Joaquim Teofilo Fernandes Braga
(
Ponta Delgada
,
24 de Fevereiro
de
1843
?
Lisboa
,
28 de Janeiro
de
1924
), que assinava
Theophilo Braga
, foi um
poeta
,
filologo
,
sociologo
,
filosofo
,
ensaista
e
politico
portugues
. Estreia-se na
literatura
em 1859 com
Folhas Verdes
. Bacharel, Licenciado e Doutor em
Direito
pela
Universidade de Coimbra
, fixa-se em Lisboa em 1872, onde leciona literatura no
Curso Superior de Letras
(actual
Faculdade de Letras
da
Universidade de Lisboa
).
[
2
]
Da sua carreira literaria contam-se obras de historia literaria,
etnografia
(com especial destaque para as suas recolhas de contos e cancoes tradicionais), poesia, ficcao e filosofia, tendo sido ele o introdutor do
Positivismo
em Portugal. Depois de ter presidido ao
Governo Provisorio da Republica Portuguesa
, a sua carreira politica terminou apos exercer fugazmente o cargo de Presidente da Republica, em substituicao de
Manuel de Arriaga
, entre 29 de Maio e 5 de Outubro de 1915.
Joaquim Teofilo Fernandes Braga nasceu na cidade de Ponta Delgada,
ilha de Sao Miguel
, nos
Acores
,
[
2
]
filho de
Joaquim Manuel Fernandes Braga
, oriundo de
Braga
, engenheiro militar e oficial do exercito
miguelista
e posteriormente professor de Matematica e Filosofia no
Liceu de Ponta Delgada
, e de Maria Jose da Camara Albuquerque, natural da
ilha de Santa Maria
. Os pais estavam ligados a familias da
aristocracia
.
[
3
]
O pai fazia parte da expedicao miguelista enviada para os Acores no inicio da
Guerra Civil Portuguesa
, tendo sido feito prisioneiro na tomada da ilha de Sao Miguel pelas forcas liberais e desterrado para a ilha de Santa Maria, onde conheceu a futura esposa, originaria da melhor aristocracia daquela ilha.
[
4
]
Foi o ultimo dos sete filhos do primeiro casamento de seu pai, dos quais tres faleceram na infancia. A mae tambem faleceu precocemente a 17 de Novembro de 1846, quando Teofilo tinha apenas 3 anos de idade. A sua morte, e a ma relacao que teria com a madrasta, com quem seu pai casou dois anos depois, marcaram decisivamente o seu temperamento fechado e agreste.
[
5
]
Iniciou muito cedo a actividade profissional, empregando-se na tipografia do jornal
A Ilha
, de Ponta Delgada, no qual tambem colaborou como redactor. Nesse periodo colaborou com outros periodicos da ilha de Sao Miguel, entre os quais os jornais
O Meteoro
e
O Santelmo.
[
6
]
Frequentou o
Liceu de Ponta Delgada
e em 1861 partiu para
Coimbra
, cidade em cujo
Liceu
concluiu o ensino secundario. Apesar de ter saido de Ponta Delgada com a intencao de cursar
Teologia
e enveredar por uma carreira eclesiastica, em 1862 optou pela matricula no curso de
Direito
da
Universidade de Coimbra
.
Enquanto estudante em Coimbra, face a uma ajuda paterna insuficiente, trabalhou como tradutor e recorreu a explicacoes e a publicacao de artigos e poemas para financiar os seus estudos. Fortemente influenciado pelas teses sociologicas e politicas do positivismo, cedo aderiu aos ideais
republicanos
.
Aluno brilhante, quando em 1867 terminou o curso foi convidado pela Faculdade de Direito a doutorar-se, o que fez defendendo em 26 de Julho de 1868 uma tese intitulada
Historia do Direito Portugues: I: Os Forais.
[
7
]
Contudo, a sua publica adesao aos ideais republicanos levaram a que fosse preterido quando em 1868 concorreu para professor da cadeira de Direito Comercial na
Academia Politecnica do Porto
. O mesmo sucedeu em 1871 quando concorreu para o cargo de lente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
[
2
]
Fixou-se entao em Lisboa, iniciando a sua actividade como advogado e, nesse mesmo ano de 1868, casou com
Maria do Carmo Xavier
, de quem teve tres filhos. A esposa faleceu em 1911 e os filhos, muito jovens, ainda antes desta data, sendo pois ja viuvo e sem filhos quando ascendeu ao cargo de Presidente da Republica.
A 18 de Maio de 1871 foi um dos doze signatarios
[
8
]
do programa das
Conferencias Democraticas do Casino Lisbonense
, interrompidas por uma portaria do tambem acoriano
Antonio Jose de Avila
, ao tempo presidente do Governo.
Em 1872, concorreu a lente da cadeira de Literaturas Modernas do
Curso Superior de Letras
, sendo provido no lugar na sequencia de um concurso onde teve como opositores
Manuel Pinheiro Chagas
e
Luciano Cordeiro
.
No Curso Superior de Letras dedica-se ao estudo da literatura europeia, com destaque para os autores franceses, e iniciou uma carreira academica que o levou a publicar uma extensa obra filosofica fortemente influenciada pelo positivismo de
Auguste Comte
. Essa influencia positivista foi decisiva no seu pensamento, na sua obra literaria e na sua atitude politica, fazendo dele um dos mais destacados membros da
geracao doutrinaria
do republicanismo portugues.
Em 1878 fundou e passou a dirigir com Julio de Matos a revista
O Positivismo
. Nesse mesmo ano iniciou a sua accao na politica activa portuguesa concorrendo a deputado as Cortes da
Monarquia Constitucional Portuguesa
integrado nas listas dos
republicanos federalistas
. A partir desse ano exerceu varios cargos de destaque nas estruturas do
Partido Republicano Portugues
.
[
2
]
Em 1880 passou a colaborar com a revista
Era Nova
(1880-1881),
[
9
]
da qual foi diretor. Nesse mesmo ano, com
Ramalho Ortigao
, organizou as comemoracoes do Tricentenario de Camoes, momento alto da articulacao do Partido Republicano, de onde sai com grande prestigio. As comemoracoes camonianas foram encaradas por Teofilo Braga como uma aplicacao do projecto positivista de substituir o culto a Deus e aos santos pelo culto aos
grandes homens.
[
10
]
A partir de 1884 passa a dirigir a
Revista de Estudos Livres
[
11
]
(1883-1886), em parceria com
Teixeira Bastos
, um seu antigo aluno no Curso Superior de Letras que se revelaria como um dos principais divulgadores do
positivismo
em Portugal.
Colaborou ainda no jornal humoristico
A Comedia Portuguesa
(1888-1902),
[
12
]
comecado a editar em 1888 e em diversas publicacoes periodicas, nomeadamente na
Revista Contemporanea de Portugal e Brasil
[
13
]
(1859-1865), no semanario portuense
A Esperanca
[
14
]
(1865-1866), nas revistas:
Renascenca
[
15
]
(1878-1879?),
A Arte Musical
[
16
]
(1898-1915),
Arte e vida
(1904-1906),
[
17
]
Livre Exame
[
18
]
(1885-1886),
Atlantida
(1915-1920),
[
19
]
Brasil-Portugal
(1899-1914),
[
20
]
Contemporanea
(1899-1914),
[
21
]
Galeria republicana
[
22
]
(1882-1883),
Illustracao Portugueza
(iniciada em 1903),
[
23
]
Luz e Vida
[
24
]
(1905),
O Pantheon
(1880-1881),
[
25
]
A semana de Lisboa
(1893-1895),
[
26
]
e
O Academico
(1878).
[
27
]
Em 1890 foi pela primeira vez eleito membro do directorio do
Partido Republicano Portugues
(PRP). Nessa condicao, a 11 de Janeiro de 1891 foi um dos subscritores do Manifesto e Programa do PRP, em cuja elaboracao colaborara. Este manifesto, e a sua apresentacao publica, precederam em tres semanas a
Revolta de 31 de Janeiro de 1891
, no Porto, a qual Teofilo Braga, como alias a maioria dos republicanos lisboetas, se opos.
Em 1 de Janeiro de 1910 torna-se membro efectivo do directorio politico, conjuntamente com
Basilio Teles
,
Eusebio Leao
,
Jose Cupertino Ribeiro
e
Jose Relvas
.
A 28 de Agosto de 1910 e eleito deputado republicano por Lisboa as Cortes monarquicas, nao chegando contudo a tomar posse por entretanto ocorrer a
implantacao da Republica Portuguesa
.
Por decreto publicado no
Diario do Governo
de 6 de Outubro do mesmo ano e nomeado presidente do
Governo Provisorio da Republica Portuguesa
saido da
Revolucao de 5 de Outubro de 1910
. Naquelas funcoes foi
de facto
chefe de Estado, ja que o primeiro Presidente da Republica Portuguesa,
Manuel de Arriaga
, apenas foi eleito a 24 de Agosto de 1911. Por estas datas foi capa do jornal castelhano
Los Sucesos, periodico ilustrado.
[
28
]
Quando Manuel de Arriaga foi obrigado a resignar do cargo de presidente da Republica, na sequencia da
Revolta de 14 de Maio de 1915
, Teofilo Braga foi eleito para o substituir pelo
Congresso da Republica
, a 29 de Maio de 1915, com 98 votos a favor, contra um voto de
Duarte Leite
e tres votos em branco.
[
6
]
Sendo um presidente de transicao, face a demissao de
Manuel de Arriaga
, cumpriu o mandato ate ao dia 5 de Outubro do mesmo ano, sendo entao substituido por
Bernardino Machado
. Foi a sua ultima participacao na vida politica activa.
O seu mandato presidencial decorreu em condicoes dificeis, ja que
Joao Chagas
que havia sido escolhido pela
Junta Constitucional
para presidir ao governo nao pode tomar posse do cargo, porque na noite de 16 para 17 de Maio foi vitima de um atentado, protagonizado pelo senador evolucionista
Joao Jose de Freitas
, que o alvejou e obrigou a permanecer internado no
Hospital de Sao Jose
. Embora confirmado no cargo a 17 de Maio, logo de seguida foi chamado
Jose Ribeiro de Castro
, que em 18 de Junho de 1915 foi empossado num novo governo,
[
2
]
o 11.º Constitucional, que se manteria no poder ate 29 de Novembro do mesmo ano, cessando funcoes apenas depois de ter terminado o mandato de Teofilo Braga. Mesmo enquanto presidente da Republica, recusava honras e ostentacoes e
andava proletariamente de electrico, com o guarda-chuva no braco ou de bengala ja sem ponteia
. O exercicio da presidencia nao estaria muito na sua maneira de ser.
Ja viuvo aquando da sua eleicao, apos o mandato, Teofilo Braga isolou-se, dedicando-se quase em exclusivo a escrita.
Faleceu so, no seu gabinete de trabalho de sua casa, no primeiro andar do numero 70 da Travessa de Santa Gertrudes, na freguesia de
Santa Isabel
, em Lisboa, a 28 de Janeiro de 1924, aos 80 anos, vitima de
morte subita
.
[
29
]
[
6
]
Obtem honras de Panteao em 1966, aquando da inauguracao do dito templo. Os seus restos mortais, bem como o de outros ilustres portugueses foram solenemente trasladados para a
Igreja de Santa Engracia
(Lisboa) no dia 5 de Dezembro desse mesmo ano. Antes disso, o seu corpo encontrava-se na Sala do Capitulo do
Mosteiro dos Jeronimos
.
Por morte de
Teixeira Bastos
(em 1901), nomeia Manuel Fran Paxeco seu testamenteiro literario, sendo a familia deste, na pessoa de sua neta mais nova, Maria Rosa, que representa a de Teofilo Braga.
Foi impressa uma nota de 1.000$00 Chapa 12 de
Portugal
com a sua imagem.
[
30
]
A vasta obra de
poligrafo
de Teofilo Braga cobre areas vastas, da poesia e da ficcao a filosofia, a historia da cultura e a historiografia critico-literaria,
[
7
]
e excede os 360 titulos, nao contando com os artigos dispersos pela imprensa da epoca. Abrange temas tao diversos como o da Historia Universal, Historia do Direito, da Universidade de Coimbra, do teatro portugues e da influencia de
Gil Vicente
naquela forma de manifestacao artistica, da
Literatura Portuguesa
, das novelas portuguesas de cavalaria e do
romantismo
e das ideias republicanas em Portugal. Tambem inclui artigos de polemica literaria e politica e ensaios biograficos, como o referente a
Filinto Elisio
.
[
6
]
Como investigador das origens dos povos, seguiu a linha da analise dos elementos tradicionais desde os mitos, passando pelos costumes e terminando nos contos de tradicao oral, que lhe permitiram escrever obras como
Os Contos Tradicionais do Povo Portugues
(1883),
O Povo Portugues nos seus Costumes, Crencas e Tradicoes
(1885) e
Historia da Poesia Portuguesa
, obra em que levou anos a trabalhar, procurando as suas origens nas varias epocas e escolas.
[
6
]
- Poesia
- Ficcao
- Ensaio
- As Teocracia Literarias - Relance sobre o Estado Actual da Literatura Portuguesa
(1865)
(eBook)
- Historia da Poesia Moderna em Portugal
(1869)
- Historia da Literatura Portuguesa
[Introducao] (1870)
- Historia do Teatro Portugues
(1870 - 1871) - em 4 volumes
- Teoria da Historia da Literatura Portuguesa
(1872)
- Manual da Historia da Literatura Portuguesa
(1875)
- Bocage, sua Vida e Epoca
(1877)
- Parnaso Portugues Moderno
(1877)
- Tracos gerais da Filosofia Positiva
(1877)
- Historia do Romantismo em Portugal
(1880)
- Sistema de Sociologia
(1884)
- Camoes e o Sentimento Nacional
(1891)
- As Lendas Christas
(1892)
- Historia da Universidade de Coimbra
(1891 - 1902) - em 4 volumes
- Historia da Literatura Portuguesa
(1909 - 1918) - em 4 volumes
- Antologias e recolhas
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