William Lane Craig
(
Peoria
,
23 de Agosto
de
1949
) e um
filosofo,
[
2
]
teologo
[
3
]
e apologista
cristao
estadunidense
.
Como filosofo, Craig se especializou em
filosofia da religiao
,
metafisica
, e
filosofia do tempo
. Como teologo, suas especialidades sao estudos sobre o
Jesus historico
e teologia filosofica. Craig fez contribuicoes importantes para discussoes sobre o
argumento cosmologico
em favor da existencia de Deus, a
onisciencia
divina, teorias do tempo e eternidade e para a historicidade da
ressurreicao de Jesus
. Sua pesquisa atual esta relacionada com a autoexistencia de Deus (
asseidade
divina) e o desafio que concepcoes
platonicas
sobre
objetos abstratos
apresentam para esta doutrina. Craig e autor de diversos livros, o mais conhecido deles sendo Reasonable Faith.
[
4
]
Ele disse que
Alvin Plantinga
e o seu filosofo de maior inspiracao.
[
5
]
Craig no Ensino Medio
Clube de Matematica da East Peoria Community High School. Craig e o ultimo da fila da esquerda.
Craig nasceu em
Peoria
,
Illinois
e e o segundo de tres filhos de Mallory e Doris Craig.
[
6
]
O trabalho do pai de Craig na T. P. & W linhas de trem levou a familia a
Keokuk
,
Iowa
ate que ele foi transferido para o escritorio em
East Peoria
em 1960. Quando estudava na East Peoria Community High School (1963-1967)
[
7
]
Craig se tornou um debatedor e orador publico de sucesso, sendo nomeado para o time do estado em seu ultimo ano e vencendo o campeonato estadual de
oratoria
. Igualmente significativa foi sua experiencia dramatica de
conversao
ao cristianismo que aconteceu quando ele estava iniciando seu primeiro ano do ensino medio e que redirecionou todo o curso de sua vida.
[
8
]
[
9
]
[
10
]
Depois de se formar no ensino medio, Craig frequentou o
Wheaton College
, uma faculdade evangelica
[
11
]
a oeste de Chicago. Em Wheaton ele continuou suas atividades forenses e de debate, especializando-se em
comunicacoes
. Em 2014 ele recebeu o premio
alumnus
do ano.
[
12
]
[
13
]
Em Wheaton, Craig estudou sob a orientacao de Stuart Hackett, cujo livro
Ressurrection of Theism
(1957) exerceria uma importante influencia filosofica sobre o pensamento de Craig. Foi seu estudo do livro
Introduction to Christian apologetics
(1948), enquanto ainda estava em Wheaton, que despertou o interesse de Craig em
apologetica Crista
. Craig se formou em 1971 e, no ano seguinte, se casou com sua esposa Jan, que ele conheceu quando trabalhavam no
Cruzada Estudantil E Profissional Para Cristo
.
[
14
]
Em 1973 Craig entrou para o programa de Filosofia da religiao na Trinity Evangelical Divinity School, ao norte de Chicago, onde ele estudou sob a orientacao de
Norman Geisler
.
[
15
]
Simultaneamente, Craig realizou estudos teologicos sob a orientacao de David Wells,
Clark Pinnock
, Murray Harris e Jhon Warwick Montgomery, graduando-se com um
mestrado
em filosofia da religiao e
Historia da Igreja
e do pensamento cristao.
Em 1975 Craig embarcou em estudos de
doutorado
em filosofia na
Universidade de Birmingham
, na
Inglaterra
, escrevendo sobre o argumento cosmologico sob a direcao de Jhon Hick. Como resultado desse estudo, Craig publicou seu primeiro livro The Kalam Cosmological Argument (1979), uma defesa vigorosa do argumento que ele descobriu ao ler o trabalho de Hackett’s. Em 1978 Craig recebeu uma
bolsa de estudo
de pos-doutorado da
fundacao Alexander von Humboldt
para realizar pesquisas sobre a historicidade da
ressurreicao de Jesus
sob a direcao de
Wolfhart Pannenberg
na universidade Ludwig-Maximillians-Universitat Munchen, na
Alemanha
. Seus estudos em
Munique
resultaram em um segundo
doutorado
, dessa vez em teologia,
[
12
]
[
16
]
premiado em 1984 com a publicacao de sua tese de doutorado
The Historical Argument for the Resurrection of Jesus during the Deist Controversy
(1985).
[
17
]
Craig se juntou ao grupo da Trinity Evangelical Divinity School em 1980, onde ele ensinou filosofia da religiao pelos proximos sete anos. Durante esses anos ele embarcou em um programa de pesquisa de longo prazo sobre uma analise filosofica dos principais
atributos divinos
, comecando pela
onisciencia
divina. O fruto inicial deste estudo foi seu livro Divine Foreknowledge and Human Freedom (1990).
[
18
]
Em 1982 Craig recebeu um convite para debater com Kai Nielsen na
universidade de Calgary
,
Canada
, sobre a existencia de Deus. E assim comecou uma serie de debates sobre questoes filosoficas e teologicas que colocou Craig contra filosofos, cientistas e academicos biblicos incluindo
Antony Flew
, E. M. Curley, Richard Taylor,
Quentin Smith
, Michael Tooley, Paul Draper, Shelly Kagan, Peter Millican,
Paul Kurtz
,
Peter Atkins
,
Lawrence Krauss
,
Richard Dawkins
, Francisco Ayala,
John Dominic Crossan
, Marcus Borg, Ray Hoover,
Bart Ehrman
e Gerd Ludemann.
[
19
]
Depois de uma temporada de um ano em Westmont College nos arredores de
Santa Barbara
,
[
20
]
Craig se mudou de volta para a Europa com sua esposa e duas criancas pequenas para realizar pesquisas, permanecendo la pelos proximos sete anos como pesquisador visitante na
Universidade Catolica de Louvain
(Katholiecke Universiteit Leuven), na Belgica. Sete livros foram produzidos durante este periodo de pesquisa, dentre eles
God, Time, and Eternity
(2001). Em 1994 Craig aceitou o convite de J. P. Moreland e R. Douglas Geivett para se juntar ao departamento de filosofia e etica na Escola de Teologia Talbot (Talbot School of Theology), nos suburbios de
Los Angeles
, como
professor pesquisador
de filosofia. Esta e a posicao na qual ele permanece atualmente.
[
8
]
Craig e mais conhecido por ressuscitar uma versao do
argumento cosmologico
em defesa da existencia de uma primeira causa que nao tem, ela mesma, uma causa. Para reconhecer a contribuicao do
islamismo
medieval
para o desenvolvimento desta versao do argumento, Craig criou o nome “
argumento cosmologico kalam
” (
kalam
significando teologia islamica medieval). O argumento ficou marcado desde entao por esta denominacao. A caracteristica distintiva deste argumento e a sua
premissa
“O
universo
comecou a existir”, na qual “o
universo
” designa toda a realidade espaco-temporal contigua.
[
21
]
Craig defende essa premissa
filosoficamente
e
cientificamente
.
[
22
]
No livro
The Kalam Cosmological Argument
ele formula o argumento da seguinte forma:
- Tudo que comeca a existir tem uma causa para sua existencia.
- O universo comecou a existir.
- Portanto, o universo tem uma causa para sua existencia.
[
23
]
Filosoficamente, Craig restaura dois argumentos kalam tradicionais em defesa da finitude da serie temporal de eventos passados: um argumento baseado na impossibilidade
metafisica
da existencia daquilo que matematicos modernos chamam de “
infinito atual
” e um argumento baseado na impossibilidade metafisica de formar um infinito atual usando um processo de
adicao
sucessiva.
[
24
]
Craig em 2015.
Apos ressaltar a consistencia logica estrita da teoria dos conjuntos infinitos
axiomatizada
pos-cantoriana
, Craig argumenta que a existencia de um numero de coisas infinito atualmente e, apesar dessa consistencia, metafisicamente impossivel em vista dos muitos absurdos que seriam possiveis caso um infinito atual realmente existisse.
[
25
]
Um dos exemplos preferidos de Craig e o famoso
Hotel de Hilbert
, que pode ser ocupado totalmente e, ainda assim, por meio da mera transposicao de lodgers, acomodar um numero infinito de hospedes adicionais. Craig vai alem da ilustracao da historia original criada por
David Hilbert
e pergunta o que aconteceria se
operacoes aritmeticas
inversas, como a
subtracao
, fossem aplicadas ao hotel. Imaginando diferentes grupos de hospedes fazendo
checkout
do hotel, Craig mostra que seria possivel subtrair quantidades iguais de quantidades iguais e obter quantidades diferentes como resultado, o que e absurdo.
[
26
]
Apos salientar que convencoes matematicas estipuladas para garantir a consistencia logica da aritmetica transfinita nao tem forca
ontologica
, Craig conclui que o finitismo e mais plausivelmente verdadeiro. Portanto, a serie de eventos passados deve ser finita e o
universo
comecou a existir.
[
27
]
Mesmo que um
infinito atual
fosse metafisicamente possivel, a natureza temporal da serie de eventos passados, que foi formada pela adicao sucessiva de um evento apos o outro, levanta problemas peculiares. Craig argumenta que da mesma forma que e impossivel, a despeito dos proponentes das “super-tasks”, contar ate o
infinito
, tambem e metafisicamente impossivel contar regressivamente comecando do infinito.
[
28
]
Novamente, Craig ilustra os absurdos contra-intuitivos?como sua inversao da historia de
Bertrand Russell
sobre Tristam Shandy, que escreve sua
autobiografia
de forma tao lenta que demora um ano para registrar os eventos de um unico dia?que podem resultar da formacao de um infinito atual por adicoes sucessivas. Se o universo for eterno, ele tem que ter existido exatamente por uma sequencia temporal infinita deste tipo (obtida por adicoes sucessivas) para que chegassemos ate o evento ou momento [presente]. Segue-se que a sequencia temporal deve ser finita e, portanto, o universo comecou a existir. O desenvolvimento deste argumento por Craig torna evidente o que e implicito em todo o argumento kalam: a pressuposicao de uma teoria flexiva do tempo. Essa pressuposicao se tornaria no futuro um dos principais temas de
pesquisa
para Craig.
[
29
]
Uma das contribuicoes de Craig para o argumento cosmologico kalam historico e sua adicao de
evidencias empiricas
oriundas da
astrofisica
contemporanea para defender o comeco do universo. Ele expoe duas linhas de evidencias fornecidas pela
cosmologia
atual: a
expansao do universo
e as propriedades
termodinamicas
do universo.
[
30
]
Com relacao a
expansao do universo
, Craig explica como o modelo
Big Bang
de Friedman-Lemaitre baseado na aplicacao cosmologica das equacoes de campo gravitacional de
Albert Einstein
em sua
teoria geral da relatividade
prediz uma
singularidade cosmica
que constitui um limite no passado para o
espaco-tempo
e, portanto, marca a origem absoluta do universo em um passado finito. De acordo com o modelo nada existia anteriormente a
singularidade cosmologica
inicial, no sentido de que e falso que qualquer coisa existiu anteriormente a singularidade; o espaco-tempo e todo seu conteudo vieram a existencia naquele ponto.
[
31
]
Craig entao examina a historia de tentativas de escapar da predicao de um inicio absoluto no modelo padrao e mostra como esses modelos alternativos se provaram insustentaveis (como o
modelo do estado estacionario
e os modelos de
flutuacoes do vacuo
) ou implicaram o inicio do universo que eles foram projetados para evitar (
modelos oscilatorios
,
modelos inflacionarios
, modelos gravitacionais quanticos). Craig ressalta que o teorema de Borde-
Guth
-Vilenkin de 2003 requer que qualquer universo que esta, na media, em estado de expansao cosmica nao pode ser
eterno
no passado mas deve ter um ponto de limite no passado.
[
32
]
Esse
teorema
, que e aplicavel nao apenas a modelos de
multiversos
inflacionarios mas tambem a
cosmologias de branas
de maiores dimensoes e especialmente poderoso porque ele e valido independentemente de qualquer descricao fisica do universo em suas fases iniciais anteriores ao
tempo de Planck
.
[
33
]
Com relacao as propriedades termodinamicas de larga escala do universo, Craig remonta a discussao fisica sobre o conundrum que desafiava a fisica do seculo dezenove: o universo vai chegar a um estado de
equilibrio termodinamico
ou “
morte quente
” em um tempo finito; porque o universo nao esta, agora, neste estado, uma vez que ele existe por um tempo infinito? Ele mostra que embora o advento da
teoria da relatividade
tenha alterado a descricao da extincao termodinamica do universo, ele nao afetou essa questao fundamental.
[
34
]
Na verdade, Craig chama atencao para o fato de que a recente descoberta de que a expansao do universo esta acelerando somente agrava o problema ao aumentar a velocidade da desintegracao do universo em ilhas causalmente isoladas destinadas a uma morte fria e escura. A maioria dos fisicos, portanto, tomam o desequilibrio do universo como evidencia de que o universo nao e, na verdade, eterno em direcao ao passado e sua baixa
entropia
foi simplesmente colocada como uma condicao inicial.
[
35
]
Craig tambem faz a observacao de que as tentativas (especulativas) de evitar essa conclusao postulando um multiverso de mundos em variados estados termodinamicos esbarram no problema dos chamados
cerebros de Boltzmann
- que diz que se torna altamente provavel para qualquer observador que todo o universo observavel e nada mais que uma ilusao de seu proprio cerebro, um conclusao
solipsista
que nenhuma pessoa
racional
adotaria.
[
36
]
Com base nessas quatro linhas de
evidencias
Craig conclui que a premissa de que o universo comecou a existir e mais plausivel que sua negacao. Adicionando a premissa de que “tudo que comeca a existir tem uma
causa
” - uma premissa que Craig, novamente, defende filosoficamente e cientificamente - o
comeco cosmico
implica na existencia de uma causa
sobrenatural
. Pela propria natureza da questao, essa causa deve ser um ser que nao tem causa, nao comecou a existir, e sem mudancas, e atemporal, fora do espaco, nao e material e tem um poder enorme.
[
37
]
Finalmente, Craig apela para o "principio da determinacao" - defendido por teologos muculmanos medievais - e argumenta que a unica forma de explicar a origem de um efeito que tem um comeco a partir de uma causa que nao tem um comeco e se a causa for um agente pessoal imbuido de
livre arbitrio
. Dessa forma, ele chega, por fim, a um Criador pessoal do universo.
[
38
]
Uma das questoes centrais levantadas pela doutrina classica da onisciencia divina e a compatibilidade da presciencia de Deus com a liberdade humana. A questao pode ser subdividida em outras duas:
- Se Deus tem presciencia da ocorrencia de algum evento E, E acontece necessariamente?,
[
39
]
e
- Se algum evento E e contingente, como Deus pode ter presciencia da ocorrencia de E? Craig abordou essas duas questoes de forma extensiva em seu trabalho.
[
40
]
A primeira pergunta aborda o problema do
fatalismo
teologico. Craig tenta reduzir este problema ao problema do fatalismo logico, que afirma que, se e verdade que E vai acontecer, entao E vai acontecer necessariamente. Ele desafia defensores do fatalismo teologico a mostrar como a adicao do fato de que Deus sabe que alguma afirmacao sobre o futuro e verdadeira adiciona qualquer coisa essencial ao problema alem do fato de que a afirmacao e verdadeira. Depois disso Craig examina de forma detalhada o fatalismo logico para expor suas falacias.
[
41
]
Ele insiste que o fatalismo tem que ser
falacioso
, uma vez que coloca uma restricao nao causal sobre a liberdade humana que e ininteligivel. Ele aponta que a falha no fatalismo logico esta em uma analise errada do que significa para um ato estar “sob o controle de alguem”, ja que defensores do fatalismo logico entendem erradamente a impossibilidade de tornar real uma contradicao logica como uma falha de habilidade pessoal.
[
42
]
[
43
]
O Dr. Craig ensinando no seu seminario anual da Igreja Batista Johnson Ferry em Marietta, Georgia. O tema para o ano 2015 foi "A Coerencia do Teismo".
Retornando ao fatalismo teologico, Craig afirma que fatalistas de todos os espectros entenderam errado a chamada “necessidade temporal”, ou necessidade do passado. Argumentando que nossas intuicoes sobre a necessidade do passado estao enraizadas no fato de que o passado e causalmente fechado, Craig aponta que a impossibilidade da
retrocausalidade
nao implica que eu nao possa ter algum tipo de poder
contrafatual
sobre eventos do passado.
[
44
]
Se Deus tem presciencia dos meus atos, entao eu tenho a habilidade de agir de tal forma que, se eu tivesse agido daquela forma, entao o passado teria sido diferente. Tomando como base o trabalho de Alfred Freddoso, Craig oferece uma analise da necessidade temporal segundo a qual muitos eventos historicos nao sao, no ponto atual do tempo, temporalmente necessarios. Ainda e possivel que algum agente atue de tal forma que, se ele assim o fizer, aquele evento nunca teria ocorrido. Do fato de que o evento ocorreu nos podemos saber que o agente nao vai, na realidade, agir de forma diferente. Mas essa opcao permanece, ainda assim, dentro de suas possibilidades.
Talvez a contribuicao mais distintiva de Craig para a discussao do fatalismo teologico e a sua abrangente discussao de rejeicoes de argumentos fatalistas paralelos em outras areas diferentes da
teologia
ou
filosofia da religiao
. Ele analisa discussoes sobre
retrocausalidade
,
[
45
]
viagem no tempo
,
[
46
]
teoria especial da relatividade
,
precognicao
,
[
47
]
e o paradoxo de Newcomb para ilustrar a falha do raciocinio fatalista.
[
48
]
A segunda questao, que surge relacionada a presciencia divina de contingencias futuras, diz respeito aos meios pelos quais Deus sabe sobre tais eventos.
[
49
]
Craig observa que a questao pressupoe uma teoria flexiva do tempo - ou Teoria A do tempo - ja que na teoria aflexiva do tempo - ou Teoria B do tempo - nao ha nenhuma diferenca ontologica entre passado, presente e futuro, de forma que eventos contingentes que estao no futuro em relacao a nos nao sao mais dificeis para Deus saber do que eventos contingentes que estao no passado ou presente em relacao a nos. Apos fazer uma distincao entre modelos perceptualistas e conceitualistas de cognicao divina, Craig concede que modelos que constroem a presciencia de Deus sobre o futuro em linhas perceptualistas (Deus ve no futuro o que vai acontecer) sao dificeis de reconciliar com uma teoria flexiva do tempo (apesar do fato de que alguem pode dizer que Deus percebe os valores-verdade presentes de proposicoes que sao contingentes no futuro). Mas um modelo conceitualista que constroi o conhecimento de Deus em linhas de ideias inatas nao estao vulneraveis a tais desafios.
[
50
]
A doutrina do conhecimento medio e um desses modelos conceitualistas da cognicao divina que Craig explorou em consideravel profundidade. Formulada pelo teologo
jesuita
Luiz de Molina
, a doutrina do conhecimento medio afirma que, logicamente antes de seu decreto de criar o mundo, Deus sabia o que qualquer criatura que ele pudesse criar iria livremente fazer em qualquer conjunto possivel de circunstancias nas quais Deus pudesse coloca-la. Com base no conhecimento de tais contrafatuais da liberdade das criaturas
[
51
]
e seu conhecimento de seu proprio decreto para criar certas criaturas em certas circunstancias, junto com sua propria decisao de como ele mesmo deve agir, Deus automaticamente sabe tudo que ira, de fato, e de forma contingente, acontecer, sem que seja necessario nenhum tipo de percepcao do mundo ou algo parecido.
[
52
]
Craig se tornou um dos mais ardentes defensores contemporaneos do
molinismo
, argumentando nao apenas em favor do conhecimento medio e defendendo a doutrina contra seus criticos, mas tambem aplicando a doutrina a um abrangente numero de questoes teologicas como
providencia divina
[
53
]
e
predestinacao
,
[
54
]
inspiracao biblica,
[
55
]
perseveranca dos santos
,
[
56
]
e particularismo cristao.
[
57
]
Os trabalhos anteriores de Craig sobre o
argumento cosmologico kalam
e sobre
onisciencia
divina tiveram uma significativa intersecao com teorias do tempo e a natureza da
eternidade
divina. Sendo assim, um bom numero de questoes permaneceram para serem analisadas em uma exploracao profunda sobre o tempo e sua relacao com Deus.
[
58
]
Craig faz uma distincao entre duas formas de entender o significado de “eterno”: eterno pode significar atemporal ou infinitamente omnitemporal. Craig primeiro examina um grande numero de argumentos que tentam mostrar que Deus e atemporal ou que ele e omnitemporal.
[
59
]
Apesar de defender a coerencia de um ser pessoal e que e atemporal, Craig conclui que os argumentos em defesa da posicao de que Deus e atemporal nao sao solidos ou sao inconclusivos.
[
60
]
Em contraposicao, ele apresenta dois argumentos aparentemente poderosos em defesa da temporalidade divina. Primeiro Craig argumenta que se um mundo temporal existe, entao, em virtude de suas relacoes reais com esse mundo, Deus nao pode permanecer intocado por sua temporalidade.
[
61
]
Dadas as suas relacoes com o mundo, Deus tem que mudar pelo menos extrinsecamente, o que e suficiente para que ele exista de forma temporal. Segundo, Craig argumenta que se um mundo temporal existe, entao, por causa de sua onisciencia, Deus deve saber fatos temporais sobre o mundo, como por exemplo, o que esta acontecendo agora, que e, novamente, suficiente para que ele esteja localizado no tempo. Como um mundo temporal existe, segue-se que Deus existe no tempo.
[
62
]
O defensor da posicao de que Deus e atemporal tem uma forma de escapar desses argumentos, segundo Craig. O primeiro argumento baseado na relacao de Deus com o mundo pressupoe a realidade do
vir a existir temporalmente
(
temporal becoming
). O segundo argumento baseado no conhecimento de Deus sobre o mundo pressupoe a objetividade de fatos temporais. Em outras palavras, os dois argumentos pressupoem uma teoria A do tempo. Um defensor da posicao de que Deus e atemporal pode evitar a forca desses dois argumentos abracando uma teoria B do tempo e negando a objetividade de fatos temporais e a realidade da passagem do tempo.
[
63
]
Craig conclui que a teoria do tempo que alguem abraca ira afetar diretamente, e de forma decisiva, qual doutrina da eternidade divina essa pessoa defendera.
[
64
]
Assim, em seus dois volumes
The Tensed Theory of Time
e
The Tenseless Theory of Time
Craig realiza uma profunda e abrangente analise dos argumentos a favor e contra as teorias A e B do tempo, respectivamente. Craig oferece o seguinte sumario de sua defesa da Teoria A do Tempo:
- I. Argumentos em favor da Teoria flexiva do tempo
[
65
]
- A. Sentencas flexivas, que nao podem ser traduzidas em sentencas sinonimas aflexivas e nem podem ser associadas a condicoes de
verdade
aflexivas e token-reflexivas, correspondem, se verdadeiras, a fatos flexivos.
- B. A experiencia de passagem do tempo, semelhante a nossa experiencia do mundo externo, e propriamente considerada como veridica.
- II. Refutacao de argumentos contra a Teoria flexiva do tempo
[
66
]
- A. O celebrado paradoxo de McTaggart e baseado na injustificada (e errada) juncao de uma ontologia aflexiva de eventos ou coisas com a objetividade da passagem do tempo, assim como a premissa nao justificada de que deve existir uma unica e completa descricao da realidade.
- B. A passagem de
tempo
nao e um mito, mas uma
metafora
para a objetividade do
passar a existir temporalmente
, uma nocao que pode ser consistentemente explicada em uma metafisica presentista.
- III. Refutacao dos argumentos em favor da teoria aflexiva do tempo
[
67
]
- A.
Vir a existir temporalmente
e compativel com a teoria da relatividade se nos rejeitarmos o realismo espaco-tempo em favor de um interpretacao neo-Lorentziana do formalismo da teoria.
- B. O tempo, da forma como e empregado na fisica, e somente uma
abstracao
de uma realidade metafisica mais rica, omitindo elementos indexais como “aqui” e “agora” com o objetivo de universalizar as formulacoes das leis naturais.
- IV. Argumentos contra a teoria aflexiva do tempo
[
68
]
- A. Na ausencia de distincoes objetivas sobre
passado
,
presente
e
futuro
, as relacoes que ordenam eventos na teoria aflexiva sao consideradas como relacoes temporais genuinas do tipo “antes”/”depois que” apenas de forma gratuita e injustificada.
- B. A afirmativa de que
vir a existir temporalmente
e dependente da mente e auto-destrutiva, uma vez que a
ilusao
subjetiva de
vir a existir
envolve em si mesma um
vir a existir
objetivo no conteudo da
consciencia
.
- C. A teoria aflexiva do tempo implica
perdurantismo
, a doutrina que afirma que objetos tem partes espaco-temporais, uma visao que e metafisicamente contra-intuitiva, incompativel com a responsabilidade moral e que implica na bizarra doutrina complementar da identidade transmundos.
- D. A teoria aflexiva do tempo e teologicamente questionavel ja que sua afirmacao de que Deus e o universo co-existem de forma aflexiva e incompativel com um doutrina da criacao
ex nihilo robusta.
Os elementos distintivos na filosofia do tempo de Craig incluem sua diferenciacao entre o tempo em si a nossas medidas de tempo ( um tema Newtoniano classico), sua analise redutiva de flexoes espaciais a localidade do “Eu-agora”, sua defesa do
presentismo
com base na presentidade da experiencia, sua analise do paradoxo de McTaggart
[
69
]
como uma instancia do problema do intrinseco temporario, sua defesa de uma interpretacao neo-Lorentziana da
relatividade especial
e sua formulacao de uma semantica de
mundos possiveis
flexiva.
[
70
]
Apos concluir que o tempo e flexivo, Craig passa a articular um doutrina da eternidade divina e da relacao de Deus com o tempo. Defendendo o argumento antiNewtoniano de Leibniz contra a permanencia de Deus por tempo infinito anteriormente a
Criacao
e apelando para argumentos Kalam contra uma metrica de tempo passado infinito, Craig argumenta em defesa da nova visao de que Deus existe fora do tempo (atemporal) anteriormente ao universo e temporalmente desde o momento da criacao.
[
71
]
Craig identifica o tempo cosmico, que registra o tempo proper da duracao do universo em modelos cosmologicos relativisticos gerais como a medida do tempo de Deus. O universo e, conclui Craig, o
relogio
de Deus.
[
72
]
Os dois volumes de Craig
The Historical Argument for the Resurrection of Jesus
(1985) e
Assessing the New Testament Evidence for the Historicity of the Resurrection of Jesus
(3d ed., 2002) estao entre as mais profundas e abrangentes investigacoes do evento da
ressurreicao de Jesus
.
[
73
]
[
74
]
No primeiro volume Craig aborda a
historia
da discussao, incluindo argumentos
humeanos
contra a identificacao de
milagres
. O segundo volume e um estudo exegetico do material do
novo testamento
pertinente ao evento da
ressurreicao
.
Craig sumariza a
evidencia
relevante em tres pontos:
[
75
]
(1) A tumba de Jesus foi encontrada vazia por um grupo de suas seguidoras no domingo depois de
sua crucificacao
.
[
76
]
(2) Varios individuos e grupos tiveram experiencias com aparicoes de Jesus vivo depois de sua morte.
(3) O primeiros
discipulos
passaram a acreditar que
Deus
tinha levantado
Jesus
dos mortos apesar das fortes predisposicoes contrarias.
A discussao detalhada que Craig apresenta sobre cada um desses fatos incluem uma defesa das tradicoes do sepultamento de Jesus por
Jose de Arimateia
, uma
exegese
detalhada da doutrina paulina da ressurreicao do corpo e uma investigacao das nocoes
pagas
e
judaicas
da ressurreicao dos mortos.
[
77
]
Craig prossegue entao para argumentar que a melhor explicacao para esses tres fatos e a chamada hipotese da ressurreicao: a hipotese de que Deus levantou Jesus dos mortos.
[
78
]
Essa inferencia o leva a interagir e criticar de forma detalhada as hipoteses rivais, em particular a hipotese da alucinacao de Ludermann.
[
79
]
Utilizando criterios padrao para analisar hipoteses
historicas
como poder explanatorio, escopo explanatorio, quao
ad-hoc
e a hipotese, plausibilidade e outros criterios, Craig argumenta que a hipotese da ressurreicao e a que melhor atende a esses criterios.
[
80
]
Argumentando contra aqueles que consideram uma hipotese miraculosa excessivamente improvavel, Craig diz que que, dada a existencia de um criador pessoal do universo - como e demonstrado pelos argumentos da
teologia natural
- e dado que a probabilidade das evidencias, considerando a hipotese da ressurreicao, e maior do que a probabilidade das evidencias considerando a negacao dessa hipotese, a hipotese da ressurreicao nao pode ser considerada como improvavel.
[
81
]
Na verdade, a probabilidade de uma explicacao miraculosa da evidencia aumenta quando colocamos a ressurreicao de Jesus no seu contexto religioso-historico do
ministerio sem precedentes de Jesus
e de suas afirmacoes pessoais radicais, cuja autenticidade Craig defende.
[
82
]
Esse contexto tambem oferece a chave para interpretar o significado da ressurreicao de Jesus, que Craig afirma ser a vindicacao divina das alegadas afirmacoes blasfemas pelas quais
Jesus foi julgado
e condenado a morte.
[
83
]
A pesquisa atual de Craig e sobre o desafio colocado pelo
platonismo
para a doutrina classica da
asseidade divina
ou auto-existencia divina.
[
84
]
Segundo a analise de Craig este desafio surge nao tanto da eternidade ou necessidade de
objetos abstratos
mas, em muitos casos, da impossibilidade de que sejam criados. Rejeitando o
criacionismo
absoluto, a visao de que Deus cria objetos abstratos, como uma visao que sempre incorre em circulo vicioso,
[
85
]
Craig defende a viabilidade de varias perspectivas nominalistas sobre objetos abstratos.
[
86
]
Chamando a atencao para o fato de que o chamado argumento da indispensabilidade de Quine-Putnam e o principal suporte para o platonismo,
[
87
]
Craig critica nao apenas a
epistemologia
naturalizada e o
holismo
confirmacional de
Quine
, que dao suporte ao argumento original, mas, mais importante, rejeita tambem o criterio
metaontologico
de comprometimento ontologico que e o centro de todas as versoes do argumento.
[
88
]
Craig favorece uma logica neutra, segundo a qual os quantificadores formais da
logica de primeira ordem
, assim como os quantificadores informais da linguagem ordinaria, nao exigem compromisso ontologico.
[
89
]
Ele tambem defende uma teoria deflacionaria de referencia segundo a qual o ato de referenciar e um
ato de fala
ao inves de ser uma relacao palavra-mundo, de forma que termos singulares podem ser usados em sentencas verdadeiras sem que seja necessario se comprometer com objetos correspondentes no mundo.
[
90
]
Se alguem estipular que os
quantificadores
da logica de primeira ordem estao sendo usados como dispositivos de compromisso ontologico, entao Craig passa a advogar o ficcionalismo, mais especificamente a teoria do faz de conta (
Pretense Theory
), de acordo com a qual afirmacoes sobre objetos abstratos sao expressoes de faz de conta, imaginadas como verdade, apesar de serem, literalmente, falsas.
[
91
]
O trabalho de Craig nessa area ainda esta em andamento. Sendo assim, suas posicoes finais sobre o assunto ainda nao sao conhecidas.
[
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