Transliteracao

Origem: Wikipedia, a enciclopedia livre.

Transliteracao e o processo de mapeamento de um sistema de escrita em outro. No caso da lingua portuguesa , o processo de transliteracao se da quando se incluem palavras de idiomas escritos em outros alfabetos em textos em portugues, o qual utiliza uma versao do alfabeto latino com 26 letras e diacriticos . Por definicao, palavras em todas as linguas que nao utilizam o alfabeto latino devem ser transliteradas quando utilizadas em textos em portugues. Dentre os sistemas de escrita mais comuns que requerem transliteracao para o alfabeto latino estao a escrita arabica (usada no arabe , persa , urdu , etc.); a hebraica ( hebraico moderno , aramaico , iidiche ), a cirilica ( russo , mongol , tchetcheno ), a devanagari ( hindi , sanscrito , etc.).

Uma transliteracao pode ser pratica ou oficial. As transliteracoes praticas tem como objetivo facilitar a leitura de palavras estrangeiras escritas em outros sistemas graficos, as quais podem ou nao ser regidas por convencoes locais. Por exemplo, a palavra ?????, /?χanuka/ em hebraico moderno , e transliterada chanuca , chanukah , hannukah ou mesmo ranuca em textos escritos em portugues, haja vista que nao existe uma convencao oficial para a transliteracao do hebraico ao portugues.

Por sua vez, os sistemas de transliteracao oficiais possuem convencoes estabelecidas por orgaos especificos sobre como transpor letras que nao tem correspondencia direta na escrita de destino. O Romaji , por exemplo, e o metodo de transliteracao do japones para o alfabeto latino utilizado pelo governo japones. O sistema de transliteracao oficial do mandarim , conhecido como Pinyin , utiliza acentuacao grafica para representar os tons lexicais da lingua, exemplo: m? (mae) , ma (canhamo) , m? (cavalo) , ma (xingar).

Transliteracao, aportuguesamento e adaptacoes de caracteres latinos [ editar | editar codigo-fonte ]

A transliteracao e um processo relacionado, porem distinto, do aportuguesamento , no qual ha, necessariamente, uma adaptacao aos padroes fonetico - fonologicos e morfologicos do portugues. Por exemplo, o toponimo Pequim e a forma aportuguesadas do nome da capita chinesa 北京 ( AFI : /pe?t?iŋ/), uma vez que nao so adere as regras ortograficas do portugues como adapta os sons do mandarim inexistentes nas linguas latinas (ex. /k/ para /t?/, representado pelo digrafo <qu>) a fonologia do portugues . Por outro lado, o nome capital da Georgia , Tbilisi , e uma transliteracao do toponimo ??????? do alfabeto georgiano ao alfabeto latino sem que haja aportuguesamento do nome, uma vez que /tb/ e um encontro consonantal inexistente no portugues.

Adaptacoes puramente tipograficas [ editar | editar codigo-fonte ]

Para linguas como o turco , o hungaro e o vietnamita , escritas no alfabeto latino, mas utilizando diacriticos nem sempre existentes no portugues, outras regras se aplicam. Nestes casos, e possivel manter a acentuacao e diacriticos ( trema , til , cedilhas ), ou por motivos tecnicos de tipografia , se for possivel reproduzir o caractere exato, e comum usar a letra mais semelhante (como S para ? ou T para Ŧ ).

Ha casos peculiares como o serbo-croata e do inuite canadense , os quais podem ser escritos tanto no alfabeto latino quanto no cirilico para a primeira e no silabario inuite para a segunda. Nesses casos, utiliza-se o sistema latino com ou sem diacriticos (comuns em serbo-croata), ja que toda palavra tem grafia em duas escritas.

Padroes ortograficos [ editar | editar codigo-fonte ]

O Brasil tem um padrao ortografico de transliteracao disseminado pelo Dicionario da Lingua Portuguesa de Aurelio Buarque de Hollanda . E o padrao seguido pela imensa maioria das enciclopedias, dicionarios e obras de referencias redigidas originalmente em portugues brasileiro (ou seja, excluindo-se as obras traduzidas, como a Larousse e a Britannica ). Por ele, e definido que a transliteracao deve ser feita usando-se somente as letras do nosso alfabeto e a acentuacao grafica quando necessaria, de forma a tornar a grafia a mais proxima possivel da pronuncia original. No entanto, esse padrao muitas vezes e desobedecido, por desconhecimento ou preferencia de padroes de outras linguas, como o ingles, o alemao e o frances.

O espanhol tem um padrao relativamente rigido de transliteracao. Ele tambem segue a mesma logica de escrever como se pronuncia, mas obviamente utilizando as letras de acordo com o som que tem em castelhano. Esse padrao e usado para todas as linguas, de arabe a russo. Por causa disso, vemos nomes como "Ajmed", "Yibran" e "Jaled", quando estamos acostumados a escrever "Ahmed", "Gibran" e "Khaled".

No entanto, o padrao espanhol costuma tomar mais cuidado com a pronuncia original do que a grafia brasileira, que induz a erro. Pouca gente sabe, por exemplo, que os nomes russos " Vladimir " e " Boris " sao pronunciados com as tonicas em " vlaDImir " e " boRIS ", nao como "vladiMIR" nem "BOris". Por isso, o acento em 'Vladimir' deve ser mantido, enquanto 'Boris' jamais deve ser acentuado (i.e., "Boris").

Como a ortografia da lingua portuguesa se parece mais com a francesa para as consoantes (comparar sons de J , CH , R , QU , S e SS ) e com espanhol e italiano para as vogais ( A , E , I , O , U , semivogais I e U), os padroes de transliteracao para portugues devem ser hibridos entre estas formas ? mas, em geral, a forma francesa e a que mais se aproxima da nossa pronuncia. Basta constatar com exemplos como “Jaled” (esp.), “Haled” (it.) e “Khaled” (fr.), ou “Jruschov” (esp.), “Hru??ov” (it.) e “Krouschov” (fr.). A unica mudanca necessaria, no ultimo caso, seria trocar o frances “ou” pelo “u” portugues. Tambem seria adequado utilizar "tch" no lugar de "ch".

A consulta a diferentes grafias pelo Google muitas vezes nao e recomendada, pois pode induzir a erros e estrangeirismos . Por motivos obvios, grande parte do conteudo disponivel na internet e escrita em ingles, e nesses casos os nomes que precisam de transliteracao seguem o padrao anglofono. Raramente esse padrao vai coincidir com a forma correta no idioma portugues, pois a ortografia inglesa tem pouco em comum com a portuguesa. Alem disso, nao custa lembrar que a forma usada pela maioria nem sempre e a correta. [ carece de fontes ? ]

Recomendacoes para a imprensa [ editar | editar codigo-fonte ]

No Brasil , os orgaos de imprensa costumam publicar manuais de redacao e estilo que trazem recomendacoes sobre os padroes de transliteracao a serem adotados no texto jornalistico. Ha variacoes entre eles, mas a maioria concorda com o principio de que os nomes de outro alfabeto devem ser escritos pela ortografia brasileira (sem K, Y ou W, nem SH ou ZH) segundo o padrao que mais se aproxima da pronuncia original .

Eis o que dizem os manuais de redacao de quatro dos principais jornais brasileiros:

Jornal do Brasil ? “Para os nomes estrangeiros de linguas que nao usam o nosso alfabeto, emprega-se grafia aproximada do som da palavra, sem imitar a grafia inglesa ou francesa. Pode haver tambem uma convencao internacional, como a que e empregada para grafia de nomes chineses. Esses casos requerem frequentemente consulta aos redatores ou editores. (...) Devem ter seus nomes grafados de acordo com a ortografia em vigor no Brasil.” “Nomes indigenas - No Jornal do Brasil, os tupis sao os tupis e nao os Tupi. Os ianomamis nao sao os Yanomami; os caiapos nao sao os Kaiapo. A grafia no singular, com inicial maiuscula e usando eventualmente as letras k, w e y, e adotada em ciencias sociais, por necessidades especificas de obediencia a normas internacionais. Nao ha por que seguir tais normas no jornal.”
O Globo ? “Para nomes proprios em idiomas que usam outros alfabetos, emprega-se, com algum grau de arbitrariedade, a grafia simplificada aproximada do som da palavra, sem imitar a grafia inglesa ou francesa. Assim: Kruchov, e nao Kruschev (ingles) ou Khroutchev (frances). Escrevemos Gorbatchov e Tchernobil. Apesar do criterio fonetico, prefere-se ‘K’ a ‘C’ em atencao ao uso.” “Nomes de tribos indigenas sao grafados no plural: os xavantes, os tupis, os guaranis, os apaches, os incas, os maias, os astecas, os txucarramaes etc. Note-se que os nomes indigenas brasileiros sao aportuguesados, sem ‘w’, ‘y’ ou ‘k’.”
O Estado de S. Paulo ? “Nos nomes estrangeiros, especialmente, preste atencao para que o nome da pessoa seja escrito corretamente. Assim, Gonzalez (Felipe) e nao Gonzales; Rodriguez (Andres) e nao Rodrigues; Walters (Vernon) e nao Valters, etc.”

“Nomes japoneses. Os nomes comuns em geral sao aportuguesados: saque, camicase, iene, gueixa, quimono, no, etc. Excecoes: sashimi, karaoke, sukyaki, sushi, tempura, batayaki, ikebana. 2 - Os nomes de pessoas seguem a transcricao ocidental, fornecida em geral pelas agencias de noticias: Akihito, Sosuke Uno, Noboru Takeshita, Yasuhiro Nakasone, Kakuei Tanaka. Nos nomes geograficos, o unico aportuguesamento que o Estado faz e o de Toquio. Nos demais casos, use sempre a transcricao oficial: Osaka, Yokohama, Fukuoka, Iwo Jima, Nagoya, Hiroshima, Nagasaki, etc.”

“Nomes geograficos. Nao ha normas definidas para a grafia dos nomes geograficos. Ha os que ja estao adaptados ao portugues (Filadelfia, Londres, Moscou, Bruxelas) e os que deverao ser escritos na grafia original (El Paso, San Jose, Sydney, New Hampshire). O capitulo seguinte deste volume relaciona os principais nomes geograficos e a forma pela qual o Estado os escreve.”

Folha de S.Paulo ? “russos - Translitere segundo a pronuncia aproximada. (...) Lembre-se de que muitos toponimos russos chegaram ao portugues atraves de outras linguas e nao diretamente do russo. Assim, escreve-se Moscou e nao Moskva , Sao Petersburgo e nao Sankt Peterburg .

  • chines - Para a Republica Popular da China, existe uma transliteracao oficial denominada Pinyin, que entrou em vigor em 1979. Ela substitui a velha Wade-Giles, com a vantagem de eliminar os hifens e apostrofos.
  • arabes ? (...) A Folha faz algumas adaptacoes nas transliteracoes enviadas pelas agencias. Substitua os YY e WW por II e UU, respectivamente, exceto quando a combinacao resultar numa vogal geminada. Se isso ocorrer, elimine uma delas: Kuwait=Kuuait=Kuait. Substitua o SH por CH: Shatt al Arab=Chatt al Arab. Mantenha o H em qualquer situacao que ele apareca.
  • outras linguas - Sao sempre louvaveis os esforcos para escrever em portugues nomes de linguas grafadas em alfabetos nao-latinos."

A Folha de S.Paulo traz ainda muitos mais detalhes para arabe, chines e russo, que podem ser consultados na integra na edicao online do manual . No entanto, ha tres normas ortograficas gerais, que valem para todas as transliteracoes no jornal:

  • “Use GU antes do E e I. [para o som de /G/ nao virar /J/]
  • Use SS em posicao intervocalica. [para o som de /S/ nao virar /Z/]
  • Acentue os nomes e toponimos de acordo com as normas do portugues.”

O manual de estilo das revistas da Editora Abril segue orientacao semelhante a d’ O Globo ? isto e, grafar de acordo com a ortografia corrente em portugues (sem Y ou W, mas abrindo excecao ao K e acentuando quando necessario).

Transliteracao de linguas especificas [ editar | editar codigo-fonte ]

Algumas linguas e sistema de escrita especificos apresentam dificuldades particulares de transcricao, e sao tratados em paginas separadas.

Difere da transcricao , que mapeia os fonemas de uma lingua para a escrita de outra. A maioria das transliteracoes mapeia as letras de uma escrita-fonte para letras de pronuncia similar na escrita-alvo.

Normas ISO de transliteracao [ editar | editar codigo-fonte ]

A Organizacao Internacional de Padroes ( ISO ) estabelece algumas normas oficiais de transliteracao, mas todas orientadas para lingua inglesa (nao servem para portugues). As normas disponiveis para consulta no site da ISO www.iso.ch apenas mediante pagamento.

  • ISO 9 Informacao e documentacao ? Transliteracao de caracteres Cirilicos nos caracteres Latinos ? Linguagens eslavas e nao-eslavas
  • ISO 233:1984 ? Transliteracao de caracteres arabicos em caracteres latinos
  • ISO 233-2:1993 ? Transliteracao de caracteres arabicos em caracteres latinos ? Parte 2: transliteracao simplificada
  • ISO 259:1984 ? Transliteracao de caracteres hebraicos em caracteres latinos
  • ISO 259-2:1994 ? Transliteracao de caracteres hebraicos em caracteres latinos ? Parte 2: transliteracao simplificada
  • ISO 843 ? Grego
  • ISO 3602 ? Japones
  • ISO 7098 ? Chines
  • ISO 9984 ? Georgiano
  • ISO 9985 ? Armenio
  • ISO 11940 ? Tailandes
  • ISO 11941 ? Coreano (sistemas diferentes para Coreia do Norte e do Sul)
  • ISO 15919 ? Alfabetos indianos

Outras linguas com alfabeto proprio (artificial):

  • Silabico Canadense (Canada)
  • Cherokee (EUA)

Bibliografia [ editar | editar codigo-fonte ]

  • EDITORA ABRIL. Manual de estilo Editora Abril: como escrever bem para nossas revistas . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
  • O Estado de S. Paulo. Manual de Redacao e Estilo . organizado e editado por Eduardo Martins. Sao Paulo: OESP, 1990.
  • Folha de S.Paulo. Manual da Redacao . Sao Paulo: Publifolha, 2005.
  • O GLOBO. Manual de Redacao e Estilo . organizado e editado por Luiz Garcia. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1992.
  • JORNAL DO BRASIL. Normas de Redacao . Rio de Janeiro: Editora JB, 1973.
  • JORNAL DO BRASIL. Normas de Redacao . Rio de Janeiro: Editora JB, 1988.

Ligacoes externas [ editar | editar codigo-fonte ]