, na pratica, uma disputa entre o governo e as organizacoes guerrilheiras pelo controle politico do pais. Baseados nos campos de refugiados , os fedayin virtualmente criaram um Estado dentro do Estado, obtendo fundos e armas, tanto dos Estados Arabes como da Europa Oriental , e desafiando abertamente as leis da Jordania.

Por outro lado, a medida que aumentava o esforco da guerrilha, Israel tambem retaliava com crescente rapidez e eficiencia. Em marco de 1968, uma brigada israelense atacou a aldeia jordana de Al Karamah, considerada a capital da guerrilha. O ataque foi repelido, com pesadas perdas para os israelenses. O incidente elevou o moral dos palestinos e deu grande prestigio a OLP dentro da comunidade arabe. Em represalia, Israel lancou pesados ataques contra Irbid , em junho de 1968 e em Salt , dois meses depois. Logo ficou evidente para a OLP que a Jordania nao poderia oferecer o tipo de cobertura necessaria para as operacoes de guerrilha. Ademais, a populacao palestina do territorio nao constituira uma resistencia armada significativa contra a ocupacao israelense. No final de 1968, as principais atividades dos fedayin na Jordania pareciam ter mudado de foco: o objetivo mais imediato nao era a luta contra Israel mas a queda do rei Hussein, o qual supunham que fosse mais ligado ao Ocidente do que aos arabes . Um importante confronto entre a guerrilha e as forcas do governo ocorreu em novembro de 1968, quando o governo tentou desarmar os campos de refugiados, mas a guerra civil foi evitada mediante um compromisso que favoreceu os palestinos. A ameaca a autoridade de Hussein e as pesadas represalias de Israel, que se seguiam a cada ataque da guerrilha, tornaram-se objeto de grande preocupacao para o rei. Seu leal exercito beduino tentou suprimir a atividade da guerrilha no primeiro semestre de 1970 mas no inicio de setembro, a guerrilha controlava diversas posicoes estrategicas na Jordania, inclusive uma refinaria de petroleo existente nas proximidades de Zarqa . Os fedayin tambem convocaram a populacao jordana para uma greve geral e organizaram uma campanha de desobediencia civil . A situacao se tornou explosiva quando a FPLP lancou uma campanha de sequestros de avioes, o que foi considerado pelo rei Hussein como uma ameaca direta a sua autoridade.

O grande confronto [ editar | editar codigo-fonte ]

Em 16 de setembro, sob lei marcial , Hussein deu plenos poderes ao entao coronel paquistanes Muhammad Zia-ul-Haq (que, mais tarde, viria a ser presidente do Paquistao , atraves de um golpe de estado que derrubou Zulfikar Ali Bhutto ) para que acabasse com os fedayin . Os palestinos receberam entao, ordens de depor imediatamente as armas e evacuar as cidades. No mesmo dia, Arafat tornou-se comandante supremo do Exercito de Libertacao da Palestina (PLA),o braco militar da OLP.

Durante dez dias de guerra civil , inicialmente entre o PLA e o exercito jordano, a Siria enviou cerca de 200 tanques para ajudar os fedayin . Em 17 de setembro, porem, o Iraque comecou a retirar seus 12 mil homens estacionados perto de Zarqa . Os Estados Unidos enviaram uma esquadra para o Mediterraneo oriental e Israel realizou movimentos de tropas, colocando-as a disposicao de Hussein, caso fosse necessario. Sob ataque do exercito jordaniano e sofrendo pressao externa, as forcas sirias comecaram a se retirar da Jordania em 24 de setembro, depois de perder mais da metade dos seus armamentos na luta contra os jordanianos. Os fedayin se viram entao na defensiva e concordaram com um cessar-fogo em 25 de setembro. Varios governantes arabes criticaram a atitude do rei Hussein e um acordo de paz foi assinado no Cairo em 27 de setembro. [ 2 ] O tratado reconhecia o direito das organizacoes palestinas de operar na Jordania, desde que deixassem as cidades. Posteriormente, Arafat afirmaria que o exercito jordano matou entre 10 mil e 25 mil palestinos. [ 3 ] [ 4 ]

[ editar | editar codigo-fonte ]

Em 28 de setembro, Gamal Abdel Nasser morre de ataque cardiaco e a OLP perde a protecao arabe. Em 31 de outubro, Arafat, cuja posicao estava enfraquecida, teve que assinar outro acordo pelo qual retornava o controle da Jordania ao rei e se comprometia a desmantelar as bases dos militantes palestinos e a proibi-los de usarem armas nao permitidas pelo governo jordano. Mas, em reuniao do Conselho Palestino, a FPLP e a FDLP se recusam a aceitar esse acordo. Em 9 de novembro, o primeiro-ministro jordano Wasfi al-Tal ordena o confisco de armas ilegais. Em janeiro de 1971, o exercito aumenta o controle sobre as cidades. Apos a descoberta de um deposito de armas ilegais em Irbid , o exercito estabelece o toque de recolher e comeca a prender os rebeldes. Em 5 de junho de 1971, varias organizacoes palestinas, inclusive o Fatah , lancam um manifesto na Radio Baghdad, apelando a populacao a derrubar o rei Hussein. Finalmente o exercito jordano recupera o controle dos ultimos redutos da OLP - as cidades de Gerasa e Ajloun - e os militantes palestinos sao expulsos para o Libano . [ 5 ]

Referencias

  1. Clinton Bailey. Jordan's Palestinian Challenge, 1948-1983: A Political History , p.59; John Bulloch. The Making of a War , p.67
  2. Jordanian Removal of the PLO . Global Security.org
  3. Jordan's Palestinian Challenge, 1948?1983: A Political History by Clinton Bailey
  4. Miller, Judith (12 de novembro de 2004). ≪Yasir Arafat, Palestinian Leader and Mideast Provocateur, Is Dead at 75≫ . The New York Times . Consultado em 26 de abril de 2010  
  5. 1970 - Black September in Jordan Arquivado em 4 de julho de 2010, no Wayback Machine ..