<p class="vermelho"> AN?LISE </p> Jeanne Moreau marcou a arte do cinema para sempre IN?CIO ARAUJO CR?TICO DA FOLHA 31/07/2017 13h46 Mais op??es Facebook Enviar por e-mail Copiar url curta Imprimir Comunicar erros Maior | Menor RSS Publicidade Se existiu uma atriz capaz de simbolizar o cinema moderno essa foi Jeanne Moreau, que morreu nesta segunda-feira (31) aos 89 anos. E, vamos admitir, a melhor sauda??o f?nebre a esta atriz veio da presid?ncia da Rep?blica Francesa, para quem ela encarnou tanto a rebeldia como a rotina. Poderia ser uma defini??o do cinema desde o fim da Segunda Guerra... Com efeito, desde que irrompeu, em "Ascensor para o Cadafalso", em 1957, junto com o diretor Louis Malle, foi j? quebrando as cadeias. Logo em seguida, "Os Amantes", do mesmo diretor, marcaria um momento ainda mais radical na ideia de liberta??o tem?tica como estil?stica que marcou esse per?odo do cinema. Jeanne logo se tornaria uma atriz solicitada pelos maiores cineastas europeus. Com Michelangelo Antonioni, foi a estrela de "A Noite". Com Fran?ois Truffaut consagrou de uma vez sua voz rouca em "Jules e Jim - Uma Mulher para Dois" (1961). Trabalhou a seguir com Orson Welles, que certa vez a chamou de "a melhor atriz do mundo": foi em "O Processo". Outros viriam (al?m das repeti??es com Truffaut, Welles e, sobretudo, Malle): Luis Bu?uel, em "O Di?rio de uma Camareira", Joseph Losey, em "Eva", Jean Renoir ("O Pequeno Teatro de Jean Renoir"). Talvez o trabalho mias claramente comercial nessa d?cada de 1960 tenha sido "Viva Maria", de Louis Malle, no qual fazia dupla com Brigitte Bardot. Bardot, ou BB, foi o maior "sex symbol" daquela d?cada. J? Moreau n?o corria na raia da beleza f?sica estonteante: era justamente a mulher moderna, intelectual, livre e n?o raro libert?ria que a marcou. Com isso, ela foi sucessivamente a mulher um tanto convencional disposta a matar o marido ("Ascensor para o Cadafalso"), saltando para a esposa capaz de buscar um amante para fugir ao t?dio ("Os Amantes"), antes de consagrar a liberdade sexual que se anunciava ent?o, como a hero?na de "Jules et Jim" (ou "Uma Mulher para Dois"), capaz de amar dois amigos ao mesmo tempo e com igual (ou quase) intensidade. Mas n?o eram os personagens escandalosos que Moreau cortejava. Os anos 1970 marcaram sua associa??o com novos cineastas, em particular Marguerite Duras ("Cet amour-l?") e Andr? T?chin? ("Mem?rias de uma Mulher de Sucesso"). Mesmo no Brasil ela trabalhou duas vezes com Carlos Diegues, em "Os Herdeiros" e "Joana, a Francesa". Se n?o marcou em especial o cinema americano desse per?odo (a n?o ser pela participa??o secund?ria em "O ?ltimo Magnata", 1976, de Elia Kazan ou pelo trabalho com Welles em filmes de l?ngua inglesa), marcou presen?a na Am?rica ao casar com o grande diretor William Friedkin, seu segundo marido (o outro foi o ator e diretor Jean-Louis Richard). Foram apenas dois casamentos, mas, sabidamente, muitos amantes. Significam a inquietude sem fim, o gosto pela independ?ncia, a intelig?ncia e o poder de sedu??o dessa atriz que, se v? sua for?a de estrela arrefecer na maturidade (como acontece frequentemente ?s atrizes), ainda filmaria, entre outros, com R.W. Fassbinder ("Querelle, de 1982), "Al?m das Nuvens" (1995, de novo com Antonioni, agora em parceria com Wim Wenders). No novo s?culo, p?de ainda deixar claro seu engajamento na causa pela aproxima??o entre israelenses e palestinos, trabalhando duas vezes seguidas com Amos Gitai (em Aproxima??o" e "Mais Tarde Voc? Vai Entender", de 2007 e 2008 respectivamente). J? com mais de 80 anos teria for?as —de sobra, ali?s— para fazer a Candidinha de "O Gebo e a Sombra", o ?ltimo longa-metragem do mestre portugu?s Manoel de Oliveira. Que dizer ao final dessa vida completa? Que a cada novo trabalho ela reafirmou o gosto da liberdade, a rebeldia e o pouco apre?o ? rotina. Jeanne Moreau marcou a arte do cinema para sempre.