Leonor de Viseu
(
Beja
,
2 de fevereiro
de
1458
?
Lisboa
,
17 de novembro
de
1525
),
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]
foi uma
Infanta de Portugal
, esposa do rei
Joao II
e
Rainha Consorte
de
Portugal e Algarves
de 1481 ate 1495. Pela sua vida exemplar, pela pratica constante da
misericordia
, e mais virtudes cristas, alcancou de alguns historiadores o
epiteto
de "Princesa Perfeitissima", inspirado no
cognome
do rei seu marido, a cuja altura sempre se soube manter para o juizo da historia.
A rainha
Dona
Leonor de Viseu e tambem a terceira e ultima rainha consorte de Portugal nascida em Portugal, tendo a primeira sido
Leonor Teles
e a segunda, a sua prima e sogra, a infanta
Isabel de Coimbra
, mulher de
Afonso V
, sendo assim tia pelo casamento, pois o rei e irmao do pai de Leonor. Com o seu casamento acabam os casamentos endogamicos continuados entre os descendentes da
Inclita Geracao
, entre a prole de Joao I e da sua esposa, a rainha Filipa de Lancastre, entre os reis e as primas portuguesas.
Deixou como legado a
Santa Casa da Misericordia de Lisboa
, ainda existente.
Foi tambem a primeira dos ocupantes do trono portugues com sangue
Braganca
, pela sua avo materna, a infanta
Isabel de Barcelos
, filha do 1.º duque de Braganca; logo se lhe seguindo seu irmao
Manuel I
, como primeiro rei reinante e seu sobrinho
Jaime I, Duque de Braganca
, como primeiro Braganca herdeiro jurado do trono, na permanente relacao entre a
Casa Real
e o seu ramo Braganca com casamentos entre os primos.
Leonor era filha do infante
D. Fernando
,
duque de Viseu
e
Condestavel do Reino
(filho do rei
Duarte I de Portugal
e da rainha
Leonor de Aragao
) e de sua mulher a Infanta
D. Beatriz
,
[
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]
tambem ela uma princesa de Avis, sendo esta neta materna de D.
Isabel de Braganca
(filha do
1º duque de Braganca
) e do infante
Joao
,
condestavel
do Reino, o penultimo dos infantes da
Inclita Geracao
.
Entre os seus irmaos o mais velho foi o infante Joao, 3.º duque de Viseu e Beja, que morreu novo, solteiro, logo sucedido pelo infeliz secundogenito,
Diogo
e Mestre da
Ordem de Cristo
. Outra sua irma, com apenas menos um ano de idade, foi a infanta
Isabel
, Duquesa de Braganca pelo seu casamento, e finalmente o benjamim da familia, onze anos mais novo do que a futura rainha,
Manuel I
. Era ainda prima direita de Maximiliano I, filho de uma irma de seu pai, e de Isabel a Catolica, rainha de Castela, filha de uma irma de sua mae, entre outros.
Leonor foi destinada ao nascer a
Joao II de Portugal
o "Principe Perfeito" por vontade e promessa de seu tio
Afonso V
, quando nasceu, ao seu unico irmao e melhor amigo, pai da noiva, o infante D. Fernando. Casou com o primo Joao quando apenas tinha 12 anos de idade, e o noivo 15. Tendo crescido juntos e amigos, tiveram um casamento unido, mesmo quando o rei executou o irmao mais velho da rainha, o seu primo e cunhado Diogo, duque de Viseu e Beja, e mandou julgar e decapitar o seu outro cunhado e primo,
Fernando II, Duque de Braganca
, ambos por traicao e conjura a favor dos primos dos Braganca: os
Reis Catolicos
, se viu afectado.
Armas da rainha D. Leonor de Aviz, em casada
Brasao das
Caldas da Rainha
, cidade fundada pela "Princesa Perfeitissima", baseado nas armas da soberana.
Armas da rainha D. Leonor de Aviz em viuva
Em 18 de janeiro de 1471 casou-se com o futuro rei
Joao II
,
[
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]
o qual era seu primo coirmao, pelo lado paterno e segundo, pelo lado materno. De facto, tanto o rei como a rainha eram netos do rei
Duarte
, ambos pelo lado paterno; pelo lado materno, Joao e neto do infante
Pedro
e Leonor e neta do irmao de Pedro e Duarte: o infante
Joao
. Apos a morte do rei, em 1495, subiu seu irmao Manuel ao trono, e ao casar-se este, a rainha passou a ser conhecida como "Rainha Velha" ate a sua morte.
As rainhas de Portugal contaram, desde muito cedo, com o rendimento de bens senhoriais e patrimoniais independentes destinados a sua sustentacao e dignidade, patrimonio este que era designado por
Casa das Rainhas
. Leonor, alem das vilas anteriores mencionadas nas rainhas que a precederam, foi dotada pelo rei com as cidades de
Silves
e
Faro
, e as terras de
Aldeia Galega da Merceana
e
Aldeia Gavinha
. Na Casa das Rainhas, que manteve em viuva, mesmo depois de D. Manuel casar, estava tambem incluida a cidade das
Caldas
que ela propria fundara.
Leonor reinou no apogeu da fortuna da expansao portuguesa, quando
Lisboa
se transformara na capital europeia do comercio de riquezas exoticas: e foi por isso mesmo no seu tempo a mais rica princesa da Europa, conforme demonstra uma obra recente a respeito da administracao da sua grande casa.
Essa grande fortuna, que cresceu exponencialmente com a chegada a India e com o comercio ultramarino, visto seu pai ter sido filho adoptivo e herdeiro universal do
Infante D. Henrique
, o Navegador, e das grandes merces que recebeu dos reis seu marido e seu irmao, empregou-a depois de viuva na pratica da caridade constante, da devocao verdadeira, no patrocinio de obras religiosas, e sobretudo na assistencia social aos pobres: assim, encorajou, fomentou e financiou o projecto de Frei
Miguel Contreiras
de estabelecimento de
Misericordias
gerida por irmandades em todo o reino, notavel iniciativa precursora em toda a Europa. A rede de Misericordias portuguesa chegou ate aos nossos dias, sempre activa no papel social e caritativo a que a rainha a destinou.
A rainha Leonor, em viuva, manteve grande destaque na corte lusitana, sendo regente do reino mais do que uma vez. Desprezando a vida mundana, retirou-se a viver no seu Paco de Xabregas, junto com a imensa casa dos seus servidores e criados. Apesar de se situar relativamente perto do
Terreiro do Paco
, a residencia independente em
Xabregas
permitia-lhe uma vida mais serena e propicia a devocao e austeridade religiosas que se determinou a seguir, ao tomar o habito laico de viuva.
Apoiou D. Manuel na fundacao do
Hospital Real de Todos os Santos
, no
Rossio
de
Lisboa
, o melhor hospital da Europa no seu tempo; e esteve ainda na origem da fundacao do hospital termal das
Caldas da Rainha
, cuja construcao e funcionamento custeou, e que dela tira o seu nome.
[
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]
Ainda hoje as
Caldas da Rainha
mantem como armas as da rainha Leonor, ladeado a esquerda pelo seu proprio emblema (o camaroeiro) e a direita, pelo emblema de Joao II (o pelicano). Ao manter estas armas, a cidade tornou-se uma das poucas povoacoes portuguesas a manter um brasao anterior a normalizacao republicana da heraldica municipal, levada a cabo no principio do seculo XX.
O mais belo e notavel dos monumentos, ou edificios que a rainha ordenou fossem construidos, e onde repousa, o
convento da Madre de Deus
, em estilo gotico
manuelino
, abriga hoje o
Museu Nacional do Azulejo
, constituindo um dos mais ricos patrimonios culturais portugueses. Nele mandou ser sepultada. Foi mandado construir em 1509, e desde entao ficou sempre integrado na
Casa das Rainhas
. Foi ocupado por clarissas, Franciscanas Descalcas da primeira regra de Santa Clara, a qual a propria rainha, enquanto viuva, fez voto, e quis obedecer.
O majestoso
Convento da Madre de Deus
foi sujeito a magnificas intervencoes arquitectonicas e a luxuosa decoracao ao longo dos seculos, tendo possuido um excepcional patrimonio em ourivesaria e obras de arte. Do tempo da sua fundacao restam sobretudo no interior o piso terreo, notavel pelo seu Claustrim, e a chamada Capela de D. Leonor. E, sobrevivente ao
terremoto de 1755
, no exterior existe ainda a fachada, ornamentada com belos portais e janelas em puro
estilo manuelino
, que dantes davam directamente para as areias da praia de
Xabregas
, sobre o
Tejo
.
Filhos
Miguel da Paz, Principe de Portugal e das Asturias
Joao, Principe de Portugal (futuro Joao III)
Infanta Isabel, Imperatriz do Sacro-Imperio Romano-Germanico
Infanta Beatriz, Duquesa de Saboia
Infante Luis, Duque de Beja
Infante Fernando, Duque da Guarda e de Trancoso
Cardeal-Infante Afonso
Cardeal-Infante Henrique (futuro Henrique I)
Infante Duarte, Duque de Guimaraes
Infanta Maria, Duquesa de Viseu
Netos
Filipe II de Espanha (futuro Filipe I de Portugal)
Antonio, Prior do Crato
(ilegitimo)
Infanta Maria de Guimaraes, Duquesa de Parma e Piacenza
Infanta Catarina de Guimaraes, Duquesa de Braganca
Bisnetos
Teodosio II, Duque de Braganca
Ranuccio I Farnese de Parma
Trinetos
Joao II, Duque de Braganca (futuro Joao IV de Portugal)
|
A rainha teve dois filhos: o principe
D. Afonso
, nascido em 1475 e um natimorto em 1483.
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]
D. Afonso
, herdeiro do trono, morreu precocemente num infeliz e inesperado acidente de cavalo no
Vale de Santarem
em 1491, pouco depois de casado com a princesa
Isabel de Aragao
, herdeira dos
Reis Catolicos
nos seus tronos de Aragao, Castela, Napoles e Sicilia.
Durante o seu casamento com D. Leonor, nasceu ao rei um filho bastardo com
Ana de Mendonca
(dama da rainha
Joana
, 2.ª mulher de D. Afonso V) ?
Jorge de Lencastre
, a quem, ao legitima-lo, criou mestre da
Ordem de Santiago
e a quem mandou que fosse 2º
duque de Coimbra
, em homenagem ao seu avo, o infante-regente D. Pedro, cuja Casa foi reconstituida a seu favor.
Tendo o rei chamado para a corte este seu filho, pediu a D. Leonor que lhe servisse de mae, o que a rainha aceitou, vivendo D. Jorge junto do infante
Manuel
e do principe
Afonso
, seu meio-irmao, ate a sua morte. Depois desta data, no entanto, D. Leonor distancia-se do enteado, custando-lhe ve-lo vivo e o seu unico filho ja desaparecido, tanto mais que descobre que o rei seu marido determinara agora torna-lo sucessor na coroa, apesar de o direito constitucional portugues nao o autorizar a isso, pois jamais a escolha da sucessao coube ao soberano em Portugal.
No entanto, e com essa finalidade, D. Joao tentou uma accao diplomatica junto da Santa Se, querendo obter o seu reconhecimento pelo papa como filho legitimo capaz de lhe suceder na coroa ? no que foi contrariado pela rainha, que defendeu os direitos sucessorios de seu irmao Manuel ? o varao legitimo mais proximo do rei, que subiria ao trono em 1495 apos a sua morte, como
D. Manuel,
O Venturoso
.
Ao subir ao trono o seu irmao mais novo, ainda solteiro, a rainha tornou-se automaticamente herdeira do trono. E se este tivesse falecido por essa altura, teria passado de rainha viuva a rainha reinante. Porem, viuva e ja sem idade para vir a ter sucessao propria, alem de consagrada as boas obras, nao quis nunca ser jurada Princesa herdeira, pelo que o rei se determinou a mandar voltar do exilio em Castela sua outra irma, a infanta
Isabel
, que ali se acolhera viuva com os filhos desde a sentenca que lhe condenara o marido, Fernando II de Braganca, fazendo por acordo de familia jurar como sucessor e herdeiro a
Jaime I de Braganca
, filho desta, ate lhe nascer sucessao do seu futuro casamento.
A rainha, trajando de viuva, rezando no seu magnifico Livro de Horas, sobre a pintura flamenga
Panorama de Jerusalem
, oferecida por seu primo o imperador Maximiliano I.
Chegada processional ao novo Convento da Madre de Deus das reliquias de Santa Auta, oferecidas por seu primo o imperador Maximiliano I, vendo-se a rainha nas suas vestes de viuva na bancada, a frente das clarissas, em adoracao.
A rainha Leonor faleceu no seu
Paco de Xabregas
, nos arredores de Lisboa, junto ao convento do mesmo nome.
Ali mesmo, em
Xabregas
, quis ficar sepultada, no seu magnifico
Convento da Madre de Deus
, em campa rasa de fria e nua pedra, num lugar de passagem, para que todos a pisassem: gesto de grande humildade, que comove, e que quis que demonstrasse aos vindouros, que por ali viessem a passar, o sinal da pequenez das coisas do mundo diante da eternidade.
Referencias
- ↑
a
b
c
d
Encliclopedia Luso Brasileira de Cultura, 11.º volume
- ↑
Rodrigues Oliveira, Ana (2010).
Rainhas Medievais de Portugal
. Lisboa: A Esfera dos Livros. p. 531
- AMEAL, Joao,
Dona Leonor, Princesa Perfeitissima
, Livraria Tavares Martins, Porto, 1968.
- SERRAO, Joaquim Verissimo, Historia de Portugal, II volume.
- SA, Isabel dos Guimaraes, "Leonor de Lencastre : de princesa a rainha-velha", Lisboa: Temas e Debates, 2016.