Voluntarios da Patria
e a denominacao das
Unidades
militares
criadas em
7 de janeiro
de
1865
, pelo
Imperio do Brasil
(1822-1889), para lutarem na
Guerra do Paraguai
(1864-1870); com as quais buscava-se reforcar o efetivo das forcas militares do
Exercito Brasileiro
.
[
1
]
[
2
]
Desprovido de recursos belicos, sem um
exercito
suficientemente numeroso e instruido, sem condicoes de revidar adequadamente a ofensa recebida, o
Imperador
D. Pedro II
expediu o Decreto nº 3.371, de 7 de Janeiro de 1865;
[
1
]
o qual, apelando para os sentimentos do
povo brasileiro
, criava corpos militares para o servico de
guerra
, com a denominacao de "
Voluntarios da Patria
" (
ver
Gabinete Furtado
).
O Imperador D. Pedro II logo partiu para a cidade de
Uruguaiana
, ocupada pelo
exercito paraguaio
em 11 de setembro. Desembarcou no
Rio Grande do Sul
e seguiu de la por terra.
A jornada foi realizada montada a
cavalo
e por carretas, e a
noite
o imperador dormia em tenda de campanha.
Em Uruguaiana apresentando-se no acampamento do exercito como o primeiro voluntario da patria,
utilizando essa
estrategia
politica para servir de exemplo tanto aos militares ali estacionados, quanto ao resto do Brasil.
[
7
]
Estado-Maior
Estado Menor
- 1
sargento ajudante
- auxiliar do capitao ajudante (sargenteante);
- 1 sargento quartel-mestre - auxiliar do capitao quartel-mestrel (almoxarifado);
- 1 sargento espingardeiro -
armeiro
;
- 1 sargento coronheiro -
carpinteiro
;
- 1 sargento corneta-mor - responsavel pelos
musicos
;
Companhias
Oito
Companhias
, contendo cada uma:
Inicialmente formado para tomar proveito do
patriotismo
que tinha tomado conta do Brasil no inicio da guerra, reunindo os voluntarios que se
alistavam
espontaneamente.
[
2
]
O governo assegurava vantagens aos voluntarios como premio de trezentos mil
reis
; lotes de terra com vinte e duas mil bracas em colonias militares; preferencia nos empregos publicos; patentes de oficiais honorarios; liberdade a escravos; assistencia a orfaos, viuvas e mutilados de guerra.
[
7
]
Com o passar do tempo e a diminuicao do entusiasmo popular, o governo imperial passou a exigir dos
presidentes das provincias
cotas de voluntarios, que deveriam recrutar. Cada
Provincia
foi solicitada prover, no minimo, 1% da sua populacao. Por outro lado, havia varias formas de se escapar da convocacao: os aquinhoados faziam doacoes de recursos, equipamentos,
escravos
e empregados para lutarem em seu lugar; os de menos posses alistavam seus parentes, filhos, sobrinhos ou agregados; aos despossuidos so restava a fuga para o mato. Tambem participaram da guerra indios de varias provincias.
A
Guarda Nacional
era uma
forca paramilitar
organizada por lei no Brasil durante o
periodo regencial
, em agosto de 1831. Como uma instituicao de carater civil, a Guarda Nacional era subordinada aos
Juizes de Paz
, aos Juizes Criminais, aos presidentes de Provincia e ao
Ministro da Justica
, sendo somente essas autoridades que podiam requisitar seus servicos.
[
8
]
O unico cenario em que os guardas nacionais passariam a fazer parte da estrutura militar de 1ª linha era no caso dos corpos destacados para a guerra, quando deveriam atuar como auxiliares do Exercito.
[
8
]
A convocacao da Guarda Nacional foi feita de acordo com os artigos 117 e 118 da
Lei
nº 602, de 1850, e, de inicio, teve boa acolhida nas provincias da
Bahia
,
Pernambuco
,
Maranhao
e
Rio de Janeiro
, onde a instituicao estava bem organizada.
[
9
]
Os
Corpos de Policia
das Provincias, atuais policias militares estaduais, contribuiram formando ou complementando diversos Corpos de Voluntarios da Patria. E em 1866 ja existiam diversas
Unidades
formadas, muitas oriundas de corporacoes policiais.
[
2
]
Ainda em 1865 os voluntarios da patria passaram a contar com
recrutamento
forcado, instituido por chefes politicos locais e a oficiais da Guarda Nacional, que forcavam o alistamento de seus opositores.
[
carece de fontes
]
O uso de
escravos
para lutar em nome de seus proprietarios virou pratica corrente. Alem disso, sociedades patrioticas, conventos e o governo passaram a comprar escravos para lutarem na guerra.
[
10
]
O imperio, entao, passou a prometer
alforria
para os que se apresentassem para a guerra. Isto fez com que escravos fugissem sos ou em bandos das
fazendas
, e se apresentassem aos recrutadores com nomes falsos, para despistar seus senhores,
[
7
]
mesmo com o governo fazendo vista grossa. D. Pedro II deu o exemplo, libertando todos os escravos das fazendas imperiais (como a
Fazenda Imperial de Santa Cruz
) para lutar na guerra.
[
10
]
Unidades de Corpos de Voluntarios da Patria
[
editar
|
editar codigo-fonte
]
A enumeracao dos Corpos de Voluntarios e confusa. Embora inicialmente todas as
Unidades
tenham recebido numeracao continua, em 20 de dezembro de 1866,
Marques de Caxias
realizou uma reorganizacao das forcas brasileiras.
[
11
]
Como comandante-geral, ele determinou, conforme previsto no Decreto nº 782, de 19 de abril de 1852, que todos os corpos militares passariam a ter, rigorosamente, oito companhias. E para evitar que as numeracoes dos Corpos de Voluntarios fossem confundidas com os Corpos de
Infantaria
do Exercito (havia vinte e um corpos, enumerados de 1 ao 21), determinou que os primeiros vinte e um CVP fossem reordenados com nova numeracao.
A partir dessa data, devido a necessidade de manter as Unidades com as oito companhias regulamentares, alguns corpos que haviam sido criados com determinada numeracao, ao se apresentarem no teatro de operacao acabaram dissolvidos e seus efetivos redistribuidos em outros corpos. Com isso, possibilitando que outras Unidades fossem formadas com a mesma designacao das anteriormente dissolvidas.
Unidade
|
Origem
|
Observacao
|
1º CVP
|
Formado na
Corte
, com efetivo de diversas Provincias.
|
Reordenado como 23º CVP.
|
2º CVP
|
Formado na Corte.
|
Reordenado como 24º CVP.
|
3º CVP
|
Provincia da
Bahia
.
|
Reordenado como 25º CVP.
|
4º CVP
|
Formado na Corte (uma companhia do
Parana
).
|
Reordenado como 27º CVP.
|
5º CVP
|
Guarda Nacional do
Rio de Janeiro
, 1º Batalhao de
Fuzileiros
de
Niteroi
.
|
Incorporado ao 28º CVP.
|
6º CVP
|
Provincia do Rio de Janeiro.
|
Reordenado como 33º CVP.
|
7º CVP
|
Provincias de
Sao Paulo
e Parana (duas companhias).
|
Incorporado ao 35º CVP, da Provincia do Rio Grande do Sul.
|
8º CVP
|
Provincias do Rio de Janeiro,
Sergipe
e
Alagoas
.
|
Reordenado como 37º CVP.
|
9º CVP
|
Formado na Corte, com efetivo de diversas Provincias.
|
Dissolvido.
|
9º CVP
|
Corpo Policial do
Rio Grande do Sul
|
Reordenado como 39º CVP.
|
10º CVP
|
Corpo Policial da Bahia
.
|
Reordenado como 41º CVP.
|
11º CVP
|
Provincia de
Pernambuco
.
|
Reordenado como 42º CVP.
|
12º CVP
|
Corpo Policial do Rio de Janeiro
.
|
Reordenado como 44º CVP.
|
13º CVP
|
Corpo Policial do Para
.
|
|
14º CVP
|
Provincia de Pernambuco.
|
|
15º CVP
|
Guarda Nacional da Bahia.
|
Dissolvido.
|
16º CVP
|
Provincia de
Goias
.
|
|
17º CVP
|
Provincia de
Minas Gerais
.
|
|
18º CVP
|
Provincia de Minas Gerais,
Ouro Preto
.
|
Reordenado como 49º CVP.
|
19º CVP
|
Corpos Policiais do Ceara
, Sergipe e Piaui.
|
Reordenado como 50º CVP.
|
20º CVP
|
Corpo Policial de Alagoas
.
|
Reordenado como 52º CVP.
|
21º CVP
|
Corpo Policial da Paraiba
e voluntarios da Provincia de Pernambuco.
|
|
Nova enumeracao determinada pelo
Marques de Caxias
, atraves do Plano de Reorganizacao expedido pela Ordem do Dia nº 14, de
20 de dezembro
de
1866
.
Unidade
|
Origem
|
Observacao
|
22º CVP
|
Corpo Policial da Bahia e voluntarios das Provincias de Pernambuco e do
Maranhao
.
|
|
23º CVP
|
Guarda Nacional da Bahia, 2° Batalhao de Infantaria de
Salvador
.
|
|
24º CVP
|
Provincia da Bahia.
|
Dissolvido
|
24º CVP
|
Antigo 2º CVP da Corte.
|
|
25º CVP
|
Guardas nacionais, policiais e voluntarios de
Santa Catarina
e
Parana
.
|
Dissolvido e incorporado ao 31º CVP.
|
25º CVP
|
Antigo 3º CVP da Provincia da Bahia.
|
|
26º CVP
|
Provincia do Ceara.
|
|
27º CVP
|
Provincia de Minas Gerais.
|
Nao foi formado.
|
27º CVP
|
Antigo 4º CVP da Corte.
|
|
28º CVP
|
Guarda Nacional do
Rio Grande do Norte
.
|
Dissolvido e incorporado aos 34º CVP (Para) e 36º CVP (Maranhao).
|
28º CVP
|
Antigo 5º CVP da Provincia do Rio de Janeiro,
|
|
29º CVP
|
Provincia da Bahia.
|
|
30º CVP
|
Provincia de Pernambuco.
|
|
31º CVP
|
Corpo Policial da Corte
, reforcado pelo 25º CVP das Provincias do Parana e Santa Catarina.
|
|
32º CVP
|
Formado na Corte.
|
Dissolvido
|
32º CVP
|
Guarda Nacional da Bahia
|
|
33º CVP
|
Provincia do
Rio Grande do Sul
.
|
Incorporado ao 30º CVP, de Pernambuco.
|
33º CVP
|
Antigo 6º CVP da Provincia do Rio de Janeiro, reforcado com efetivo de diversas Provincias.
|
|
34º CVP
|
Provincia do
Para
.
|
|
35º CVP
|
Provincia do Rio Grande do Sul. Reforcado com efetivo do 7º CVP, das Provincias de Sao Paulo e Parana.
|
|
36º CVP
|
Guarda Nacional do
Maranhao
.
|
|
37º CVP
|
Guarda Nacional do Maranhao.
|
Incorporado ao 36º CVP.
|
38º CVP
|
Formado na Corte, com efetivo de diversas Provincias.
|
|
39º CVP
|
Guarda Nacional do
Piaui
|
Dissolvido
|
39º CVP
|
Guarda Nacional do Rio Grande do Sul, 11º e 12º de Corpo de Cavalaria
|
|
40º CVP
|
Guarda Nacional da Bahia, 3° Batalhao de Infantaria de Salvador.
|
|
41º CVP
|
Guarda Nacional, 24º Batalhao de Infantaria de
Santo Amaro
e
Corpo Policial da Bahia
.
|
|
42º CVP
|
Provincia de Sao Paulo.
|
Incorporado ao 7º CVP.
|
43º CVP
|
Provincia da Bahia.
|
"Batalhao Princesa Imperial"
[
12
]
|
44º CVP
|
Provincia de Pernambuco.
|
Dissolvido
|
44º CVP
|
Corpo Policial do Rio de Janeiro
|
|
45º CVP
|
Provincia de Sao Paulo.
|
|
46º CVP
|
Guarda Nacional da Bahia e voluntarios.
|
|
47º CVP
|
Guarda Nacional da
Paraiba
, 25º Batalhao de Infantaria.
|
|
48º CVP
|
Guarda Nacional do Rio Grande do Sul, 3º Batalhao de Infantaria de
Sao Borja
e 4º Batalhao de Infantaria de
Uruguaiana
.
|
|
49º CVP
|
Guarda Nacional do Rio Grande do Sul, 47º Batalhao de Infantaria Montada de Uruguaiana.
|
|
50º CVP
|
Provincia do
Mato Grosso
.
|
|
51º CVP
|
Corpo Policial de Pernambuco
.
|
Incorporado ao 53º CVP.
|
52º CVP
|
Corpo Policial de Alagoas (?).
|
|
53º CVP
|
Guarda Nacional da Bahia, 107º Batalhao de Infantaria de
Cachoeira
e Corpo Policial de Pernambuco.
|
|
54º CVP
|
Provincia da Bahia.
|
|
55º CVP
|
Guardas Nacionais do Piaui e Rio Grande do Norte.
|
|
56º CVP
|
Provincia de Pernambuco.
|
|
57º CVP
|
Provincia da Bahia.
|
|
Existiram ainda Corpos de Voluntarios que nunca receberam numeracao; tais como: o 1º Batalhao de Infantaria da Corte, incorporado diretamente no Exercito Imperial; dois batalhoes de Infantaria Montada da Guarda Nacional do
Rio Grande do Sul
; e o 21º Corpo de
Cavalaria
da Guarda Nacional.
[
9
]
Vencida a guerra, iniciou o retorno dos poucos CVP que sobraram. Os primeiros formaram a
brigada
sob o comando do
baiano
Faria Rocha, abracado com a maior efusao pelo Imperador, fez sua marcha triunfal pela Rua Primeiro de Marco, antiga Rua Direita, na cidade do
Rio de Janeiro
.
[
7
]
As perdas brasileiras sofridas por
mortes
,
ferimentos
,
doencas
e invalidez alcancaram a 40% do efetivo. No total fizeram parte 37 928 voluntarios da patria.
[
2
]
Da meia
centena
de CVPs que seguiram para a guerra, restaram quatorze.
[
7
]
Para os mutilados de guerra que nao tinham recursos para a propria subsistencia o governo fez levantar o
Asilo de Invalidos da Patria
, inaugurado em 1868, na
Ilha do Bom Jesus da Coluna
, na
baia de Guanabara
. Ali permaneceram sob os cuidados do governo, sobrevivendo dos recursos angariados pela
Associacao Comercial do Rio de Janeiro
durante a guerra, mas distantes dos olhos da populacao.
[
7
]
Em 1865 o
armamento
padrao do Exercito Imperial eram os
fuzis de percussao
, com canos raiados, e
municao
calibre 14,80mm, sistema Minie. Porem, como nao havia armamento em quantidade suficiente para todo o efetivo, foram tambem utilizadas armas em desuso, com canos de alma lisa (sem raiamento). O 3º Corpo de Voluntarios da Patria, de Salvador, Bahia, foi armado com fuzis adquiridos na
Europa
, as custas do proprio comandante, tenente-coronel
Joao Jose da Costa
.
[
9
]
Os oficiais armavam-se por conta propria, todos com
espadas
de
aco
. Os mais abastados adquiriam
revolveres
Lefaucheux e
Colt
, mas a maioria possuia somente
pistolas
de percussao, monotiro.
Ha diversos monumentos e demais
logradouros
que foram nomeados em homenagem aos chamados voluntarios da patria. Entre os quais:
- Em
Florianopolis
: na Praca 15 de Novembro, no centro da cidade, inaugurado em 1 de janeiro de 1877.
- No
Rio de Janeiro
: em homenagem ao 31º Corpo de Voluntarios da Patria, o Centro de Formacao e Aperfeicoamento de Pracas da
PMERJ
e denominado de
Centro de Formacao e Aperfeicoamento de Pracas 31º de Voluntarios
.
- No Rio de Janeiro: no bairro de
Botafogo
, ha a
Rua Voluntarios da Patria
.
- Em
Sao Paulo
: no bairro de
Santana
ha a
Rua Voluntarios da Patria
Em Porto Alegre tambem existe uma importante rua denominada Voluntarios da Patria.
Referencias
- ↑
a
b
c
Decreto nº 3.371, de 07 de Janeiro de 1865.
Colecao de Leis do Imperio do Brasil - 7/1/1865, Pagina 5 Vol. 1 pt I (Publicacao Original)
- ↑
a
b
c
d
e
WIEDERSPAHN, Henrique Oscar. Das guerras Cisplatinas as guerras contra Rozas e contra o Paraguai, in: Enciclopedia Rio-grandense, Editora Regional, Canoas, 1956.
- ↑
a
b
c
d
e
f
Rodrigues, Marcelo Santos (30 de setembro de 2009).
≪Guerra do Paraguai: os caminhos da memoria entre a comemoracao e o esquecimento≫
. Consultado em 11 de dezembro de 2022
- ↑
a
b
RIBEIRO, Jose Iran, Quando o Servico nos Chama, Os Milicianos e os Guardas Nacionais Gauchos (1825-1845), PUCRS, Porto Alegre, 2001.
- ↑
a
b
c
Os Voluntarios da Patria na Guerra do Paraguai; do General Paulo de Queiroz Duarte; Bibliex; 1983.
- ↑
a
b
A participacao dos negros escravos na guerra do Paraguai
- ↑
Ordem do Dia nº 14, de 20 de dezembro de 1866.
- ↑
Duarte, Paulo de Queiroz.
Os Voluntarios da Patria na guerra do Paraguai
. Col: O Comando de Osorio. v.2, t.5. [S.l.]: Biblioteca do Exercito. p. 56.
ISBN
85-7011-052-9