Na
astronomia
cientifica
contemporanea, uma
constelacao
e uma area da
esfera celeste
conforme definida em
convencao
pela
Uniao Astronomica Internacional
(UAI) em
1922
, delimitadas uma das outras por arcos de
ascensao reta
e
declinacao
. Essas areas sao agrupadas em torno de
asterismos
, padroes formados por
estrelas
importantes, aparentemente proximas umas das outras no ceu noturno terrestre.
Na mesma convencao em que o conceito de constelacao foi firmado, foram padronizadas tambem
88 constelacoes
reconhecidas pela Uniao Astronomica Internacional para fins astronomicos e cientificos. A maioria delas inclui-se nas 48 constelacoes definidas no
Almagesto
de
Ptolomeu
no
seculo II
; as demais foram definidas nos seculos XVII e XVIII, com as mais recentes no
ceu meridional
definidas no
Coelum australe stelliferum,
de
Nicolas Louis de Lacaille
, em 1763.
Existem tambem numerosas constelacoes e nomes de constelacoes que sao historicos, populares e nao reconhecidos pela UAI, bem como constelacoes reconhecidas em tradicoes regionais da astronomia ou
astrologia
, como a
chinesa
, a hindu ou a aborigine australiana; por questao de organizacao, no entanto, nenhuma alem das padronizadas em 1922 e levada em conta na astronomia aplicada contemporanea, sendo hoje categorizadas como pertinentes apenas a estudos historicos, antropologicos e relacionados.
O termo do latim tardio
constell?ti?
pode ser traduzido como "conjunto estelar". O termo foi inicialmente usado na astrologia, para asterismos que supostamente exerciam influencia, atestados por
Amiano Marcelino
(
seculo IV
). No
ingles medio
, o termo foi usado a partir do
seculo XIV
, tambem na astrologia, para conjuncoes de
planetas
. O sentido astronomico moderno de "area da esfera celeste em torno de um asterismo especifico" data da metade do
seculo XVI
.
O uso coloquial nao distingue os sentidos de "asterismo" e "area em torno de um asterismo". O sentido moderno do termo usado na astronomia refere-se as constelacoes como regioes bem delimitadas na esfera celeste, enquanto o termo "asterismo" se refere aos padroes aparentes formados pelas estrelas.
Por exemplo, o asterismo conhecido como
Grande Carro
corresponde as sete estrelas mais brilhantes da maior constelacao da UAI, que e a
Ursa Major
.
A atual lista de 88 constelacoes reconhecida pela UAI desde 1922 baseia-se nas 48 relacionadas por Ptolomeu no seu Almagesto, no
seculo II
.
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1
]
[
2
]
O catalogo de Ptolomeu e relatado por
Eudoxo de Cnido
, um astronomo grego do
seculo IV a.C.
que introduziu a antiga
astronomia babilonica
na cultura helenistica. Das 48 constelacoes listadas por Ptolomeu, trinta tem uma historia bem mais antiga, remontando pelo menos ao final da
Idade do Bronze
. Isto se da, em particular, para as constelacoes do
zodiaco
.
Os mais antigos catalogos de estrelas e constelacoes sao da antiga astronomia babilonica, iniciando-se na
Idade do Bronze
media. Os numerosos nomes
sumerios
nesses catalogos sugerem que eles se baseiam em antigas, mas nao atestadas, tradicoes sumerias da Idade do Bronze inicial. O zodiaco classico e produto de uma revisao do antigo sistema babilonico na posterior astronomia
neobabilonica
(
seculo VI a.C.
).
O conhecimento do zodiaco neobabilonico esta tambem refletido na
Biblia Hebraica
.
E. W. Bullinger
interpretou as criaturas que apareciam no
Livro de Ezequiel
(e, portanto, no
Apocalipse
) como os sinais do meio dos quatro quartos do zodiaco,
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3
]
[
4
]
com o
Leao
, o
Touro
, o Homem representando
Aquario
e a Aguia para
Escorpiao
.
[
5
]
O biblico
Livro de Jo
, datado dos seculos VI ate
IV a.C.
, tambem cita algumas constelacoes, incluindo ??? `Ayish, "ataude", ???? K?ciyl, "tolo", e ???? Kiymah, "monte" (Jo 9:9, 38:31-32), representando Arcturus, Orion e Pleiades, pelo
KJV
, mas `Ayish "ataude" na realidade corresponde a
Ursa Major
.
[
6
]
O termo Mazzaroth ?????????, em Jo 38:32, pode ser a palavra hebraica para as constelacoes zodiacais.
Os gregos adotaram o sistema babilonico no
seculo IV a.C.
Um total de vinte constelacoes ptolomaicas tem continuidade direta desde o antigo Oriente Proximo. Outras dez tem as mesmas estrelas, mas nomes diferentes.
[
7
]
A informacao e limitada sobre as constelacoes gregas nativas, encontrando-se alguma evidencia em
Hesiodo
. A astronomia grega essencialmente adotou o sistema babilonico na
era helenistica
, primeiro introduzido na Grecia por
Eudoxo de Cnido
no
seculo IV a.C.
O trabalho original de Eudoxo se perdeu, mas ele sobrevive como uma versificacao por
Arato
, datada do
seculo III a.C.
. Os trabalhos mais completos existentes tratando das origens miticas das constelacoes sao do escritor helenistico nomeado pseudo-Eratostenes e um antigo escritor romano chamado de pseudo-
Higino
.
A base da astronomia ocidental ensinada durante a
antiguidade tardia
e ate o inicio da
Idade Moderna
e o
Almagesto
de
Ptolomeu
, escrito no
seculo II
. A
astronomia indiana
tambem se baseia na tradicao helenistica, transmitida pelos imperios
indo-gregos
.
[
carece de fontes
]
Na
astronomia chinesa
classica, o ceu setentrional e dividido geometricamente em cinco "recintos" e 28 casas ao longo da ecliptica, agrupados em quatro simbolos de sete asterismos cada. As 28 casas lunares sao uma das mais importantes e tambem das mais antigas estruturas no ceu chines, atestada desde o
seculo V a.C.
Um paralelo com os primeiros catalogos babilonicos (sumerios) de estrelas sugere que o antigo sistema chines nao surgiu independentemente daquele do
antigo Oriente
Proximo.
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8
]
A astronomia chinesa classica e registrada na
dinastia Han
e aparece na forma de tres escolas, que sao atribuidas a astronomos do
periodo Zhanguo
.
As constelacoes das tres escolas foram reunidas num sistema unico por Chen Zhuo, um astronomo do
seculo III
(periodo dos
Tres Reinos
). O trabalho de Chen Zhuo se perdeu, mas a informacao sobre o seu sistema de constelacoes sobrevive nos registros da
dinastia Tang
, principalmente por Qutan Xida. O mais antigo quadro de estrelas chines sobrevivente data da dinastia Tang e foi preservado como parte dos manuscritos Dunhuang. A astronomia chinesa nativa floresceu durante a
dinastia Sung
e durante a
dinastia Yuan
foi crescentemente influenciada pela
astronomia islamica
medieval.
[
9
]
As constelacoes em torno do Polo Sul nao eram observaveis ao norte do equador, por babilonicos, gregos, chineses ou arabes.
As constelacoes modernas nesta regiao foram definidas durante a
era dos descobrimentos
, principalmente pelos navegadores holandeses
Pieter Dirkszoon Keyzer
e
Frederick de Houtman
, no fim do
seculo XVI
. Elas foram representadas por Johann Bayer no seu atlas estelar
Uranometria
, de 1603. Varios outros foram criados por
Nicolas Louis de Lacaille
, em seu catalogo de estrelas publicado em 1756.
Algumas propostas modernas para novas constelacoes nao foram bem-sucedidas; um exemplo e
Quadrans Muralis
, eponimo da chuva de meteoros
Quadrantidas
, atualmente dividida entre
Bootes
e
Draco
. A constelacao classica de
Argo Navis
foi dividida em varias constelacoes diferentes, por conveniencia dos cartografos estelares.
Ate o final da
dinastia Ming
,
Xu Guangqi
introduziu 23 asterismos do ceu meridional, baseado no conhecimento dos quadros de estrelas ocidentais.
[
10
]
A partir dai, esses asterismos foram incorporados aos mapas estelares chineses tradicionais.
Em 1922,
Henry Norris Russell
ajudou a UAI a dividir a esfera celestial em 88 constelacoes oficiais. Onde possivel, essas constelacoes modernas normalmente utilizam os nomes das suas predecessoras greco-romanas, como
Orion
,
Leo
ou
Scorpius
. O objetivo do sistema e o mapeamento de areas, isto e, a divisao da esfera celestial em campos contiguos.
[
11
]
Das 88 constelacoes, 36 situam-se predominantemente no ceu setentrional e as outras 52 predominantemente no meridional.
Em 1930, os limites entre as 88 constelacoes foram definidos por
Eugene Joseph Delporte
ao longo de linhas verticais e horizontais de
ascensao reta
e
declinacao
.
[
12
]
Entretanto, os dados que ele usou se referiam a epoca B1875.0, que foi quando
Benjamin Apthorp Gould
primeiro fez a proposta de definir limites para a esfera celestial, uma sugestao sobre a qual Delporte basearia seu trabalho. A consequencia desta referencia antiga e que, devido a
precessao
dos
equinocios
, os limites em um mapa estelar moderno, como da epoca J2000, ja estao um tanto distorcidos e nao sao mais perfeitamente verticais ou horizontais.
[
13
]
Este efeito vai aumentar nos proximos anos e seculos.
As estrelas dos principais asterismos dentro de uma constelacao geralmente recebem letras gregas em ordem do seu brilho, pela chamada
designacao de Bayer
, introduzida por
Johann Bayer
em 1603. Um total de 1.564 estrelas sao identificadas assim, das aproximadamente 10 000 estrelas que sao visiveis a olho nu.
[
14
]
As estrelas mais brilhantes, geralmente aquelas que compoem o asterismo eponimo da constelacao, tambem receberam nomes proprios, frequentemente vindos do arabe. Por exemplo, o "Pequeno Carro", asterismo da constelacao
Ursa Minor
, tem dez estrelas com designacoes de Bayer, que vao de α UMi a π UMi. Dessas dez estrelas, sete tem um nome proprio:
Polaris
(α UMi),
Kochab
(β UMi),
Pherkad
(γ UMi),
Yildun
(δ UMi),
Urodelus
(ε UMi),
Ahfa al Farkadain
(ζ UMi) e
Anwar al Farkadain
(η UMi).
As estrelas no interior de um asterismo raramente tem alguma relacao astrofisica substancial entre si, e sua aparente proximidade quando vistas da Terra esconde o fato de que elas estao afastadas, algumas muito mais distantes da Terra do que outras. Entretanto, ha algumas excecoes: muitas das estrelas na constelacao de
Ursa Major
(inclusive algumas do
Grande Carro
) estao realmente proximas umas das outras, viajam pela galaxia com
velocidades
similares e provavelmente se formaram juntas como parte de um
aglomerado
que aos poucos se dispersa. Essas estrelas formam o grupo movel de Ursa Major.
Regioes escuras da
Via Lactea
sao mais visiveis e surpreendentes no hemisferio sul que no norte. Elas se destacam nitidamente quando as condicoes da noite sao tao escuras que a regiao central da Via Lactea lanca sombras no chao. Algumas culturas distinguiram formas nessas areas e deram nomes a essas "constelacoes de nuvem escura". Membros da
civilizacao inca
identificaram varias areas escuras ou
nebulosas escuras
na Via Lactea como animais e associaram sua aparicao com chuvas sazonais.
[
15
]
A astronomia aborigine australiana tambem descreve constelacoes de nuvem escura, a mais famosa sendo a "ema no ceu", cuja cabeca e formada pela
nebulosa do Saco de Carvao
.
Referencias
- ↑
International Astronomical Union.
≪The Constellations≫
- ↑
Ian Ridpath.
≪Constellation names, abbreviations and sizes≫
- ↑
E.W. Bullinger,
The Witness of the Stars
- ↑
D. James Kennedy,
The Real Meaning of the Zodiac
.
- ↑
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Star Names: Their Lore and Meaning
, Vol. 1 (New York: Dover Publications, 1899, p. 213-215.) argued for
Scorpio
having previously been called
Eagle
.
- ↑
Gesenius,
Hebrew Lexicon
- ↑
The Origin of the Greek Constellations
, by Bradley E. Schaefer.
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, November 2006.
- ↑
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The Chinese sky during the Han
, vol. 38 of Sinica Leidensia, BRILL, 1997,
ISBN 9789004107373
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- ↑
Xiaochun Sun, Jacob Kistemaker,
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, vol. 38 of Sinica Leidensia, BRILL, 1997,
ISBN 9789004107373
, chapter 2, 15-36.
- ↑
Sun, Xiaochun (1997). Helaine Selin, ed.
Encyclopaedia of the History of Science, Technology, and Medicine in Non-Western Cultures
. [S.l.]: Kluwer Academic Publishers. 910 paginas.
ISBN
0-7923-4066-3
- ↑
≪The IAU on constellations≫
. Consultado em 31 de janeiro de 2010
. Arquivado do
original
em 9 de outubro de 2011
- ↑
≪Constellation boundaries.≫
. Consultado em 24 de maio de 2011
- ↑
A.C. Davenhall & S.K. Leggett,
"A Catalogue of Constellation Boundary Data"
, (Centre de Donnees astronomiques de Strasbourg, February 1990).
- ↑
O
Bright Star Catalogue
relaciona 9.110 objetos no ceu noturno que sao visiveis a olho nu (magnitude aparente de 6,5 ou mais). Desses, 9.096 sao estrelas, todas elas internas a nossa
galaxia
.
- ↑
The Incan View of the Night Sky