Chama-se
Jornalismo Internacional
a especializacao da
profissao jornalistica
nos eventos estrangeiros ao pais onde esta sediado o veiculo de
imprensa
em que o jornalista trabalha. Por isso, a definicao e relativa por natureza: o que e assunto "domestico" num determinado pais sera "internacional" em todos os demais. Este fato faz com que o Jornalismo Internacional seja provavelmente a area do Jornalismo com maior abrangencia de temas entre todas, ja que deve dar conta de politica, economia, cultura, acidentes, natureza e todos os assuntos que acontecam fora de seu pais de origem.
O jornalismo como atividade profissional ja teria nascido
internacional
em seus primordios, pois os veiculos de imprensa pioneiros - criados no contexto da ascensao da
burguesia
na
Europa
nos seculos
XVII
e
XVIII
- foram criados principalmente para informar leitores locais (em grande parte, comerciantes e banqueiros) sobre fatos acontecidos no exterior.
A partir do
seculo XIX
, com jornais ja consolidados na
Europa
, nos
Estados Unidos
e em determinados paises - como o
Brasil
-, e com as inovacoes nas
telecomunicacoes
, como o
telegrafo
, as noticias do estrangeiro ganharam novo impulso. Comecaram a ser formadas as primeiras
agencias de noticias
, inicialmente como associacoes entre jornais para cobrir eventos de grande relevancia, como guerras e revolucoes. Os primeiros conflitos a receber ampla cobertura jornalisticas foram a
Guerra da Crimeia
e a
Guerra Civil Americana
.
Ver topico especifico
Agencia de noticias
.
Ha dois tipos de reportagem que podem ser feitas no exterior: o trabalho de
correspondencia estrangeira
(ou
correspondencia internacional
) e o do
enviado especial ao exterior
. Embora haja semelhancas entre ambos, as diferencas se dao no quotidiano do trabalho e da producao de material para seus respectivos veiculos de imprensa.
O
correspondente
e um reporter baseado fixamente numa cidade estrangeira - muitas vezes a capital de um pais -, cobrindo uma regiao, um pais ou as vezes ate um continente inteiro. Ele deve enviar materias regularmente para a redacao da sede de seu veiculo. Para isso, ele acompanha toda a imprensa local, mantem contatos frequentes com jornalistas e colegas correspondentes e identifica fontes estrategicas - como entidades, governos, diplomatas, militares e outras que possam fornecer informacoes importantes. Na maior parte das vezes, o correspondente e auto-pautado - ou seja, ele mesmo define sobre o que ira escrever, o que ira apurar, que assuntos vai selecionar. O correspondente deve ter conhecimento profundo da realidade local e um talento discricionario elevadissimo para identificar os fatos mais relevantes no pais onde trabalha e ao mesmo tempo interessantes para seu pais de origem.
Ja o
enviado especial
e um reporter expatriado com um tema previamente definido para cobrir ou investigar (uma guerra, uma crise, uma epidemia etc.). Diferente do correspondente, o enviado especial pode produzir uma unica materia, se for o caso, ou uma serie, sem necessidade de envio regular de producao. Normalmente, o enviado especial e selecionado entre os profissionais da redacao por ter maiores conhecimentos sobre o tema ou o lugar dos fatos. Muitas vezes, o enviado passa poucos dias no local e retorna a sede logo em seguida.
Quando jornalistas trabalham no exterior sem vinculos fixos com veiculos de imprensa ou em regime de prestacao de servico, sao chamados de
stringers
. Estes sao mais comuns em locais onde a midia nao acha tao interessante ou compensatorio manter um correspondente fixo, como em paises do
Terceiro Mundo
.
Stringers
geralmente produzem materias para varias empresas diferentes ao mesmo tempo.
O trabalho de
correspondente de Guerra
propriamente dito surgiu na segunda metade do seculo XIX, com o envio de reporteres europeus e norte-americanos para conflitos como a
Guerra da Crimeia
,
Guerra do Mexico
,
Guerra do Opio
,
Guerra Civil Americana
,
Guerra do Paraguai
e
Guerra Hispano-Americana
. Segundo registros, o primeiro correspondente de guerra da Historia da Imprensa foi o irlandes
William Howard Russell
.
Entretanto, antes mesmo ja havia os chamados "cronistas de guerra", que produziam relatos sobre os conflitos - sem que houvesse, na epoca, tecnicas de producao jornalistica. O general romano
Julio Cesar
, por exemplo, escreveu cronicas de guerra em seu diario
De Bello Galico
. A diferenca para os correspondentes modernos e que estes sao enviados especificamente para cobrir conflitos para um veiculo determinado (jornal, TV, radio, revista etc.).
O correspondente de guerra pode ficar baseado numa cidade perto da zona de conflito (por haver mais infraestrutura e acesso a comunicacao com a redacao da sede) ou ir direto para o
front
de combate, se as condicoes e os militares permitirem. Tecnologias de comunicacao recentes, como a
Internet
, permitiram maior mobilidade ao correspondente de guerra, ja que ele agora pode enviar textos, sons e imagens de praticamente qualquer ponto do mapa, incluindo o campo de batalha. O trabalho e de altissimo risco, mas cada informacao obtida tem valor igualmente alto. Correspondentes de guerra estao entre as maiores vitimas de casualidades (mortes por assassinatos ou acidentes) entre jornalistas.
A origem do jornalismo de guerra pode remontar a Guerra da Crimeia, primeiro conflito coberto por agencias de noticias (Havas e Reuters) e por um correspondente. Depois, com a invencao do
cinematografo
, o publico pode testemunhar pela primeira vez a Guerra Hispano-Americana em
Cuba
e nas
Filipinas
(
1898
-
1899
). Foi nessa guerra que ficou constatada a grande influencia que os
meios de comunicacao
podiam ter sobre a
opiniao publica
. Um exemplo conhecido que reflete este facto tem como protagonista
William Randolph Hearst
: este magnata da imprensa dos Estados Unidos teria dado a ordem a um de seus correspondentes que se encontravam em
Havana
de que, houvesse ou nao houvesse conflito, mandasse fotografias que ele mesmo providenciaria a guerra.
Houve muitos exemplos deste estilo de entao ate agora, pois os meios de comunicacao contam com poder suficiente para dar a cara ao que mais convem (tanto em nivel politico como economico) de uma guerra. E o caso da famosa fotografia da menina correndo
[1]
durante a
Guerra do Vietna
, dando assim a ma imagem que se queria dar das tropas estadunidenses. Atualmente, os jornalistas tem pouca seguranca para retratar conflitos, sendo que segundo o manual de guerra de junho de 2015 do governo dos
Estados Unidos
defende que alguns jornalistas poderiam ser rotulados como terroristas e passam a ser um alvo legitimo de operacoes militares.
[
1
]
No
Brasil
, alguns dos maiores expoentes profissionais em jornalismo internacional sao os reporteres e redatores
Newton Carlos
, Argemiro Ferreira,
Clovis Rossi
,
Diogo Schelp
,
William Waack
,
Hermano Henning
e
Jose Hamilton Ribeiro
. Entre os ja falecidos, houve
Antonio Callado
,
Paulo Francis
,
Araujo Neto
,
Joel Silveira
e
Geneton Moraes Neto
.
As editorias de internacional dos principais jornais diarios brasileiros sao chamadas de "
Internacional
" no
JB
, "
Internacional
" no
Correio do Povo
, "
Mundo
" na
Folha de S.Paulo
, "
Internacional
" em
O Estado de S.Paulo
, "
O Mundo
" em
O Globo
, "
Mundo
" em
O Dia
, "
Mundo
" no
Zero Hora
, "
Internacional
" no
Estado de Minas
, "
Mundo
" em
A Tarde
, "
Mundo
" no
Diario de Pernambuco
, "
Mundo
" no
Correio Braziliense
,"
Internacional
"no
Diario do Nordeste
"
Mundo
" na
Gazeta do Povo
,"
Mundo
" no
O Povo
e "
Mundo
" em
O Popular
.
Os unicos veiculos brasileiros dedicados exclusivamente a cobertura internacional sao a revista
Cadernos do Terceiro Mundo
(1974-2006) e o website
Opera Mundi
(fundado em 2008).
Na televisao, alguns programas de referencia sao o
Sem Fronteiras
e o
Milenio
, ambos do canal
Globo News
.
A
Radio e Televisao de Portugal
mantem varios correspondentes no exterior, entre eles
Luis Baila
(
Brasil
),
Daniela Santiago
(
Espanha
),
Rosario Salgueiro
(
Franca
),
Noe Monteiro
(
Suica
),
Marcia Rodrigues
(
EUA
) e
Francisco Piedade
(
Timor-Leste
). Entre os antigos correspondentes internacionais da RTP inclui-se o de
Evgueni Mouravitch
, que foi correspondente da estacao na
Federacao Russa
) ate marco de 2022.
Referencias
- ARBEX, JR., Jose
.
Showrnalismo: a noticia como espetaculo
. Sao Paulo: Casa Amarela, 2001
- ARNETT, Peter.
Ao Vivo do Campo de Batalha: do Vietna a Bagda, 35 anos em zonas de combate
. Rio de Janeiro: Rocco, 1994
- BEER, Arnold S. & MERRILL, John (orgs.).
Global Journalism: topical issues and media systems
. Boston: Allyn & Bacon, 2004
- BIAL, Pedro.
Cronicas de um Reporter: o correspondente internacional conta tudo o que nao se diz no ar
. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996
- BIAL, Pedro & CASTELO BRANCO, Renee.
Leste Europeu: revolucao ao vivo
. Rio de Janeiro: Objetiva, 1990
- BRITTO, Denise F.
O papel do correspondente internacional na editoria exterior
. Anais do 26º Congresso Brasileiro de Ciencias da Comunicacao. Belo Horizonte: 2003
- CARRUTHERS, Susan L..
The Media at War: communication and conflict in the 20th Century
. Palgrave Macmillan, 1999
- COLOMBO, Furio.
Ultimas Noticias sobre el Periodismo: manual de periodismo internacional
. Barcelona: Anagrama, 1997
- CADIMA, Francisco Rui.
Os Desafios dos Novos Media ? A nova ordem politica e comunicacional
. Lisboa: Editorial Noticias, 1999
- DORNELES, Carlos.
Deus e inocente, a imprensa nao
. Rio de Janeiro: Globo, 2002
- EPPRECHT, Catharina.
Reportar o Outro: o Oriente Proximo observado por jornalistas ocidentais sob metodos antropologicos (monografia)
. Rio de Janeiro: ECO/UFRJ, 2004
- FALLOWS, James & WOLFF, Fausto.
Detonando a Noticia ? como a midia corroi a democracia americana
.Rio de Janeiro: Civilizacao Brasileira, 1997
- FINO, Carlos.
A Guerra ao Vivo
. Sao Paulo: Verbo, 2003
- FRIEDMAN, Thomas.
De Beirute a Jerusalem
. Bertrand Brasil, 1991
- GOODMAN Al & POLLACK, John.
The World on a String, How to become a freelance foreign correspondent
. Nova York: Henry Holt and Company, 1997
- GOYZUETA, Veronica, OGIER, Thierry et alii (orgs.).
Guerra e Imprensa: um olhar critico da cobertura da guerra do Iraque
. Sao Paulo: Summus, 2003
- HANNERZ, Ulf.
Foreign News: exploring the world of foreign correspondents
. Chicago: University of Chicago Press, 2004
- HENNING, Hermano.
Via Satelite: Historias de um Correspondente Internacional
. Rio de Janeiro: Globo, 1996.
- HESS, Stephen.
International News & Foreign Correspondents
. Washington: The Brookings Institution, 1996
- HOHENBERG, John.
Foreign Correspondence: The Great Reporters and Their Times
. Syracuse: Syracuse University Press, 1995
- HOHENBERG, John.
O Jornalista Profissional: guia as praticas e aos principios dos meios de comunicacao de massa
. Rio de Janeiro: Interamericana, 1981
- HASKOVEC, Slavoj. FIRST, Jaroslav.
Introduccion al Trabajo de las Agencias de Noticias
. Santiago de Cuba: Editorial Oriente, 1984
- KNIGHTLEY, Philip.
A Primeira Vitima: o correspondente de guerra como heroi, propagandista e fabricante de mitos, da Crimeia ao Vietna
. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
- KUHN, Adriana S.
A Historia dos Correspondentes Brasileiros de Guerra e sua Relacao com o Poder Estatal e Militar
. Novo Hamburgo: Rede Alcar, anais do 3º Encontro, 2005
- LEAL FILHO, Laurindo
.
A Melhor TV do Mundo ? o modelo britanico de televisao
. Sao Paulo: Summus, 1997
- MATTA, Fernando Reyes (org).
A Informacao na Nova Ordem Internacional
. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980
- McLAUGHLIN, Gregory.
The War Correspondent
. Pluto Press, 2002
- NATALI, Joao Batista.
Jornalismo Internacional
. Sao Paulo: Contexto, 2004
- REALI JR. (em depoimento a CARTA, Gianni).
As Margens do Sena
. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
- ROSSI, Clovis
.
Enviado Especial: 25 anos ao redor do mundo
. Sao Paulo: Senac, 1999
- SALINAS, Raquel.
Agencias Transnacionales de Informacion y el Tercer Mundo
. Quito: The Quito Times, 1984
- SANTANA, Marcelle.
Os Ultimos Romanticos: sobre correspondentes da imprensa brasileira no exterior
(monografia). Niteroi: IACS/UFF, 2001
- SANTOS, Jose Rodrigues dos.
A Verdade da Guerra
. Gradiva
- SEIB, Philip.
The Global Journalist: news and conscience in a world of conflict
. Lanham: Rowman & Littlefield, 2002
- SHANOR, Donald.
News from Abroad
. Nova York: Columbia University Press, 2003
- SILVA, Carlos Eduardo Lins da
.
Correspondente Internacional
. Sao Paulo: Contexto, 2011.
- SILVEIRA, Joel.
Tempo de Contar
. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 1993
- SOUZA, Jose Carlos Aronchi de.
Seja o primeiro a saber: a CNN e a globalizacao da informacao
. Sao Paulo: Summus, 2005
- STEELE, Jon.
War Junkie
. Bantam, 2002
- STEINBECK, John.
Correspondente de Guerra
. Livros do Brasil, 1984
- TRALLI, Cesar.
Olhar Cronico
. Rio de Janeiro: Globo, 2001
- UNESCO - Comissao Internacional para o Estudo dos Problemas da Comunicacao.
Um Mundo e Muitas Vozes: comunicacao e informacao na nossa epoca
. Rio de Janeiro: FGV, 1983
- VAN GINNEKEN, J..
Understanding Global News: a critical introduction
. Sage, 1997
- WAACK, William
& CAMPOS MELLO, Helio.
Mister, you Baghdad - dois reporteres na Guerra do Golfo
. Sao Paulo: OESP, 1991
- WEAVER, David H. & WU, Wei.
The Global Journalist: news and people around the world
. Hampton Press, 1998