Guilherme de Tiro

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Guilherme de Tiro
Willelmus Tyrensis
Guilherme de Tiro
Guilherme de Tiro a escrever a sua Historia ( traducao do frances antigo do seculo XIII , Biblioteca Nacional da Franca , Paris , MS 2631, f.1r)
Nascimento cerca de 1130
Jerusalem
Morte 29 de Setembro de 1185
Tiro
Nacionalidade Hierosolimita
Ocupacao Arcebispo de Tiro , cronista, historiador
Magnum opus Historia rerum in partibus transmarinis gestarum

Guilherme de Tiro ou Willelmus Tyrensis em latim ( Jerusalem , c. 1130 - Tiro , 29 de Setembro de 1185 ) foi arcebispo de Tiro , um cronista das cruzadas e da Idade Media .

Primeiros anos [ editar | editar codigo-fonte ]

Guilherme fazia parte da segunda geracao de descendentes dos primeiros cruzados europeus no novo Reino Latino de Jerusalem . Os seus pais eram provavelmente de origem francesa ou italiana , possivelmente normandos da Sicilia . Tinha um irmao chamado Rudolfo que era provavelmente um mercador no reino, e a sua familia nao era nobre .

Na sua infancia foi educado em Jerusalem: aprendeu latim , talvez tambem grego e arabe , e e possivel que um dos seus colegas de estudos tenha sido o futuro rei Balduino III de Jerusalem . Entrou para o clero ainda jovem, a c. 1146 , viajando para a Europa para continuar a sua instrucao.

Estudou as artes liberais e teologia em Paris e Orleaes por cerca de dez anos, com professores que tinham aprendido com Thierry de Chartres e Gilberto de Poitiers ; Roberto de Melun e Adao Parvipontanus tambem contam-se entre os seus mestres; Hilario de Orleaes ensinou-lhe os classicos , Guilherme de Soissons a matematica , especialmente Euclides . Estudou teologia com Pedro Lombardo e Mauricio de Sully durante seis anos. Depois direito civil e direito canonico em Bolonha , com os chamados Quatro Doutores : Hugolinus de Porta Ravennate , Bulgarus , Martinus Gosia , e Jacob de Boraigne .

Regente e arcebispo [ editar | editar codigo-fonte ]

Manuel I Comneno e os mensageiros de Amalrico I de Jerusalem ( manuscrito de Guilherme de Tiro e continuacao, manuscrito do seculo XIII de Acre , Biblioteca Nacional da Franca , Paris , MS Francais 9084, folio 272

Apos o seu regresso a Terra Santa em 1165 , Guilherme tornou-se conego da catedral de Sao Joao de Acre , e em 1167 foi nomeado arcediago da catedral de Tiro pelo rei Amalrico I de Jerusalem . Em 1168 foi enviado em uma missao diplomatica deste rei junto ao imperador bizantino Manuel I Comneno , para finalizar o tratado acordado entre os dois governantes, relativo a uma campanha em conjunto contra o Egipto .

Em 1169 visitou Roma para responder a acusacoes de Frederico de la Roche , o arcebispo de Tiro da epoca; o conteudo destas e desconhecido, mas talvez estivesse relacionado com os avultados rendimentos de Guilherme como arcediago, que teria ganho pela sua amizade com o rei. Ao voltar de Roma em 1170 , tornou-se no tutor do filho e herdeiro de Amalrico, Balduino IV de Jerusalem . Foi Guilherme que descobriu que o jovem sofria de lepra , apesar de o diagnostico so se ter tornado certo quando este atingiu a puberdade .

Por esta altura, o conego comecou a escrever a sua historia do reino, sob o patrocinio de Amalrico, que morreu prematuramente em 1174 . Balduino IV sucedeu ao pai, sob a regencia de Raimundo III de Tripoli , que nomeou Guilherme chanceler de Jerusalem , bem como arcediago de Nazare . A 6 de Junho de 1175 tornou-se arcebispo de Tiro, passando a controlar os mais importantes assuntos da Igreja e do Estado . Em 1177 realizou os ritos funebres para Guilherme de Monferrato, conde de Jafa e Ascalao e cunhado de Balduino IV, quando o patriarca de Jerusalem estava demasiado doente para o fazer.

Em 1179 , Guilherme foi um dos delegados do ultramar a participar do terceiro concilio de Latrao, juntamente com o patriarca Heraclio, arcebispo da Cesareia Palestina , o bispo Joscius de Sao Joao de Acre , futuro sucessor de Guilherme no arcebispado de Tiro, os bispos de Samaria , Belem e Tripoli , e o abade de Monte Siao .

No entanto, o grupo nao teve a influencia necessaria para persuadir o papa da necessidade de uma nova cruzada e Guilherme foi recrutado pelo papa Alexandre III para missoes diplomaticas junto ao imperador Manuel. Ao voltar em 1180 , considerou-se a escolha obvia para o patriarcado quando o anterior patriarca morreu, mas na sua ausencia a corte de Jerusalem tinha-se dividido em duas faccoes antagonistas.

Perda de influencia [ editar | editar codigo-fonte ]

Guilherme de Tiro descobre os primeiros sintomas de lepra de Balduino IV de Jerusalem . Manuscrito de L'Estoire d'Eracles ( traducao francesa da Historia de Guilherme de Tiro), pintado em Franca , c. 1250 ( Biblioteca Britanica , Londres )

Na Pascoa desse ano, o rei e a sua mae Ines de Courtenay travaram uma tentativa de Raimundo III de Tripoli e Boemundo III de Antioquia casarem Sibila de Jerusalem com Balduino de Ibelin , um nobre da faccao destes. Em vez disso, Sibila casou-se com um recem-chegado de Poitou , Guido de Lusignan , irmao mais novo do influente Amalrico de Lusignan . Este matrimonio parece ter agudizado ainda mais as faccoes.

Quando o patriarca morreu, a 6 de Outubro , os dois candidatos a sucessao eram Guilherme de Tiro e Heraclius da Cesareia. Equivaliam-se em educacao e experiencia, apesar de o primeiro ter tido um papel politico mais influente enquanto tutor e chanceler de Balduino IV.

Na eleicao patriarcal anterior, em 1157 , o rei tinha delegado a decisao para a sua mae, agora esposa de Reginaldo de Sidon , que escolheu Heraclio, uma vez que Guilherme era mais proximo de Raimundo de Tripoli, caido em desfavor. Apesar dos rumores de que Heraclius era amante de Ines, estes parecem completamente infundados, um reflexo do ressentimento do partido derrotado. [ 1 ]

Assim, continuou como arcebispo de Tiro e chanceler do reino, e eventualmente Balduino IV e Raimundo III reconciliaram-se. E possivel que Heraclius tenha excomungado Guilherme em 1184 , mas esta informacao pode ser uma invencao do cronista do seculo XIII que fez esta afirmacao pela primeira vez. De qualquer forma, a importancia do arcebispo diminuira com a ascensao de Balduino V em 1185 , quando a sua saude ja estaria em declinio.

A data da morte de Guilherme foi registrada posteriormente como 29 de Setembro , mas o ano e desconhecido; foi nomeado um novo chanceler em Maio de 1185 e um novo arcebispo de Tiro em Outubro de 1186 , pelo que 1185 parece ser a data mais provavel.

Obra [ editar | editar codigo-fonte ]

O proprio Guilherme indicou que escreveu um relato do Concilio de Latrao em que participou, para alem de uma Historia ou Gesta orientalium principum , sobre a historia da Terra Santa desde os tempos de Maome e ate 1184 . No entanto, estes trabalhos foram perdidos.

Reconstrucao do Templo de Jerusalem ( Histoire d'Outremer , Guilherme de Tiro, seculo XIII , Biblioteca Nacional da Franca , Paris )

A sua grande obra e uma cronica inacabada de 23 livros, que comeca com a conquista da Siria por Umar ibn al-Khattab , mas cuja maioria do conteudo enfoca a Primeira Cruzada e a subsequente historia politica do Reino Latino de Jerusalem . Apesar de ter usado fontes anteriores, incluindo cronicas contemporaneas da Primeira Cruzada como as de Fulquerio de Chartres e outras anonimas, o seu trabalho tambem tem valor como fonte primaria.

A Historia foi traduzida e circulou por toda a Europa depois da morte de Guilherme de Tiro. Jaime de Vitry e Mateus Paris possuiam copias que usaram nas suas proprias cronicas. Uma traducao em frances antigo foi particularmente bem distribuida e contou com varias adicoes anonimas no seculo XIII , incluindo a chamada cronica de Ernoul ; um autor do Renascimento traduziu esta versao de volta para o latim, desconhecedor de ja haver um original nesta lingua . No seculo XV , William Caxton tambem fez uma traducao em ingles medio a partir do frances antigo.

Nao se sabe ao certo o titulo que Guilherme deu a sua obra, mas a forma mais aceite parece ser Historia rerum in partibus transmarinis gestarum , o que foi traduzido como Histoire d'Outremer em frances ( Historia do Ultramar ) e History of Deeds Done Beyond the Sea em ingles , por E. A. Babcock e A. C. Krey, publicada em 1943 ( Historia dos Feitos Realizados no Ultramar ).

O original em latim foi lancado em varias publicacoes, como em Patrologia Latina e Recueil des historiens des croisades , mas a edicao actualmente considerada padrao foi publicada como Willelmi Tyrensis Archiepiscopi Chronicon no Corpus Christianorum em 1986 , editada por R. B. C. Huygens.

Reinaldo de Chatillon e o Patriarca de Antioquia ( Historia de Guilherme de Tiro e continuacao, manuscrito do seculo XIII de Acre , Biblioteca Nacional da Franca , Paris )

Referencias

  1. The Leper King and his Heirs , Bernard Hamilton, Cambridge University Press, 2000

Bibliografia [ editar | editar codigo-fonte ]

  • A History of Deeds Done Beyond the Sea , Guilherme de Tiro, traducao para o ingles de E.A. Babcock e A.C. Krey, Columbia University Press, 1943
  • Willemi Tyrensis Archiepiscopi Chronicon , ed. R. B. C. Huygens, Turnholt, 1986
  • Guillaume de Tyr etudiant , R. B. C. Huygens, Latomus 21 (1962), 811-829
  • William of Tyre: Historian of the Latin East , Peter W. Edbury e John G. Rowe, Cambridge University Press, 1988
  • Historians in the Middle Ages , Beryl Smalley, Scribners, 1974 ( ISBN 0-684-14121-3 )

Ligacoes externas [ editar | editar codigo-fonte ]

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