Difteria

Origem: Wikipedia, a enciclopedia livre.
Difteria
Difteria
A difteria provoca uma inflamacao caracteristica do pescoco.
Especialidade Infectologia
Sintomas Garganta inflamada , febre , tosse [ 1 ]
Inicio habitual 2?5 dias apos exposicao [ 2 ]
Causas Corynebacterium diphtheriae transmitida por contacto direto ou pelo ar [ 2 ]
Metodo de diagnostico Observacao da garganta, cultura microbiologica [ 1 ]
Prevencao Vacina contra a difteria [ 2 ]
Tratamento Antibioticos , traqueostomia [ 2 ]
Frequencia 4500 (2015) [ 3 ]
Mortes 2100 (2015) [ 4 ]
Classificacao e recursos externos
CID - 10 A36
CID - 9 032
CID - 11 508032285
DiseasesDB 3122
MedlinePlus 001608
eMedicine emerg/138 med/459 oph/674 ped/596
MeSH D004165
A Wikipédia não é um consultório médico.  Leia o aviso medico  

Difteria e uma infecao causada pela bacteria Corynebacterium diphtheriae . [ 2 ] Os sinais e sintomas variam entre ligeiros e graves. [ 1 ] Geralmente comecam-se a manifestar dois a cinco dias apos a exposicao a bacteria. [ 2 ] Em muitos casos, os sintomas comecam-se a manifestar de forma gradual, comecando com inflamacao da garganta e febre . [ 1 ] Em casos graves, desenvolve-se na garganta uma membrana caracteristica branca ou cinzenta. [ 2 ] [ 1 ] Esta membrana pode impedir a passagem de ar e esta na origem de uma tosse caracteristica. [ 1 ] O pescoco pode tambem encontrar-se inchado devido ao aumento de volume dos ganglios linfaticos . [ 2 ] Existem tambem formas de difteria que afetam a pele, olhos ou orgaos genitais. [ 2 ] [ 1 ] Entre as possiveis complicacoes estao a miocardite , inflamacao dos nervos , proteinuria e hemorragias resultantes da diminuicao do numero de plaquetas no sangue . [ 2 ] A miocardite pode causar arritmias cardiacas e a inflamacao dos nervos pode causar paralisia . [ 2 ]

A difteria e geralmente transmitida entre pessoas por contacto direto ou atraves do ar. [ 2 ] [ 5 ] No entanto, pode tambem ser transmitida atraves de objetos contaminados. [ 2 ] Algumas pessoas sao portadoras da bacteria sem manifestar sintomas, embora sejam igualmente capazes de transmitir a doenca a outras pessoas. [ 2 ] Os tres principais tipos de C. diphtheriae causam diferentes niveis de gravidade da doenca. [ 2 ] Os sintomas sao causados por uma toxina produzida pela bacteria. [ 1 ] O diagnostico e suspeito mediante observacao da garganta, podendo ser confirmado com cultura microbiologica . [ 1 ] Ter contraido uma infecao pode nao garantir imunidade contra novas infecoes. [ 1 ]

A vacina contra a difteria  e eficaz na prevencao da doenca e esta disponivel numa serie de formulacoes. [ 2 ] Durante a infancia e recomendada a administracao de tres ou quatro doses, a par da vacina contra o tetano e da vacina contra a tosse convulsa . [ 2 ] E tambem recomendado que seja feito o reforco da vacina difteria-tetano e cada dez anos. [ 2 ] A protecao pode ser confirmada medindo a quantidade de antitoxinas no sangue. [ 2 ] A difteria pode ser tratada com os antibioticos eritromicina ou benzilpenicilina . [ 2 ] Estes antibioticos podem tambem ser usados de forma preventiva em pessoas expostas a infecao. [ 2 ] Nos casos mais graves pode ser necessaria a realizacao de uma traqueotomia para desobstruir as vias aereas. [ 1 ]

Em 2015 foram reportados oficialmente 4500 casos da doenca em todo o mundo, uma diminuicao significativa em relacao aos 100 000 casos em 1980. [ 3 ] Estima-se que antes da decada de 1980 ocorressem cerca de um milhao de casos por ano. [ 1 ] Atualmente, os locais onde a difteria ainda e comum sao a Africa subsariana , India e Indonesia. [ 1 ] [ 6 ] Em 2015, a difteria foi a causa de 2100 mortes, uma diminuicao em relacao as 8000 em 1990. [ 4 ] [ 7 ] Em regioes do mundo onde ainda e comum, as criancas sao o grupo etario mais afetado. [ 1 ] Com a introducao generalizada da vacina nos planos de vacinacao, a doenca e atualmente rara em paises desenvolvidos . [ 1 ] Nos Estados Unidos registaram-se apenas 57 casos entre 1980 e 2004. [ 2 ] Entre 5% e 10% dos casos resultam em morte. [ 2 ] A doenca foi descrita pela primeira vez por Hipocrates no seculo V . [ 2 ] A bacteria responsavel foi identificada por Edwin Klebs em 1882. [ 2 ]

Sinais e sintomas [ editar | editar codigo-fonte ]

Membranas branco-acinzentadas e firmes na garganta sao o principal sinal de difteria.

Alguns dos sintomas comunsː [ 8 ]

Os ganglios linfaticos regionais (no pescoco) ficam muito inchados, causando chiado na respiracao e os sintomas agravam a noite. Caso nao seja tratada em poucos dias as toxinas da bacteria podem causar asfixia, problemas cardiacos, neurologicos e renais. [ 8 ]

Causa [ editar | editar codigo-fonte ]

Corynebacterium diphteriae

A Corynebacterium diphteriæ e uma bacteria com formas pleomorficas bacilares Gram -positivas, agrupando-se em configuracoes semelhantes a "caracteres chineses".

A Corynebacterium diphteriæ nao e invasiva e limita-se a multiplicacao local na faringe . Contudo, a doenca tem efeitos sistemicos potencialmente mortais, devido a producao e disseminacao pelo sangue da sua poderosa toxina da difteria. So as bacterias que estiverem elas proprias infectadas por um fago , que contem o gene da toxina, podem produzi-la e, portanto, causar a doenca. A toxina e do tipo AB. A regiao B e especifica para um receptor membranar existente nas celulas alvo, provocando apos acoplagem a internalizacao da toxina por endocitose . A regiao A tem a atividade toxica propriamente dita: ela bloqueia irreversivelmente o sistema da sintese de novas proteinas (tem atividade de ADP ribosil transferase, ribosila o fator de elongacao EEF2, impedindo a traducao no ribossoma ), o que inevitavelmente provoca a morte celular.

A bacteria localiza-se nas vias aereas superiores, formando-se na orofaringe a placa difterica (pseudomembrana) que se apresenta com coloracao branco-acinzentado / branco-amarelada, recobrindo inclusive as amigdalas. A infeccao pode estender-se as fossas nasais, laringe, traqueia e bronquios.

Transmissao [ editar | editar codigo-fonte ]

A transmissao da-se por goticulas de saliva na tosse, espirro ou ao falar com a pessoa doente ou do portador com pessoa suscetivel ou por contato com a pele contaminada. Muitos dos portadores nao tem sintomas e passam a bacteria adiante sem saber. A transmissao aumenta em epocas frias e de chuvas, quando as pessoas se aglomeram mais. [ 9 ]

O periodo de incubacao e de tres a cinco dias. A Corynebacterium diphteriae coloniza inicialmente as amigdalas ( tonsilas ) e a faringe , onde se multiplica desenvolvendo-se uma pseudomembrana de pus visivel no fundo da boca dos individuos afectados. Tambem pode infectar o nariz, e a conjunctiva, assim como raramente, feridas noutras localizacoes. E uma possibilidade preocupante que a pseudomembrana, devido suas exotoxinas e endotoxianas, provoca uma inflamacao localizada desenvolvendo um edema macico da mucosa e provocando obstrucao, fato denominado pescoco de touro, o que impede o lumen do tubo respiratorio, levando a asfixia, o que nao e raro em criancas pequenas.

A producao da toxina e sua liberacao sanguinea levam a morte celular, principalmente nos orgaos de alta perfusao, como figado , rins , glandulas adrenais , coracao , e nervos . Os orgaos afectados podem ficar insuficientes (com risco de morte) e os orgaos inervados por nervos paralisados. Sintomas da intoxicacao sistemica podem incluir cardiomiopatia , hipotensao , paralisia de musculos e de nervos sensitivos.

Diagnostico [ editar | editar codigo-fonte ]

Na imensa maioria das vezes e feito apenas clinicamente ou por amostra de catarro ou de sangue.

A cultura e observacao microscopica e atraves de testes bioquimicos do patogenio recolhidos de amostras do catarro podem ser usadas na confirmacao. Nao e recomendado romper a membrana, pois isso espalha as toxinas e agrava os sintomas.

Faz-se tambem por identificacao da toxina, atraves do teste de Elek. Este teste consiste numa reacao de imunodifusao (identificacao da toxina no soro do doente atraves de anticorpos exogenos especificos para a toxina), alem do teste de suscetibilidade imunologica a toxina pelo teste intradermico de Schick.

Prevencao [ editar | editar codigo-fonte ]

Ver artigo principal: Vacina contra a difteria

A prevencao, atraves de vacina contra a difteria , evita o surgimento da doenca, que se tornou rara nos paises com sistemas de vacinacao eficientes. A vacina consiste na administracao de toxoide, um analogo da toxina sem funcoes toxicas. O sistema imunologico reage produzindo plasmocitos produtores de anticorpos contra o toxoide, e sao geradas celulas de memoria, que caso a doenca surja no futuro se diferenciam rapidamente em inumeros plasmocitos que destroem a toxina e o invasor antes que os sintomas e danos surjam.

O esquema basico de vacinacao na infancia brasileiro e feito com tres doses da vacina tetravalente DTP+Hib (Difteria, tetano , coqueluche e meningite ) aplicada nas nadegas ou na coxa. A primeira dose e oferecida a crianca com dois meses de vida, a segunda com quatro meses e a terceira quando a crianca completar seis meses. E essencial que o primeiro reforco seja feito com a DTP aos 15 meses e o outro entre quatro e seis anos de idade para ser eficiente. Depois dessas doses o reforco deve ser tomado de 10 em 10 anos. [ 9 ]

Tratamento [ editar | editar codigo-fonte ]

A vacina pode causar febre baixa e cansaco inofensivos, mas protege a crianca por dez anos de quatro doencas perigosas. [ 10 ]

Em casos mais severos de difteria os nodulos linfaticos no pescoco podem inchar, e fica dificil respirar e engolir. Pessoas nesse estagio devem procurar ajuda medica imediatamente, uma vez que a obstrucao da garganta pode requerer traqueotomia. Ainda, uma elevacao na frequencia de batimentos do coracao pode causar parada cardiaca. Difteria tambem pode causar paralisia nos olhos, pescoco, garganta ou musculos do aparelho respiratorio.

Se ha obstrucao do canal respiratorio pelo exudado, deve-se fazer traqueostomia (incisao de canal da traqueia para o exterior) de emergencia.

Em doentes, administra-se antidoto, que e constituido por anticorpos recombinantes (produzidos em leveduras ) humanos, que inativam a toxina no sangue. Sao tambem usados antibioticos , especialmente penicilina e eritromicina , para destruir as bacterias produtoras da toxina.

Historia [ editar | editar codigo-fonte ]

Gracas a campanhas de vacinacao, em 2003, 95% da populacao da grande Sao Paulo ja estava imunizada. [ 11 ]

Difteria vem do grego diphthera , literalmente "par de fitas em couro (cabedal)", uma alusao a pseudomembrana aderente vista no fundo da boca dos doentes, um nome escolhido pelo medico alemao Friedrich Loeffler em 1855 .

A difteria foi, antes da era das vacinas , uma das doencas mais temidas e prevalentes, com epidemias mortiferas. Nos anos 1920, houve uma epidemia mundial que causou 13 000 a 15 000 mortes por ano so nos Estados Unidos . [ 12 ] Sem tratamento, cerca de 40 a 50% das vitimas morriam por insuficiencia respiratoria, cardiaca ou renal.

O antidoto foi pela primeira vez desenvolvido pelo medico alemao Emil von Behring , cerca de 1890 , pelo que ganhou o Premio Nobel da Medicina e Fisiologia. A vacina foi desenvolvida em 1894 , pelo medico frances Emile Roux .

Os casos de difteria sao de notificacao obrigatoria em quase todo o mundo. No Brasil, em 1990 foram registrados 640 casos. Ja em 2007 ocorreram apenas 27 casos e 6 mortes, todos no Maranhao . E importante vacinar todo o pais pois a difteria costuma ser trazida de outros locais todos os anos e e muito facilmente transmitida. [ 13 ]

Referencias

  1. a b c d e f g h i j k l m n o ≪Diphtheria vaccine≫ (PDF) . Wkly Epidemiol Rec . 81 (3): 24?32. 20 de janeiro de 2006. PMID   16671240 . Copia arquivada (PDF) em 6 de junho de 2015  
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y Atkinson, William (maio de 2012). Diphtheria Epidemiology and Prevention of Vaccine-Preventable Diseases 12 ed. [S.l.]: Public Health Foundation. pp. 215?230. ISBN   9780983263135 . Copia arquivada em 15 de setembro de 2016  
  3. a b ≪Diphtheria≫ . who.int . 3 de setembro de 2014 . Consultado em 27 de marco de 2015 . Copia arquivada em 2 de abril de 2015  
  4. a b GBD 2015 Mortality and Causes of Death, Collaborators. (8 de outubro de 2016). ≪Global, regional, and national life expectancy, all-cause mortality, and cause-specific mortality for 249 causes of death, 1980-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015.≫ . Lancet . 388 (10053): 1459?1544. PMC   5388903 Acessível livremente. PMID   27733281 . doi : 10.1016/s0140-6736(16)31012-1  
  5. Kowalski, Wladyslaw (2012). Hospital airborne infection control . Boca Raton, Florida: CRC Press. p. 54. ISBN   9781439821961 . Copia arquivada em 21 de dezembro de 2016  
  6. Mandell, Douglas, and Bennett's Principles and Practice of Infectious Diseases 8 ed. [S.l.]: Elsevier Health Sciences. 2014. p. 2372. ISBN   9780323263733 . Copia arquivada em 21 de dezembro de 2016  
  7. GBD 2013 Mortality and Causes of Death, Collaborators (17 de dezembro de 2014). ≪Global, regional, and national age-sex specific all-cause and cause-specific mortality for 240 causes of death, 1990?2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013.≫ . Lancet . 385 : 117?71. PMC   4340604 Acessível livremente. PMID   25530442 . doi : 10.1016/S0140-6736(14)61682-2  
  8. a b http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/difteria/
  9. a b http://www.bio.fiocruz.br/index.php/difteria-sintomas-transmissao-e-prevencao
  10. http://guiadobebe.uol.com.br/vacina-tetravalente-dtp-hib/
  11. Santos, Edgar De Bortholi. Estimativa da prevalencia de anticorpos antidiftericos na populacao do Municipio de Sao Paulo, em amostragem populacional estratificada, randomizada por sorteio aleatorio e coleta domiciliar. Sao Paulo; s.n; 2003. [87] p. tab, graf.
  12. Atkinson W, Hamborsky J, McIntyre L, Wolfe S, eds. (2007). Diphtheria. in: Epidemiology and Prevention of Vaccine-Preventable Diseases (The Pink Book) (10 ed.). Washington DC: Public Health Foundation. pp. 59?70.
  13. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,ministerio-da-saude-emite-alerta-apos-registro-de-casos-de-difteria-no-pais,618654,0.htm

Ligacoes externas [ editar | editar codigo-fonte ]