Sebastiao de Magalhaes Lima
GCTE
(
Santos
,
30 de Maio
de
1850
?
Lisboa
,
7 de Dezembro
de
1928
) foi um advogado, jornalista, politico e escritor portugues, fundador do jornal
O Seculo
. Defensor de
republicanismo
com pendor a um
socialismo
utopico, fez parte da chamada
Geracao de 70
e foi durante largos anos
grao-mestre
da
Maconaria
portuguesa, presidindo aos destinos da organizacao aquando do
Golpe de 28 de Maio de 1926
e do desencadear das perseguicoes que levariam a sua posterior ilegalizacao durante o regime do
Estado Novo
.
A historiadora
Maria Rita Lino Garnel
, chama-nos a atencao que a defesa de um
ideal republicano
e a propaganda
antidinastica
e
anticlerical
estao patentes na sua producao escrita e jornalistica, bem como na sua accao cultural e civica
[
2
]
.
A primeira mensagem que passou ao conselho do
Grande Oriente Lusitano Unido
, em
4 de Maio
de
1906
, logo apos ter sido eleito seu dirigente e anteriormente a
Implantacao de Republica Portuguesa
, foi: "
impor a
revolucao laicista
como linha oficial da
maconaria
"
[
3
]
.
Sebastiao de Magalhaes Lima nasceu em Santos, Brasil, filho de Sebastiao de Carvalho e Lima (
Aveiro
,
Eixo
, 21 de Fevereiro de 1824 - Aveiro,
Vera Cruz
) e de sua mulher Leocadia Rodrigues Pinto de Magalhaes (Rio de Janeiro - Aveiro, Vera Cruz), emigrantes portugueses naquela cidade. Foi irmao do filosofo e ensaista
Jaime de Magalhaes Lima
.
Aos 4 anos de idade mudou-se para a regiao de Aveiro, de onde era oriunda a familia, e depois para Lisboa, ficando a sua educacao entregue a um dos mais importantes negociantes daquela cidade. Frequentou o
Colegio Alemao de Lisboa
, onde realizou os estudos preparatorios, e depois o
Liceu do Porto
, onde concluiu o ensino secundario. Em
1870
matriculou-se na
Universidade de Coimbra
, onde, depois de um curso distinto, se formou em
Direito
.
Durante os seus tempos de estudante em
Coimbra
destacou-se pelo desassombro com que confessava as suas opinioes republicanas e pelo vigor com que as defendia. Essa atitude levou a que colaborasse em varios periodicos politicos e literarios, sendo um dos fundadores do jornal
Distrito de Aveiro
.
Magalhaes Lima estreou-se como escritor publicando, durante os seus anos iniciais de estudo em Coimbra, um conjunto de obras de pendor romantico, com titulos como
Miniaturas romanticas
,
Martirio de um anjo
,
Amour et Champagne
ou
Um drama intimo
. Tais obras, inseridas na corrente tardia do
romantismo
portugues, nao faziam adivinhar o apologista do
republicanismo
revolucionario em que o seu jovem autor se transformaria.
A mudanca parece ter acontecido durante o ano de
1873
, quando Magalhaes Lima, entao com 22 anos de idade, frequentava o 3.º ano do curso. Passou a advogar a revolucao e metamorfoseando-se num polemista convicto, passando a colaborar na imprensa republicana, iniciando-se com um artigo, aparecido na edicao de
1 de Maio
de
1873
do semanario
A Republica Portugueza
, um periodico fundado pelo paladino republicano
Augusto Manuel Alves da Veiga
. Passou desde entao a ser colaborador assiduo de outros jornais do mesmo quadrante ideologico, afirmando-se como uma das mais coerentes vozes do campo republicano e socialista. Como estudante, e depois como intelectual e escritor, fez parte da chamada
Geracao de 70
, convivendo com o mais importante escol de intelectuais portugueses do ultimo quartel do
seculo XIX
.
Quando em
1874
o escritor e politico republicano espanhol
Emilio Castelar y Ripoll
visitou
Coimbra
, coube a Magalhaes Lima ir sauda-lo em nome da
mocidade academica
a casa onde se encontrava hospedado. Perante o entusiasmo da delegacao estudantil, Emilio Castelar assomou a uma janela, sendo saudado por um vibrante discurso proferido por Magalhaes Lima no qual afirmava que a academia de Coimbra ia ali
fazer a consagracao da sua fe republicana e saudar nele o futuro das sociedades livres
.
[
4
]
Castelar, acedendo ao pedido, respondeu com um discurso apreciando os brios da academia e a franqueza com que a mocidade academica expressava os seus ideais. Em 1874 foi iniciado na
Loja Perseveranca, N.º 74
, em Coimbra, do Grande Oriente Lusitano Unido, com o nome simbolico de
Joao Huss
, passando depois a coberto.
[
5
]
Apos uma visita a
Madrid
, feita ja com motivacoes politicas, Magalhaes Lima concluiu a sua formatura em
1875
, com a classificacao de distinto, encetando nesse ano funcoes de advogado em
Coimbra
. Nesse mesmo ano publicou o romance
A Senhora Viscondessa
, transferindo-se pouco depois para Lisboa onde assentou banca de advogado.
Ao mesmo tempo que se iniciava como advogado continuava a sua participacao na imprensa republicana, com destaque para os periodicos
Democracia
,
Distrito de Aveiro
,
Mosaico
,
Jornal de Lisboa
e
Galeria republicana
[
6
]
(onde o seu nome consta como diretor), afirmando-se como um dos mais eficazes propagandistas dos ideais da esquerda republicana. Foi tambem colaborador na revista
O Xuao
[
7
]
(1908-1910), na
Revista de turismo
[
8
]
iniciada em 1916,
A semana de Lisboa
[
9
]
(1893-1895) e ainda em
A Choldra
[
10
]
(1926). Tambem se encontra colaboracao postuma na
Semana Portuguesa
[
11
]
(1933-1936).
A partir de finais da
decada de 1870
afasta-se progressivamente da advocacia para se dedicar ao jornalismo e a politica, escrevendo um conjunto de panfletos que intitulou
O Espectro de Juvenal
,
[
12
]
defendendo o regime republicano e atacando duramente as instituicoes da monarquia constitucional portuguesa.
Aquando da assinatura em Maio de
1878
do
Tratado de Lourenco Marques
destacou-se pela violencia dos seus ataques a pusilanimidade do Governo e as cedencias a hegemonia britanica, escrevendo violentos artigos nos jornais e intervindo como principal orador nos comicios oposicionistas que entao se realizaram. A campanha foi tao eficaz que o parlamento rejeitou a ratificacao daquele acordo, pondo termo a carreira politica de
Andrade Corvo
.
Em
1879
fundou o periodico
Comercio de Portugal
, jornal que dirigiu e que a partir de
1880
foi adquirido pelo politico progressista
Joao Crisostomo Melicio
, 1.º
visconde de Melicio
. Nesse mesmo ano publicou um opusculo intitulado
A questao do Banco Nacional Ultramarino
,
[
13
]
com graves acusacoes a forma como aquela instituicao bancaria fora administrada.
Ja ligado a esquerda republicana, em
1880
fez parte da comissao executiva da imprensa nas grandes comemoracoes do centenario de
Luis de Camoes
, publicando depois um opusculo reproduzindo uma conferencia que proferiu sobre as comemoracoes camonianas no estrangeiro.
No ano de
1881
fundou em parceria com figuras destacadas do republicanismo o periodico
O Seculo
, que passou a dirigir. A violencia de alguns dos artigos publicados no jornal sob a sua direccao levou a que fosse processado e passasse algum tempo preso no
Limoeiro de Lisboa
e a um
duelo
ao
sabre
com
Pinheiro Chagas
, entao director do
Diario da Manha
, do qual resultaram ferimentos ligeiros para este.
No inicio da
decada de 1890
, Magalhaes Lima, entao ja consumado como jornalista energico e orador fluente, assumiu-se com um dos principais vultos do Partido Republicano, defendendo um republicanismo com pendor a
socialismo utopico
, mas pugnando por um
entendimento entre a burguesia e o proletariado
. Aquando da onde de contestacao que varreu Portugal na sequencia do
ultimato britanico de 1890
, encabecou a contestacao antibritanica e antimonarquica, dirigindo nos anos seguintes o periodico republicano
A Folha do Povo
e depois o jornal
A Vanguarda
.
Em
1898
foi membro da comissao que organizou as comemoracoes do centenario do
descobrimento do caminho maritimo para a India
.
Iniciado na
Loja Perseveranca
, N.º 74, do
Grande Oriente Lusitano Unido
, de Coimbra, no ano de
1874
, com o nome simbolico de
Joao Huss
, em homenagem ao pensador e reformador religioso, ascendeu a
Grao-Mestre
da
Maconaria
em
1907
, num dos mais longos mandatos na historia maconica portuguesa, o qual apenas terminou com o seu falecimento em
1928
.
Em 1890 regulariza-se na
Loja Obreiros do Trabalho, N.º 160
, do Grande Oriente Lusitano Unido, em Lisboa. Em 1892 e um dos Fundadores da
Loja Gomes Freire, N.º 177
, em Lisboa, do Grande Oriente Lusitano Unido.
[
5
]
Em 1904 filia-se na
Loja Livre Exame, N.º 200
, em Lisboa, do Grande Oriente Lusitano Unido. A
18 de Dezembro
de
1904
realizou-se um banquete de homenagem a Magalhaes Lima, no salao do
Real Coliseu de Lisboa
, presidido por
Alfredo da Cunha
, entao director do
Diario de Noticias
, que reuniu mais de 300 pessoas de todas as classes sociais.
Em 1906 e um dos Fundadores da
Loja Solidariedade, N.º 270
, em Lisboa, do Grande Oriente Lusitano Unido. Desempenha funcoes de 12.º
Presidente do Conselho da Ordem
do Grande Oriente Lusitano de 1906 a 1907.
Em 1907 e eleito 21.º
Soberano Grande Comendador
do
Supremo Conselho
afecto ao Grande Oriente Lusitano e 10.º
Grao-Mestre
do
Grande Oriente Lusitano Unido
, sendo depois sucessivamente reeleito para ambos os cargos entre 1907 e 1928. Ocupa ainda este cargo a data da sua morte.
Como Macon e como Grao-Mestre participou em numerosos congressos e encontros maconicos, nacionais e internacionais. Acumula o cargo de Grao-Mestre com o de Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do
Grau 33
do
Rito Escoces Antigo e Aceite
, grau que lhe foi expressamente concedido pelo
Supremo Conselho da Escocia
, em
Edimburgo
.
[
5
]
[
14
]
Sendo um dos macons mais prestigiados internacionalmente,
[
15
]
durante este periodo foi o grande impulsionador da
republicanizacao
daquela organizacao, conspirando activamente para a implantacao do regime republicano em
1910
, apoiando multiplas tentativas revolucionarias durante as fases mais exaltadas da
Primeira Republica Portuguesa
.
Foi nesse contexto que em
6 de Dezembro
de
1918
, teve a sede do
Grande Oriente Lusitano
assaltada por populares que acusavam a Maconaria de estar por detras do atentado frustrado a vida de
Sidonio Pais
ocorrida na vespera e que foi preso e maltratado no Governo Civil de Lisboa, na noite de
18 de Dezembro
daquele ano, depois do assassinato de
Sidonio Pais
, por alegadas relacoes com
Jose Julio da Costa
, o jovem republicano que praticou aquele acto.
Ainda antes da implantacao da Republica, fez parte do
Gabinete Internacional Permanente para a Paz
(International Peace Bureau ou IPB) e, pelo seu trabalho nesta organizacao, foi indicado em
1909
para o
Premio Nobel da Paz
, por iniciativa do deputado republicano portugues
Jose Feio Terenas
. O Nobel desse ano coube, no entanto, ao belga
Auguste Beernaert
, membro do Tribunal Permanente de Arbitragem, e ao parlamentar frances
Estournelles de Constant
.
Em
1910
, seria o proprio Gabinete Internacional Permanente para a Paz a receber o Nobel. Antes disso, em
1901
, o proprio Magalhaes Lima participou na indicacao para o primeiro Premio Nobel da Paz de
Frederic Passy
, fundador e presidente da Sociedade Francesa para a Paz, que recebeu a distincao em parceria com o fundador da Cruz Vermelha Internacional e promotor das Convencoes de Genebra, o suico
Henri Dunant
.
[
16
]
Foi membro do Directorio do
Partido Republicano Portugues
e participou na
embaixada
republicana do Verao de 1910 como delegado dos republicanos e socialistas portugueses a varios reunioes internacionais, percorrendo a Espanha, a Italia e a Franca. Encontrava-se em Paris quando a republica foi proclamada em Portugal, sendo no regresso a Lisboa recebido com entusiasmo pelos republicanos. Tambem foi dirigente da
Associacao de Jornalistas e Homens de Letras de Lisboa
, instituicao que representou nos congressos de jornalismo que se realizaram em Estocolmo, Paris, Lisboa, Roma e Viena.
Apos a
proclamacao da Republica Portuguesa
, foi deputado a
Assembleia Constituinte de 1911
, na qual foi escolhido como relator da
Constituicao da Republica Portuguesa de 1911
. No Congresso da Republica candidatou-se as eleicoes presidenciais de
24 de Agosto
de
1911
, nas quais foi eleito
Manuel de Arriaga
, obtendo apenas um unico voto.
Exerceu as funcoes de
Ministro da Instrucao Publica
de
17 de Maio
a
19 de Junho
de
1915
, no governo presidido por
Jose Ribeiro de Castro
instituido depois da
revolucao de 14 de Maio de 1915
que pos termo a ditadura do general
Joaquim Pimenta de Castro
.
Em
1921
fundou a
Liga Portuguesa dos Direitos do Homem
.
[
5
]
Foi Gra-Cruz da
Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Merito
a 29 de Abril de 1919.
[
17
]
Faleceu em Lisboa a
7 de Dezembro
de
1928
, ja sob o governo da
Ditadura Nacional
, mas ainda assim o seu funeral reuniu dezenas de milhar de pessoas. Foi um dos macons portugueses mais conhecidos e prestigiados fora de Portugal, e um dos grao-mestres com mais longo mandato na historia maconica portuguesa (1907 a 1928), coincidente com o periodo de maior apogeu da Maconaria em Portugal. Na sua ultima mensagem como Grao-Mestre, em 1928, condenou a opressao que um
regime ditatorial
impusera ao seu pais desde 1926, afirmando que os conceitos de
Patria
e de
Liberdade
eram sinonimos.
[
5
]
Para alem de uma vasta obra dispersa por periodicos varios e panfletos, e autor das seguintes monografias:
- Martirio de um anjo
- Amour et Champagne
- Um drama intimo
- Fatalidade e o destino
- Cambiantes da comedia humana
- Estrelas e nuvens
- A beira-mar
- Um dia de noivado
- A Actualidade
(estudo economico-social)
- A Federacao Iberica
, 1892 (edicao francesa)
- A Guerra e a Paz
(conferencia)
- A Obra Internacional
(edicao portuguesa e edicao francesa), 1897
- A Questao do Banco Nacional Ultramarino
, 1879
- A Revolta
(1.ª Parte)
- A Revolta
(2.ª Parte)
- A Senhora Viscondessa
(romance), 1875
(eBook)
- Costumes Madrilenos
, 1877
(eBook)
- Da monarquia a republica: historia da implantacao da republica em Portugal
, 1910
- Episodios da minha vida: memorias documentadas
, 1928
- Miniaturas Romanticas
, 1871
(eBook)
- O Centenario [de Camoes] no Estrangeiro
(conferencia realizada na Sociedade do Geografia de Lisboa no dia 11 de Novembro de 1897), Lisboa, 1897
- O Congresso de Roma
, 1904
(eBook)
- O Federalismo
, 1898
(eBook)
- O Livro da Paz
, 1895
- O Papa Perante o Seculo
- O Primeiro de Maio
, 1894
(eBook)
- Os Estados Unidos da Europa
(Trad.), 1874
- O Socialismo na Europa
, 1892
- Padres e Reis
, 1873
- Pela Patria e Pela Republica
, 1891
- Paz e Arbitragem
, 1897
(eBook)
- Teoria da humanidade
- Pena de morte
- As subsistencias
Notas
- ↑
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. Fundacao Mario Soares
. Consultado em 11 de fevereiro de 2012
- ↑
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- ↑
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≪Nota biografica de Magalhaes Lima no Portugal - Dicionario Historico≫
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≪Dirigentes das Maconarias Portuguesas≫
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Acumulou o cargo de Grao-Mestre com o de
Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escoces Antigo e Aceite
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