Zofia Kulik
(nascida em
1947
em
Breslavia
, Polonia) e uma artista polaca que vive e trabalha em
Łomianki
(Varsovia),
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cuja arte combina a critica politica com uma perspectiva feminista.
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Kulik estudou no Departamento de Escultura da Academia de Belas Artes de Varsovia de 1965 a 1971. O seu diploma foi realizado em varias etapas e composto por varias partes: um dos seus elementos foi uma tese teorica, posteriormente intitulada
Filme como Escultura, Escultura como Filme
, na qual a artista apresentou uma serie de consideracoes sobre a escultura
estendida
.
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Apos sua formatura, comecou a trabalhar com
Przemysław Kwiek
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(nascido em 1945) formando a dupla artistica
KwieKulik
.
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O projeto durou de 1971 a 1987, epoca tambem da parceria.
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Realizaram performances, intervencoes e demonstracoes artisticas, alem de criarem objetos, filmes e fotografias.
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A sua arte era altamente politica e como resposta a rejeicao das suas ideias tanto por parte do regime como da neo-vanguarda polaca, a dupla criou uma galeria independente chamada
Estudio de Atividades, Documentacao e Propagacao
(
PDDiU
) no seu apartamento privado em Varsovia. No ambito do PDDiU criaram um arquivo de arte polaca dos anos 1970 e 1980 e organizaram palestras e exposicoes.
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A dupla foi influenciada pelo conceito da
forma aberta
introduzido por seu professor Oskar Hansen (1922-2005): considerar a documentacao do processo de producao de uma obra mais importante do que a propria obra acabada.
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“Acreditavamos na possibilidade de uma cooperacao harmoniosa com outros artistas, na possibilidade de trabalho coletivo, livre do problema da autoria, das preocupacoes sobre ‘o que e de quem’ e ‘quem fez o que’. Um artista deve ser livre e altruista, e o
novo
deve ser gerado no ponto de encontro entre eu e os outros, em interacao”.
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? Zofia Kulik
No final da decada de 1980, o caminho dos socios se dividiu tanto na vida quanto na arte.
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A partir de 1987, Kulik mudou o rumo de seu interesse: “Sou fascinada pela
forma fechada
. Desejo estar em um museu” ? declarou. Ela avancou em direcao ao seu conceito vanguardista de construcao de um arquivo ? uma abordagem revolucionaria que aborda o arquivamento como uma pratica artistica essencial. Foi entao que Kulik comecou a criar composicoes fotograficas monumentais, em preto e branco, resultantes do processo de multiplas exposicoes de multiplos negativos do arquivo de imagens do artista. As colagens de fotos de Kulik adotaram diversas formas: desde tapetes fotograficos a colunas, portoes, medalhas,
mandalas
, ate composicoes abertas, como
Da Siberia a Cyberia
.
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Tematicamente, ela foca na relacao entre homens e mulheres, o individuo e a massa, bem como nos simbolos de poder e totalitarismo. Seguindo o
continuum
de sinais e gestos recorrentes, outra parte central do seu trabalho e o fenomeno dos meios de comunicacao de massa e a sua influencia sobre os consumidores. Os seus trabalhos foram apresentados a um publico mais vasto na
documenta 12
em
Kassel
(2007) e na 47ª
Bienal de Veneza
(1997) e no
Museu Bochum
(2005). Fazendo parte de renomadas colecoes internacionais como
Tate Modern
,
MoMA
,
Centre Pompidou
,
Moderna Museet
e
Stedelijk Museum
, seu trabalho passou a fazer parte da exposicao permanente reaberta no MoMA.
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Filme como Escultura, Escultura como Filme,
1971
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Em seu diploma de graduacao
Filme como Escultura, Escultura como Filme
, Kulik mudou seu interesse do material, escultura-objeto estatico, para uma analise da relacao dinamica espectador-objeto. Ela apresentou uma serie de consideracoes sobre a escultura
estendida
, abordando a questao de como a escultura
passa a existir
atraves da experiencia do espectador. A sua teoria pressupunha que uma escultura e um processo no tempo, sem inicio ou fim preciso, sem narrativa ou historia concreta. Por isso, em vez da escultura, seu metodo foi escolher sequencias de fotos tiradas durante o trabalho com materiais, corpos de modelos e objetos encontrados.
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A exposicao de formatura de Kulik na Academia de Belas Artes foi intitulada
Em vez de escultura
. Foi uma instalacao de slides de tres canais composta por aproximadamente 450 fotografias que documentam a atividade de Kulik em seu estudio, bem como a atividade de outros alunos na escola. A artista ve as fotos como um diario visual, dizendo que “a projecao paralela deu uma imagem de tres fios entrelacados. No fio plastico: transformacoes materiais e espaciais, no fio da vida: ocorrencias no tempo e no espaco e entre pessoas do circulo mais proximo, no topico do registro: operacoes nos slides ? o meio da mensagem."
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Apos o fim da sua colaboracao com Przemysław Kwiek, Zofia Kulik comecou a criar grandes fotografias. Os autorretratos surgiram como manifestacao de um despertar da autoidentidade. A par desta autojustificacao seguiu-se o ornamento que serviu de forma a Kulik desvendar uma visao da historia, da politica e da arte como um
continuum
de sinais e gestos recorrentes ligados a uma experiencia individual. Materializado em um arquivo de imagens, Kulik implementou cerca de 700 fotografias de um modelo masculino nu, apresentadas sobre fundo preto, poses marcantes de gestos simbolicos retirados de vasos gregos antigos, iconografia catolica e tambem de memoriais
stalinistas
.
Arquivo de Gestos
(1987-91) foi incorporado a um extenso acervo, criado por Kulik desde o inicio de sua pratica artistica e utilizado como fonte para projetos. Suas pecas sao produzidas como montagens fotograficas, utilizando multiplas exposicoes de negativos em papel fotografico por meio de estenceis confeccionados com precisao. Desta forma, uma obra pode consistir em centenas de imagens unicas.
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Todos os misseis sao um so missil,
1991, 300 x 850cm
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A obra
Todos os misseis sao um missil
lembra um tapete oriental ornamentado, mas com uma aparencia cambaleante e
caleidoscopica
, tambem se conectando com imagens e desenhos em manuscritos medievais iluminados e mencoes de catedrais.
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Esta dividido em duas partes aparentemente simetricas que lembram elevacoes de igrejas, mas o conteudo do lado esquerdo e do lado direito nao e totalmente identico: a ala esquerda e dedicada a uma mulher, mostrando no meio um monumento chamado
O Pais Nossa Mae
de
Sao Petersburgo
no meio da roseta, uma reproducao da pintura
Eve
(1902) de
Pantaleon Szyndler
apresentando uma garota de aparencia timida, bem como telas de TV mostrando fileiras de mulheres, como dancarinas, garotas no Concurso Miss America ou garotas chinesas cantando no nome de
Mao
. A ala direita e dedicada a um homem, mostrando um monumento chamado
Atras e Frente
de
Magnitogorsk
(cidade simbolo do poder industrial da URSS), a multiplicada figura nua de um homem segurando triunfantemente uma cortina sobre a cabeca, bem como fileiras de telas de TV mostrando soldados de todo o mundo. Mais TVs podem ser vistas na parte superior e inferior da obra, onde listras cinzas retratam uma execucao em 1941 de um documentario chamado
A Russia que Perdemos,
exibido pela televisao de Moscou em 1993. O titulo do trabalho de Kulik e uma parafrase das palavras de
T.S. Eliot
"(...) todas as mulheres sao uma so mulher", vindo de seu comentario a
The Waste Land, Part III.
The Fire Sermon
.
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No autorretrato
Esplendor de Mim Mesma
Zofia Kulik apresenta-se como uma rainha, evocando associacoes historicas ao retrato oficial da
Rainha Elizabeth I
e estabelecendo assim um sentido de poder feminino. O suntuoso e ornamentado manto com que ela se veste consiste em muitas fotografias em preto e branco e de exposicao multipla de seu modelo masculino e amigo artista Zbigniew Libera. Ao transformar as imagens da modelo nua em sua vestimenta e organiza-las de forma diminuta, geometrica e abstrata, Kulik subordina o masculino, o que aumenta ainda a nocao de autoridade feminina. Por mais esplendido que pareca seu vestido, a coroa e os atributos reais com os quais Kulik se enfeita sao feitos de folhas de alface, pepino e dente-de-leao ? objetos do cotidiano rural.
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A artista cria assim um choque entre ricos e pobres, o lar e o Estado.
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“Em certo sentido, e facil, banal e cafona. A sutileza deste trabalho depende de sua complexidade. Sinto que um grande valor do meu trabalho e o fato de eu ser uma talentosa organizadora de estruturas visuais compostas. Por sua vez todos os detalhes sao simples, como numa cancao comum sobre amor, morte etc. Todo o meu trabalho se baseia no fato de coletar e arquivar permanentemente as imagens deste mundo. A complexidade deste trabalho advem da riqueza do arquivo que possuo.”
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? Zofia Kulik (1998)
Da Siberia a Cyberia,
1998?2004, 240 x 2100 cm
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Da Siberia a Cyberia
e um fotomural monumental que regressa a forma fluida, aberta, passivel de ser continuamente expandida em sequencia horizontal. A grade monumental de pequenas molduras identicas em preto e branco e composta por capturas de tela do aparelho de TV da artista, organizadas cronologicamente comecando em 1978 e terminando em 2004. Estao dispostos em paineis que, vistos a distancia, revelam um padrao de molduras vazias em ziguezague, acentuando o fluxo das sequencias: A dinamica do ziguezague horizontal lembra a
Coluna Infindavel
de
Constantin Brancu?i
. Aparentemente trata-se de uma “massa visual vibrante” de pequenas imagens indiferenciadas, que perderam seu conteudo especifico para se tornarem blocos de construcao em um tapete sem fim ? mas, olhando mais de perto, e possivel visualizar claramente cada foto, revelando uma complexa teia de historias paralelas. O mural pode ser visto como um livro visual de uma realidade televisiva.
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(opcoes de leitura em polones e ingles)
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