Primeira Republica Espanhola

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A Primeira Republica Espanhola foi o regime politico que regeu a Espanha desde a sua proclamacao pelas Cortes , a 11 de fevereiro de 1873 , ate 29 de dezembro de 1874 , quando o pronunciamento do general Martinez Campos deu comeco a Restauracao bourbonica .

A primeira tentativa republicana na historia da Espanha foi uma experiencia curta, caracterizada pela profunda instabilidade politica e social e a violencia. A Republica foi governada por quatro presidentes diferentes ate que, apenas onze meses depois da sua proclamacao, o general Pavia deu um golpe de estado e foi instaurada uma republica unitaria presidida por Francisco Serrano Dominguez .

No breve periodo ocorreram tres guerras civis simultaneas: a Terceira Guerra Carlista , a sublevacao cantonal na Espanha peninsular e a Guerra dos Dez Anos em Cuba . Os problemas mais graves para a consolidacao do regime foram a falta de verdadeiros republicanos, a divisao destes entre federalistas e unitarios e a falta de apoio popular.

Proclamacao da Primeira Republica [ editar | editar codigo-fonte ]

Bandeira, de carater provisorio, [ 1 ] da Primeira Republica Espanhola

O rei Amadeu I abdicou do trono da Espanha a 11 de Fevereiro de 1873 . Esta renuncia foi motivada pelas dificuldades com que teve de se enfrentar durante o seu curto reinado, como a guerra em Cuba , o surgimento da Terceira Guerra Carlista , a oposicao dos monarquicos alfonsinos , que aspiravam ao restauro bourbonico na figura de Afonso de Bourbon , filho de Isabel II , as diversas insurreicoes republicanas e a divisao entre seus proprios partidarios.

O Congresso , com inclusao do Senado , estava reunido em sessao conjunta e permanente, e enquanto esperava alguma comunicacao final do Rei erigiu-se em Assembleia Nacional. Imperava em esta uma maioria mais que absoluta de parlamentares monarquicos, pertencentes aos dois partidos monarquicos e dinasticos que ate entao se alternaram no governo: o partido radical de Manuel Ruiz Zorrilla e o partido constitucional de Praxedes Mateo Sagasta . Junto a estonteante maioria monarquica sentava-se na Assembleia Nacional uma minoria republicana, muito dividida entre federais e unitarios. Um deles, o federalista Francisco Pi y Margall , apresentou a Assembleia a seguinte proposicao:

Pi y Margall, na sua defesa da proposta -da que era assinante com Figueras, Salmeron e outros deputados-, embora se reafirmava como federalista, renunciava nesse momento a impor como forma de governo a Republica federal com a esperanca de serem as Cortes Constituintes (que deviam ser convocadas) que a declarassem, e anunciava seu acatamento a outra decisao diferente se assim for adotada democraticamente. Emilio Castelar subiu para o estrado e pronunciou este discurso:

Apos o eloquente discurso de Castelar, entre vivos aplausos, foi proclamada a Republica Espanhola, com a resignacao dos monarquicos, por 258 votos a favor e somente 32 contra:

Nesta mesma sessao, o republicano federal Estanislao Figueras resultou eleito "Presidente do Poder Executivo" (chefe de Estado e Governo) (nao "Presidente da Republica", pois nunca se chegou a aprovar a nova Constituicao que criava esse cargo); no seu discurso, disse que a chegada da Republica era ≪ como o iris de paz e de concordia de todos os espanhois de boa vontade ≫.

A aprovacao dessas resolucoes surpreendeu, ja que nas Cortes , eleitas poucos meses antes, os republicanos eram uma minoria. Ruiz Zorrilla afirmava na Assembleia:

Para muitos, dada a impossibilidade de restaurar a Isabel II e a juventude do futuro Afonso XII, a Republica era a unica saida possivel, embora somente fosse como medida provisoria, por motivo do insucesso inevitavel que a aguardava.

Governo de Estanislao Figueras [ editar | editar codigo-fonte ]

Este primeiro governo republicano era formado pelos federais e pelos progressistas , que ja tinham sido ministros durante a monarquia. Alem disso, quatro ministros eram fieis ao rei Amadeu: Echegaray, Becerra, Fernnandes de Cordova e Berenguer, ocupavam os ministerios de Fazenda, Guerra, Marinha e Fomento.

Para comecar, enfrentavam uma situacao financeira grave: defice orcamental de 546 milhoes de pesetas, 153 milhoes em dividas de pagamento imediato e so 32 milhoes para cobri-las. O Corpo de Artilharia fora dissolvido no momento de maior violencia nas guerras cubana e carlista, para as quais nao havia soldados suficientes nem armamento ou dinheiro para o adquirir. Por outro lado, Espanha atravessava uma aguda crise economica, coincidente com a grande crise mundial de 1873, agravada pela instabilidade politica; nos anos precedentes aumentara o desemprego entre jornaleiros e operarios. As organizacoes proletarias responderam com greves, marchas, concentracoes de protesto e a ocupacao de terras abandonadas.

A 23 de Fevereiro , o recem-eleito presidente da Assembleia Nacional, o radical Cristino Martos , organizou uma tentativa de golpe de Estado , chegando a Guarda Civil a ocupar o Ministerio de Governacao e a Milicia Nacional o Congresso, para instaurar uma republica unitaria . Isto provocou a primeira remodelacao do governo substituindo os ministros progressistas por ministros republicanos federais.

Doze dias apos ser proclamada a Republica, foi assinado solenemente o fim do servico militar obrigatorio e criado o servico voluntario. Cada soldado cobraria uma peseta diaria e um pao . Foi tambem criada uma milicia de voluntarios da Republica , com um soldo de 50 pesetas ao alistar-se e 2 pesetas e 1 pao diarios.

O segundo governo de Figueras teve de se defrontar, a 9 de Marco , com a tentativa de proclamacao do Estat Catala dentro da Republica Federal Espanhola, o qual foi superado apos uma serie de conferencias telegraficas com os dirigentes catalaes. Pouco depois, a 23 de Abril , deu-se uma nova tentativa de golpe de Estado preparada por alfonsinos, membros da Union Liberal , progressistas de Sagasta e setores monarquicos do Exercito, mas fracassaram quando varias unidades se abstiveram a ultima hora.

Pi y Margall e geralmente considerado a alma deste governo que teve de se confrontar com um sem-fim de problemas ja endemicos para a Primeira Republica ( Terceira Guerra Carlista ; sublevacoes separatistas, neste caso da Catalunha; indisciplina militar, conspiracao monarquica, etc.); o seu governo dissolveu a Assembleia e convocou Cortes Constituintes para 1 de Maio . A 23 de Abril , Cristino Martos, desta vez apoiado no governador civil de Madrid , Estebanez, tentou um novo golpe de Estado: um batalhao de milicianos tomou posicoes no Paseo del Prado e mais quatro mil voluntarios armados, concentraram-se na Praca da Independencia com o pretexto de passar revista. Informado sobre a intentona golpista, Pi y Margall (na ocasiao ministro de Governacao) mobilizou a Guarda Civil. O ministro da Guerra, por sua vez, apos nomear capitao-general de Madrid Baltasar Hidalgo , ordenou que o brigadeiro Carmona, com um batalhao de infantaria e algumas unidades de artilharia e cavalaria, marchasse sobre os milicianos: o golpe de Estado fracassou ainda mal tinha comecado, e o governo dissolveu a Comissao Permanente do Congresso e os batalhoes que participaram na conjura.

O governo convocou entao eleicoes para Cortes Constituintes em 10 de Maio , que resultaram em 343 lugares para os republicanos federais e 31 para as restantes forcas politicas. As eleicoes realizaram-se em condicoes pouco ortodoxas e a sua representatividade resultou baixa, pois nao participaram nem os carlistas (em guerra desde 1872 ), nem os monarquicos alfonsinos de Canovas del Castillo , nem os republicanos unitarios, nem sequer as incipientes organizacoes operarias da Internacional , que se pronunciaram pela abstencao . Foram possivelmente os comicios com a participacao mais baixa da Historia da Espanha. na Catalunha apenas votou 25% do eleitorado e em Madrid, 28%.

A Republica federal [ editar | editar codigo-fonte ]

A 1 de Junho de 1873 abriu-se a primeira sessao das Cortes Constituintes e comecou a apresentacao de propostas. A 7 de Junho foi debatida a primeira delas, subscrita por sete deputados, que dizia:

O Presidente, fazendo cumprir o que ordenava o Regulamento das Cortes para a aprovacao definitiva das propostas de lei, dispos celebrar uma votacao nominal ao dia seguinte. A 8 de Junho foi aprovada a proposta com o voto favoravel de 219 deputados e somente 2 contra, proclamando-se esse dia a Republica federal . Ao tempo, os federalistas apostavam por um modelo confederal de tipo helvetico , constituindo-se diretamente em cantoes independentes.

Assim narrava Benito Perez Galdos o clima parlamentar da Primeira Republica:

Presidindo um Conselho de Ministros, farto de debates estereis, chegou Estanislao Figueras a gritar em catalao : ≪ Senhores, ja nao aguento mais. Vou ser-lhes franco: estou ate aos colhoes de todos nos! [ 2 ] Tao farto que a 10 de Junho deixou dissimuladamente sua demissao no seu escritorio na Presidencia, foi dar um passeio pelo parque do Retiro e tomou o primeiro comboio para Paris que saiu da estacao de Atocha .

Governo de Francisco Pi y Margall [ editar | editar codigo-fonte ]

A republica federal para Pi y Margall:

O procedimento -nao e preciso oculta-lo-, era abertamente contrario ao anterior: o resultado podia ser o mesmo. As provincias iam estar representadas nas novas Cortes, e, se estas tinham formada ideia sobre os limites em que haviam de girar os poderes dos futuros Estados, as Cortes podiam leva-la e nas Cortes suste-la. Como determinando a esfera de acao das provincias viria a ficar determinada pelo outro procedimento do Estado, determinando agora a do Poder central, determinava-se, quisera-se ou nao, a das provincias. Um e outro procedimento podiam, sem duvida, ter produzido uma mesma constituicao e nao seria, ao meu jeito de ver, nem patriotismo nem politico dificultar por nao transigir por este ponto, a proclamacao da Republica.

Se o procedimento de embaixo a cima nao era mais logico e adequado para a ideia da Federacao, era, por outro lado, o de cima abaixo mais proprio de uma nacionalidade ja formada como a nossa, e na sua aplicacao muito menos perigoso. Nao havia solucao de continuidade no Poder; nao se suspendia nem por um so momento a vida da nacao; nao era de temer que surgissem graves conflitos entre as provincias; era a obra mais facil, mais rapida, menos exposta a contratempos e vaivens...

Francisco Pi y Margall

Apos a fuga para Franca de Figueras, ao advertir o vazio de poder ja ia pronunciar-se o general Manuel Sodas quando um coronel da Guarda Civil , Jose de la Iglesia, se apresentou com um piquete no edificio do Congresso e anunciou aos deputados que dali nao saia ninguem ate terem eleito um novo Presidente. Elegeram a 11 de Junho o tambem federalista Francisco Pi y Margall , que ao apresentar o seu governo na Assembleia declarou que nao tinha programa e que nao sabia o que fazer. O esforco principal do novo governo seria a elaboracao de uma nova Constituicao, bem como a aprovacao de uma serie de leis de carater social: a divisao de terras desamortizadas entre arrendatarios, colonos e parceiros, o restabelecimento do exercito regular, com incorporacoes obrigatorias, a separacao da Igreja do Estado, a abolicao da escravidao, o ensino obrigatorio e gratuito, a limitacao do trabalho infantil, a criacao de julgados mistos de empresarios e trabalhadores, o direito a sindicalizacao e a jornada de trabalho de 8 horas.

A 16 de Junho foi eleita uma comissao de 25 membros que devia elaborar a nova Constituicao, apresentando o projeto de Constituicao Federal da Republica Espanhola , cuja redacao foi atribuida nomeadamente a Castelar.

A 28 de Junho , Pi y Margall renovou a composicao do seu governo mas, devido a lentidao e as constantes demoras durante os debates da nova Constituicao, os acontecimentos precipitaram-se. A 30 de Junho o municipio de Sevilha deliberou transformar-se em Republica Social, e no dia seguinte os deputados federais intransigentes abandonaram as Cortes. Uma semana mais tarde, a 9 de Julho , em Alcoi , onde desde 7 de Julho se desenvolvia uma onda de assassinatos e acertos de contas, enquanto decorria uma greve revolucionaria (a chamada Revolucao do petroleo ) dirigida por elementos locais da secao espanhola da AIT . Era somente o comeco. Pouco depois, comeca a sublevacao cantonalista com greves gerais em toda a Espanha, soldados assassinando oficiais, prefeitos linchados , donde resultou uma centena de mortos.

Selo do cantao federal de Valencia .

Estas rebelioes nao deram origem a Estados autonomos, mas criaram uma constelacao de cantoes independentes. Os levantamentos sucedem-se em diversas localidades do Levante e Andaluzia . Houve-os de ambito provincial como em Valencia e Malaga , outros mais localizados, como Alcoi , Cartagena , Sevilha , Cadis , Almansa , Torrevieja , Castellon de la Plana , Granada , Salamanca , Bailen , Andujar , Tarifa e Algeciras , e houve mesmo tao pequenos quanto a povoacao manchega de Camunas e a murciana de Jumilla .

O mais conhecido e ativo de todos os cantoes foi o de Cartagena , que se levantou em 12 de Julho naquela base militar e naval, sob a inspiracao do deputado federal murciano Antonio Galvez Arce , conhecido como Antonete .

Bandeira cantonal de Cartagena em 1873

A primeira facanha dos cantonais cartagenenses foi a tomada do castelo de Sao Julian , o que motivou um curioso telegrama do capitao-general do Departamento ao ministro da Marinha: ≪ Castelo San Julian hasteia bandeira turca ≫. Essa " bandeira turca " era na realidade a bandeira vermelha da Republica Federal, a primeira bandeira vermelha na historia da Espanha. Com a sua inflamada oratoria, Galvez galvanizou a marinhagem e apoderou-se da esquadra fundeada no porto, que nesse momento era composta do melhor da Armada . Com a frota no seu poder derramou o terror nessa regiao da costa mediterranea, e foi declarado pirata por decreto do governo de Madrid. Ja em terra, dirigiu uma marcha sobre Madrid que foi desbaratada em Chinchilla . O cantao de Cartagena cunhou moeda propria, o duro cantonal , e resistiu independente durante seis meses.

Duas fragatas cantonais, a Almansa e a Vitoria , zarparam de Cartagena ≪para uma potencia estrangeira≫ (ou seja, para Almeria ), com o fim de recolher fundos. Quando a cidade se recusou a pagar, foi bombardeada e tomada pelos cantonalistas, que cobraram eles mesmos o tributo. O general Contreras, no comando da frota, fez-se render honras militares ao desembarcar, curiosamente ao som da Marcha Real . Depois repetiram a facanha em Alicante e, de volta a Cartagena, foram apresados como piratas pelas fragatas couracadas HMS Swiftsure e SMS Friedrich Karl , britanica e alema respectivamente.

Mais grave mesmo era o problema da Terceira Guerra Carlista , que atuava com total liberdade no Pais Basco , Navarra e Catalunha , e estendia a sua acao por toda a Peninsula com recurso a emboscadas, enquanto o pretendente ao trono, Carlos VII , formava em Estella um governo com os seus proprios ministerios, que chegou mesmo a cunhar moeda, enquanto a conivencia dos franceses permitia receber ajuda externa.

Sem tempo para a Constituicao da Republica Federal ser aprovada nas Cortes, Pi y Margall viu-se numa situacao critica. Recusava reprimir a rebeliao dos cantoes porque declarava, com toda a logica, que os sublevados nao faziam mais que seguir a doutrina que ele proprio proclamara. Em consequencia disso, viu-se forcado a demitir-se em 18 de Julho , apos 37 dias de mandato. Desta forma descreveu as decepcoes que lhe tinha dado a politica:

Projeto de Constituicao Federal [ editar | editar codigo-fonte ]

O projeto de Constituicao Federal da Primeira Republica Espanhola desenvolvia-se ao longo de 117 artigos organizados em 17 titulos.

No seu primeiro artigo fixava o seguinte:

Estes estados teriam uma ≪ completa autonomia economico-administrativa e toda a autonomia politica compativel com a existencia da Nacao ≫, bem como ≪ a faculdade de darem-se uma Constituicao politica ≫ (artigos 92º e 93º).

O projeto de Constituicao previa no seu Titulo IV, alem dos classicos Poder Legislativo , Poder Executivo e Poder Judicial , um quarto Poder de Relacao que seria exercido pelo Presidente da Republica.

O Poder Legislativo estaria nas maos das Cortes Federais, que se comporiam de: Congresso e Senado , sendo o Congresso uma camara de representacao proporcional com um deputado ≪ por cada 50 000 almas ≫ que seria renovada cada dois anos, e o Senado, uma camara de representacao territorial sendo eleitos quatro senadores pelas Cortes de cada um dos Estados.

O Poder Executivo seria exercido pelo Conselho de Ministros, cujo Presidente seria eleito pelo Presidente da Republica.

O artigo 40 do projeto dispunha: ≪ Na organizacao politica da Nacao espanhola todo o individual e da pura competencia do individuo; todo o municipal e do Municipio; todo o regional e do Estado, e todo o nacional, da Federacao ≫. O artigo seguinte declarava que ≪ Todos os poderes sao eletivos, amoviveis e responsaveis ≫, e o artigo 42 que ≪ A soberania reside em todos os cidadaos, e exerce-se em representacao sua pelos organismos politicos da Republica, constituida por meio do sufragio universal ≫.

O Poder Judicial residiria no Tribunal Supremo Federal, que se comporia ≪ de tres magistrados por cada Estado da Federacao ≫ (artigo 73º) que nunca seriam eleitos pelo Poder Executivo nem o Poder Legislativo. Ademais estabelecia que todos os tribunais fossem colegiados e a instituicao do Jurado para todo tipo de delitos.

O Poder de relacao seria exercido pelo Presidente da Republica Federal cujo mandato duraria ≪ quatro anos, nao sendo imediatamente reelegivel ≫, como diz o artigo 81º do projeto.

Governo de Nicolas Salmeron [ editar | editar codigo-fonte ]

Retrato de Nicolas Salmeron Alonso .

Apos aceitar a demissao de Pi y Margall, foi eleito Presidente do Poder Executivo Nicolas Salmeron , com 119 votos a favor e 93 votos contra.

O novo presidente, um republicano federal moderado, defendia a necessidade de chegar a um entendimento com os grupos mais moderados ou conservadores e uma lenta transicao para a republica federal. Sua oratoria era demolidora. Francisco Silvela dizia que Salmeron, nos seus discursos, somente usava uma arma: a artilharia. Antonio Maura caracterizava o tom professoral de Dom Nicolas dizendo que ≪ sempre parece estar a se dirigir para os metafisicos de Albacete ≫.

Ja durante a sua etapa como Ministro de Graca e Justica no governo de Estanislao Figueras, promoveu a abolicao da pena de morte , bem como a independencia do poder judiciario frente ao politico.

Sua nomeacao produziu uma intensificacao do movimento cantonalista , para cujo controlo teve de recorrer a generais abertamente contrarios a Republica Federal, mandando sendas expedicoes militares a Andaluzia e Valencia , no comando dos generais Pavia e Martinez Campos respectivamente, que foram submetendo os diferentes cantoes, exceto o de Cartagena que resistiria ate 12 de Janeiro de 1874 .

Os seus generais solicitaram o "informado" do governo e sua assinatura para executar varias sentencas de morte a varios soldados desertores na frente carlista, imprescindivel, segundo eles, para a recuperacao da disciplina do exercito. Salmeron, homem de principios liberais muito avancados, recusou conceder o "informado", e, como figura inscrito na pedra do seu mausoleu: ≪ Abandono el poder por no firmar una sentencia de muerte ≫. Assim, demitiu a 6 de Setembro .

Governo de Emilio Castelar [ editar | editar codigo-fonte ]

Ao dia seguinte, a 7 de Setembro , foi eleito para ocupar a Presidencia do Poder Executivo o unitario Emilio Castelar , catedratico de Historia e salientado orador, por 133 votos a favor frente aos 67 obtidos por Pi y Margall. Durante a sua anterior etapa, como Ministro de Estado no governo de Estanislao Figueras, promoveu e conseguiu que fosse aprovada a abolicao da escravidao no territorio ultramarino de Porto Rico , embora nao na Cuba pela situacao de guerra que vivia.

Por ocasiao da dificil situacao da Republica, com o agravamento da Guerra Carlista , Emilio Castelar comecou a reorganizacao do exercito, anunciando ante as Cortes que ≪ para suster esta forma de governo preciso de muita infantaria, muita cavalaria, muita artilharia, muita Guarda civil e muitos carabineiros ≫. Apesar da oposicao federalista, as Cortes concederam-lhe poderes extraordinarios para governar, apos o qual se encerraram as Cortes a 20 de Setembro . Confirmou as sentencas de morte que provocaram a demissao do seu predecessor, restabeleceu a ordem e deixou a ponto de rendicao aos cantonais de Cartagena.

Contudo, o caos provocado pela sublevacao cantonal e o recrudescimento da Guerra Carlista levaram a reabrir as Cortes a 2 de Janeiro de 1874 , para submeter a votacao a gestao do seu governo e solicitar plenos poderes com os que salvar a Republica do descredito. [ 3 ]

A sessao das Cortes foi aberta a 2 de Janeiro de 1874 mais os federais lancaram-se contra D. Emilio Castelar, a quem apoiava o capitao-general de Madrid, D. Manuel Pavia , antigo partidario de Prim , com quem se alcara em Villarejo de Salvanes . Duas forcas bem diferentes ameacavam com interromper as deliberacoes das Cortes: os federais, desejosos de acabar com Castelar, e as tropas do general Pavia, partidario de Castelar, que tinha decidido acudir no seu socorro para evitar a sua derrota frente do federalismo.

Saiam ja os regimentos comprometidos pela ordem do capitao-general, quando as Cortes conheceram a derrota de Castelar por 119 votos contra 101. Demitiu o ultimo presidente da Republica, e o das Cortes, Nicolas Salmeron, ordenou uma nova votacao para escolher um novo chefe do Poder Executivo.

Pavia situou-se na praca frente ao edificio com o seu estado maior e ordenou a dois ajudantes impor a Salmeron a dissolucao da sessao de Cortes e a desocupacao do edificio em cinco minutos. A Guarda Civil, que custodiava o Congresso, pos-se sob as ordens do general e ocupou os corredores do Congresso (sem chegar a entrar no salao). Eram as sete menos cinco da manha, quando se estava procedendo a votacao para escolher o candidato federal Eduardo Palanca , e Salmeron, ao receber a ordem do capitao-general, suspendeu a votacao e comunicou o gravissimo acontecimento aos deputados. Entao, estes abandonaram o edificio.

Pavia , republicano unitario, ofereceu a Emilio Castelar continuar na presidencia, mas este recusou ao nao querer manter-se no poder por meios antidemocraticos. Estes feitos supuseram o final oficioso da Primeira Republica, embora oficialmente continuasse quase outro ano mais.

Serie
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Espanha pre-romana
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A Reconquista e o Reino das Asturias
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Dinastia de Borgonha
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Descobrimentos
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Guerra Peninsular
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Revolucao de 1868 e Sexenio Revolucionario
Dinastia de Saboia
Primeira Republica
Restauracao Bourbon
Ditadura de Primo de Rivera
Segunda Republica Espanhola
Guerra Civil
Franquismo
Transicao Espanhola

A Republica unitaria [ editar | editar codigo-fonte ]

No meio da convulsao politica, entrou em Cartagena a 12 de Janeiro o general Lopez Dominguez , substituto de Martinez Campos, enquanto Antonete Galvez, com mais de mil homens, conseguia esquivar o cerco a bordo da “Fragata blindada Numancia”, e por rumo a Orao . O final da experiencia cantonal foi pago por Galvez com o exilio, mas a Restauracao permitiu, mediante anistia, regressar para a sua Torreaguera natal. Nesta epoca principiaria uma estranha e entranhavel amizade com Antonio Canovas del Castillo , maximo responsavel pela Restauracao, que considerava a Galvez um homem sincero, honrado e valente, embora de ideias politicas exageradas.

Entretanto, apos a negativa de Emilio Castelar, foi encarregue o general Serrano , recem-chegado do seu exilio em Biarritz pela sua implicacao na intentona golpista de 23 de Abril , a formacao de um governo de concentracao que agrupou a monarquicos, conservadores e republicanos unitarios, e do que foram excluidos os republicanos federais.

O general Serrano, duque da Torre, de 63 anos, antigo amante de Isabel II, ja tinha desempenhado por duas vezes a chefatura do Estado. Proclamou a Republica unitaria , fazendo-se cargo da Presidencia do Poder Executivo, e governou prescindindo das Cortes numa ditadura republicana conservadora. Durante o seu mandato foi submetido o ultimo dos cantoes insurretos, o de Cartagena, e concentraram-se os esforcos na guerra carlista no Norte da Espanha. O general tentou sem sucesso consolidar-se no poder de jeito ditatorial, segundo o exemplo do regime de duques e generais que fora imposto na Franca apos a queda de Napoleao III e a derrota da Comuna de Paris .

Aos poucos meses, a 13 de Maio cedeu a presidencia do governo a Juan Zavala de la Puente para se encarregar pessoalmente das operacoes contra os carlistas no Norte. E a 3 de Setembro encarregou o governo a Praxedes Mateo Sagasta . A 10 de Dezembro comecou o cerco de Pamplona , mas foi interrompido pelo pronunciamento de Sagunto.

Final da Primeira Republica [ editar | editar codigo-fonte ]

A 29 de Dezembro de 1874, o general Martinez Campos pronunciou-se em Sagunto em favor da restauracao no trono da monarquia bourbonica na pessoa de D. Alfonso de Bourbon , filho de Isabel II . O governo de Sagasta nao se opos a este pronunciamento , permitindo o restauro da monarquia. O triunfo da restauracao Bourbonica foi conseguido gracas ao trabalho previo de Antonio Canovas del Castillo , que porem era contrario ao pronunciamento militar.

Ate 1931 , os republicanos espanhois celebravam em 11 de Fevereiro o aniversario da Primeira Republica. Posteriormente, a comemoracao mudou para 14 de Abril , aniversario da proclamacao da Segunda Republica .

Ver tambem [ editar | editar codigo-fonte ]

Referencias

  1. ≪www.ejercito.mde.es≫ . Consultado em 10 de maio de 2008 . Arquivado do original em 24 de maio de 2007  
  2. Senyors, ja no aguanto mes. Vaig a ser-os franc: estic fins als collons de tots nosaltres! ≫.
  3. Somente fora reconhecida por duas nacoes igualmente federais, Suica e os E.U.A. , e dois paises hispano-americanos.

Bibliografia [ editar | editar codigo-fonte ]

  • BARON FERNANDEZ, Jose. El movimiento cantonal de 1873 (1ª Republica) . Edicios do Castro, A Corunha, 1998. ISBN 84-7492-896-6
  • CATALINAS, Jose Luis y ECHENAGUSIA, Javier. La Primera Republica. Reformismo o revolucion social . Alberto Corazon, Madrid, 1973.
  • GUARDIOLA, Tomas. "Historia de Jumilla". Imprensa Nogues, Murcia, 1976.
  • JOVER ZAMORA, Jose Maria. Realidad y mito de la Primera Republica . Espasa-Calpe, Pozuelo de Alarcon, 1991. ISBN 84-239-1994-3
  • LACOMBA, Juan Antonio. La I Republica. El trasfondo de una revolucion fallida . Guadiana, Madrid, 1976.
  • LOPEZ CORDON, Maria Victoria. La Revolucion de 1868 y la Republica . Siglo XXI, Madrid, 1976.
  • VV.AA. Espana, 1868-1874. Nuevos enfoques sobre el Sexenio Democratico . Junta de CyL, Valladolid, 2002. ISBN 84-9718-089-5

Ligacoes externas [ editar | editar codigo-fonte ]