Nota:
Para o eletrodomestico, veja
Frigorifico
. Para o bloco ou massa de gelo de grandes proporcoes, veja
Iceberg
. Para a caixa isolante utilizada para guardar alimento e bebidas, veja
caixa termica
.
Geleira
(
portugues brasileiro
)
ou
glaciar
(
portugues europeu
)
e uma grande e espessa massa de
gelo
formada em camadas sucessivas de
neve
compactada e
recristalizada
, de varias epocas, em regioes onde a acumulacao de neve e superior ao degelo. E dotada de movimento e se desloca lentamente, em razao da
gravidade
, relevo abaixo, provocando
erosao
e
sedimentacao
glacial.
As geleiras ou glaciares podem apresentar extensao de varios quilometros e espessura que pode tambem alcancar a faixa dos quilometros. A neve que restou de uma estacao glacial da-se o nome de nevado (usa-se tambem o termo
alemao
Firn
e o
frances
neve
). O nevado e uma etapa intermediaria da passagem da neve para o gelo. A medida que se acumulam as camadas anuais sucessivas, o nevado profundo e compactado, recongelando-se os granulos num corpo unico.
O gelo das geleiras e o maior reservatorio de
agua doce
sobre a
Terra
, e perde em volume total de agua apenas para os
oceanos
. As geleiras cobrem uma vasta area das
zonas polares
mas ficam restritas as montanhas mais altas nos
tropicos
. Em outros locais do
sistema solar
, as grandes
calotas polares
de Marte rivalizam-se com as da Terra.
[
1
]
Dentre as caracteristicas
geologicas
criadas pelas geleiras estao as
morenas
, ou moreias
terminais ou frontais
, mediais, de fundo e as laterais, que sao cristas ou depositos de fragmentos de
rocha
transportados pela geleira; os
vales em forma de U
e
circos
em suas cabeceiras, e a
franja da geleira
, que e a area onde a geleira recentemente derreteu.
O
portugues
geleira
, do
seculo XIX
, preferivel ao
castelhanismo
ventisqueiro
e diferentemente do
galicismo
glaciar
, e derivado do portugues
gelo
(do
latim
gelu
, 'gelo, geada, frio intenso') e o
sufixo
-eira
, que, no caso, traduz a ideia de 'intensidade, aumento, acumulo'. O espanhol
hielo
, 'gelo', de 1220-1250, permite datar o portugues
gelo
no
seculo XVI
, ainda que seu primeiro registro seja o do dicionario de
Antonio de Morais Silva
(1813).
[
2
]
Embora predomine na
America Hispanica
(principalmente na
Argentina
) e no
portugues europeu
o galicismo
glaciar
, do
seculo XX
, o vocabulo espanhol que traduz o portugues
geleira
e
vestiquero
, do
seculo XVII
, derivado do espanhol
viento
, de fins do
seculo X
, do latim
ventus
, 'vento'.
O
frances
glacier
, de 1572, que passou ao
ingles
glacier
, de 1744, deriva do frances
glace
,
latim vulgar
glacia
, latim
glacies
, 'gelo'. Palavra dos falares
alpinos
, o frances
glacier
torna-se usual a partir do
seculo XVIII
, quando ainda concorre com
glaciere
, de 1640, hoje obsoleto nesse sentido.
[
3
]
O
italiano
ghiacciaio
e o
alemao
Gletscher
(desde o
seculo XVI
), ambos 'geleira', ganham curso no seculo XVIII como derivados do latim
glacies
.
As geleiras se formam em areas onde se acumula mais
neve
no inverno que se derrete no verao. Quando as temperaturas se mantem abaixo do
ponto de congelamento
, a neve caida muda sua estrutura ja que a
evaporacao
e a
recondensacao
da agua causa a
recristalizacao
para formar granulos de gelo menores, espessos e de forma esferica. Este tipo de neve recristalizada e conhecido por
nevado
. A medida que a neve se acumula e se converte em nevado, as camadas mais profundas sao submetidas as pressoes cada vez mais intensas. Quando as camadas de gelo e neve tem espessuras que alcancam varias dezenas de metros, o peso e tal que a nevada comeca a desenvolver cristais de gelo maiores.
Nas geleiras, onde a fusao se da na zona de acumulo de neve, a neve pode converter-se em gelo atraves da fusao e o regelo (no periodo de varios anos). Na
Antartida
, onde a
fusao
e muito lenta ou nao existe (inclusive no verao), a compactacao que converte a neve em gelo pode demorar mil anos. A enorme pressao sobre os cristais de gelo faz que estes tenham uma deformacao plastica, cujo comportamento faz com que as geleiras se movam lentamente sob a forca da
gravidade
como se tratasse de um enorme fluxo de terra.
O tamanho das geleiras depende do clima da regiao em que se encontram. O equilibrio entre a diferenca do que se acumula na parte superior com respeito ao que se derrete na parte mais profunda recebe o nome de equilibrio glacial. Nas geleiras de montanha, o gelo vai-se compactando nos
circos glaciarios
, que nada mais sao do que depressoes em forma de nicho, de bordas escarpadas, nas altas montanhas. No caso das geleiras continentais, o acumulo acontece tambem na parte superior da geleira, mas e uma consequencia mais da formacao da
escarcha branca
, isto e, da passagem direta do vapor d'agua do ar ao estado solido pelas baixas temperaturas das geleiras, que pelas precipitacoes de neve. O gelo acumulado comprime-se e exerce uma pressao consideravel sobre o gelo mais profundo. Por sua vez, o peso da geleira exerce uma pressao centrifuga que provoca o empuxo do gelo ate a borda exterior da mesma onde se derrete; a esta parte e dado o nome de
area de ablacao
.
Nas geleiras de vale, a linha que separa estas duas areas (a de acumulacao e a de ablacao) chama-se linha de neve ou linha de equilibrio. A elevacao destas linhas varia de acordo com as temperaturas e a quantidade de neve precipitada e e muito maior nas vertentes ou ladeiras que nas regioes de menor incidencia solar. O avanco ou retrocesso de uma geleira esta determinado pelo aumento da acumulacao ou da ablacao respectivamente. Os motivos deste avanco ou retrocesso das geleiras podem ser, obviamente, naturais ou humanas, sendo estes ultimos os mais evidentes desde 1850, pelo desenvolvimento da
industrializacao
ja que o efeito mais observado da mesma e a enorme producao de anidrido carbonico ou
dioxido de carbono
(CO²) o qual absorve grandes quantidades de agua (diretamente das geleiras proximas) para formar o
acido carbonico
, com o que as geleiras de vale vao retrocedendo.
E o caso das geleiras
alpinas
europeias
, em cujas proximidades localizam-se grandes industrias que consomem grandes quantidades de combustiveis que geram esse dioxido de carbono. E as geleiras da
Groenlandia
e da
Antartida
resultam muito mais dificeis de medir, ja que os avancos e retrocessos da frente podem estar compensados por um maior ou menor acumulacao de gelo na parte superior, representando uma especie de ciclos de avancos e retrocessos que se retroalimentam mutuamente dando origem a uma compensacao dinamica nas dimensoes da geleira. Em outras palavras: uma diminuicao da altura da geleira da Antartida, por exemplo, poderia gerar um maior empuxo para fora, e ao mesmo tempo, uma maior margem para que se acumule de novo uma quantidade de gelo similar a que existia anteriormente: recordemos que esta altura (uns tres quilometros) esta determinada pelo equilibrio glaciario, que tem uma especie de teto determinado sobre o qual nao se pode acumular mais gelo pela escassa quantidade de vapor d'agua que tem o ar a mais de 3 000 metros.
A morfogenese glaciaria se da pelo processo de modificacao do relevo atraves do deposito ou vazao do gelo de determinado local, podendo inclusive alterar a estrutura e formato da rocha ou montanha.
Densidades
- Neve
fresca, assentada (entre 50 e 100 kg/ m
3
)
- Neve
fresca, bem assentada (entre 100 e 200 kg/ m
3
)
- Neve
velha (entre 200 e 400 kg/ m
3
)
- Firn
(entre 400 e 800 kg/ m
3
)
- Gelo
puro (916,7 kg/ m
3
, 0 °C)
- Agua
pura (999,97 kg/ m
3
, 4 °C)
- Agua do mar
(1'028,07 kg/ m
3
, 35 g Sal/ kg, 4 °C)
[
4
]
As geleiras/glaciares classificam-se de acordo com seu tamanho e a relacao que mantem com a
geografia
. Sao geralmente aceitos 6 tipos de glaciares.
[
5
]
Chamam-se glaciares alpinos ou confinados os glaciares cuja
morfologia
depende do
relevo
e se encontram geralmente em montanhas ocupando o fundo dos
talvegues
.
Os glaciares de vale sao a representacao classica daquilo que fazemos de um glaciar: uma bacia de alimentacao em forma de circulo aos pes de um pico montanhoso.
Exemplos de glaciares de vale:
O glaciar suspenso e geralmente pequeno e encontra-se so junto a parede de uma montanha, razao do termo
suspenso
.
Exemplos de glaciares suspensos:
Trata-se de um glaciar cujo cumulacao de neve depende fundamentalmente da queda dos
seracs
de um glaciar suspenso.
Trata-se de um glaciar que ocupa um circo, no sentido em que esta rodeado por
montanhas
, pelo que nao pode escapar dele ou entao muito pouco.
Exemplos de glaciar em circulo:
E uma variedade do glaciares de vale que atinge a
planicie
aos pes da cadeia montanhosa, possuindo assim, e bem definida, uma zona de acumulacao e uma zona de transporte.
Exemplos de glaciares de piemonte:
Um glaciar costeiro (glaciar de mar ou lingua glaciar) e assim chamados porque a lingua do glaciar atinge o mar ou o oceano, pelo que hoje em dia so se encontram em
latitudes
elevadas.
Exemplos de glaciares costeiros:
Esses glaciares sao de tal maneira extensos e espessos que o relevo tem pouca incidencia sobre a sua morfologia. Apresentam-se na forma de um imenso pacote de gelo que acaba por formar um planalto muito pouco inclinado e de onde surgem de vez em quando um
nunatak
, nome pelo qual e conhecido um cume rochoso na
Islandia
, e que formam as chamadas
correntes glaciares
.
Uma calota glaciar ou calota de gelo e uma massa de gelo que cobre uma area menor que 50 000
km²
.
Exemplos de calota glaciar ou calota de gelo:
Um
manto de gelo ou inlandsis
e uma massa de gelo glaciar que cobre mais de 50 000 km² de terreno.
So existem dois
Inlandsis
no mundo:
O gelo comporta-se como um solido quebradico ate que a pressao que tem em cima alcanca os 50 metros de espessura do gelo. Uma vez ultrapassado este limite, o gelo comporta-se como um material plastico e comeca a fluir. O gelo glaciario consiste de camadas de
moleculas
colocadas umas sobre as outras. As unioes entre as camadas sao mais debeis que as existentes dentro de cada camada, de modo que quando o esforco ultrapassa as forcas das ligacoes que mantem as capas unidas, estas se deslocam umas sobre as outras.
Outro tipo de movimento e o deslizamento basal do gelo. Este se produz quando a geleira inteira desloca-se sobre o terreno no qual se encontra. Neste processo, a agua de fusao contribui para o deslocamento do gelo mediante a lubrificacao. A agua liquida origina-se em decorrencia da diminuicao do
ponto de fusao
a medida que aumenta a pressao. Outras fontes para a origem da agua de fusao podem ser a friccao do gelo contra a rocha, o que aumenta a temperatura e por ultimo, o calor proveniente da
Terra
.
O deslocamento de uma geleira nao e uniforme ja que esta condicionado pela friccao e a forca de
gravidade
. Devido a friccao, o gelo glaciario inferior move-se mais lentamente que as partes superiores. A diferenca das zonas inferiores, os gelos umidos nos 50 metros superiores nao estao sujeitos a friccao e, portanto sao mais rigidos. Esta secao e conhecida como zona de fratura. O gelo da zona de fratura viaja em cima do gelo inferior e quando este passa atraves de terrenos irregulares, a zona de fratura cria fendas que podem ter ate 50 metros de profundidade, onde o fluxo plastico as fecha. A rimaia e um tipo especial de fenda que somente forma-se nas geleiras de anfiteatro e tem uma direcao transversal ao movimento pela gravidade da geleira. Poderia dizer-se que e uma fenda que se forma nos pontos onde se separa a neve do fundo do
circo
do gelo que, todavia esta bem grudado na parte superior.
A velocidade de deslocamento das geleiras esta determinada pela friccao. Como se sabe, a friccao faz com que o gelo do fundo movimente-se a uma velocidade menor que as partes superiores. No caso das
geleiras de vales
, isto tambem se aplica para a friccao das paredes dos
vales
, porque as regioes centrais sao as que apresentam um maior deslocamento. Isto foi confirmado em experimentos realizados no
seculo XIX
no que foram utilizadas estacas alinhadas em geleiras alpinas e analisou sua evolucao. Posteriormente confirmou-se que as regioes centrais tinham se deslocado por distancias maiores. Acontece exatamente o mesmo, ainda que em menor velocidade, com a agua dos rios movendo-se em seus leitos.
As velocidades medias variam. Algumas apresentam velocidades tao lentas que as
arvores
podem estabelecer-se entre os
sedimentos
depositados. Em outros casos, contudo, deslocam-se varios metros por dia. Este e o caso da
geleira Byrd
, uma geleira de descarga na
Antartida
que, de acordo com estudos de
satelites
, desloca-se de 750 a 800 metros por ano (uns dois metros por dia).
O avanco de muitas geleiras pode estar relacionado por periodos de avanco extremamente rapidos chamados
surge
. As geleiras que apresentam surges comportam-se de uma maneira normal ate que repentinamente aceleram seu movimento para depois voltar a seu estado anterior. Durante as surges, a velocidade de deslocamento e ate 100 vezes maior que sob condicoes normais.
[
6
]
As
rochas
e os
sedimentos
sao incorporados as geleiras por varios processos. As geleiras realizam erosoes no terreno principalmente de duas maneiras:
abrasao
e
atrito
.
A medida que a geleira flui sobre a superficie fraturada do leito de rocha, arrasta consigo blocos de rocha que incorpora ao gelo. Este processo conhecido como
atrito
, produz-se quando a agua de fusao penetra nas fendas e
diaclases
do leito de rocha e do fundo da geleira e se congela. Conforme a agua se expande, atua como uma alavanca que solta a rocha, levantando-a. Desta maneira que os
sedimentos
de todos os tamanhos passam a formar parte da carga da geleira.
[
7
]
A
abrasao
ocorre quando o gelo e a carga de fragmentos rochosos deslizam sobre o leito de rocha e funcionam como um papel de lixa que alisa e pule a superficie situada abaixo. A rocha pulverizada pela abrasao recebe o nome de farinha de rocha. Esta farinha esta formada por granulos de rocha do tamanho da ordem dos 0,002 a 0,00625
mm
. As vezes, a quantidade de farinha de rocha produzida e tao elevada que as correntes de agua de fusao adquirem uma cor acinzentada.
Outra das caracteristicas visiveis da erosao glaciaria sao as estrias glaciarias. Estas sao produzidas quando o gelo do fundo contem grandes blocos de rocha que marcam sulcos no leito de rocha.
Cartografando
a direcao das estrias pode-se determinar o deslocamento do fluxo glaciario, o qual e uma informacao de interesse no caso de antigas geleiras.
[
8
]
A velocidade da erosao de uma geleira e muito variavel. Esta erosao diferenciada levada a cabo pelo gelo e controlada por quatro fatores importantes:
- Velocidade do movimento da geleira.
- Espessura do gelo.
- Forma, abundancia e dureza dos fragmentos de rocha contidos no gelo na base da geleira.
- Capacidade erosiva da superficie debaixo da geleira.
Uma vez que o material solido e incorporado a geleira, pode ser transportado por varios quilometros antes de ser depositado na
area da ablacao
. Todos os depositos deixados pelos glaciares recebem o nome de
sedimentos glaciares
. Os sedimentos glaciares sao divididos pelos
geologos
em dois tipos distintos:
- Materiais depositados directamente pela geleira, sendo conhecidos como tilito ou argila glaciaria.
- Os sedimentos deixados pela agua provenientes da fusao da geleira, denominados sedimentos
estratificados
.
Os grandes blocos que se encontram no tilito ou livres sobre a superficie designam-se por erraticos glaciarios que sao diferentes ao leito de rocha em que se encontram (isto e, a sua
litologia
nao e a mesma que a rocha encaixada subjacente). Os blocos erraticos de uma geleira sao rochas soltas e portanto logo abandonadas pela corrente de gelo. O seu estudo litologico permite averiguar a trajectoria da geleira que os depositou.
O nome mais comum para os sedimentos das geleiras e o de
morenas
ou morainas. O termo tem origem
francesa
e foi atribuido por camponeses para referir-se aos rebordos e terraplanagens aluviais de sedimentos encontrados perto das bordas das geleiras nos
Alpes
franceses. Na
geologia
moderna, este termo e mais usado num sentido mais lato, porque se aplica a uma serie de formas, todas elas compostas por tilito.
Ha diferentes tipos de morenas, conforme a posicao que ocupam na geleira:
- Morena terminal
- Uma morena terminal e um monticulo de material removido previamente e que se deposita ao termino de uma geleira. Este tipo de morena forma-se quando o gelo esta fundindo e evaporando perto do gelo da extremidade da geleira a uma velocidade igual a que o avanco fazia adiante da geleira desde sua regiao de alimentacao. Ainda que o extremo da geleira esteja estacionario, o gelo segue fluindo depositando sedimentos como um cinturao transportador.
- Morena de fundo
- Quando a
ablacao
supera a acumulacao, a geleira comeca a retroceder; a medida que o faz, o processo de sedimentacao da cinturao transportador continua deixando um deposito de tilito em forma de planicies onduladas. Esta camada de tilito suavemente ondulada se chama morena de fundo. As morenas terminais que se depositaram durante as estabilizacoes ocasionais da frente de gelo durante os retrocessos se denominam morenas de retrocesso.
- Morena lateral
- As
geleiras de vale
produzem dois tipos de morenas que aparecem exclusivamente nos
vales
de
montanha
. O primeiro deles chama-se morena lateral. Este tipo de morena se produz pelo deslizamento da geleira produzindo severos atritos de encontro as paredes do vale em que estao confinadas; desta maneira os sedimentos se acumulam de forma paralela as laterais do vale.
- Morena central
- O outro tipo sao as morenas centrais. Este tipo de morenas e exclusivo das geleiras de vale e se forma quando as geleiras se unem para formar uma so corrente de gelo. Neste caso as morenas laterais se unem para formar uma franja central escura.
- Morena superficial
- Estao situadas na superficie da geleira.
- Morena frontal
- Situam-se na parte dianteira da geleira.
Antes da glaciacao, os vales das montanhas tinham uma caracteristica forma de V, produzida pela
erosao
da agua na vertical. Contudo, durante a
glaciacao
esses vales alargam-se e aprofundam-se, o que da origem a criacao de um vale glaciario em forma de U. Alem do seu aprofundamento e alargamento, a geleira tambem alisa este vale gracas a erosao. Desta forma vai eliminando os esporoes de terra que estendem no vale. Como resultado desta interaccao, sao criadas
falesias
triangulares designadas esporoes truncados, visto que muitas geleiras aprofundam mais os seus vales do que fazem os seus pequenos
afluentes
.
Em consequencia, quando as geleiras acabam retrocedendo, os vales das geleiras afluentes ficam por cima da depressao glaciaria principal, e sao designados por vales suspensos. As partes do solo que foram afectadas pelo
atrito
e a
abrasao
, podem ser ocupadas pelos denominados
lagos
paternoster
, nome originado do
latim
(
Pai Nosso
) que faz referencia a uma parte das
contas do rosario
.
Na cabeceira de uma geleira ha uma estrutura muito importante chamada de
circo glaciario
que tem a forma de uma grande taca com paredes escarpadas em tres lados, mas aberta no lado que desce para o vale. No circo, da-se a acumulacao do gelo. Estes comecam como irregularidades no lado da montanha e logo vao aumentando de tamanho pelo acumulo do gelo. Depois do que a geleira derrete estes circos sao ocupados por um pequeno lago de montanha designado por tarn.
As vezes, quando ha duas geleiras separadas por uma divisoria, e esta, situada entre os circos, sofre erosao, e criada uma garganta ou desfiladeiro. A esta estrutura da-se o nome de
passo de montanha
.
As geleiras tambem sao responsaveis pela criacao de
fiordes
, enseadas profundas e escarpadas que se encontram nas altas latitudes. Com profundidades que podem ultrapassar o quilometro, sao provocados pela elevacao pos-glaciaria do
nivel do mar
e, portanto, a medida que este aumentava, as geleiras alteravam o seu nivel de erosao.
Alem das caracteristicas que as geleiras criam em um terreno montanhoso, tambem e possivel encontrar cristas sinuosos de bordos agucados que recebem o nome de
arestas
e picos piramidais e agudos designados por espigoes.
Esses dois tracos podem ter o mesmo processo desencadeante: o aumento do tamanho dos
circos
produzidos pelo
atrito
e pela accao do gelo. No caso dos espigoes, o motivo da sua formacao sao os circos que rodeiam uma unica montanha.
As arestas surgem duma maneira similar; a unica diferenca e que os circos nao estao dispostos em circulo, mas sim em lados opostos de uma divisoria. As arestas tambem podem ser produzidas com a juncao das geleiras paralelas. Neste caso as linguas glaciarias vao estreitando as divisorias a medida que sofrem erosao e fazem o polimento dos vales adjacentes.
Sao formadas pela passagem da geleira, quando esta esculpe pequenas colinas a partir de protuberancias do leito de rocha. Uma protuberancia de rocha deste tipo da-se o nome de
rocha
moutonnee
(do
frances
mouton
), porque se assemelham a
caneiros
. As rochas
moutonnees
sao formadas quando a
abrasao
da geleira alisa a suave pendente que esta na frente do gelo glaciario que se aproxima e o
atrito
aumenta a inclinacao do lado oposto a medida que o gelo passa por cima da protuberancia. Estas rochas indicam a direccao do fluxo da geleira.
As
morenas
ou morainas sao as unicas formas depositadas pelas geleiras. Em determinadas areas que, em alguma ocasiao estiveram cobertas por
calotas de gelo
continentais, existe uma variedade especial de paisagem glaciaria caracterizada por colinas lisas, alargadas e paralelas chamadas colinas assimetricas.
As colinas assimetricas tem perfil aerodinamico e sao formadas principalmente por terreno erratico ou tilitos. A sua altura oscila entre 15 a 50 metros e podem chegar a medir ate um quilometro de comprimento. O lado mais vertical da colina esta na direccao do avanco do gelo, enquanto a pendente mais larga esta virada para a direccao da deslocacao do gelo.
As colinas assimetricas nao aparecem isoladas, pelo contrario, encontram-se agrupadas naquilo que se chama de "campos de colinas". Podemos citar o campo de
Rochester
,
Nova Iorque
, que se calcula conter cerca de 10 000 colinas.
Apesar de nao se ter a certeza como sao formadas, ao observar-se o aspecto aerodinamico, pode-se inferir que foram moldadas na zona de fluxo plastico de uma geleira antiga. Pensa-se que muitas colinas foram originadas quando as geleiras avancam sobre os detritos glaciarios previamente depositados, remodelando o material.
A agua que surge da
area de ablacao
afasta-se da geleira numa camada plana que transporta sedimentos finos; a medida que diminui a velocidade, os sedimentos transportados, comecam a depositar-se e entao a agua resultante da fusao comeca a originar
canais
anastomosados. Quando esta estrutura se forma, associada a uma
calota de gelo
, recebe o nome de
planicie
aluvial
.
As planicies de
aluviao
so podem estar acompanhadas por pequenas depressoes conhecidas por
kettles
ou
marmitas de gigante
, ainda que seja uma forma menor de relevo que se forma nas correntes fluviais, motivo pelo qual nao se deveria considerar no sentido estrito do termo, relacionado com as geleiras, apesar de serem muito frequentes em terrenos fluvioglaciarios. As depressoes das geleiras tambem se produzem em depositos de tilitos.
As depressoes maiores produzem-se quando blocos de gelo enormes ficam presos nos sedimentos glaciarios e depois ao derreterem-se deixam buracos no sedimento, dando origem, quase sempre, a um sistema formado por numerosos
lagos
ligados entre si com formas alargadas e paralelas entre si, com uma direccao mais ou menos coincidente com a direccao do avanco do gelo durante as glaciacoes do
Pleistoceno
. E uma morfologia glaciaria muito frequente na
Finlandia
(que e habito chamar-se "o pais dos 10 000 lagos"), no
Canada
e em alguns estados dos
Estados Unidos da America
, como
Alasca
,
Wisconsin
e
Minnesota
. A amplitude destas depressoes geralmente nao ultrapassa os dois quilometros, excepto no Minnesota e mais alguns lugares, ainda que em alguns casos cheguem a alcancar os 50 quilometros de diametro. As profundidades oscilam entre os 10 e os 50 metros.
Quando uma geleira diminui o seu tamanho ate chegar a um ponto critico, o fluxo detem-se e o gelo para. Entretanto, as aguas de fusao que correm por cima, no interior e por baixo do gelo, deixam depositos de sedimentos
estratificados
. Por isso, a medida que o gelo vai-se derretendo, vai deixando
depositos
estratificados em forma de colinas, terracos e cumulos. Este tipo de deposito e conhecido como deposito em contacto com o gelo.
Quando estes depositos tem a forma de colinas com encostas empinadas ou monticulos sao designados por
kames
. Alguns kames sao formados quando a agua de fusao deposita sedimentos atraves de aberturas no interior do gelo. Noutras situacoes, so sao a consequencia de
deltas
ate o exterior do gelo, produzidos pela agua de fusao.
Quando o gelo glaciario ocupa um vale, podem formar-se terracos ou Kames ao longo dos lados do vale.
Um terceiro tipo de depositos formado em contacto com o gelo e caracterizado por sinuosas cristas longas e estreitas compostas essencialmente por
areia
e
gravilha
. Algumas destas cristas tem alturas que superam os 100 metros e o seu comprimento ultrapassa os 100 quilometros. Trata-se dos
eskers
, cristas depositadas por
rios
de aguas de fusao que correm por baixo de uma massa de gelos glaciarios que avancam lentamente.
Estes rios servem de fuga para a agua de fusao que forma a geleira em contacto com o solo e ocupam uma especie de grutas muito largas por baixo do glaciar. A origem destas colinas alargadas encontra-se na capacidade de arrasto de sedimento entre o gelo (que e muito maior) e a agua: no leito destes rios subterraneos vao-se acumulando materiais arrastados pela geleira que a agua nao e capaz de continuar a transporta-los. Por esse motivo, os eskers sao colinas alargadas por onde passaram os rios internos de uma geleira. Sao muito frequentes na
Finlandia
e apresentam sempre a mesma direccao no mesmo sentido do deslocamento da geleira.
Em
1821
, um
engenheiro
suico
,
Ignaz Venetz
, apresentou um artigo em que sugeria a presenca de rasgos caracteristicos da paisagem glaciaria a distancias consideraveis dos
Alpes
. Esta ideia foi negada por outro cientista suico,
Louis Agassiz
, mas quando Louis tentou demonstrar a nao validade da teoria de Ignaz, na verdade acabou por acreditar nas afirmacoes do seu colega e outros que o seguiram, como De Saussure, Esmark e Charpentier. De facto, um ano mais tarde na sua expedicao com Charpentier (1836), Agassiz colocou a hipotese de ter existido um periodo glacial que teria tido efeitos generalizados e de longo alcance. A sua contribuicao para a chamada
Teoria glacial
consolidou o seu prestigio como naturalista.
Com o passar do tempo e gracas ao desenvolvimento do conhecimento geologico, comprovou-se que existiram varios periodos de avanco e retracao das geleiras e que as temperaturas existentes na terra eram muito diferentes das actuais.
Estabeleceu-se uma divisao quadrupla para a
glaciacao quaternaria
para a
America do Norte
e
Europa
. Estas divisoes foram baseadas principalmente no estudo dos depositos glaciares. Na America do Norte, cada uma destas quatro etapas foi denominada pelo estado em que se encontravam os depositos correspondentes a essa epoca. Por ordem de seu aparecimento temos: Nebraskan, Kansan, Illinoisan e Wisconsinan. Esta classificacao foi desenvolvida e melhorada gracas ao estudo detalhado dos sedimentos do fundo oceanico. Como os sedimentos do fundo oceanico, ao contrario dos continentais, nao estao afectados por descontinuidades estratigraficas, sao especialmente uteis para determinar os ciclos
climaticos
do planeta.
Desta forma, as divisoes identificadas passaram a ser umas vinte e a duracao de cada uma delas e aproximadamente de 100 000 anos. Todos estes ciclos estao situados no que se conhece como a glaciacao quaternaria.
Durante o seu auge, o gelo deixou a sua marca em quase 30 % da superficie continental, cobrindo por completo cerca de 10 milhoes de quilometros quadrados da America do Norte, 5 milhoes de quilometros quadrados da Europa e 4 milhoes de quilometros quadrados da
Siberia
. A quantidade de gelo glaciario no
Hemisferio Norte
foi o dobro da do
Hemisferio Sul
. Isto e justificado por no Hemisferio Sul o gelo nao podia cobrir mais do que o territorio do que o
antartico
.
Na actualidade e aceite que a glaciacao comecou ha 2 ou 3 milhoes de anos, definindo o que se designa por
Pleistoceno
.
Alguns efeitos do periodo glacial quaternario
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Os efeitos do periodo glaciar
Quaternario
sao bem evidentes. Sabe-se que especies de animais e plantas foram obrigadas a emigrar enquanto que outras conseguiram adaptar-se. Apesar de tudo, a evidencia mais importante e o actual levantamento sofrido pela
Escandinavia
e
America do Norte
. Sabe-se que, por exemplo, a
baia de Hudson
durante os ultimos mil anos elevou-se cerca de 300 metros. O motivo desta ascensao e devido ao equilibrio de
isostasia
. Esta teoria sustenta que quando uma massa como uma geleira se sobrepoe a superficie terrestre, esta vai-se afundando pela pressao, mas quando a geleira se derrete, a crosta terrestre comeca a elevar-se ate a sua posicao original, ou seja, volta ao seu nivel de equilibrio, ao libertar-se do peso da propria geleira. A este processo de voltar ao sistema inicial chama-se movimento eustatico.
Apesar do conhecimento adquirido durante os ultimos anos, ainda se sabe pouco sobre as causas das
glaciacoes
.
As glaciacoes generalizadas foram raras na historia da
Terra
. Sem duvida, a
Idade do gelo
no
Pleistoceno
nao foi o unico evento de glaciacao ja que se pode identificar depositos denominados por tilitas, uma rocha sedimentar formada quando se
litifica
o tilito glaciario.
Estes depositos encontrados em estratos de diferentes idades, apresentam caracteristicas similares como fragmentos de rocha estriada, algumas sobrepostas a superficies do leito de rocha polida e estriada ou associadas com
arenitos
e
conglomerados
que mostram tracos de depositos na planicie aluvial.
Identificaram-se dois episodios glaciares
Pre-Cambriano
, o primeiro ha cerca de 2000 milhoes de anos e o segundo ha cerca de 600 milhoes de anos. Alem disso, em rochas do
Paleozoico
tardio, de uma antiguidade por volta de 250 milhoes de anos, encontrou-se um registo bem documentado de uma epoca glaciar anterior.
Ainda existem ideias divergentes acerca dos factores determinantes das glaciacoes, sendo as hipoteses mais importantes: a
tectonica de placas
e as variacoes da
orbita terrestre
.
Como as geleiras so podem se formar sobre terra firme, a ideia da
tectonica de placas
sugere que a evidencia de glaciacoes anteriores se encontra presente em
latitudes
tropicais, visto que a derivacao das
placas tectonicas
transportou os
continentes
desde latitudes tropicais ate regioes mais proximas dos polos. A evidencia de estruturas glaciares na
America do Sul
,
Africa
,
Australia
e na
India
confirmam esta ideia, devido a saber-se que experimentaram um periodo glaciar perto do final do
Paleozoico
ha cerca de 250 milhoes de anos.
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9
]
A ideia de que as evidencias de glaciacoes encontradas em latitudes medias estao intimamente relacionadas com a deslocacao das placas tectonicas e foi confirmada com a ausencia de tracos glaciares no mesmo periodo para as latitudes mais altas da
America do Norte
e
Eurasia
, o que indica, como e obvio, que as suas localizacoes eram muito diferentes das actuais. Por outro lado, no
arquipelago
de
Svalbard
nas exploracoes de minas de
carvao
, tambem serve para confirmar a ideia da deslocacao das placas tectonicas, visto que ai, nesse arquipelago, nao existe vegetacao suficiente que explique esses veios de carvao mineral.
As mudancas climaticas tambem estao relacionadas com as posicoes dos continentes, que variaram em conjunto com a deslocacao das placas tectonicas e que, alem disso, afectou os padroes das
correntes oceanicas
que por seu lado provocaram alteracoes na transmissao de calor e humidade. Como os continentes se deslocam muito devagar (cerca de dois centimetros por ano) semelhantes alteracoes climaticas provavelmente ocorreram em periodos de milhoes de anos.
Devido a deslocacao das placas tectonicas ser muito lenta, esta explicacao nao pode ser utilizada para explicar a alternancia entre climas glaciares e interglaciares que se deu durante o
Pleistoceno
. Por este motivo, os cientistas acreditam que tais oscilacoes climaticas do Pleistoceno devem estar ligadas a variacoes da
orbita
terrestre. Esta hipotese foi formulada pelo
jugoslavo
Milutin Milankovitch
e se baseia na premissa de que as variacoes da
radiacao solar
que atingem a Terra constituem um factor fundamental no controlo do clima terrestre.
O modelo e baseado em tres elementos:
- Variacoes na excentricidade da orbita da Terra a volta do
Sol
- Alteracoes na inclinacao, ou seja, as variacoes no
angulo
formado pelo eixo com o plano da orbita terrestre, e
- A flutuacao do eixo da Terra, conhecido como
precessao dos equinocios
.
Apesar das condicoes do modelo de Milankovitch nao parecerem justificar grandes alteracoes na radiacao incidente, nao ha duvida que a alteracao se faz sentir como se pode observar pelo contrates das
estacoes do ano
.
Um estudo dos sedimentos marinhos que continham certos
micro-organismos
climaticamente sensiveis ha cerca de meio milhao de anos, foram comparados com estudos da
geometria
da orbita da terra e o resultado foi contundente: As alteracoes climaticas estao estreitamente relacionadas com os periodos de inclinacao, precessao e
excentricidade
da orbita da Terra.
Na generalidade, com os dados recolhidos, pode-se afirmar que a
tectonica de placas
so e aplicavel para periodos de tempo muito longos, enquanto que a proposta de Milankovitch, apoiada por outros trabalhos ajusta-se as alternancias periodicas dos episodios glaciares e interglaciares do Pleistoceno. Deve-se ter em conta que estas proposicoes ainda estao sujeitas a criticas. Contudo, nao se sabe com uma certeza absoluta se nao ha outros factores envolvidos a considerar.
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Formacoes e
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