Sancho II
(
Coimbra
,
8 de setembro
de
1209
?
Toledo
,
4 de janeiro
de
1248
), apelidado de "o Capelo" e "o Piedoso",
Rei de Portugal
de 1223 ate a sua morte, em 1248. Era o filho mais velho do rei
Afonso II
e sua esposa
Urraca de Castela
.
Sancho II
Sancho II viria a chefiar um reino que atravessava uma profunda crise economica que ja se tinha feito sentir nos tempos do seu avo
Sancho I
, devido a uma serie de factores conjunturais e locais, como as mas colheitas e consequente subida de precos e fome, ou a escassez dos frutos de pilhagens e saques a potencias inimigas nos ultimos anos do seu reinado. Dai que em 1210 tenhamos registo de
Sancho I
, juntamente com Vasco Mendes, terem recorrido a pilhagem da quinta de um dos seus proprios paisanos,
Lourenco Fernandes da Cunha
, para enriquecer os cofres reais. Esta accao nao parece ter sido isolada, e vira a repetir-se, seguindo o exemplo real.
[
1
]
Neste ano conturbado cre-se ter nascido Sancho II, provavelmente entre os dois ultimos meses.
[
2
]
O jovem Sancho esteve, pelo menos durante esses primeiros anos do reinado de
Afonso
, debaixo da tutelagem dos seus vassalos Martim Fernandes de Riba de Vizela e Estevainha Soares da Silva, casal nobre ligado por parentesco aos Sousa e aos de Lanhoso. Martim tinha sido alferes do rei em 1203, posicao que mantera ate a morte deste, para subir, com
Afonso II
, ao mordomado, no mesmo ano em que este assume a Coroa.
[
3
]
Parece contudo morrer em 1212, deixando Sancho, que nao podia ter mais de 2 anos, a cargo de sua mulher Estevainha.
[
4
]
Em 1213, atraves de uma doacao feita por Estevainha a um mosteiro, sabemos que o jovem Sancho se encontrava doente.
[
4
]
Embora nao se saiba ao certo, e provavel que Sancho tenha sido criado em
Coimbra
e na regiao do
Entre Douro e Minho
,
[
5
]
e que sua ama tenha sido Teresa Martins, filha de Estevainha.
[
6
]
No verao de 1222,
Afonso II
ja nao confirma os diplomas por sua mao, uma manifestacao inequivoca de incapacidade, e Sancho, o infante herdeiro, estava ainda a um ou dois anos da maioridade.
[
7
]
Numa perspectiva destas, o futuro do reino portugues era, a um ano da coroacao de Sancho II, incerto, pelo menos o da linha de
Afonso II
. Facamos referencia ainda a
Martim
e
Pedro Sanches
: Martim era filho bastardo de Sancho I e meio-irmao de Pedro e do rei Afonso II. Pedro era irmao mais novo do rei Afonso II. Martim tinha feito uma investida militar contra
Braga
e
Guimaraes
, desbaratando a hoste real
[
7
]
em 1220 e assim dando o exemplo para que, em Junho de 1222,
Afonso IX de Leao
tomasse o
castelo de Santo Estevao de Chaves
, Pedro foi promovido ilimitadamente na corte leonesa aquando da morte do seu irmao
Afonso II
.
Ambos foram revestidos de tenencias de terras muito perto das fronteiras portuguesas, e ambos representaram uma ameaca permanente nesta conjuntura para a sobrevivencia independente do entao ainda jovem reino portugues.
[
8
]
Retrato de D. Sancho II (1718), por Henrique Ferreira, na Serie Regia do
Mosteiro dos Jeronimos
(Centro Cultural Casapiano)
D. Sancho II e coroado na Primavera de 1223, seu pai
D. Afonso II
tendo morrido excomungado pelo
Papa Honorio III
.
[
9
]
Comecava ja com o pe esquerdo, visto que era filho de um casamento que ia contra a lei canonica ?
Afonso II
e
Urraca de Castela
, pois eram primos, em 5.º grau canonico ? e que era menor, nao tendo ainda atingido os catorze anos
[
10
]
e possivelmente os treze.
[
11
]
H. Fernandes argumenta que o facto de nenhum tutor ter sido seleccionado para participar, assinando, dos documentos saidos da chancelaria de Sancho II durante a sua menoridade, e de se observar a ausencia de um ritual de passagem como a investidura na cavalaria que marca a entrada de
Afonso VIII
na posse real do reino de
Castela
, viriam a ajudar o argumento a favor da sua deposicao.
[
12
]
Outra linha de argumento, utilizada por exemplo por
Honorio III
em correspondencia com o monarca, leva em consideracao a idade tenra e primeira adolescencia de Sancho II e realca o papel corruptor dos seus conselheiros regios. Tornar-se-a um dispositivo recorrente nos discursos sobre Sancho produzidos, muito para alem dos primeiros anos do seu reinado. Tanto um artificio como o outro visam desculpabiliza-lo, ou simplesmente faze-lo sobressair como fraco e incapaz de reinar.
A rainha Mecia
.
Em 1241, Sancho casa com
Mecia Lopes de Haro
, sendo ela trineta de
Afonso Henriques
.
O rei Sancho II herdou dos reinados anteriores algumas querelas com a Igreja. Foi um periodo conturbado de quase anarquia que levou o papa a intervir e a pedir ao irmao de Sancho,
Afonso
, conde de Bolonha, para reinar em
Portugal
.
Contrariamente ao que durante muito tempo a historiografia tradicional portuguesa se esforcou por indicar, Sancho II nao era um capaz chefe militar, e tampouco participou de forma activa das conquistas que se deram ao longo do Guadiana a partir do ano de 1230. O castelo de Elvas aparenta ter sido tomado "pela graca do salvador",
[
13
]
portanto sem a intervencao de Sancho, ocupado quase que por sorte, sem confronto militar. Este padrao repetir-se-a, por exemplo, com
Beja
.
De certa forma, a reconquista e impulsionada pelo
Papa Gregorio IX
, que, em 1232, concede a Sancho que nao pode ser excomungado sem mandado especial da
Santa Se
, desde que persista na guerra contra os sarracenos, e que portanto nenhum dos seus bispos o possa excluir da comunidade crista.
[
14
]
Estas absolvicoes continuaram, vendo-se em Junho de 1233 uma por violencias cometidas por Sancho sobre clerigos "com a sua mao e com um bastao".
[
15
]
Embora varias cidades no
Algarve
e no
Alentejo
tenham sido conquistadas durante o reinado de Sancho II, este trabalho e protagonizado quase exclusivamente pelas Ordens Militares
[
16
]
, como a
Ordem de Santiago
, que recebeu como pagamento dos servicos prestados diversas povoacoes, tais como
Aljustrel
,
Sesimbra
, Aljafar de Pena,
Mertola
,
Aiamonte
e
Tavira
, facto que pora Sancho cada vez mais dependente delas.
[
17
]
Concentra-se em utiliza-las tambem para povoar as regioes desertas, outra missao pontificia, doando-lhes terras e castelos a medida que vao conquistando. Foram emitidas, em 1234 e 1241, bulas papais de Cruzada para o reino de Portugal.
Filhas e herdeiras de consideravel feudo territorial de
Sancho I
, seu pai, estas tinham em
Teresa
, antiga rainha de
Leao
, um lider incontestado, visto que parecia querer assumir, tal como a sua rival
Berengaria
, papel nuclear na politica do Ocidente peninsular.
[
18
]
As raizes do conflito remontam ao primeiro testamento de
Sancho I
, redigido em 1188, que disponibilizava os castelos de
Alenquer
,
Montemor
,
Viseu
,
Guimaraes
e
Santa Maria
para a sua mulher
D. Dulce
e para as suas filhas e deixava a sua filha maior
D. Teresa
o castelo de Montemor e Cabanoes, e a mais nova,
Sancha
, Boucas,
Vila do Conde
e Fao.
[
19
]
Ha um detalhe que se revela logo de inicio capaz de semear a discordia: a concessao hereditaria feita a Teresa, de 12 anos, e Sancha, de 8.
Parece residir aqui um dos pomos fomentadores da discordia entre o herdeiro Afonso e suas irmas, na medida em que colocava nas maos de Teresa e de Sancha um feudo territorial de consideraveis dimensoes, correspondendo aos territorios dos Castelos.
[
19
]
No seu segundo e ultimo testamento, Sancho reforca estas dotacoes previas, Teresa ficando na posse de Montemor e Esgueira, Sancha de Alenquer,
Mafalda
dos mosteiros de Boucas e de Arouca e da herdade de Seia que havia sido de sua mae.
[
20
]
Logo nos primeiros meses do seu precoce reinado, em
1223
, o jovem Sancho assina acordo com as tias para resolver esta querela, dando-lhes tudo aquilo que
Afonso II
nao lhes quisera reconhecer, sobretudo os castelos, conseguindo tambem a inclusao de
Branca
, nao contemplada no testamento de
Sancho I
, com bens imoveis, e agora transformada em herdeira de Teresa na parcela de Montemor e Esgueira.
[
21
]
Vao somar ainda a posse dos castelos as infantas Teresa e Sancha a muito elevada quantia de 4 000 morabitinos anuais, a pagar sobre os direitos de
Torres Vedras
que entre si devem dividir.
Ficam assim com a totalidade das rendas de outro dos centros urbanos mais significativos da Estremadura, contribuindo para cimentar a sua influencia numa area onde a penetracao senhorial era reduzida e que tradicionalmente fazia parte do dominio directo do rei.
[
19
]
Cre-se que tanto este acordo como o celebrado pouco tempo depois com o Arcebispo de Braga Estevao Soares ja tivessem sido planeados nos tempos finais de Afonso II, mas que, talvez devido a doenca destruidora deste, se tinham posto de parte, aguardando sua morte.
Sancho II tera possivelmente planeado uma ofensiva com o objectivo de retomar estes castelos em 1231.
[
22
]
Martinho Rodrigues, em desenho de
Alfredo Roque Gameiro
O rei
Sancho I
, avo paterno de Sancho II, teve dissensoes com o Bispo do
Porto
por ter interferido nas graves fracturas que afectavam a relacao do
bispo
com os seus
conegos
e com a elite da cidade.
[
23
]
Assim e entao que na Primavera de 1210 o
Papa Inocencio III
troca correspondencia com D. Martinho Rodrigues, tratando as graves opressoes e enormes injurias
[
24
]
perpetradas sobre ele e os seus homens bem como alguns conegos que lhe tinham permanecido fieis. A razao destes desacordos aparenta ter sido o facto de Rodrigues nao ter aceitado a proposta de Sancho de promover a entrada solene e processional na cidade em beneficio
[
25
]
de seu filho
Afonso
, porque o casamento deste com
Urraca
era ilicito face a lei canonica, que nesta altura ainda restringia os casamentos ate ao setimo grau de
parentesco
.
A reaccao de D. Sancho I fora uma de violencia formal ritualizada, nas palavras de Hermenegildo Fernandes, visto que foram destruidas as casas dos conegos fieis ao bispo, forcadas as fechaduras das portas da Igreja, invadido o espaco sagrado por individuos
excomungados
, sepultos os corpos mortos em interdito.
[
25
]
Como se isso nao bastasse, D. Martinho Rodrigues foi ainda enclausurado com o seu deao no paco episcopal durante cinco meses, de onde saira, numa fuga nocturna com destino a Roma, evitando assim a composicao que D. Sancho I o queria compelir a subscrever, mas pondo em risco os seus bens, confiscados pelo porteiro regio para seu uso pessoal e do rei.
[
25
]
Aqui encontramos a genese dos problemas que Sancho II vira a ter com Rodrigues, criados no tempo do avo. Afonso II tambem teve conflitos com a
Igreja
.
Nos anos de 1226, 1227 e 1228 a hostilidade entre rei e bispo agudiza-se, visto que falhara a hipotese de expansao para o interior (
Elvas
) e o rei voltava-se para os centros urbanos e portuarios do litoral. Para alem de
Braga
, o Porto, por concessao de
D. Teresa
, trisavo de Sancho II, era o unico centro urbano com alguma relevancia no reino que nao tinha o rei por senhor. Enquanto se manteve, esta situacao provocou um prolongado conflito entre os cidadaos e o seu bispo.
[
26
]
O que estava em causa era a jurisdicao do Porto e algumas das rendas e direitos do bispo na sua
diocese
. Ao ignorar a doacao feita pela sua trisavo, Sancho II procurava apropriar-se de um senhorio e aumentar o dominio real, ampliando a massa colectavel.
[
27
]
Em jogo estava tambem o controle dos beneficios eclesiasticos e o incumprimento da doacao das
dizimas
por D. Afonso II as Igrejas do Reino.
Acusacoes parecidas podem ser verificadas no caso de
Lisboa
, quando
paroquias
vagavam por morte do prior o rei entregava-as a laicos inuteis, estranhos e desconhecidos que nao querem receber ordens do
presbitero
e que nesse sentido ficam aquem das imposicoes canonicas.
Segundo Hermenegildo Fernandes o sistema clientela estava em causa, estando o direito de apresentar os clerigos no centro das praticas de distribuicao de benesses em que este se apoiava, neste caso vendo-se a pressao do rei nao como incidindo directamente sobre os rendimentos das igrejas mas sobre o direito de dispor deles a favor dos seus homens em detrimento do bispo. Em 1233 ha novas queixas.
[
28
]
D. Estevao Soares da Silva, Arcebispo de Braga
[
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]
D. Estevao Soares da Silva, Arcebispo de Braga
Estevao Soares da Silva
era um dos mais poderosos metropolitas da Hispania Ocidental,
[
9
]
o mais importante dos bispos portugueses.
[
18
]
Os conflitos da Coroa com este clerigo remontam ao ano de 1219, ainda durante o reinado de Afonso II.
[
29
]
Em Agosto de 1220 Afonso II promove no territorio do arcebispado a primeira de numerosas
inquiricoes
que o seculo XIII vera, atingindo o arcebispo assim no coracao da sua area de influencia.
[
30
]
Este processo visava robustecer os direitos reais, principalmente no Norte arqui-episcopal, segmento do reino que o rei Afonso pior controla e que ha quase dois seculos era palco de um processo senhorializador,
[
30
]
usufruindo de beneficios como isencoes fiscais.
Assiste-se entao a uma violenta disputa, que envolve a destruicao dos bens do
arcebispo
perpetrada pelos cavaleiros de
Coimbra
e de
Guimaraes
, vassalos do rei e que forcara Estevao Soares ao exilio, lancando o rei na
excomunhao
e o reino em interdito.
[
30
]
O
Papa Honorio III
pede ajuda ao rei de Leao,
Afonso IX
, tendo ja enviado uma serie de missivas a prelados desse reino e do de
Castela
, para conseguir apoio em favor de Estevao Soares. Nota-se, nas palavras de H. Fernandes, que a lisonja utilizada em referencia ao monarca Leones serve evidentes designios politicos papais, deixando a pairar a legitimidade ou pelo menos a promessa de um silencio cumplice por parte do pontifice, no caso de uma intervencao leonesa em territorio portugues.
[
31
]
Ameaca ainda Afonso II de invalidar o seu reino, tornando-o assim vulneravel a conquistas por outros reis catolicos.
[
32
]
De facto, com o acordo assinado em mes incerto de 1223, Sancho fizera a paz com Estevao Soares, tanto mais que este nao defende o Bispo do Porto na sua contenda com o mesmo, e deixa ainda, em testemunho em 1228, 1 000 morabitinos ao rei, que este ainda lhe devia dos 6 000 que se obrigara a pagar no acordo de cinco anos anterior.
[
33
]
Um dos principais responsaveis pelo cerco de
Alcacer do Sal
, D. Soeiro ja tinha contenda com Afonso II. As razoes, segundo os diplomas papais, sao a apropriacao do direito de padroado, o que lhe permitira colocar nos beneficios eclesiasticos individuos da sua clientela; proibicao do bispo construir
mosteiros
, igrejas e capelas, provavelmente para impedir a proliferacao de instituicoes que escapassem a esse mesmo direito padroado regio; desprezo pela autoridade da Igreja para ministrar
sacramentos
, ignorando as excomunhoes ja lancadas e intervindo junto dos habitantes de
Santarem
, a outra grande cidade do bispado, para que nao se fizessem absolver; violacao das imunidades eclesiasticas, obrigando os clerigos a pagar direitos - vacas, porcos, carneiros - ignorando o foro judicial e eclesiastico, coagindo-os ao servico militar, de hoste, aos encargos de manutencao das torres, muralhas e guarda delas, assaltando-lhes enfim as casas, sob o pretexto de procurar ai mulheres, barregas, costume interdito pela ordenacao regia; por ultimo acusando o rei de ignorar ostensivamente as determinacoes do
IV Concilio de Latrao
que segregava social e fisicamente os
judeus
, minoria que o monarca, Afonso II e, na sua esteira, Sancho II, continuava a privilegiar, protegendo-os da pratica do uso dos sinais distintivos e do interdito de os
cristaos
comerciarem com eles, perseguindo por isso o bispo a quem negava a
dizima
e preferindo os judeus aos cristaos nos oficios regios. Infamante entre todas, a utilizacao dos servicos de judeus e
mouros
como autores materiais dos ataques contra a Igreja.
[
34
]
Segundo H. Fernandes estas queixas sao quase padronizadas: como o proprio papa reconhece, a situacao sendo similar a que opusera poucos anos antes o arcebispo de Braga Estevao Soares a Afonso II.
Dois anos antes, em Marco de 1222,
Honorio III
entendera por bem escrever aos priores dos
dominicanos
,
franciscanos
e da
Ordem de Santiago
na diocese de Lisboa, dando-lhes plenos poderes para que usassem da sua discricao e entendimento para por cobro aos abusos do bispo olisiponense Soeiro Viegas.
[
35
]
As acusacoes as quais o papa dera inteiro credito eram referentes ao bispo e os prelados das igrejas incorrerem em praticas de extorsao, recusando ministrar os sacramentos a quem nao lhes deixasse em testamento a terca ou uma determinada parte dos seus bens.
[
36
]
Talvez houvesse portanto um conflito aberto entre a oligarquia urbana e o bispo que tenha permitido ou pelo menos potenciado os ataques que este tinha vindo a sofrer por parte do rei. O prolongamento deste conflito resultara no lancar do Interdito sobre o reino portugues no ano de 1231 por um grupo de juizes da Se apostolica.
[
37
]
A 16 de agosto de 1234, D. Sancho II e
excomungado
pelo mesmo comite de juizes pontificios que lancara o Interdito em 1231, reunido em
Ciudad Rodrigo
. Era a consequencia natural da Bula
Si quam horribile
do ano anterior.
[
38
]
O eterno e cada vez mais omnipotente chanceler de D. Sancho, Mestre Vicente, e enviado em missao a Curia Pontificia, conseguindo assim minorar os efeitos da excomunhao sobre a autoridade de D. Sancho II, prolongando assim o seu reinado.
O isolamento politico de Sancho II comeca provavelmente em 1232, estando o reino com conturbacoes internas; Afonso de Castela entra nesse ano pelo Norte do reino em defesa de Sancho II. Resigna tambem em Roma o bispo de Coimbra, Pedro, aliado de Sancho.
Martim de Freitas
, alcaide de Coimbra, faz abrir o tumulo de Sancho II para verificar a sua morte.
D.
Afonso
, irmao mais novo de Sancho, denuncia em 1245 o casamento de Sancho com Mecia. Nesse mesmo ano a Bula
Inter alia desiderabilia
prepara a deposicao
de facto
do monarca. O papado, atraves de duas Breves, aconselha
Afonso
, Conde de Bolonha, a partir para a Terra Santa em Cruzada e tambem que passe a estar na Hispania, fazendo ai guerra ao Islao. A 24 de julho, a Bula
Grandi non immerito
depoe oficialmente Sancho II do governo do reino, e Afonso torna-se regente. Os fidalgos levantam-se contra Sancho, e
Afonso
cede a todas as pretensoes do clero no Juramento de Paris, uma assembleia de prelados e nobres portugueses, jurando que guardaria todos os privilegios, foros e costumes dos municipios, cavaleiros, peoes, religiosos e clerigos seculares do reino.
[
39
]
Abdicou imediatamente das suas terras francesas e marchou sobre Portugal, chegando a Lisboa nos ultimos dias do ano.
Em 1246,
Afonso
segura
Santarem
,
Alenquer
,
Torres Novas
,
Tomar
,
Alcobaca
e
Leiria
; Sancho II fortifica-se em
Coimbra
. A
Covilha
e a
Guarda
ficam nas maos de
Afonso
. Sancho II procura a intervencao castelhana na guerra civil, depois da conquista de Jaen. Assim, o infante Afonso de Castela entra em Portugal por Riba-Coa a 20 de dezembro, tomando a Covilha e a Guarda e devastando o termo de Leiria, derrotando a 13 de janeiro de 1247 o exercito do Conde de Bolonha. Apesar de nao ter perdido nenhuma das batalhas contra o irmao do Rei de Portugal, Afonso de Castela decide abandonar a empresa, levando consigo para Castela El-Rei D. Sancho II, visto que a pressao da
Santa Se
aumentava. Embora no Minho continuem partidarios de Sancho II e fiquem no terreno as guarnicoes castelhanas no
castelo de Arnoia
(seu grande apoiante e anticlerical), o caso encontra-se perdido. D. Sancho II redige o seu segundo e ultimo testamento enquanto exilado em
Toledo
a 3 de Janeiro de 1248, e morre a 4 desse mesmo mes. Julga-se que os seus restos mortais repousem na
catedral de Toledo
.
Afonso III
declara-se Rei de Portugal em 1248, ja apos a morte do seu irmao mais velho, Sancho.
Na medida em que os conflitos com o
clero
ocorriam a uma escala maior que a do reino portugues, eles demonstram uma linha de oposicao entre um modelo de sociedade
teocratica
, tal como o papado desde
Gregorio VII
o vinha propondo e um outro, menos definido, mas que tem o poder dos principes como centro e que a recuperacao do
direito romano
vira contribuir para unificar em torno de bases ideologicas mais solidas.
[
40
]
Conflitos entre o rei e os bispos, destes com os seus cabidos, intervencoes papais: tudo parece convergir num ponto onde os interesses casuisticos dos grupos se encontram com processos de longa duracao que afectam a propria organizacao social urbana.
[
41
]
Mencione-se ainda que as sequelas destas conturbacoes prolongar-se-ao durante o tempo em que outros estao nos cargos de Bispo acima mencionados.
Os vestigios escritos da
chancelaria
de Sancho II oferecem um grande numero de lacunas por vezes extensas, por exemplo de 1229 a 1235, o que H. Fernandes julga ser fruto de uma provavel destruicao desta documentacao pelo irmao e futuro rei Afonso III.
[
42
]
Ate ao ano de 1236, o Mestre Vicente e chanceler do rei, maestro da politica regia,
[
33
]
detendo assim um cargo importante. De 1236 em diante, Sancho II traz frequentemente os seus fisicos na Corte,
[
43
]
sinal de que provavelmente ja se encontrava doente. As pilhagens a partir de 1236 sao protagonizadas por bandos de fidalgos com os seus homens.
[
44
]
Jose Mattoso
, no seu artigo sobre a "Crise de 1245", fala numa crescente agitacao social, dando para esta a justificacao de um crescimento demografico desequilibrado em relacao a expansao territorial. Fala-se tambem num desequilibrio conjuntural que impulsiona tambem o banditismo generalizado, praticado por marginais e nao so, havendo tambem acesas lutas entre nobres e o clero.
Longe de aparecer como um rei fraco ou
rex inutilis
, em diversas alturas do seu reinado, Sancho II mostrou ter um braco de ferro para tomar posicoes dificeis, como retaliacoes sobre os nao-cooperantes, a ofensiva sobre os bens e beneficios eclesiasticos, o teste constante da fidelidade que havia ao monarca, entre outros exemplos, seguindo assim um pouco a veia do seu pai
falcao
.
- 8 de Setembro de 1209 ? 25 de Marco de 1223: "o Infante Sancho de Portugal"
- 25 de Marco de 1223 ? 4 de Janeiro de 1248: "Sua Merce, o Rei"
O estilo oficial de D. Sancho II enquanto Rei de Portugal: "Pela Graca de Deus, Sancho II, Rei de Portugal"
Referencias
- ↑
Hermenegildo Fernandes,
D. Sancho II: Tragedia
, Circulo de Leitores, 2006, pp. 27-28.
- ↑
Ibidem, p. 35.
- ↑
Ibidem, p. 36.
- ↑
a
b
Ibidem, p. 37.
- ↑
Ibidem, pp. 40-41.
- ↑
Ibidem, pp. 41-44.
- ↑
a
b
Ibidem, p. 50.
- ↑
Ibidem, pp. 50-51.
- ↑
a
b
Ibidem, p. 54.
- ↑
Ibidem, pp. 72-76.
- ↑
Ibidem, p. 72.
- ↑
Ibidem, p. 78.
- ↑
Ibidem, p. 192, citando Joao de Osma.
- ↑
Ibidem, p. 200.
- ↑
Ibidem, p. 201, citado de A. D. de S. Costa, 1963, n. 304 e 305.
- ↑
PINHO, Antonio Brandao de (2017).
A Cruz da Ordem de Malta nos Brasoes Autarquicos Portugueses
. Lisboa: Chiado Editora. 426 paginas
. Consultado em 28 de agosto de 2017
- ↑
Ibidem, p. 205.
- ↑
a
b
Ibidem, p. 85.
- ↑
a
b
c
Ibidem, p. 87.
- ↑
Ibidem, p. 88.
- ↑
Ibidem, p. 100.
- ↑
Ibidem, p. 199.
- ↑
Ibidem, p. 31.
- ↑
Ibidem, p. 32.
- ↑
a
b
c
Ibidem, p. 33.
- ↑
Ibidem, pp. 157-158.
- ↑
Ibidem, pp. 158-159.
- ↑
Ibidem, p. 201.
- ↑
Ibidem, p. 44.
- ↑
a
b
c
Ibidem, p. 45.
- ↑
Ibidem, p. 46.
- ↑
Ibidem, p. 47.
- ↑
a
b
Ibidem, p. 160.
- ↑
Ibidem, p. 56.
- ↑
Ibidem, p. 58
- ↑
Ibidem, p. 59
- ↑
Ibidem, p. 197.
- ↑
Ibidem, p. 203.
- ↑
Juramento solene, que fez o Infante D. Afonso, Conde de Bolonha, estando em Paris, de administrar justica no governo do Reino, Portal da Historia, Manuel Amaral 2000-2010
- ↑
Ibidem, p. 86.
- ↑
Ibidem, p. 161.
- ↑
Ibidem, p. 187.
- ↑
Ibidem, p. 181.
- ↑
Ibidem, p. 166.
- ≪
Chronica do muito alto e muito esclarecido principe D. Sancho II, quarto rey de Portugal
, Rui de Pina (1440-1522), Lisboa Occidental, 1728, na Biblioteca Nacional Digital≫
- ≪
Chronica de El-Rei D. Sancho II
, Rui de Pina (1440-1522), Lisboa: Escriptorio, 1906, na Biblioteca Nacional Digital≫
- Correia, Angela,
O outro nome de ≪Don Estevan≫: oito satiras trovadorescas relacionadas com Sancho II de Portugal
. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2021
- O turbulento reinado de D. Sancho II, Afonso III, o mal lembrado (Extrato de Programa), por Jose Hermano Saraiva, RTP/ Videofono, 2003