Livre-arbitrio

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  Nota: Se procura toda verdade sobre "Livre-arbitrio", veja Livre-arbitrio (Teologia) .
O conceito de livre-arbitrio esta diretamente relacionado ao direito de escolha.

Livre-arbitrio ou livre-alvedrio sao expressoes que denotam a vontade livre de escolha, as decisoes livres. O livre-arbitrio e a capacidade de escolha autonoma realizada pela vontade humana. O livre-arbitrio tambem pode estar associado a uma crenca religiosa que defende que a pessoa tem o poder de decidir as suas acoes e pensamentos segundo o seu proprio desejo, crenca e/ou valores da vida depois da morte .

A pessoa que faz uma escolha livre pode se basear numa analise relacionada ao meio ou nao, e a escolha que e feita pelo agente pode resultar em acoes para beneficia-lo ou nao. As acoes resultantes das suas decisoes sao subordinadas somente a vontade consciente do agente. [ 1 ]

A expressao livre-arbitrio costuma ter conotacoes objetivas, subjetivas ou paradoxais. No primeiro caso, as conotacoes indicam que a realizacao de uma acao (fisica ou mental) por um agente consciente nao e completamente condicionada por fatores antecedentes. Ja no segundo caso, elas indicam o ponto de vista da percepcao que o agente tem de que a acao originou-se na sua vontade . Tal percepcao e chamada algumas vezes de "experiencia da liberdade". [ 2 ] [ 3 ]

A existencia do livre-arbitrio tem sido uma questao central na historia da filosofia e mais recentemente na historia da ciencia . O conceito de livre-arbitrio tem implicacoes morais , [ nota 1 ] psicologicas , [ nota 2 ] filosoficas , cientificas e tecnologicas .

Visoes filosoficas [ editar | editar codigo-fonte ]

Ha varias visoes sobre a existencia da "liberdade metafisica", isto e, se as pessoas tem o poder de escolher entre alternativas genuinas.

Determinismo mecanicista e o determinismo teleologico sao doutrinas que afirmam serem todos os acontecimentos, inclusive vontades e escolhas humanas, causados de forma necessaria e suficiente por acontecimentos anteriores, ou seja, a pessoa e destituida de liberdade de decidir e de influir nos fenomenos em que toma parte. O determinismo mecanicista e o determinismo teleologico rejeitam a ideia que as pessoas tem algum livre-arbitrio, admitindo uma nocao de liberdade como ausencia de determinacao causal. [ 4 ] [ 5 ]

Em oposicao a esses dois tipos de determinismo encontramos o libertarianismo , [ nota 3 ] posicao que concorda em parte com o determinismo , pois concebe que os fatos e acontecimentos causais ocorrem de forma necessaria, mas nao suficiente, guardando assim, algum lugar para a liberdade. Entre os libertarios encontramos Thomas Reid , Peter van Inwagen e Robert Kane .

O Indeterminismo e uma forma de libertarianismo que defende a visao que as pessoas tem livre-arbitrio, e que acoes apoiadas no livre-arbitrio sao efeitos sem causas . Mas ha os que creem que ao inves da volicao ser um efeito sem causa, defendem que o livre arbitrio e a acao do agente sempre produz o evento . Esse ultimo conceito e mais usado em economia. [ 6 ]

Compatibilismo [ nota 4 ] e a visao que o livre-arbitrio emerge mesmo em um universo sem incerteza metafisica. Entre os compatibilistas encontramos Thomas Hobbes e David Hume . O compatibilismo nada mais e que uma versao leve do determinismo, pois aceita a hipotese de que eventos (mentais e fisicos) sao causados de modo necessario e suficiente. No entanto, a nocao de liberdade adotada e de ausencia de restricoes ou coacoes e nao de determinacao causal. Compatibilistas podem definir o livre-arbitrio como emergindo de uma causa interior, por exemplo os pensamentos , as crencas e os desejos . Seria resumidamente o livre-arbitrio que respeita as acoes, ou pressoes, internas e externas.

Incompatibilismo e a visao que nao ha maneira de reconciliar a crenca em um universo deterministico com um livre-arbitrio verdadeiro.

Livre arbitrio segundo Tomas de Aquino [ editar | editar codigo-fonte ]

O filosofo do seculo XIII, Tomas de Aquino via os humanos como sendo inerentemente pre-programados para buscar certos objetivos e propositos, aos quais ele se referia como nosso telo aristotelico . Esses objetivos e propositos sao determinados por nossa natureza como seres racionais e formam a base de nossas inclinacoes e desejos naturais. [ 7 ] Sua visao sobre o livre-arbitrio tem sido associada tanto ao compatibilismo quanto ao libertarianismo. [ 8 ]

Na abordagem de escolhas, Aquino argumentou que o ser humano e governado por intelecto, vontade e paixoes. Segundo ele, a vontade e o "movimentador principal de todas as faculdades da alma... e tambem e a causa eficiente do movimento no corpo". [ 9 ]

Sobre o livre-arbitrio: O livre-arbitrio e uma "faculdade do apetite sensitivo" (o termo "apetite" na definicao de Aquino "inclui todas as formas de inclinacao interna"). [ 10 ] Ele afirma que o julgamento "conclui e encerra o conselho. Agora, o conselho e encerrado, primeiro, pelo julgamento da razao; em segundo lugar, pela aceitacao do apetite [ou seja, o livre-arbitrio]" [ 11 ] Para Aquino, a vontade e o elemento central neste processo de escolha, mas trabalha em conjunto com o intelecto e as paixoes para chegar a uma decisao.

Uma interpretacao compatibilista da visao de Tomas de Aquino e defendida da seguinte forma: “Livre-arbitrio e a causa de seu proprio movimento, porque pelo seu livre-arbitrio o ser humano move a si mesmo para agir. Mas por necessidade nao pertence a liberdade que o que e livre deveria ser a primeira causa de si mesmo, como tambem para uma coisa ser a causa de outra precisa ela ser a primeira causa. Deus, entao, e a primeira causa, Quem move causas tanto naturais quanto voluntarias. E assim como por mover causas naturais Ele nao evita que seus atos sejam naturais, por mover causas voluntarias ele nao evita que suas acoes sejam voluntarias: mas ao inves disto Ele e a propria causa disto neles; pois Ele opera em cada coisa de acordo com sua propria natureza." [ 12 ] [ 13 ]

Determinismo versus incompatibilismo [ editar | editar codigo-fonte ]

Ver artigo principal: Determinismo

O determinismo defende que cada estado de coisas e inteiramente necessitado e por conseguinte explicado por relacoes de causalidade . O indeterminismo defende que essa posicao e incorreta, isto e, ha eventos os quais nao sao inteiramente causados. O determinismo filosofico algumas vezes e ilustrado pelo experimento mental do demonio de Laplace , o qual conhece todos os fatos sobre o passado e o presente e todas as leis naturais que governam o mundo, e usa esse conhecimento para prever o futuro ate o menor detalhe. Todavia, a posicao de Laplace ja nao representa o ponto de vista cientifico e filosofico atual sobre o assunto ( co-determinismo ). [ 14 ]

O incompatibilismo defende que o determinismo nao pode ser reconciliado com o livre-arbitrio. Geralmente os incompatibilistas/libertinos alegam que uma pessoa age livremente apenas se sao a unica causa originadora da acao. Estes admitem a antecedencia de causas que precedem as acoes, mas diferente dos deterministas eles dirao que estas causas, apesar de necessarias nao sao suficientes, guardando lugar assim, para a ideia de que o agente, em ultima instancia, e o causador da acao, (aquele que causa sem causar), e genuinamente poderia ter feito outra coisa.

Ha uma visao intermediaria, na qual o passado condiciona , mas nao determina , as acoes. As escolhas individuais sao um resultado entre varios resultados possiveis, cada um dos quais e influenciado mas nao determinado pelo passado. Mesmo se o agente exerce a vontade livremente , na escolha entre opcoes disponiveis, ele nao e a unica causa originadora da acao, pois ninguem pode desempenhar acoes impossiveis, tipo voar batendo os bracos. Aplicada aos estados interiores, essa visao sugere que se pode escolher opcoes nas quais se pensa, mas nao se pode escolher uma opcao da qual nao se tem ideia . Nessa visao escolhas presentes podem abrir, determinar ou limitar escolhas futuras.

Spinoza compara a crenca humana no livre-arbitrio a uma pedra pensando que escolhe o caminho que percorre enquanto cruza o ar ate o local onde cai. Ele diz: "as decisoes da mente sao apenas desejos, os quais variam de acordo com varias disposicoes"; "nao ha na mente vontade livre ou absoluta, mas a mente e determinada a querer isto ou aquilo por uma causa que e determinada por sua vez por outra causa, e essa por outra e assim ao infinito"; "os homens se consideram livres porque estao conscios das suas volicoes e desejos, mas sao ignorantes das causas pelas quais sao conduzidos a querer e desejar" (respectivamente Spinoza, Etica , livro 3, escolio da proposicao 2; livro 2, proposicao 48; apendice do livro 1).

Schopenhauer , concorrendo com Spinoza, escreve: "cada um acredita de si mesmo a priori que e perfeitamente livre, mesmo em suas acoes individuais, e pensa que a cada momento pode comecar outra maneira de viver [...]. Mas a posteriori , atraves da experiencia , ele descobre, para seu espanto, que nao e livre, mas sujeito a necessidade , que apesar de todas as suas resolucoes e reflexoes ele nao muda sua conduta, e que do inicio ao fim da sua vida ele deve conduzir o mesmo carater o qual ele mesmo condena."

Ha filosofos que consideram a expressao "livre-arbitrio" absurda. Hobbes diz que se esse e um poder definido pela vontade, entao nao e livre, nem nao livre. E um erro categorial atribuir liberdade a vontade. Locke defende a mesma posicao:

Se a vontade do homem e livre ou nao? A questao ela mesma e impropria; e e tao insignificante perguntar se a vontade do homem e livre quanto perguntar se seu sono e veloz, ou sua virtude quadrada: a liberdade sendo tao pouco aplicavel a vontade, quanto a velocidade do movimento ao seu sono, ou a quadratura a virtude . Todo o mundo deve rir da absurdidade de uma questao tao peculiar quanto essa: porque e obvio que as modificacoes do movimento nao pertencem ao sono, nem a diferenca de figura a virtude; e quando se considera isso bem, penso que se percebe que a liberdade, a qual e apenas um poder, pertence apenas aos agentes, e nao pode ser um atributo ou modificacao da vontade, a qual tambem e apenas um poder. ( Ensaio acerca do Entendimento Humano , livro 2, capitulo 21, paragrafo 14)

Tambem se pergunta se um ato causado pode ser livre ou se algum ato nao causado pode ser desejado, tornando o livre-arbitrio um oximoro . [ 15 ] [ 16 ] Alguns compatibilistas argumentam que essa alegada falta de fundamentacao para o conceito de livre-arbitrio e ao menos parcialmente responsavel pela percepcao de uma contradicao entre determinismo e liberdade. Alem disso, de um ponto de vista compatibilista o uso de "livre-arbitrio" em sentido incompatibilista pode ser visto como uso da linguagem exageradamente carregado de conotacoes emocionais.

Teorias compatibilistas e o principio das possibilidades alternativas [ editar | editar codigo-fonte ]

Isaiah Berlin diz que para uma escolha ser livre o agente deve ter sido capaz de agir de outra maneira. Esse principio, chamado por Peter van Inwagen de Principio das possibilidades alternativas , e considerado pelos seus defensores como uma condicao necessaria para a liberdade. Nessa visao os atos realizados sob a influencia de uma coercao irresistivel nao sao livres, e o agente nao e moralmente responsavel por eles.

John Locke negou que a expressao "livre-arbitrio" faca sentido. Todavia, ele tambem defendeu que o determinismo e irrelevante. Ele defendeu que o aspecto definidor do comportamento voluntario e que os individuos tem a capacidade de postergar uma decisao por tempo suficiente para refletir e deliberar sobre as consequencias de uma escolha.

Todavia, alguns compatibilistas, por exemplo Harry Frankfurt ou Daniel Dennett , alegam que ha casos dificeis nos quais o agente nao poderia ter agido de outro modo, mas a escolha do agente ainda era livre, porque a coercao irresistivel coincidiu com as intencoes e desejos pessoais do agente. Em Elbow Room e Freedom Evolves , Dennett apresenta um argumento para uma teoria compatibilista do livre-arbitrio. O raciocinio basico e que se os individuos nao consideram Deus, ou um demonio infinitamente poderoso, ou viagem no tempo, entao atraves do caos e da pseudo-aleatoriedade ou aleatoriedade quantica, o futuro nao esta definido para os seres finitos. Os unicos conceitos bem definidos sao as expectativas . Assim, a capacidade de agir de outro modo so faz sentido quando lidamos com expectativas, e nao com algum futuro desconhecido e incognoscivel. Visto que os individuos certamente tem a capacidade de agir diferentemente do que se espera, o livre-arbitrio existe. Os incompatibilistas alegam que o problema com essa ideia e que a hereditariedade e o ambiente configuram uma coercao irresistivel, e todas as nossas acoes sao controladas por forcas exteriores a nos mesmos, ou pelo mero acaso.

Responsabilidade moral [ editar | editar codigo-fonte ]

"Drunk father" - Uma pintura do artista George W. Bellows
A sociedade nao pode considerar alguem responsavel a nao ser que suas acoes sejam determinadas por algo.

Normalmente a sociedade considera as pessoas responsaveis pelas suas acoes. Normalmente as pessoas sao elogiadas ou reprovadas pelas suas acoes. Contudo, muitos acreditam que a responsabilidade moral requer livre-arbitrio, isto e, a capacidade de agir de outro modo. Assim, outra questao importante e se os individuos sempre sao moralmente responsaveis, e, se sim, tendem a pensar que o determinismo nao combina com a responsabilidade moral. Afinal de contas, parece impossivel que se possa considerar alguem responsavel por uma acao que poderia ser prevista desde o inicio dos tempos. Deterministas duros dizem: "Tanto pior para a responsabilidade moral!", e descartam o conceito. Conversamente, libertaristas dizem: "Tanto pior para o determinismo!" A questao esta no centro do debate entre deterministas duros e compatibilistas. Deterministas duros sao forcados a aceitar que os individuos frequentemente tem "livre-arbitrio" no sentido compatibilista, mas eles negam que esse sentido fundamente a responsabilidade moral. Eles alegam que o fato das escolhas de um agente nao serem coagidas nao muda o fato que o determinismo priva o agente de responsabilidade.

Os compatibilistas frequentemente argumentam que, ao contrario, o determinismo e um pre-requisito da responsabilidade moral . A sociedade nao pode considerar alguem responsavel a nao ser que suas acoes sejam determinadas por alguma coisa. Esse argumento e apresentado por Hume e foi usado pelo anarquista William Godwin . Afinal de contas, se o indeterminismo e verdadeiro, entao aqueles eventos que nao sao determinados sao aleatorios . Questiona-se se e possivel que se elogie ou reprove alguem por desempenhar uma acao que meramente pipocou no seu sistema nervoso. Ao inves disso, os compatibilistas argumentam, e preciso mostrar como a acao deriva dos desejos e preferencias da pessoa, do carater da pessoa, antes de comecar a considerar a pessoa responsavel. As vezes os libertistas dizem que acoes indeterminadas nao sao totalmente aleatorias, e que elas resultam de uma vontade substantiva cujas decisoes sao indeterminadas. Esse argumento e amplamente considerado insatisfatorio, pois apenas empurra o problema um passo adiante, alem de envolver certa metafisica misteriosa e a nocao que no nada nada vem (ex nihilo nihil fit) .

Algumas interpretacoes da responsabilidade moral tambem assumem que uma pessoa e um ser do nascimento a morte, apesar de mudancas fisicas e mentais. Assim um idoso pode ser punido por um crime cometido muitos anos antes.

Visao da ciencia [ editar | editar codigo-fonte ]

Ao longo da historia da ciencia foram feitas varias tentativas de responder a questao do livre-arbitrio atraves de principios cientificos. O pensamento cientifico frequentemente figurou o universo de maneira determinista, e alguns pensadores acreditaram que para predizer o futuro e preciso simplesmente ter informacao suficiente sobre o passado e o presente. Essa visao encoraja as pessoas a verem o livre-arbitrio como uma ilusao .

A ciencia atual e uma mistura de teorias deterministas e estocasticas . A mecanica quantica preve observacoes apenas em termos de probabilidades . Isso poe em duvida se o universo e determinado ou nao. Alguns cientistas deterministas, como Albert Einstein , acreditam na teoria da variavel oculta , isto e, que no fundo das probabilidades quanticas ha variaveis postas. O teorema de Bell poe essa crenca em duvida, e sugere que talvez Deus esteja jogando dados, o que poria em duvida as previsoes do demonio de Laplace . Ou talvez Deus nao jogue dados, mas apenas siga sua vontade , sendo a mesma nao determinada por nada, nem mesmo por um objeto formal como o bem ou a verdade , tal como na teoria das verdades eternas de Descartes .

Robert Kane e o principal filosofo a capitalizar o sucesso da mecanica quantica e da teoria do caos na defesa do incompatibilismo, principalmente em The Significance of Free Will (A Importancia do Livre-Arbitrio) .

Os biologos , como os fisicos, frequentemente trataram da questao do livre-arbitrio. "Natureza versus nutricao" e um dos debates mais calorosos. O debate questiona a importancia da genetica e da biologia no comportamento humano quando comparados com a cultura e o ambiente . Os estudos geneticos identificaram varios fatores geneticos especificos que afetam a personalidade do individuo, de casos obvios com a sindrome de Down a efeitos mais sutis como a predisposicao estatistica a esquizofrenia . Todavia, nao e certo que a determinacao ambiental e menos ameacadora para o livre-arbitrio do que a determinacao genetica . A ultima analise do genoma humano mostra que temos apenas uns 20.000 genes . Tais genes, e o material genetico intron reconsiderado, junto com o redescrito MiRNA , permite um nivel de complexidade molecular analogo a complexidade do comportamento humano. Desmond Morris e outros antropologos evolucionarios estudaram a relacao entre comportamento e selecao natural em humanos e outros primatas . A investigacao mostra que a genetica humana pode ser insuficiente para explicar tendencias comportamentais, e que fatores ambientais evolucionariamente vantajosos, como o comportamento dos pais e os padroes culturais, modulam tais fatores geneticos. Nenhum desses fatores (complexidade genetica e comportamento cultural vantajoso) requer o livre-arbitrio para explicar o comportamento humano.

A atividade inconsciente levando a decisao consciente comeca antes que a pessoa conscientemente decida?

Tambem se tornou possivel estudar o cerebro vivo e agora os pesquisadores podem assistir a operacao do "maquinario" de tomada de decisao. Benjamin Libet conduziu um experimento seminal nos 1980s, no qual ele pediu a pessoas que escolhessem um momento ao acaso para dar um piparote no seu pulso, enquanto ele assistia a atividade associada nos seus cerebros. Libet descobriu que a atividade inconsciente levando a decisao consciente de dar um piparote no proprio pulso comecava aproximadamente meio segundo antes da pessoa conscientemente decidir mover-se. Esse desenvolvimento de carga eletrica veio a ser chamado de potencial de prontidao ( readiness potential ) . As descobertas de Libet sugerem que as decisoes tomadas por uma pessoa sao de fato primeiro construidas em um nivel subconsciente e apenas posteriormente traduzidas em uma "decisao consciente", e que a crenca da pessoa que ela ocorreu ao comando da sua vontade deve-se apenas a sua perspectiva retrospectiva sobre o evento. Todavia, Libet ainda encontra espaco no seu modelo para o livre-arbitrio, na nocao de poder de veto : de acordo com seu modelo, impulsos inconscientes para realizar um ato volicional estao abertos a supressao pelos esforcos conscientes da pessoa. Deve-se notar que isso nao significa que Libet acredita que acoes impelidas inconscientemente requerem a ratificacao da consciencia, mas antes que a consciencia retem o poder de negar a atualizacao de impulsos inconscientes.

Um experimento relacionado realizado posteriormente por Alvaro Pascual-Leone envolveu pedir a pessoas que escolhessem ao acaso qual mao mover. Ele descobriu que estimulando diferentes hemisferios do cerebro usando campos magneticos e possivel influenciar fortemente a mao que a pessoa escolhe. Normalmente destros escolhem mover a mao direita 60% das vezes, por exemplo, mas quando o hemisferio direito e estimulado eles escolhem sua mao esquerda 80% das vezes. O hemisferio direito do cerebro e responsavel pelo lado esquerdo do corpo, e o hemisferio esquerdo pelo direito. Apesar da influencia externa sobre sua tomada de decisao, as pessoas continuam a relatar que acreditam que sua escolha da mao foi feita livremente.

Searle considera que a maior parte dos neurobiologos defendem a hipotese a qual o livre arbitrio e algo que experienciamos, mas que efetivamente e uma ilusao. Deste modo, a nossa experiencia da liberdade nao desempenha nenhum papel explicativo ou causal no nosso comportamento.

Para John Searle podemos tratar o problema do "Livre arbitrio" como, pelo menos em parte, um problema neurobiologico mediante a prossecucao da seguinte pergunta: "Como o nosso cerebro precisa trabalhar em ordem para que nos tenhamos livre arbitrio, e que substituicoes por "x" e "y" na seguinte declaracao, S, tornaria S verdade?" (S) Se meu cerebro esta funcionando na forma x em um momento em que eu faco a acao A e y for verdade, entao eu livremente fiz a acao A (ou exercitei o livre arbitrio em fazer A).

Searle aceita relutantemente que a hipotese neurologica determinista e mais mais adequada a nossa visao global da biologia e mais provavel, dado ser mais simples (simplex sigillum veri).

Neurologia e psiquiatria [ editar | editar codigo-fonte ]

Ha varias desordens relacionadas ao cerebro que podem ser chamadas de desordens do livre-arbitrio . Na desordem obsessiva-compulsiva um paciente pode sentir uma necessidade irresistivel de fazer algo contra a propria vontade. Exemplos incluem lavar as maos varias vezes ao dia, reconhecendo o desejo de lavar as maos como o proprio desejo embora pareca ser contra a propria vontade. Na sindrome de Tourette e sindromes relacionadas o paciente faz movimentos involuntarios, por exemplo tiques e proferimentos. Na sindrome da mao estranha ( alien hand syndrome ) o membro do paciente faz movimentos significativos sem que ele tenha a intencao .

Pensadores como Daniel Dennett ou Alfred Mele explicam que livre arbitrio significa muitas coisas diferentes para pessoas diferentes (por exemplo, algumas nocoes de livre-arbitrio sao dualistas, outras nao). Dennett insiste que muitas concepcoes importantes e comuns de livre-arbitrio sao compativeis com as evidencias emergentes da neurociencia . [ 17 ] [ 18 ] [ 19 ] [ 20 ]

Determinismo e comportamento emergente [ editar | editar codigo-fonte ]

Em emergentismo , na ciencia cognitiva e psicologia evolucionaria , livre-arbitrio e a geracao de quase-infinitos possiveis comportamentos da interacao de conjunto finito e determinado de regras e parametros. Assim, a imprevisibilidade do comportamento emergente a partir de processos determinados conduz a uma percepcao de livre-arbitrio, embora o livre nao exista.

Por exemplo, xadrez e um jogo rigorosamente determinado nas regras e parametros. Ainda assim, com suas estritas e simples regras, o xadrez gera grande variedade e comportamento imprevisivel. Por analogia, emergentistas ou gerativistas ( generativism ) sugerem que a experiencia do livre-arbitrio emerge da interacao de regras finitas e parametros determinados que geram comportamentos infinitos e imprevisiveis. Nessa visao, tal como na visao de Spinoza, o comportamento social pode ser modelado como um processo emergente, e a percepcao do livre-arbitrio e cortesia da ignorancia . [ 21 ] [ 22 ]

Ver tambem [ editar | editar codigo-fonte ]

Notas

  1. o livre-arbitrio pode implicar que os individuos possam ser considerados moralmente responsaveis pelas suas acoes.
  2. Em psicologia, ele implica que a mente controla certas acoes do corpo .
  3. E bom notar que o libertarianismo , a teoria metafisica da qual falamos acima, e algo distinto do libertarismo discutido em filosofia politica , ciencia politica e economia . Em ingles as duas coisas sao denominadas com o mesmo nome, libertarianism , e isso pode ser fonte de confusoes. E por isso que alguns autores de lingua inglesa utilizam a palavra voluntarism ( voluntarismo ) para falar do libertarianismo.
  4. A filosofia que aceita tanto o determinismo quanto a liberdade de escolhas e chamada de “soft determinism” , expressao cunhada por William James para designar o que hoje chamamos de livre-arbitrio compatibilista .

Referencias

  1. O livre-arbitrio nao existe - Ciencia comprova: voce e escravo do seu cerebro - Artigo de Salvador Nogueira, publicado na revista Super interessante de setembro de 2008 [ [1] ]
  2. Gilles Deleuze, Espinoza, Filosofia Pratica
  3. Ricardo Rodrigues Teixeira, A Grande Saude: uma introducao a medicina do Corpo sem Orgaos [2]
  4. The Cogito Model [3]
  5. J. J. C. Smart, "Free-Will, Praise and Blame," Mind, July 1961, p.293-4.
  6. Eisenhardt, K. (1989) Agency theory: An assessment and review, Academy of Management Review , 14 (1): 57-74.
  7. Hartung, Christopher. Thomas Aquinas on Free Will (Thesis)  
  8. Staley, Kevin M. (2005). ≪Aquinas: Compatibilist or Libertarian≫ (PDF) . The Saint Anselm Journal . 2 (2): 74 . Consultado em 9 de dezembro de 2015 . Copia arquivada (PDF) em 21 de dezembro de 2015  
  9. A discussion of the roles of will, intellect and passions in Aquinas' teachings is found in Stump, Eleonore (2003). ≪Intellect and will≫. Aquinas, Arguments of the philosophers series . [S.l.]: Routledge (Psychology Press). pp. 278 ff . ISBN   978-0-415-02960-5  
  10. ≪Catholic Encyclopedia: Appetite≫ . Newadvent.org. 1907 . Consultado em 13 de agosto de 2012  
  11. ≪Summa Theologica: Free-will (Prima Pars, Q. 83)≫ . Newadvent.org . Consultado em 13 de agosto de 2012  
  12. Feser, Edward. ≪e-cristianismo - Tomas de Aquino e o livre-arbitrio≫ . www.e-cristianismo.com.br . Consultado em 9 de fevereiro de 2023  
  13. Thomas Aquinas, Summa Theologiae , Q83 A1.
  14. DETERMINISMO, PREVISIBILIDADE E CAOS Femando Lang da Silveira, Instituto de Fisica da UFRGS[ [4] ]
  15. Identidade pessoal por Theodore Sider - Universidade de Rutgers (Traducao de Vitor Guerreiro)
  16. Tratado da Natureza Humana de Hume por Vani L. F. dos Santos [5]
  17. Henrik Walter (2001). ≪Chapter 1: Free will: Challenges, arguments, and theories≫. Neurophilosophy of free will: From libertarian illusions to a concept of natural autonomy Cynthia Klohr translation of German 1999 ed. [S.l.]: MIT Press. p. 1. ISBN   9780262265034  
  18. John Martin Fischer; Robert Kane; Derk Perebom; Manuel Vargas (2007). ≪A brief introduction to some terms and concepts≫. Four Views on Free Will . [S.l.]: Wiley-Blackwell. ISBN   978-1405134866  
  19. Smith, Kerri (2011). ≪Neuroscience vs philosophy: Taking aim at free will≫. Nature . 477 (7362): 23?5. PMID   21886139 . doi : 10.1038/477023a  
  20. Daniel C. Dennett (2014). ≪Chapter VIII: Tools for thinking about free will≫. Intuition Pumps And Other Tools for Thinking . [S.l.]: W. W. Norton & Company. p. 355. ISBN   9780393348781  
  21. Schultz, SG (1998). ≪A century of (epithelial) transport physiology: from vitalism to molecular cloning≫. The American journal of physiology . 274 (1 Pt 1): C13?23. PMID   9458708  
  22. Gilbert, SF; Sarkar, S (2000). ≪Embracing complexity: organicism for the 21st century≫. Developmental Dynamics . 219 (1): 1?9. PMID   10974666 . doi : 10.1002/1097-0177(2000)9999:9999<::AID-DVDY1036>3.0.CO;2-A  
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