Nicolau Maquiavel

Origem: Wikipedia, a enciclopedia livre.
Nicolau Maquiavel
Niccolo di Bernardo dei Machiavelli
Nicolau Maquiavel
Nicolau Maquiavel
Nascimento 03 de maio de 1469
Florenca , Republica Florentina
Morte 21 de junho de 1527  (58 anos)
Florenca , Republica Florentina
Nacionalidade florentina
Magnum opus O Principe
Escola/tradicao Republicanismo classico, filosofia do Renascimento e realismo politico
Principais interesses Politica , historia , literatura , musica
Assinatura

Nicolau Maquiavel (em italiano : Niccolo di Bernardo dei Machiavelli ; Florenca , 3 de maio de 1469 ? 21 de junho de 1527 ) foi um filosofo , historiador , poeta , diplomata e musico de origem florentina do Renascimento . [ 1 ] E reconhecido como fundador do pensamento e da ciencia politica moderna, [ 1 ] pelo fato de ter escrito sobre o Estado e o governo como realmente sao, e nao como deveriam ser.

Desde as primeiras criticas, feitas postumamente pelo cardeal ingles Reginald Pole , [ 2 ] cunhou-se um entendimento equivocado da obra completa de Maquiavel. Com o choque de realidade causado pelas suas ideias sobre a dinamica do poder, seus textos geraram uma ameaca aos valores cristaos vigentes, principalmente devido as analises do poder politico da igreja catolica contidas em " O Principe ". Ja na literatura e teatro ingleses do seculo XVII , foi associado diretamente ao Diabo por meio das referencias caricaturais e do apelido "Old Nick". Surgiu, ai, na visao do pensamento enganoso e da trapaca, o adjetivo maquiavelico nas linguas ocidentais . [ 3 ] [ 4 ]

Maquiavel viveu a juventude sob o esplendor politico da Republica Florentina , durante o governo de Lourenco de Medici . Entrou para a politica aos 29 anos de idade, no cargo de Secretario da Segunda Chancelaria, onde observou o comportamento de grandes nomes da epoca e a partir dessa experiencia retirou alguns postulados para sua obra. Depois de servir em Florenca durante catorze anos foi afastado e escreveu suas principais obras. Conseguiu tambem algumas missoes de pequena importancia, mas jamais voltou ao seu antigo posto como desejava.

Como renascentista, Maquiavel utilizou-se de autores e conceitos da Antiguidade Classica de maneira nova. Um dos principais autores foi Tito Livio , alem de outros lidos atraves de traducoes latinas . Entre os conceitos apropriados por ele encontram-se o de virtu e o de fortuna .

Periodo historico de Maquiavel [ editar | editar codigo-fonte ]

A peninsula Italica no periodo do Renascimento (1494) (em catalao )

Durante o Renascimento , as cinco principais potencias na peninsula Italica eram o Ducado de Milao , a Republica de Veneza , a Republica Florentina , o Reino de Napoles e os Estados Papais . [ 5 ] A maior parte dos Estados da peninsula era ilegitima, tomados por mercenarios chamados condottieri .

Foram incapazes de se aliar durante muito tempo estando entregues a intriga diplomatica e as disputas, e, por suas riquezas, eram atrativos para as demais potencias europeias do periodo, principalmente Espanha e Franca . A politica italiana era, portanto, muito complexa e os interesses politicos estavam sempre divididos. Batalhando entre si, ficavam a merce das ambicoes estrangeiras, mas a influencia de alguem como Lourenco de Medici havia impedido uma invasao. Com a morte deste em 1492, e a inaptidao politica de seu filho, a Italia foi invadida por Carlos VIII , causando a expulsao dos Medici de Florenca.

Esta era palco do conflito entre duas tendencias: a da exaltacao paga do individuo, da vida e da gloria historica, representada por Lourenco de Medici e seu irmao Juliano de Medici ; e a da contemplacao crista do mundo, voltada para o alem, que se formava como resposta ao ressurgimento da primeira nos mais variados aspectos da vida, como a arte , e ate na Igreja, representada por religiosos como Girolamo Savonarola .

Anunciando a chegada de Carlos VIII como a de um salvador, contrario aos Medici e com grande apoio popular, o pregador Girolamo Savonarola tornou-se a figura mais importante da cidade dando ao governo um vies teocratico - democratico . Com sua crescente autoridade e influencia, Savonarola passou a criticar os padres de Roma como corruptos e o papa Alexandre VI por seu nepotismo e imoralidade. Em 12 de maio de 1497, o papa excomungou o frade, [ 6 ] mas a excomunhao foi declarada invalida por ele. No entanto, Savonarola acabou preso e executado pelo governo provisorio em 23 de maio de 1498. [ 7 ] Com a demissao de seus simpatizantes, cinco dias depois da morte do frade, Maquiavel, com 29 anos, foi nomeado para o cargo de secretario da Segunda Chancelaria de Florenca. [ 7 ]

Juventude [ editar | editar codigo-fonte ]

Catarina Sforza
Lorenzo di Credi
Pinacoteca Civica de Forli

Pouco se conhece da biografia de Maquiavel antes de entrar para a vida publica. Ele era o terceiro de quatro filhos de Bernardo e Bartolomea de' Nelli. Bernardo era jurista e tesoureiro de uma provincia italiana chamada Marca de Ancona. A mae era proxima da nobre familia de Florenca. [ 8 ] Sua familia era toscana , antiga e empobrecida. Iniciou seus estudos de latim com sete anos [ 9 ] e, posteriormente, estudou tambem o abaco , bem como os fundamentos da lingua grega antiga . Comparada com a de outros humanistas sua educacao foi fraca, principalmente por causa dos poucos recursos da familia.

Nao se sabe ao certo o que teria levado a escolha de Maquiavel para a chancelaria em 19 de junho de 1498. Alguns autores afirmam que ele teria trabalhado ai como auxiliar em 1494 ou 1495, hipotese contestada atualmente. Outros preferem atribuir a sua entrada a escolha de um antigo professor seu, Marcelo Virgilio Adriani, o qual ele teria conhecido em aulas na Universidade Publica de Florenca e naquele momento era Secretario da Primeira Chancelaria. [ 10 ]

Segunda Chancelaria [ editar | editar codigo-fonte ]

A principal instituicao de Florenca nesse periodo era a Senhoria [ 11 ] com diversos orgaos auxiliares como as duas chancelarias. A primeira chancelaria era responsavel pela politica externa e pela correspondencia com o exterior. A segunda ocupava-se com as guerras e a politica interna. No entanto, essas funcoes muitas vezes se sobrepunham e a autoridade da primeira chancelaria prevalecia sobre a da segunda. Entre as funcoes exercidas por Maquiavel, estavam tarefas burocraticas e de assessoria politica, de diplomacia e de comando no Conselho dos Dez, um outro orgao auxiliar da Senhoria. [ 12 ]

Primeiras missoes diplomaticas [ editar | editar codigo-fonte ]

A primeira de suas missoes [ 13 ] foi a de convencer um condotiero a continuar recebendo o mesmo soldo. Nesse momento, o governo da Republica de Florenca desejava reaver o controle de Pisa que havia aproveitado a passagem de Carlos VIII para rebelar-se, de forma que, ao realizar essa primeira missao de forma satisfatoria, foi enviado em julho de 1499 para negociar com Catarina Sforza , duquesa de Imola e Forli a renovacao da condota de seu filho Otaviano e para tentar conseguir o auxilio dela com soldados e artilharia para a tomada de Pisa.

Maquiavel
Estatua na Galleria degli Uffizi , Florenca

O governo de Florenca contratara o filho da duquesa por 15 mil ducados sabendo-o mau estrategista militar e Maquiavel tinha como instrucoes, diminuir o soldo e conseguir tropas e municao para a retomada de Pisa. Ele conseguiu de forma satisfatoria reduzir o soldo a 12 mil ducados e nao comprometeu a cidade na defesa de Imola e Forli como queria Catarina. [ 13 ] A partir dessa primeira missao, escreveu o Discorso fatto al Magistrato dei Dieci sopra le cose di Pisa , de 1499, seu primeiro escrito politico. [ 13 ]

Missao a corte francesa [ editar | editar codigo-fonte ]

Pouco depois Luis XII , sucessor de Carlos VIII , conquistou o Ducado de Milao a Ludovico Sforza e, em troca de seu apoio, a Republica Florentina solicitou o auxilio deste na guerra contra a Republica de Pisa . Luis XII enviou um exercito mercenario que se mostrou indisciplinado e desinteressado pela luta, tendo ate mesmo prendido um comissario de Florenca. Logo foi necessario enviar representantes a corte francesa em Nevers para relatar a situacao e encontrar uma solucao sem, entretanto, irritar o rei. Para isso, foram enviados Francisco della Casa e Maquiavel. Pouco antes de ir, seu pai morreu e ficou so com o irmao Toto, que em breve se dedicaria a vida eclesiastica, pois as duas irmas ja haviam se casado. [ 14 ]

Aos dois, o rei respondeu que parte da culpa pelo fracasso era de Florenca e inclusive insistiu para que o ataque a Pisa continuasse as custas da cidade para reparar a honra do rei. Sem poderes para negociar, Maquiavel limitou-se a aconselhar a Senhoria durante o periodo em que acompanhou a corte atraves de Franca e a solicitar o envio de embaixadores que pudessem tratar destes assuntos com mais autoridade. Ai pode conhecer um pouco mais sobre uma nacao que se havia unificado em torno de um rei, diferentemente da Italia . Depois de mais duas viagens a Franca anos depois, reuniria suas observacoes sobre a politica francesa em dois textos: Ritrati delle cose di Francia (1510) [ 1 ] e De natura gallorum .

De volta a cidade, em 1501, casou-se com Marietta Corsini, com quem teria quatro filhos e duas filhas (Bernardo, Ludovico, Piero, Guido, Bartolomea e outra menina morta na primeira infancia), [ 7 ] mas teve logo que viajar de novo, pois os partidos politicos de Pistoia , outra cidade submetida a Florenca, haviam se unido e ameacavam rebelar-se. Maquiavel foi de opiniao que se deveria dar fim e proibir tais partidos.

Cesar Borgia [ editar | editar codigo-fonte ]

Cesar Borgia
Altobello Melone
Galleria dell'Accademia Carrara, Bergamo

Entre 1502 e 1503, Maquiavel teve contato com Cesar Borgia , filho do papa Alexandre VI , um cruel e ambicioso condotiero . [ 1 ]

Cesar Borgia (conhecido tambem como Duque Valentino), por volta de 1501 como condotiero da Igreja e filho do papa, vinha conquistando territorios na Toscana , como Faenca , em 25 de abril. [ 7 ] Acercou-se de Florenca com seus exercitos e exigiu que a cidade se aliasse a ele, pagasse-lhe um tributo e mudasse seu governo para um mais favoravel a si. Quando os florentinos, sem opcao, estavam prestes a ceder, Luis XII de Franca pressionou Cesar Borgia que foi obrigado a levantar acampamento. Dirigiu-se para Piombino , conquistando-a facilmente e tambem Pesaro e Rimini , apos o que voltou para Roma.

Cesar Borgia percebeu que, com a alianca francesa, Florenca seria um empecilho a seu plano de expansao e por isso solicitou o envio de representantes com os quais tratar de seus interesses. Para essa missao, em 24 de junho de 1502, foi enviado Francisco Soderini, tendo Maquiavel como secretario e auxilio. [ 7 ] Durante a ida, surpreendeu-os a noticia da conquista do ducado de Urbino pelo duque Valentino: ele pediu um reforco de artilharia para a cidade e quando este lhe foi enviado, voltou-se contra o ducado.

Chegadas as tropas francesas, os enviados puderam retornar. Apos a retirada das tropas de Borgia da Toscana, Maquiavel escreveu o "Sobre o modo de tratar os povos rebelados da Valdichiana" (1502) [ nota 1 ] sua primeira obra sem relacao com as atividades da Chancelaria, [ 1 ] [ 15 ] e foi neste periodo (22 de setembro de 1502) que ocorreu uma reforma na constituicao florentina tornando o cargo de gonfaloneiro vitalicio. Ele era ocupado por Piero Soderini , [ 7 ] de quem Maquiavel tornou-se proximo.

Nesse meio tempo, Cesar Borgia conquistou a seus proprios condotieri Citta di Castello e Bolonha . Temendo o duque, estes se reuniram em Magione para conspirar contra ele. Cesar Borgia solicitou a Florenca um embaixador para negociar uma alianca e enviaram-lhe Maquiavel, sem poderes de embaixador, em 5 de outubro de 1502, apenas com a incumbencia de entregar os conjurados, afirmando que eles haviam convidado Florenca para participar da conspiracao, mas que esta havia se negado.

A 9 de dezembro, Cesar Borgia marchou para Cesena com a intencao de dar fim ao conluio. La, mandou prender seu lugar-tenente, Ramiro de Lorque, que apareceu morto no dia seguinte. Dirigiu-se para Pesaro e depois, para Fano , ordenando que Orsini e Vitellozzo Vitelli , dois de seus subordinados, conquistassem Senigalia (26 de dezembro) [ 7 ] aonde, juntamente com Oliverotto de Fermo deveriam aguarda-lo. Foi ai que, ao chegar com suas tropas, mandou prender e, mais tarde, executar os tres. Desse acontecimento deu Maquiavel sua analise no escrito: "Descricao da forma como procedeu o Duque Valentino para matar Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, o senhor Paolo e o Duque de Gravina Orsini" (1503). [ 7 ] [ nota 2 ]

Pedindo ajuda florentina, mas sem espera-la, partiu para conquistar Citta di Castello , Perugia , Corinaldo , Sassoferrato e Gualdo , de onde Maquiavel foi chamado de volta por ter sido nomeado um embaixador. Chegou a Florenca em 23 de janeiro de 1508. Com a morte de Alexandre VI e tendo Julio II se tornado Papa, Cesar Borgia perdeu seu apoio e veio a se enfraquecer. Feito prisioneiro duas vezes, morreu lutando pelo exercito de Navarra , mas a figura de Cesar Borgia ficaria marcada para Maquiavel como a do perfeito representante de seu principe. [ 16 ] [ 17 ]

Guarda florentina [ editar | editar codigo-fonte ]

Com a morte de Cesar Borgia , surgiu um novo problema: a expansao da Republica de Veneza pela Romanha que surpreendeu o papa, os florentinos e o imperador romano-germanico Maximiliano . Sentindo os perigos externos se avolumarem e, por outro lado, conhecendo a ineficiencia das tropas mercenarias, Maquiavel solicitou a Soderini a permissao para criar um exercito formado por cidadaos de Florenca. Recebida a autorizacao apos alguma resistencia, iniciou imediatamente seus trabalhos e apenas cinco meses depois, em 15 de fevereiro de 1506 as novas tropas desfilaram [ 7 ] na Piazza della Signoria . Pouco antes havia terminado o Decennale primo , [ 7 ] poema de 550 versos em "terca rima" que narravam os ultimos dez anos e ao qual se seguiria o Decennale secondo (em 1509).

Por essa epoca, o papa Julio II decidiu retomar os dominios da Igreja conquistados por Veneza e pelos homens de Borgia: Baglioni e Bentivoglio. Marchando contra eles, pediu ajuda de Florenca mediante envio de tropas. Sem querer desguarnecer Pisa ou desgostar o papa, decidiu-se enviar Maquiavel para ganhar tempo. Ele acompanhou o papa ate Perugia , onde assistiu espantado a rendicao de Baglioni, pois nao compreendia como ele havia deixado passar a oportunidade de prender o Papa, na sua visao, um principe invadindo seus dominios como outro qualquer. [ 18 ] Nao estava presente na tomada da Bolonha por que Florenca finalmente enviou as tropas solicitadas, bem como um embaixador para substitui-lo.

Queda de Soderini [ editar | editar codigo-fonte ]

Nesse periodo, Maximiliano I declarou ter a intencao de conquistar a Italia [ 7 ] para restaurar o antigo Sacro Imperio Romano-Germanico fazendo-se coroar em Roma . Com isso, os florentinos decidiram enviar representantes para saber a que custo poderiam preservar a cidade. Maquiavel e Francesco Vettori ? que se tornariam amigos dai em diante ? foram encarregados dessa negociacao, passam por Trento , Bolzano e Innsbruck em dezembro de 1507 [ 7 ] e chegaram a corte, em Viena , em janeiro de 1508.

Em 16 de junho de 1508, Maquiavel e Vettori retornam a Florenca, [ 7 ] pois Maximiliano seria derrotado pela Republica de Veneza . Ao retornar, Maquiavel passou a organizar as operacoes contra a Republica de Pisa , vencida em 4 de junho de 1509, apos 15 anos de guerra. Da experiencia com a viagem ao imperio, Maquiavel escreveria o " Ritratti delle cose dell'Alemagna " (1508-1512). [ 1 ]

Entrementes as hostilidades entre o papa e Veneza chegaram ao maximo. Em 25 de marco de 1509, o papa Julio II alia-se a Liga de Cambrai . [ 7 ] Esta vence a Republica de Veneza em Agnadello (14 de maio), tomando a maior parte das possessoes venezianas em terra firme. [ 7 ] Por outro lado, decidindo que nao poderia deixar a Italia cair em maos estrangeiras, o papa formou uma alianca com a Espanha e Veneza contra a Franca .

Os florentinos que sempre contaram com a ajuda do rei frances e que nao queriam desagradar o papa viram-se divididos. Maquiavel foi enviado pela terceira vez a corte francesa [ 7 ] para explicar a prudencia dos florentinos apesar da exigencia do rei de que esta se declarasse a seu favor. Sem sucesso, retornou em outubro de 1510 com a certeza de que haveria uma guerra entre a Franca e os Estados da Igreja .

Apos Luis XII ter convocado um concilio cismatico contra o papa e este decidido reunir-se em Pisa , dominio florentino, o papa ameacou Florenca com a excomunhao e Maquiavel teve que negociar o afastamento da reuniao. Apesar do sucesso da missao [ 7 ] ? os padres dirigiram-se para Milao ? o papa resolveu dar fim ao governo de Soderini. Uniu-se ao rei de Aragao contra a Franca e como Florenca se recusou a apoia-lo, a Dieta de Mantua atacou a cidade e destituiu Soderini, trazendo os Medici de volta ao poder.

Escrita das principais obras [ editar | editar codigo-fonte ]

Casa de Maquiavel durante seu exilio em Sant'Andrea in Percussina

Em 7 de novembro de 1512, Maquiavel foi demitido [ 7 ] sob a acusacao de ser um dos responsaveis por uma politica anti-Medici e grande colaborador do governo anterior. Foi multado em mil florins de ouro e proibido de se retirar da Toscana durante um ano.

Para piorar sua situacao, no ano seguinte dois jovens, Agostino Capponi e Pietropolo Boscoli, foram presos e acusados de conspirarem contra o governo. Um deles deixou cair involuntariamente uma lista de possiveis adeptos do movimento republicano, entre os quais estava o de Maquiavel, que foi preso e torturado . [ 19 ] Para sua sorte, com a morte do papa Julio II em 21 de fevereiro de 1513 e a eleicao de Joao de Medici, um florentino, como Leao X , todos os suspeitos de conspiracao foram anistiados como sinal de regozijo e com eles Maquiavel, depois de passar 22 dias na prisao.

Papa Julio II
Rafael ,1512, National Gallery , Londres

Libertado, seguiu para uma propriedade no distrito de Sant'Andrea in Percussina [ 7 ] distante 3,3 quilometros [ 20 ] da comuna de San Casciano dei Bagni , provincia de Florenca . Foi durante esse ostracismo e inatividade, o qual duraria ate sua morte, que ele escreveu suas obras mais conhecidas: O Principe [ nota 3 ] e os Discursos sobre a Primeira Decada de Tito Livio (1512-1517). Foi tambem nesse periodo que conheceu varios escritores no Jardim Rucellai, circulo de literatos, e se aproximou de Francesco Guicciardini apesar de ja conhece-lo ha tempos. Entre os escritos desse periodo estao o poema Asino d'oro (1517), a peca A Mandragora (1518), considerada uma obra prima da comedia italiana, [ 21 ] e Novella di Belfagor (romance, 1515), alem de varios tratados historico-politico, poemas e sua correspondencia particular (organizada pelos descendentes) como Dialogo intorno alla nostra lingua (1514), Andria (1517), Discorso sopra il riformare lo stato di Firenze (1520), Sommario delle cose della citta di Lucca (1520), Discorso delle cose florentine dopo la morte di Lorenzo (1520), Clizia , comedia em prosa (1525), Frammenti storici (1525) e outros poemas como Sonetti , Canzoni , Ottave, e Canti carnascialeschi .

Com a morte de Lourenco II em 1520, Julio de Medici, que depois tornou-se papa com o nome de Clemente VII , assumiu o poder em Florenca. Ele via Maquiavel com melhores olhos que seus antecessores e o contratou como historiador da republica para escrever uma Historia de Florenca , [ 7 ] obra a qual dedicaria os sete ultimos anos de sua vida. Nesse mesmo ano, ele estava ocupado escrevendo A Arte da Guerra (1519-1520). [ 1 ] E e a partir de uma viagem a trabalho a Luca que ele escreveu a Vita di Castruccio Castracani da Lucca (1520).

Apos a queda dos Medici, em 1527, com a invasao e saque de Roma pelas tropas espanholas de Carlos I , a republica instalou-se novamente na cidade com o restabelecimento do Grande Conselho anteriormente instituido por Savonarola. [ 7 ] Maquiavel viu mais uma vez suas esperancas de voltar a servir a cidade serem desfeitas, pois havia trabalhado para os Medici e foi tratado com desconfianca pela nova republica.

Poucos dias depois, ficou doente, sentindo dores intestinais. Morreu obscuramente em 21 de junho e no dia seguinte foi enterrado no tumulo da familia na Basilica de Santa Cruz em Florenca. [ 7 ]

O Principe [ editar | editar codigo-fonte ]

Lourenco II de Medici
Cristofano dell Altissimo, 1550
Ver artigo principal: O Principe

O "Principe" e provavelmente o livro mais conhecido de Maquiavel e foi completamente escrito em 1513, [ 1 ] apesar de publicado postumamente, [ 1 ] em 1532. Teve origem com a uniao de Juliano de Medici e do papa Leao X , [ 22 ] com a qual Maquiavel viu a possibilidade de um principe finalmente unificar a Italia e defende-la contra os estrangeiros, apesar de dedicar a obra a Lourenco II de Medici , [ 1 ] [ nota 4 ] mais jovem, de forma a estimula-lo a realizar esta empreitada. Outra versao sobre a origem do livro, diz que ele o teria escrito em uma tentativa de obter favores dos Medici, contudo ambas as versoes nao sao excludentes.

Esta dividido em 26 capitulos. [ 7 ] No inicio ele apresenta os tipos de principado existentes e expoe as caracteristicas de cada um deles. A partir dai, defende a necessidade do principe de basear suas forcas em exercitos proprios, nao em mercenarios e, apos tratar do governo propriamente dito e dos motivos por tras da fraqueza dos Estados italianos, conclui a obra fazendo uma exortacao a que um novo principe conquiste e liberte a Italia. [ 7 ] Em uma carta ao amigo Francesco Vettori, datada de 10 de dezembro de 1513, [ 7 ] Maquiavel comenta sobre o escrito:

E como Dante diz que nao se faz ciencia sem registrar o que se aprende, eu tenho anotado tudo nas conversas que me parece essencial, e compus um pequeno livro chamado "De Principatus", onde investigo profundamente o quanto posso cogitar desse assunto, debatendo o que e um principado , que tipos de principado existem, como sao conquistados, mantidos, e como se perdem
— Carta de Nicolau Maquiavel a Francesco Vettori, de 10 de dezembro de 1513. [ 23 ]

Discursos sobre a primeira decada de Tito Livio [ editar | editar codigo-fonte ]

Os Discursos sobre a Primeira Decada de Tito Livio opoem-se a O Principe pelo tema, apesar de ambos compartilharem alguns conceitos. Foram pensados como analise e comentario a toda a obra de Tito Livio , [ 24 ] mas permaneceram incompletos, nao passando da primeira decada.

Esta obra surgiu da vontade do autor de comparar as instituicoes da antiguidade, em especial as da Roma classica , com as de Florenca no periodo. [ 25 ] Assim, seguindo a obra de Tito Livio, analisa como surgem, se mantem e se extinguem os Estados . Ficou assim dividido em tres partes, estudando na primeira a fundacao e a organizacao, em seguida o enriquecimento e a expansao e por fim sua decadencia.

A Arte da Guerra [ editar | editar codigo-fonte ]

Entre 1519 e 1520, escreveu Dell'arte della guerra ("A Arte da Guerra"), o unico de seus trabalhos sobre politica publicado em seu tempo de vida. [ 1 ] Em sintese, ele da conselhos sobre como obter e manter forca militar e defende que o preparo militar dos cidadaos e necessario para que eles e seu Estado mantenham a liberdade. [ 1 ]

Interpretacoes comuns [ editar | editar codigo-fonte ]

Folha de rosto da edicao de 1550 de O Principe e de A vida de Castruccio Castracani da Lucca , de Nicolau Maquiavel

Ha discordancias sobre a melhor forma de descrever os temas unificadores que podem ser encontrados nas obras de Maquiavel, especialmente nas duas principais obras politicas, O Principe e os Discursos . Alguns comentaristas o descreveram como inconsistente, outros, como Hans Baron, argumentaram que suas ideias devem ter mudado drasticamente ao longo do tempo. Alguns argumentaram que suas conclusoes sao melhor entendidas como um produto de seu tempo, suas experiencias e sua educacao. Outros, como Leo Strauss e Harvey Mansfield, argumentaram fortemente que ha uma consistencia e distincao muito fortes e deliberadas, chegando a argumentar que isso se estende a todos os trabalhos de Maquiavel, incluindo suas comedias e cartas. [ 26 ] [ 27 ]

A obra de Maquiavel relaciona-se diretamente com o tempo no qual foi produzida. O metodo utilizado por ele rompe com a tradicao medieval ao fundamentar-se no empirismo e na analise dos fatos recorrendo a experiencia historica da Roma Antiga ganha por ele em seus estudos. Alem disso, ele foi o primeiro a propor uma etica para a politica diferente da etica religiosa, ou seja, a finalidade da politica seria a manutencao do Estado. [ 27 ]

O primeiro a se pronunciar sobre sua obra foi o cardeal ingles Reginald Pole , se dizendo horrorizado com a influencia que ela teria sobre Thomas Cromwell . [ 2 ] Os jesuitas o acusaram de ser contra a Igreja e convenceram o papa paulo IV a coloca-lo no Index Librorum Prohibitorum em 1559. [ 2 ] Na Franca, um huguenote chamado Innocent Gentillet escreveu uma obra na qual o acusou de ateismo e, seus metodos, de causadores do Massacre da noite de Sao Bartolomeu . Esta obra foi muito difundida na Inglaterra, contribuindo para a visao apresentada no teatro do seculo XVI. Em geral seus criticos se basearam em O Principe , analisando a obra isoladamente das demais obras de Maquiavel e sem levar em conta o contexto no qual foi produzida.

Houve tambem aqueles que quiseram conciliar seu pensamento com a Igreja ou torna-lo um nacionalista; sem muito sucesso, pois manipulavam seu pensamento da mesma forma. [ 2 ] No presente, as analises feitas procuram levar em conta principalmente os Discursos sobre a primeira decada de Tito Livio e sua A Arte da Guerra , contextualizando seus escritos e declarando que Maquiavel nao inventou uma teoria politica, apenas descreveu as praticas que viu refletindo sobre elas. [ 28 ]

Comentadores como Leo Strauss chegaram a nomear Maquiavel como o criador deliberado da propria modernidade. Outros argumentaram que Maquiavel e apenas um exemplo particularmente interessante de tendencias que estavam acontecendo a sua epoca. De qualquer forma, Maquiavel se apresentou em varios momentos como alguem lembrando os italianos das velhas virtudes dos romanos e gregos, e outras vezes como alguem promovendo uma abordagem completamente nova da politica. [ 27 ]

Conselheiro de tiranos [ editar | editar codigo-fonte ]

Maquiavel
Busto no Palazzo Vecchio , em Florenca

Essa analise comecou a difundir-se com a Reforma e a Contrarreforma . Se ate entao suas obras eram ignoradas, a partir dai, o autor e suas obras passaram a ser vistos como perniciosos, sendo forjada a expressao " os fins justificam os meios ", nao encontrada em sua obra. [ 29 ] [ 30 ]

Essa interpretacao esta ligada tambem a visao de seus escritos como base teorica do absolutismo , ao lado de Thomas Hobbes e Jacques-Benigne Bossuet , sem, no entanto, contemplar-se os Discursos sobre a primeira decada de Tito Livio em que faz elogios a forma republicana de governo.

Em sua obra O Principe , defendeu a centralizacao do poder politico e nao propriamente o absolutismo. Suas consideracoes e recomendacoes aos governantes sobre a melhor maneira de administrar o governo caracterizam a obra como uma teoria do Estado moderno. Ele e, de fato, considerado o "pai da moderna teoria politica". [ 1 ]

Maquiavel defende a ideia de que um estado forte depende de um governante eficaz, e para que ele seja bom, ele deve ter boas habilidades politicas. Para ele, sao caracteristicas relevantes de um bom principe, ser bondoso, caridoso, religioso e ter moral. Contudo, Maquiavel argumentava nao ser necessario possui-las de fato, o governante devia apenas manter as aparencias, pois o governo precisa do apoio e opiniao publica; em momentos de crise a populacao deve ficar contra o governo. Maquiavel se preocupava em manter o Estado, por isso deixa conselhos para o soberano sobre como o fazer. Deste modo, ele apresenta propostas de como dominar nacoes.

No caso de dominacao sobre uma cultura diferente, ele apresenta tres meios para tal feito.

Dominacao militar < Colonizacao < Mudanca da capital

  • A dominacao militar e vista como o meio menos eficiente, pois assim a nacao estrangeira enxergaria o principe como um inimigo e nao o apoiaria. A colonizacao tem maior eficacia, porem nao e suficiente. Desta maneira, haveria uma mescla entre a cultura da nacao dominada e da nacao dominadora, beneficiando ambas as partes. Ja a transferencia da capital seria o meio mais eficaz. Se o principe reside na nacao que esta dominando, ele passa a levar melhorias para o lugar e a ganhar maior aceitacao do povo.

No caso de dominacao de um pais de grande extensao, ele propoe duas alternativas:

Centralizar burocraticamente < Descentralizar aristocraticamente

  • Maquiavel afirmava que a segunda proposta era mais eficaz, pois ao descentralizar o poder, ele conferiria autoridade a algumas familias aristocraticas para governar determinadas regioes do pais. Dessa forma, ele teria pessoas de sua confianca fiscalizando todo o territorio e o poder ainda estaria concentrado em suas maos. Ja a primeira alternativa nao seria uma boa solucao, pois ele apenas criaria instituicoes burocraticas, mas o poder ainda estaria centralizado em si.

Maquiavel ainda propoe explicacoes para dominar uma sociedade acostumada com suas proprias leis:

Destruicao < Transferencia de capital < Tolerancia conservadora

  • Em primeira instancia, o principe deveria permitir as leis da nacao dominada e tolerar as diferencas. Dessa maneira, a tolerancia conservadora e vista como a melhor opcao. A segunda alternativa tambem e considerada aceitavel em caso de a primeira nao demonstrar exito, ja que ao transferir a capital ele passa a levar mais melhorias para o local e a ganhar aceitacao do povo. Caso a populacao nao aceite dominacao e se revolte, a unica alternativa restante seria a destruicao daquele povo.

Uma leitura apressada ou enviesada de Maquiavel poderia levar-nos a entende-lo como um defensor da falta de etica na politica, em que "os fins justificam os meios". Para entender sua teoria e necessario coloca-lo no contexto da Italia renascentista , em que se lutava contra os particularismos locais. Durante o seculo XVI, a peninsula Italica estava dividida em diversos pequenos Estados , entre republicas , monarquias , ducados , alem dos Estados Papais . As disputas de poder entre esses territorios eram constantes, a ponto de os governantes contratarem os servicos do condotieri ( mercenarios ) com o intuito de obter conquistas territoriais.

Foi muito difundida no seculo XVI e encontram-se aproximadamente 400 pecas [ 31 ] que citam Maquiavel, todas vinculando seu nome a maldade, a ardilosidade e a falta de escrupulos. William Shakespeare , por exemplo, o coloca em uma fala de Ricardo, Duque de Gloucester na sua peca sobre Henrique VI ( Henry VI, Part 1 , Henry VI, Part 2 , Henry VI, Part 3 ). [ 32 ]

Conselheiro do povo [ editar | editar codigo-fonte ]

Uma segunda interpretacao diz que ao escrever "O Principe", Maquiavel tentava alertar o povo sobre os perigos da tirania , tendo entre seus adeptos, Baruch de Espinoza e Jean-Jacques Rousseau . Este ultimo escreveu "(…) e o que Maquiavel fez ver com evidencia. Fingindo dar licoes aos reis, deu-as, e grandes, aos povos". [ 33 ] Foi defendida recentemente por estudiosos da obra dele como Garret Mattingly.

Ha os que afirmam ser "O Principe" uma satira dos costumes dos governantes ou que o autor nao acreditaria no que escreveu, baseando esta afirmacao na preferencia que teria Maquiavel pela republica como forma de governo. Contudo o autor tambem faz criticas a republica. [ 34 ] [ 35 ]

Nacionalista [ editar | editar codigo-fonte ]

Maquiavel era um verdadeiro republicano, mas ele acreditava que somente a forca de um lider especial poderia criar o um Estado italiano forte como ele imaginava. [ 1 ] Isso, muito tempo depois, na Europa do seculo XIX, durante as Guerras Napoleonicas , com a Alemanha e a Italia fragmentadas e com os nacionalismos internos surgindo, gerou uma visao de Maquiavel como um nacionalista exaltado, disposto a tudo pela uniao e defesa da Italia, como demonstrado no ultimo capitulo de "O Principe":

Nao se deve, portanto, deixar passar esta ocasiao: a Italia, tanto tempo passado, ha de ver enfim, a chegada de seu redentor. E faltam-me palavras para exprimir com que amor seria ele recebido em todas aquelas provincias que padeceram com o aluvio invasor dos estrangeiros; com que sede de vinganca, com que inabalavel fe, com que devocao, com que lagrimas. Que portas fechar-lhe-iam? Que povos negar-lhe-iam a obediencia? Que inveja ser-lhe-ia oposta? Que italiano negar-lhe-ia o respeito? [ 7 ]

A obra de Maquiavel revela a consciencia diante do perigo da divisao politica da peninsula em varios estados, que estariam expostos a merce das grandes potencias europeias. Hegel , Herder , Macaulay e Burd foram alguns de seus defensores, [ 36 ] certamente fundamentando sua interpretacao no capitulo final de O Principe em que Maquiavel faz uma apaixonada defesa de uma Italia unificada, afirmando que um povo so pode ser feliz e prospero se estiver unido.

Pensamento [ editar | editar codigo-fonte ]

Maquiavel nao foi um pensador sistematico. [ 37 ] [ 38 ] Ele utiliza o empirismo para escrever atraves de um metodo indutivo e pensa em seus escritos como conselhos praticos, sendo alem disso antiutopico e realista. [ 37 ] A teoria nao se separa da pratica em Maquiavel. [ 38 ] Os conceitos desenvolvidos por ele rompem com a tradicao medieval teologica e tambem com a pratica, comum durante o Renascimento , de propor estados imaginarios perfeitos, os quais os principes deveriam ter sempre em mente. A partir da observacao da politica de seu tempo e da comparacao desta com a da Antiguidade vai formular o seu pensamento por acreditar na imutabilidade da natureza humana.

Virtu e fortuna [ editar | editar codigo-fonte ]

Os conceitos de virtu e fortuna sao empregados varias vezes por Maquiavel em suas obras. Para ele, a virtu seria a capacidade de adaptacao aos acontecimentos politicos que levaria a permanencia no poder. A virtu seria como uma barragem que deteria os designios do destino. Mas segundo o autor, em geral, os seres humanos tendem a manter a mesma conduta quando esta frutifica e assim acabam perdendo o poder quando a situacao muda. [ 39 ]

A ideia de fortuna em Maquiavel vem da deusa romana da sorte e representa as coisas inevitaveis que acontecem aos seres humanos. Nao se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguem ao poder como tira-lo de la, embora nao se manifeste apenas na politica. Como sua vontade e desconhecida, nao se pode afirmar que ela nunca lhe favorecera. [ 40 ]

Historia [ editar | editar codigo-fonte ]

O tumulo de Maquiavel na Basilica de Santa Cruz .

Maquiavel escreve historia mais como pensador politico do que como historiador. [ 41 ] Assim ele nao se preocupa tanto com a referencia precisa de afirmacoes contidas nas suas obras, ainda que tenha ido aos arquivos de Florenca - pratica incomum na epoca - e deixa transparecer nas suas obras historicas a defesa de algumas das suas ideias atraves da narracao dos fatos historicos. [ 42 ] Ele tambem acredita que a historia se repete, tornando a sua escrita util como exemplo para que os homens, tentados a agir sempre da mesma maneira, evitassem cometer os mesmos erros. [ 43 ] [ 44 ]

Assim, enquanto alguns dos seus biografos atribuem-lhe os fundamentos da escrita moderna da historia, [ 41 ] outros admitem que ele nao possuia uma visao critica o suficiente para poder separar os fatos historicos dos mitos e aceitou como verdade, por exemplo, a fundacao mitologica de Roma , [ 44 ] Outros, ainda, atribuem-lhe uma "concepcao dogmatica e ingenua da historia". [ 44 ]

Etica [ editar | editar codigo-fonte ]

A etica em Maquiavel se contrapoe a etica crista herdada por ele da Idade Media . Para a etica crista, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana destinava-se a salvacao da alma . Com Maquiavel a finalidade das acoes dos governantes passa a ser a manutencao da patria e o bem geral da comunidade, nao o proprio, de forma que uma atitude nao pode ser chamada de boa ou ma a nao ser sob uma perspectiva historica. [ 45 ]

Reside ai um ponto de critica ao pensamento maquiavelico, pois com essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de violencia , seja aos seus cidadaos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostra-la ma. [ 46 ]

Natureza humana [ editar | editar codigo-fonte ]

Mesmo as leis mais bem ordenadas sao impotentes diante dos costumes (…) [ 47 ]
— Nicolau Maquiavel

Para ele, a natureza humana seria essencialmente ma e os seres humanos querem obter os maximos ganhos a partir do menor esforco, apenas fazendo o bem quando forcados a isso. [ 48 ] A natureza humana tambem nao se alteraria ao longo da historia [ 48 ] fazendo com que seus contemporaneos agissem da mesma maneira que os antigos romanos e que a historia dessa e de outras civilizacoes servissem de exemplo. Falta-lhe um senso das mudancas historicas. [ 35 ]

Como consequencia, acha inutil imaginar estados utopicos , visto que nunca antes postos em pratica e prefere pensar no real. [ 35 ] Sem querer com isso dizer que os seres humanos ajam sempre de forma ma, pois isso causaria o fim da sociedade, baseada em um acordo entre os cidadaos. Ele quer dizer que o governante nao pode esperar o melhor dos homens ou que estes ajam segundo o que se espera deles. [ 48 ]

Trabalho [ editar | editar codigo-fonte ]

Obras politicas e historicas [ editar | editar codigo-fonte ]

Traducao de Peter Withorne de 1573 de A Arte da Guerra

Obras ficticias [ editar | editar codigo-fonte ]

Alem de estadista e cientista politico, Maquiavel tambem traduziu obras classicas e foi dramaturgo ( Clizia , Mandragola ), poeta ( Sonetti , Canzoni , Ottave , Canti carnascialeschi ) e romancista ( Belfagor arcidiavolo ).

Alguns de seus outros trabalhos:

Outras obras [ editar | editar codigo-fonte ]

Della Lingua (italiano para "Sobre a Lingua") (1514), um dialogo sobre a lingua da Italia e normalmente atribuido a Maquiavel.

O executor literario de Maquiavel, Giuliano de' Ricci, tambem relatou ter visto que Maquiavel, seu avo, fez uma comedia no estilo de Aristofanes que incluia florentinos vivos como personagens, e que seria intitulada Le Maschere . Foi sugerido que, devido a coisas como essa e seu estilo de escrever para seus superiores em geral, havia muito provavelmente alguma animosidade contra Maquiavel mesmo antes do retorno dos Medic. [ 50 ]

Notas

  1. Del modo di trattare i popoli della Valdichiana ribellati
  2. Descrizione Del modo tenuto dal duca Valentino nell' ammazzare Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, il Signor Paolo e il Duca di Gravina Orsini
  3. Maquiavel havia dado o nome De Principatus (Dos Principados). Cerca de cinco anos apos sua morte os editores Blado e Giunta rebatizaram a obra como Il Principe ("O Principe")
  4. Nao confundir com Lourenco de Medici , o Magnifico. Aqui trata-se de Lourenco, duque de Urbino, neto do primeiro e sobrinho do papa Leao X .

Referencias

  1. a b c d e f g h i j k l m n ≪NICCOLO MACHIAVELLI - BIOGRAPHY≫ (em ingles). The European Graduate School . Consultado em 28 de setembro de 2012 . Arquivado do original em 7 de outubro de 2012  
  2. a b c d ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 62.
  3. ≪Folha de S.Paulo - Livros: "Maquiavel nao era maquiavelico" - 31/03/2007≫ . www1.folha.uol.com.br . Consultado em 18 de agosto de 2019  
  4. ≪El concepto de lo politico en Nicolas Maquiavelo≫ . Consultado em 17 de agosto de 2019  
  5. ESCOREL, Lauro. Introducao ao pensamento politico de Maquiavel. Brasilia: Editora Universidade de Brasilia, 1979. p. 19.
  6. MAQUIAVEL, Nicolau (1998). O Principe . 1 . Contem comentarios e cronologia da vida de Maquiavel 1 ed. Sao Paulo: L&PM. 206 paginas. ISBN   852540895-6  
  7. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z MAQUIAVEL, Nicolau (2007). Historia de Florenca . 1 1 ed. Sao Paulo: Martins Fontes. 648 paginas. ISBN   9788533623682  
  8. ≪Nicolau Maquiavel≫ . Consultado em 4 de setembro de 2014  
  9. RIDOLFI, Roberto. Biografia de Nicolau Maquiavel. Sao Paulo: Musa Editora, 2003. p.19. ISBN 85-85653-67-1
  10. RIDOLFI, Roberto., op. cit. , pp. 31-37
  11. ESCOREL, Lauro., op. cit., p. 25.
  12. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 26.
  13. a b c ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 27.
  14. RIDOLFI, Roberto., op. cit. , p.51
  15. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 34.
  16. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 33.
  17. BIGNOTTO, Newton. Maquiavel . Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. p. 20. ISBN 85-7110-743-2
  18. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 41.
  19. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 46.
  20. google (2012). ≪Google Maps≫ . maps.google.com . Consultado em 29 de setembro de 2012  
  21. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 51.
  22. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 66.
  23. Niccolo Machiavelli. Lettere . Acessado em 23 de setembro de 2006.
  24. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 48.
  25. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 71-72.
  26. Mansfield, Harvey C. Machiavelli's Virtue (em ingles). [S.l.]: University of Chicago Press. ISBN   9780226503721  
  27. a b c Fischer (2000)
  28. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 64.
  29. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 97
  30. BIGNOTTO, Newton., op. cit ., p. 25
  31. BARROS, Vinicios Soares de Campos. Introducao a Maquiavel ? Uma teoria do Estado ou uma Teoria do Poder? . Sao Paulo: Edicamp, 2004. p. 15. ISBN 85-88513-45-5
  32. BARROS, Vinicios Soares de Campos., op. cit. , p. 94.
  33. BARROS, Vinicios Soares de Campos., op. cit. , p. 18
  34. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 48-49.
  35. a b c ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 74.
  36. BARROS, Vinicios Soares de Campos., op. cit. , pp. 19-20.
  37. a b ESCOREL, Lauro., op. cit. , pp. 11-14.
  38. a b PINZANI, Alessandro. Maquiavel & O Principe . Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. pp. 16-19. ISBN 85-7110-801-3
  39. BIGNOTTO, Newton., op. cit. , pp. 23-26
  40. BIGNOTTO, Newton., op. cit. , pp. 26-28
  41. a b RIDOLFI, Roberto., op. cit. , p. 226
  42. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 53.
  43. BIGNOTTO, Newton., op. cit. , pp. 18-19
  44. a b c ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 73.
  45. ESCOREL, Lauro., op. cit. , pp. 93-101.
  46. ESCOREL, Lauro., op. cit. , p. 107.
  47. jornal O Estado de S. Paulo , edicao de 8 de marco de 2009 (Caderno 1), pag 2, Gaudencio Torquato
  48. a b c BIGNOTTO, Newton., op. cit., p. 19-20
  49. ≪First-time Machiavelli translation debuts at Yale≫ . yaledailynews.com. 18 de abril de 2012  
  50. Godman, Peter (1998), From Poliziano to Machiavelli: Florentine Humanism in the High Renaissance, Princeton University Press (p. 240). Also see Black, Robert (1999), "Machiavelli, servant of the Florentine republic", in Bock, Gisela; Skinner, Quentin; Viroli, Maurizio (eds.), Machiavelli and Republicanism, Cambridge University Press (pp. 97?98)

Bibliografia [ editar | editar codigo-fonte ]

  • STRAUSS, LEO (2015). Reflexoes sobre Maquiavel . [S.l.]: E Realizacoes  
  • ABRAHAO, Miguel M. (2009). O Strip do Diabo . Sao Paulo: Agbook  
  • BATH, Sergio (1992). Maquiavelismo . a pratica politica segundo Nicolau Maquiavel. Sao Paulo: Editora Atica  
  • CORTINA, Arnaldo (2000). O principe de Maquiavel e seus leitores . uma investigacao sobre o processo de leitura. Sao Paulo: Unesp  
  • DE GRAZIA, Sebastian (1993). Maquiavel no inferno . Sao Paulo: Companhia das Letras  
  • LARIVAILLE, Paul (1979). A Italia no tempo de Maquiavel: . Roma e Florenca. Sao Paulo: Companhia das Letras. ISBN   85-85095-99-7  
  • LEDEEN, Michael A. Maquiavel e a lideranca moderna . [S.l.]: Cultrix. ISBN   9788531607370  
  • NEDEL, Jose. Maquiavel . concepcao antropologica e etica. Porto Alegre: EDIPUCRS  
  • NIVALDO, Jose (2004). Maquiavel, o Poder . Sao Paulo: Martin Claret  
  • RIDOLFI, Roberto (2003). Biografia de Nicolau Maquiavel . [S.l.]: Musa  
  • TENENTI, Alberto (1973). Florenca na epoca dos Medici . Da cidade ao Estado. Sao Paulo: Perspectiva  
  • VIROLI, Maurizio (2002). O sorriso de Nicolau . Sao Paulo: Estacao Liberdade  

Ligacoes externas [ editar | editar codigo-fonte ]

Outros projetos Wikimedia tambem contem material sobre este tema:
Wikiquote Citacoes no Wikiquote
Wikisource Textos originais no Wikisource
Commons Imagens e media no Commons