Manuel I de Portugal

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Manuel I
O Venturoso
Manuel I de Portugal
Rei de Portugal e Algarves
Reinado 25 de outubro de 1495
a 13 de dezembro de 1521
Coroacao 27 de outubro de 1495
Antecessor(a) Joao II
Sucessor(a) Joao III
 
Nascimento 31 de maio de 1469
  Alcochete , Portugal
Morte 13 de dezembro de 1521  (52 anos)
  Paco da Ribeira , Lisboa , Portugal
Sepultado em Mosteiro dos Jeronimos , Portugal
Esposas Isabel de Aragao
Maria de Aragao
Leonor de Austria
Descendencia Ver descendencia
Casa Avis
Pai Fernando, Duque de Viseu
Mae Beatriz de Portugal
Religiao catolicismo
Assinatura Assinatura de Manuel I
Brasao

Manuel I ( Alcochete , 31 de maio de 1469 ? Lisboa , 13 de dezembro de 1521 ), apelidado de O Venturoso , foi o Rei de Portugal e Algarves de 1495 ate a sua morte. Era o filho mais novo do infante Fernando, Duque de Viseu , filho do rei Duarte I e de sua esposa, a infanta Beatriz de Portugal , neta do rei Joao I e filha do infante Joao . Manuel ascendeu ao trono apos a morte de seu primo, o rei Joao II , que nao tinha herdeiros legitimos e o nomeou como seu sucessor. Na realidade, foi o unico a subir ao trono sem ser parente em primeiro grau ou descendente do antecessor. Para a sua coroacao beneficiou da morte do filho do rei Joao II, de nome Afonso . Uma das irmas de Manuel e a rainha Leonor , casada com Joao II.

Prosseguiu as exploracoes portuguesas iniciadas pelos seus antecessores, o que levou a descoberta do caminho maritimo para a India , ao descobrimento do Brasil , e das ambicionadas "ilhas das especiarias", as Molucas , determinantes para a expansao do imperio portugues . Foi o primeiro rei a assumir o titulo de Senhor do Comercio, da Conquista e da Navegacao da Arabia, Persia e India . Em 1521, promulgou uma revisao da legislacao conhecida como Ordenacoes Manuelinas , que divulgou com ajuda da recente imprensa .

No seu reinado, apesar da sua resistencia inicial, cumprindo as clausulas do seu casamento com Dona Maria de Aragao , viria a solicitar ao papa em 1515 a instalacao da inquisicao em Portugal , o que so viria a ser concedido no reinado seguinte, perante novo pedido de D. Joao III . Com a prosperidade resultante do comercio, em particular o de especiarias , realizou numerosas obras cujo estilo arquitetonico ficou conhecido como manuelino .

No inicio de dezembro de 1521, altura em que Lisboa era assolada por um surto de pestilencia, D. Manuel adoeceu gravemente e acabou por morrer dias depois. Foi sucedido pelo seu filho D. Joao III .

Vida [ editar | editar codigo-fonte ]

Infancia e juventude [ editar | editar codigo-fonte ]

Constantes surtos de peste negra em Lisboa , capital do Reino, levaram a corte e a nobreza dos seculos XIV e XV a instalarem-se em Alcochete , nomeadamente o rei Joao I e, em meados do seculo XV, o seu neto, o infante Fernando, Duque de Viseu. Ai, na vila de Alcochete, nasceu em 1469 Manuel, filho de Fernando, Duque de Viseu e de Beatriz de Portugal .

Durante a infancia e a juventude, assistiu a guerra de intriga e conspiracao entre a aristocracia e o seu primo direito Joao II, muito cioso do seu poder. Alguns homens do seu circulo proximo foram mortos ou exilados , incluindo o seu irmao mais velho Diogo, Duque de Viseu , assassinado pelo proprio rei. Sucedeu-lhe como 5.º Duque de Viseu , 5.º Senhor da Covilha e 4.º Duque de Beja , 4.º Senhor de Moura . Portanto, quando em 1493 recebeu uma ordem real de comparencia no paco , Manuel I deveria estar preocupado. Mas o proposito de Joao II era nomea-lo herdeiro da coroa, depois da morte do seu filho Afonso de Portugal e das tentativas frustradas de legitimar o bastardo Jorge de Lencastre .

Manuel I ascendeu ao trono em circunstancias excecionais, sucedendo Joao II em 1495, de quem se tornara uma especie de "filho adotivo". [ 1 ]

Politica externa e descobrimentos [ editar | editar codigo-fonte ]

D. Manuel em iluminura do frontispicio do "Livro 1 de Alem Douro" da Leitura Nova, escrito em 15??-1521

Aclamado em 27 de Outubro de 1495, Manuel I provou ser um sucessor a altura, apoiando os descobrimentos portugueses e o desenvolvimento dos monopolios comerciais. Durante seu reinado, Vasco da Gama descobriu o caminho maritimo para a India (1498) onde encontrou hostilidades e nisso, nao conseguiu trazer especiarias de Calecute e por isso chegou a Portugal de maos a abanar, com isso D. Manuel chama Pedro Alvares Cabral que descobriu o Brasil (1500) o que pode ter sido uma missao nao muito importante para algumas pessoas pois e provavel que Duarte Pacheco Pereira la tenha chegado 2 anos antes, em 1498, tambem porque D. Joao II negou o financiamento da viagem de Colombo a America sobre o financiamento dos Reis Catolicos de Espanha, mas Colombo dizia chegar a India, pode ser provavel que o mesmo D. Joao II ja soubesse da existencia de terras a Ocidente pois D. Joao II reclamou ao Papa Alexandre VI no Tratado de Tordesilhas que o limite de exploracao fosse 370 leguas a Ocidente de Cabo Verde e tinha razao pois era o Continente Americano que depois da descoberta do Brasil prosseguiu para a India e conseguiu o Comercio das Especiarias, no seu reinado tambem Francisco de Almeida tornou-se no primeiro vice-rei da India (1505) e o almirante Afonso de Albuquerque assegurou o controlo das rotas comerciais do oceano Indico e golfo Persico e conquistou para Portugal lugares importantes como Malaca , Goa e Ormuz .

Tambem no seu reinado organizam-se viagens para ocidente , tendo-se chegado a Gronelandia e a Terra Nova . O seu reinado decorreu num ≪contexto expansionista, ja preparado por seu antecessor - e marcado pela descoberta do caminho maritimo para a India em 1498 e pelas consequencias politicas e economicas que advieram deste facto≫. [ 1 ]

A extensao de seu reinado ≪permite surpreender nele uma personagem determinada, teimosa, voluntariosa, autocratica , detentora de um programa politico de potenciacao do seu poder dotado de uma assombrosa coerencia, posto em pratica ate ao seu mais infimo detalhe.

Manuel I opta por uma politica de expansao indiana e poe em pratica os seus principios, criando a oportunidade para a realizacao da viagem de Vasco da Gama em 1497, contra, ao que parece, a oposicao de parte do seu conselho. Escolhe, ainda, a via da inversao pro-aristocratica, ou seja, de restauracao de privilegios e direitos antes postos em causa e isto certamente por opcao politica de Estado. O rei edifica, igualmente, um Estado que prenuncia em boa medida o absolutismo regio e o governo iluminado , por contraponto, alias, ao problematico e agitado centralismo do seu antecessor Joao II. [ 1 ]

Tudo isto contribuiu para a constituicao do Imperio Portugues , fazendo de Portugal um dos paises mais ricos e poderosos da Europa . Manuel I utilizou a riqueza obtida pelo comercio para construir edificios reais, no que se chamaria muito posteriormente estilo manuelino , dos que sao exemplo o Mosteiro dos Jeronimos e a Torre de Belem . Atraiu cientistas para a corte de Lisboa e estabeleceram-se tratados comerciais e relacoes diplomaticas com a China e a Persia , alem de que, em Marrocos , realizaram-se conquistas como Safim , Azamor e Agadir .

A sua completa consagracao europeia deu-se com a aparatosa embaixada em 1514, chefiada por Tristao da Cunha , enviando ao papa Leao X presentes magnificos como pedrarias, tecidos e joias . Dos animais raros, destacaram-se um cavalo persa e um elefante , chamado Hanno , doravante mascote do papa, que executava varias habilidades. Mas uma das inumeras novidades que encantaram os espiritos curiosos das cortes europeias da epoca tera sido sem duvida o rinoceronte trazido das Indias, que assumiu, entao, um papel preponderante na arte italiana.

Politica interna [ editar | editar codigo-fonte ]

O Mosteiro dos Jeronimos , em Lisboa , um dos legados mais exuberantes do estilo manuelino

Na vida politica interna, Manuel I seguiu as pisadas de Joao II e tornou-se quase num rei absoluto. As cortes foram reunidas apenas tres vezes durante o seu reinado de mais de vinte e cinco anos, e sempre no paco de Lisboa . Manuel I dedicou-se a reforma dos tribunais e do sistema tributario , adaptando-o ao progresso economico que Portugal entao vivia.

Analisando-se a sua obra, verifica-se que avulta a tentativa de reforma do reino, ≪atraves da criacao de instrumentos unificadores de caracter estatal, como sejam a publicacao dos Forais Novos, reformando os antigos, a Leitura Nova (1504-1522), a compilacao e revisao da legislacao , consagrada pelas Ordenacoes Manuelinas, a reorganizacao da Fazenda Publica e a estruturacao administrativa dai decorrente. Com ele organiza-se o Estado moderno≫. [ 2 ] Prova de que Manuel foi um rei que se preocupou em preservar a justica e a boa ordem do Reino, e que durante seu reinado nao apenas as Ordenacoes do Reino foram reformadas, mas tambem os Forais, a Ordenacao e Regimento dos Pesos (1502), o Regimento dos Oficiais das Cidades, Vilas e Lugares destes Reinos (1504), os Artigos das Sisas (1512), o Regimento dos Contadores das Comarcas (1514), o Regimento das Ordenacoes da Fazenda (1516) e as Ordenacoes da India (1520). Obras de carater burocratico fundamentais para a administracao e organizacao do Reino portugues.

Absolutismo de direito divino [ editar | editar codigo-fonte ]

Em seis gravuras constantes da edicao das Ordenacoes de 1514 - a unica ilustrada - vemos o rei em majestade, portando uma coroa aberta e armadura, ladeado pela sua divisa, a esfera armilar e pelas armas do Reino, representada pelo escudo manuelino. Na sua mao direita esta sempre o cetro real, simbolo da justica, a que se prende uma fita, chamada filacterio , onde se le DEO IN CELO TIBI AVTEM IN MVNDO (≪A Deus no ceu e a ti na terra≫). E evidente a intencao de representar a ligacao entre o terreno e o divino, e lembrar a nocao de dualidade especular entre uma corte terrena, encabecada pelo rei e uma corte celestial encabecada por Cristo . [ 3 ] Isto reforca a ligacao de Manuel com o messianismo e com a ideia de um rei enviado por Deus , um escolhido para representar a cristandade ante o novo horizonte que se descortinava com os descobrimentos. E de fato a sua imagem que passou a Historia foi a de um rei representante de Cristo, Senhor personificado na figura divina da Justica, do “perfeito monarca” e do “rei arquetipo”. [ 4 ]

O rei era representado como o centro coordenador e a ele cabia, na mais alta composicao, o mais nobre dos oficios: ministrar a justica. Essa ligacao entre o terreno e o espiritual esta tambem presente no ideal regio que e justificado por Joao de Barros no panegirico , “porque sendo Deus perfeita justica, os reis, que por ele sao ordenados e cujo poder representam, a ele so em tudo devem seguir”. [ 5 ] Esse tino requerido para a figura real se faz necessario para que o povo tenha em seu governante o “paradigma a seguir em todas as circunstancias”, sendo para o mesmo, exigido ainda, qualidades que o tornem afamado e digno, dentre elas: “temperanca, honestidade, humanidade, comedimento, bondade, fortaleza, lealdade, prudencia, magnanimidade, amor as letras (...) e seus pensamentos em Deus”. [ 4 ]

Politica religiosa [ editar | editar codigo-fonte ]

Iluminura do periodo manuelino, "Livro 3 Misticos"

Manuel I era um homem bastante religioso que investiu uma boa parte da fortuna do pais na construcao de igrejas e mosteiros , bem como no patrocinio da evangelizacao das novas colonias atraves dos missionarios catolicos . A missao evangelizadora para o mundo inteiro e mesmo, junto com os interesses economicos e militares, uma das linhas fundamentais da expansao portuguesa, tendo, por exemplo, na relacao com o Papa e nas consequencias culturais da expansao uma marca manuelina muito forte.

Na tradicao de reis anteriores, D. Manuel iniciou o seu reinado com grande tolerancia religiosa, libertando mesmo os judeus que haviam fugido das perseguicoes em Castela e estavam em situacao de escravatura. Esta tolerancia era tambem justificada pela necessidade do capital financeiro e intelectual das comunidades hebraicas, essencial para a sua politica expansionista. No entanto a sua ambicao de unir os reinos ibericos, levaram-no a ceder as exigencias dos reis catolicos , numa das clausulas do seu contrato de casamento com a herdeira de Espanha, Isabel de Aragao , assinado em 30 de novembro de 1496, [ 6 ] para que fossem expulsos os infieis (mouros e judeus). Cedendo a identicas pressoes castelhanas, D. Manuel solicitou em 1515 do papa Leao X , atraves do seu embaixador em Roma, a introducao em Portugal de um tribunal da Inquisicao. [ 7 ]

Em especial no que respeita a comunidade judaica, a tentativa de D. Manuel de manipular a situacao, com avancos e recuos, teve resultados muito violentos. Por exemplo: para evitar a saida em massa pela expulsao exigida por Castela, permitiu periodo mais alargado de conversao ao cristianismo, isentando os convertidos de qualquer inquerito durante vinte anos, o que na pratica lhes permitia continuar os rituais hebraicos, fechou os portos do reino exceto o de Lisboa, ou obrigou a educacao por familias cristas de filhos de judeus, que os recuperariam caso se convertessem. No entanto, esta tentativa, ja de si violenta, redundou em fracasso, com conversoes forcadas em massa, com o acicatar dos fundamentalistas religiosos e dos populares descontentes e com a criacao de uma comunidade de cristaos-novos ou marranos sempre sob suspeita. Pode ser questionado se o seu objetivo de diluicao das comunidades e integracao religiosa tera sido atingido, quando se considera que duzentos anos depois ate os inquisidores tinham ascendencia judia, e por outro lado a tradicao fundamentalista crista antissemita sem ser exclusiva do seu reino, da sua religiao, ou do seu reinado, sai deste reforcada.

E controverso considerar o Massacre de Lisboa de 1506 como uma das consequencias diretas da politica de Manuel I, dada a situacao de seca, fome, epidemia e intolerancia que aprofundaram as tensoes sociais e que decorrem a nivel mundial na epoca. Sera consensual afirmar que foi algo que o horrorizou e enraiveceu, o que se prova na sua reacao de castigo aos culpados pelo massacre (mesmo aqueles instigadores por cuja condicao social era normal poupar, como os padres) e de humilhacao a cidade de Lisboa, da qual estava ausente, assim como na linguagem dos relatos oficiais.

Ciencia, cultura e artes [ editar | editar codigo-fonte ]

Na cultura, esta epoca observou das mais importantes revolucoes culturais, politicas, economicas, religiosas sociais e cientificas pelas quais a Humanidade ja passou. A politica de Manuel I nao foi indiferente ao desenvolvimento Cultural, promovendo-o ativamente, procedeu mesmo a reforma dos Estudos Gerais, criando novos planos educativos e bolsas de estudo.

O contexto do Renascimento e incontornavel para enquadrar e compreender esta dimensao da epoca manuelina e das Descobertas de cujo apogeu participou. As Descobertas portuguesas tornaram-se tema, questionamento e desafio para a criacao artistica, cientifica e filosofica europeias, sendo uma das matrizes fundamentais do Humanismo . O reinado de D. Manuel insere-se, portanto no Renascimento em Portugal , um periodo de forte criacao e inovacao, quer em dialogo com modelos europeus, quer enriquecendo-os, seja nas ciencias, como a matematica, astronomia, cartografia, biologia, medicina, farmaceutica, seja na arte literatura, poesia e teatro, musica, pintura e arquitetura, seja na filosofia, na religiao e na politica.

Para alem do obvio estilo manuelino com que e marcada a arquitetura desta epoca para as grandes obras e que se estendeu tambem a outras artes como a iluminura, pintura e ourivesaria, considerando os Descobrimentos no seu impacto humanista e cientifico, podemos ainda incluir como tendo impacto nesta epoca e posterior autores que sao nomes de grande relevo na cultura europeia, como Pedro Nunes , Abraao Zacuto , Simao Alvares do Renascimento , Damiao de Gois , Sa de Miranda , Garcia da Orta , Bernardim Ribeiro , Garcia de Resende , Gil Vicente , Nuno Goncalves , Grao Vasco , Duarte Barbosa, Gaspar Correia , Duarte Pacheco Pereira , Antonio Galvao , Joao de Barros, Tome Pires e muitos mais.

Morte e exequias funebres [ editar | editar codigo-fonte ]

No inicio de dezembro de 1521, altura em que Lisboa era assolada por um surto de pestilencia, D. Manuel, que se encontrava com a sua corte no Paco da Ribeira , adoeceu gravemente " de uma febre especie de modorra ", segundo relata Damiao de Gois . Manifestando os primeiros sintomas no dia 4, tres dias mais tarde ja se mostrava incapaz de assinar alvaras e, no dia 11, ordenava um codicilo ao seu testamento. Acabou por morrer no cair da noite do dia 13, altura em que entrou em delirio, recitando em voz alta os versos dos Salmos , que sabia de cor, e apos receber a extrema-uncao . Estavam presentes religiosos e a mais alta nobreza do reino, incluindo D. Jaime, Duque de Braganca , D. Afonso, Bispo de Evora (com quem D. Manuel ainda trocou breves palavras), D. Fernando, Bispo de Lamego (que era capelao-mor do rei) e o confessor e provincial dominicano Frei Jorge Vogado. [ 8 ]

Iluminuras do Oficio dos Mortos no Livro de Horas de D. Manuel , atribuidas a Antonio de Holanda . Surge representada, ao fundo, a cerimonia da quebra dos escudos durante as exequias de D. Manuel.

Morto o rei, o seu corpo foi colocado num ataude de madeira, apos ser arranjado " como a rei convinha ", que foi carregado por D. Jaime, Duque de Braganca , D. Jorge, Duque de Coimbra , D. Fernando, Marques de Vila Real , e D. Pedro, Conde de Alcoutim para a Sala Grande do Paco, situada no piso inferior. O ataude foi destapado, e todos os presentes beijaram a sua mao. Depois, D. Jaime e D. Jorge pregaram a tampa do caixao mas, nas palavras do cronista, " os quais pregos nao foram tao pregados com martelos como com as cabecas dos que eram presentes que com elas davam muitas pancadas no ataude e no chao que era uma mui grave cousa de ver ". [ 8 ]

O corpo do rei foi levado em procissao para Belem entre as duas e as tres horas da manha do dia 14 de dezembro de 1521. O ataude, coberto de veludo preto com uma cruz de damasco branco, foi colocado sobre uma azemola. Junto as portas do Paco da Ribeira , aguardava um grande numero de clero e grandes e fidalgos do reino com seus criados, com mais de seiscentas tochas que alumiavam a noite. O caminho ate Belem foi acompanhado por muitos populares. D. Manuel foi provisoriamente sepultado, em campa rasa, na igreja velha do Restelo , uma vez que o corpo do Mosteiro dos Jeronimos , onde deixara expresso desejar ser sepultado, nao estava ainda concluido. O ataude foi tomado aos ombros por fidalgos, ladeados pelos frades, segurando grandes cirios acesos e de capelos sobre os olhos. Dentro da igreja, o Duque de Braganca, o Duque de Coimbra, o Marques de Vila Real, e o Conde de Alcoutim, pegando em enxadas, enterraram-no numa campa rasa, sem mais cerimonia ou pompa, enquanto os presentes lamentavam e gritavam em altos brados o seu pranto, em vivas manifestacoes de pesar. [ 8 ]

As exequias reais tiveram lugar na terca-feira seguinte, na Se de Lisboa , com cerimonias que so terminaram cerca da uma hora da tarde do dia seguinte. O ultimo oficio publico foi a cerimonia da quebra dos escudos: acompanhados por muitos senhores e fidalgos a pe, tres juizes da cidade (dois do crime, e um do civel), vestidos de negro, traziam sobre a cabeca tres grandes escudos negros; diante deles, num cavalo preto coberto de de paramentos de linho da mesma cor, vinha um alferes, vestindo uma grande loba de pano preto, levando sobre o ombro direito uma bandeira de grandes dimensoes, preta e com as armas reais, que, meia tombada, se ia arrastando pelo chao da cidade a medida que o cortejo avancava. Junto a Se, o bacharel Diogo Vaz da Casa do Civel, subiu a um banco e fez um discurso em memoria do monarca falecido; depois, desfez-se o primeiro escudo no chao com uma pancada forte. A multidao seguiu depois ate meio da Rua Nova dos Mercadores, onde se fez novo discurso e se quebrou o segundo escudo; o ultimo escudo negro foi quebrado no Rossio . Ao longo desse dia, repicaram os sinos em Lisboa . [ 8 ]

Em 1551, trinta anos apos a sua morte, D. Joao III ordenou a trasladacao dos restos mortais de D. Manuel, juntamente com os da rainha D. Maria sua esposa, para a igreja nova do Mosteiro dos Jeronimos . Contrariando as disposicoes testamentarias de D. Manuel para que a sua trasladacao para os Jeronimos ocorresse " secretamente e sem cerimonia ", o acontecimento prolongou-se por cinco dias, na presenca dos monarcas e de centenas de religiosos. [ 8 ]

Titulos, estilos e honrarias [ editar | editar codigo-fonte ]

Iluminura de Dom Manuel, representado como Rei David , no Missal Rico ou Missal de Santa Cruz de Coimbra , entre c. 1517-1527

Titulos e estilos [ editar | editar codigo-fonte ]

  • 31 de Maio de 1469 ? 21 de Agosto de 1484: " Sua Merce , Dom Manuel de Beja"
  • 21 de Agosto de 1484 ? 13 de Julho de 1491: " Sua Senhoria , o Duque de Viseu"
  • 13 de Julho de 1491 ? 25 de Outubro de 1495: " Sua Alteza , o Principe Herdeiro de Portugal"
  • 25 de Outubro de 1495 ? 13 de Dezembro de 1521: " Sua Alteza Real , o Rei"

O estilo oficial de Manuel enquanto rei era ate 1499: "Pela Graca de Deus, Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquem e d'Alem-Mar em Africa, e Senhor da Guine. Apos o regresso de Vasco da Gama da India , em 1499, a titulatura regia foi reformulada: "Pela Graca de Deus, Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquem e d'Alem-Mar em Africa, Senhor da Guine e da Conquista, Navegacao e Comercio da Etiopia, Arabia, Persia e India, etc.".

Honrarias [ editar | editar codigo-fonte ]

Enquanto monarca de Portugal, D. Manuel I foi grao-mestre das seguintes ordens :

Descendencia [ editar | editar codigo-fonte ]

Do seu primeiro casamento com Isabel de Aragao (1470?1498) em 30 de setembro de 1497, tiveram um unico filho:

Do seu segundo casamento com a sua cunhada Maria de Aragao (1482-1517) em 30 de Outubro de 1500, tiveram dez filhos:

Do seu terceiro casamento com Leonor da Austria (1498-1558) em 16 de julho de 1518, tiveram dois filhos:

Ver tambem [ editar | editar codigo-fonte ]

Referencias

  1. a b c Paulo Pereira, Enciclopedia dos Lugares Magicos de Portugal , vol. IX, p. 70
  2. Paulo Pereira, Enciclopedia dos Lugares Magicos de Portugal , vol IX, p. 72
  3. Gama, A. B. As Ordenacoes Manuelinas, a tipografia e os descobrimentos : a construcao de um ideal regio de justica no governo do Imperio Ultramarino portugues. Artigo na Revista Navigator, acessado em 5 de julho de 2012.
  4. a b Magalhaes, Joaquim Romeiro (Coord.). Historia de Portugal : no alvorecer da modernidade. Lisboa: Editorial Estampa , 1997, p. 61.
  5. Barros, Joao de . Panegiricos . Lisboa: Sa da Costa, 1937, p. 3-5; Apud: Magalhaes, J. R., op. cit.
  6. O messianismo do Padre Vieira e a Inquisicao. , acesso em 22 de outubro de 2016.
  7. Giuseppe Marcocci, "A fundacao da Inquisicao em Portugal: um novo olhar", Lusitania Sacra , 23 (Janeiro-Junho 2011), p. 23
  8. a b c d e Buescu, Ana Isabel (2011). ≪A morte do rei. Tumulizacao e cerimonias de trasladacao dos reais corpos (1499-1582)≫ . Ler Historia (60): 9-33 . Consultado em 15 de Agosto de 2017  
  9. Buescu, Ana Isabel (2019). D. Beatriz de Portugal (1504-1538). A Infanta Esquecida . Lisboa: Manuscrito. pp. 48?50  
  10. Buescu, Ana Isabel (2019). D. Beatriz de Portugal (1504-1538). A Infanta Esquecida . Lisboa: Manuscrito. pp. 48?50 e 75?76  

Bibliografia [ editar | editar codigo-fonte ]

Ligacoes externas [ editar | editar codigo-fonte ]

Manuel I de Portugal
Casa de Avis
Ramo da Casa de Borgonha
31 de maio de 1469 ? 13 de dezembro de 1521
Precedido por
Joao II

Rei de Portugal e Algarves
25 de outubro de 1495 ? 13 de dezembro de 1521
Sucedido por
Joao III
Precedido por
Afonso

Principe Herdeiro de Portugal
13 de julho de 1491 ? 25 de outubro de 1495
Sucedido por
Miguel da Paz
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