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Revolta de Kronstadt

Origem: Wikipedia, a enciclopedia livre.
Revolta de Kronstadt
Parte da Guerra Civil Russa

Tropas do Exercito Vermelho atacam Kronstadt sobre o mar congelado.
Data 1 - 18 de marco de 1921
Local Kronstadt
Desfecho Repressao dos rebeldes
Implatancao da Nova Politica Economica
Eliminacao da oposicao politica
Beligerantes
  RSFS da Russia
Exercito Vermelho
Marinheiros e soldados rebeldes da Frota do Baltico
Cidadaos armados de Kronstadt
Comandantes
Mikhail Tukhachevsky
Leon Trotski
Stepan Petrichenko
Forcas
45 000 ( 15 de marco ) [ 1 ]
50 000 ( 17 de marco ) [ 2 ] [ 3 ] [ 4 ] [ 5 ]
15 000 [ 4 ] [ 5 ] [ 6 ] [ 7 ]
Baixas
10 000 mortos, feridos e desaparecidos [ 5 ] 600 mortos, 1 000 feridos, 2 500 prisioneiros, 800 cidadaos e 700 marinheiros e soldados refugiados na Finlandia [ 5 ]

A Revolta de Kronstadt foi uma insurreicao dos marinheiros da Frota Naval Militar da Uniao Sovietica da cidade portuaria de Kronstadt contra o governo da Republica Socialista Federativa Sovietica da Russia . Foi a ultima grande revolta contra o regime bolchevique no territorio russo durante a guerra civil que assolou o pais. A revolta iniciou-se em 1º de marco de 1921 na fortaleza naval da cidade, localizada na ilha de Kotlin , no golfo da Finlandia . Tradicionalmente, Kronstadt servia como base da frota russa do Baltico e da defesa de Sao Petersburgo (entao Petrogrado), localizada a 30 km da ilha. Durante dezesseis dias, os rebeldes insurgiram-se em oposicao ao governo sovietico que eles mesmos haviam ajudado a consolidar. [ 8 ]

Os rebeldes, entre os quais muitos comunistas decepcionados com os rumos do governo bolchevique , exigiam uma serie de reformas, tais como a eleicao de novos sovietes, inclusao de partidos socialistas e grupos anarquistas nos novos sovietes e o fim do monopolio bolchevique no poder, liberdade economica para camponeses e operarios, dissolucao dos orgaos burocraticos do governo criados durante a guerra civil e a restauracao de direitos civis para a classe trabalhadora. Apesar da influencia de alguns partidos da oposicao, os marinheiros nao apoiaram nenhum em particular.

Convencidos da popularidade das reformas pelas quais lutavam e que tentaram aplicar parcialmente durante a revolta, os marinheiros de Kronstadt esperaram em vao o apoio da populacao no resto do pais e rejeitaram ajuda de emigrados. Apesar de os conselhos de oficiais defenderem uma estrategia mais ofensiva, os rebeldes mantiveram uma atitude passiva ao esperar do governo o primeiro passo nas negociacoes, o que acabou por isolar as forcas continentais. As autoridades, pelo contrario, adotaram uma postura intransigente, apresentando um ultimato exigindo a rendicao incondicional no dia 5 de marco. Uma vez expirado o prazo da rendicao, os bolcheviques enviaram uma serie de incursoes militares contra a ilha, conseguindo reprimir a revolta em 17 de marco apos uma serie de fracassos e muitas baixas. Houve alguns focos de resistencia na ilha, eliminados em 18 de marco.

Os rebeldes foram considerados martires revolucionarios por seus partidarios e classificados como "agentes da Entente e da contrarrevolucao" pelas autoridades. A resposta bolchevique a revolta causou grande controversia e foi responsavel pela desilusao de varios simpatizantes do regime estabelecido pelos bolcheviques, [ 8 ] como Emma Goldman , por exemplo. Porem, ainda que a revolta tenha sido reprimida e as exigencias politicas dos rebeldes nao tenham sido atendidas, ela serviu para acelerar a implantacao da Nova Politica Economica (NEP), que substituiu o " comunismo de guerra ". [ 9 ]

Contexto [ editar | editar codigo-fonte ]

No outono de 1920, a Guerra Civil Russa estava chegando ao fim. [ 10 ] Em 12 de outubro o governo sovietico firmava um armisticio com a Polonia e tres semanas mais tarde o ultimo grande general branco , Pyotr Nikolayevich Wrangel , abandonava a Crimeia , [ 11 ] e em novembro o governo conseguira dispersar as forcas de Nestor Makhno na Ucrania . [ 11 ] Moscou havia recuperado o controle do Turquistao , da Siberia e da Ucrania, alem das regioes carboniferas e petroliferas de Donetsk e Baku , respectivamente; em fevereiro de 1921, as forcas do governo reconquistaram a regiao do Caucaso com a tomada da Georgia . [ 11 ] Apesar de alguns combates prosseguirem em algumas regioes (contra Makhno na Ucrania, em um combate que durou ate o final de outono; contra Antonov em Tambov ; no Daguestao e na Siberia contra revoltas camponesas), estes nao representavam uma seria ameaca militar para o poderio comunista. [ 12 ]

O governo de Lenin , apos ter abandonado as esperancas de uma revolucao comunista mundial, tratou de consolidar o poder localmente e normalizar suas relacoes com as potencias ocidentais, que interromperam sua intervencao na guerra civil [ 12 ] e iniciaram um bloqueio economico [ 12 ] ao pais. [ 12 ] [ 11 ] Ao longo de 1920, firmaram-se diversos tratados com a Finlandia e outras republicas balticas; em 1921 houve acordos com a Persia e o Afeganistao . [ 13 ] Apesar da vitoria militar e da melhora nas relacoes exteriores, a Russia enfrentava uma grave crise social e economica, [ 13 ] que ameacava Lenin e seus partidarios. [ 12 ]

Causas da revolta [ editar | editar codigo-fonte ]

Crise economica e politica [ editar | editar codigo-fonte ]

A revolta na base naval de Kronstadt comecou como um protesto pela situacao do pais. [ 14 ] Ao fim da guerra civil, a Russia estava arruinada. [ 15 ] [ 13 ] [ 10 ] O conflito havia deixado um grande numero de vitimas e o pais estava assolado pela fome e doencas. [ 10 ] [ 13 ] A producao agricola e industrial reduzira-se drasticamente e o sistema de transporte encontrava-se desorganizado. [ 13 ] As secas de 1920 e 1921 ajudaram a completar um cenario catastrofico para o pais. [ 10 ]

A chegada do inverno e a manutencao [ 10 ] do " comunismo de guerra " e de diversas privacoes pelas autoridades sovieticas levaram ao aumento das tensoes no campo [ 16 ] (como na Revolta de Tambov ) e nas cidades, especialmente em Moscou e Petrogrado ? onde ocorreram greves e manifestacoes [ 14 ] ? no comeco de 1921. [ 17 ] Por conta da manutencao e reforco dos metodos do "comunismo de guerra", as condicoes de vida haviam piorado ainda mais apos o fim dos combates. [ 18 ]

O estopim dos protestos [ 19 ] foi um anuncio governamental, dado em 22 de janeiro de 1921, determinando a reducao das racoes de pao em um terco para os habitantes de todas as cidades. [ 17 ] [ 18 ] As grandes nevascas e a falta de combustivel, fatores que impediam o transporte dos alimentos estocados na Siberia e no Caucaso para abastecer as cidades, obrigaram as autoridades a tomarem tal medida, [ 18 ] porem mesmo essa justificativa nao foi capaz de evitar o descontentamento popular. [ 17 ] Em meados de fevereiro, os trabalhadores comecaram a se manifestar em Moscou; tais manifestacoes eram precedidas por reunioes operarias nas fabricas e oficinas. Os operarios exigiam o fim do "comunismo de guerra" e liberdade de trabalho. Os enviados do governo nao conseguiram apaziguar a situacao. [ 17 ] Logo surgiram revoltas que so puderam ser reprimidas mediante o uso de cadetes e tropas armadas. [ 20 ]

Quando a situacao parecia se acalmar em Moscou, os protestos estouraram em Petrogrado, [ 21 ] onde cerca de 60% das grandes fabricas tiveram que fechar em fevereiro por conta da falta de combustivel [ 21 ] [ 18 ] e o abastecimento de alimentos havia praticamente cessado. [ 22 ] Assim como em Moscou, as manifestacoes e exigencias eram precedidas por reunioes nas fabricas e oficinas. [ 22 ] Diante da escassez das racoes alimentares dadas pelo governo e apesar da proibicao do comercio, os trabalhadores organizavam expedicoes para buscar suprimentos nas zonas rurais perto das cidades; as autoridades trataram de eliminar tais atividades, o que aumentou o descontentamento popular. [ 23 ] Em 23 de fevereiro, uma reuniao na pequena fabrica Trubochny aprovou uma medida favoravel ao aumento das racoes e da distribuicao imediata de roupas de inverno e calcados que, segundo rumores, estavam sendo entregues praticamente apenas para os bolcheviques. [ 22 ] No dia seguinte, os trabalhadores convocaram um protesto e, apesar de nao terem conseguido convencer os soldados do regimento finlandes a se unirem a manifestacao, contaram com o apoio de outros operarios e de alguns estudantes, que marcharam pela ilha de Vasilievsky. [ 22 ] O soviete local enviou cadetes que dispersaram os manifestantes sem que houvesse mortes. [ 24 ] Grigori Zinoviev constituiu um "Comite de Defesa" com poderes especiais para acabar com os protestos; estruturas semelhantes foram criadas nos diversos distritos da cidade na forma de troikas . [ 24 ] Os bolcheviques da provincia mobilizaram-se para enfrentar a crise. [ 23 ] Em 25 de fevereiro, houve novas manifestacoes, mais uma vez iniciadas pelos operarios da Trubochny, e que dessa vez se espalharam por toda a cidade, em parte por conta de rumores sobre a ocorrencia de vitimas da repressao na manifestacao anterior. [ 24 ] Diante do crescimento dos protestos, no dia 26 de fevereiro, o soviete local aprova uma medida que estabelecia o fechamento das fabricas com maior concentracao de revoltosos, porem tal medida nao apaziguou a situacao e o movimento estendeu-se nos dias seguintes. [ 25 ] Logo as reivindicacoes, de cunho economico, passaram a ter tambem cunho politico, o que era mais preocupante para os bolcheviques. [ 25 ] Para acabar definitivamente com os protestos, as autoridades concentraram um grande numero de tropas na cidade, trataram de fechar mais fabricas com grande concentracao de rebeldes, proclamaram lei marcial [ 19 ] e iniciaram uma campanha de detencoes, executada pela Cheka e que resultou em milhares de pessoas presas. [ 26 ] Cerca de quinhentos operarios e dirigentes sindicais foram presos, assim como milhares de estudantes e intelectuais, alem dos principais lideres mencheviques [ 26 ] que ainda se encontravam livres ? cinco mil mencheviques foram presos nos primeiros meses do ano. Os poucos anarquistas e socialistas revolucionarios livres tambem foram presos. [ 26 ] As autoridades solicitaram aos trabalhadores que voltassem ao trabalho para evitar o derramamento de sangue e outorgaram certas concessoes [ 27 ] ? permissao para ir ao campo para trazer comida as cidades, relaxamento dos controles contra a especulacao, permissao da compra de carvao para aliviar a escassez de combustivel, anuncio do fim dos confiscos de graos ?, alem de terem aumentado as racoes dos operarios e soldados, mesmo a custa do esgotamento das escassas reservas de alimentos. [ 28 ] Tais medidas fizeram com que os operarios de Petrogrado voltassem ao trabalho entre os dias 2 e 3 de marco. [ 29 ]

Crise governamental [ editar | editar codigo-fonte ]

O autoritarismo bolchevique e a ausencia de liberdades e de algumas reformas reforcavam a oposicao e aumentavam o descontentamento por parte de seus proprios seguidores: na sua ansia e em seu esforco de garantir o poder sovietico, os bolcheviques na verdade favoreciam o crescimento da oposicao. [ 30 ] O centralismo e a burocracia do "comunismo de guerra" aumentavam as dificuldades que deveriam ser enfrentadas. [ 30 ]

Com o fim da guerra civil, surgiram grupos de oposicao dentro do proprio partido bolchevique. [ 30 ] Um dos grupos oposicionistas, de uma ala mais esquerdista e com um projeto muito proximo do sindicalismo , almejava a direcao do partido. [ 30 ] Outra ala dentro do partido defendia a descentralizacao do poder, que deveria ser imediatamente entregue aos sovietes. [ 16 ]

A situacao da base naval de Kronstadt e da frota do Baltico [ editar | editar codigo-fonte ]

Composicao da frota [ editar | editar codigo-fonte ]

A tripulacao do couracado Petropavlovsk , durante o motim da frota do Baltico em marco de 1917.

Desde 1917, as ideias anarquistas exerciam forte influencia em Kronstadt. [ 31 ] [ 32 ] [ 19 ] Os habitantes da ilha eram favoraveis a autonomia dos sovietes locais e consideravam a interferencia do governo central indesejavel e desnecessaria. [ 33 ] Nucleo de apoio radical aos sovietes, Kronstadt havia tomado parte em importantes acontecimentos do periodo revolucionario ? como as Jornadas de Julho , [ 27 ] a Revolucao de Outubro , o assassinato dos ministros do Governo Provisorio [ 27 ] e a dissolucao da Assembleia Constituinte ? e da guerra civil; mais de quarenta mil marinheiros da frota do Baltico participaram dos combates contra o Exercito Branco entre 1918 e 1920. [ 34 ] Apesar da participacao em importantes conflitos ao lado dos bolcheviques e figurarem entre as mais ativas tropas a servico do governo, os marinheiros desde o comeco mostraram-se receosos diante da possibilidade de centralizacao do poder e da formacao de uma ditadura. [ 34 ]

A composicao da base naval, entretanto, havia mudado durante a guerra civil. [ 31 ] [ 21 ] Muitos dos antigos marinheiros que a compunham haviam sido enviados para diversos outros pontos do pais durante o conflito, sendo substituidos por camponeses ucranianos menos favoraveis ao governo bolchevique, [ 31 ] porem a maioria [ 35 ] dos marinheiros presentes em Kronstadt durante a revolta ? cerca de tres quartos ? eram veteranos de 1917. [ 36 ] [ 37 ] No comeco de 1921, a ilha contava com uma populacao de cerca de cinquenta mil habitantes entre civis e militares ? vinte e seis mil marinheiros e soldados ? e, desde 1918, era a principal base da frota do Baltico , apos a evacuacao de Reval (atual Tallinn ) e Helsingfors (atual Helsinque ) apos a assinatura do Tratado de Brest-Litovsk . [ 38 ] Ate a revolta, a base naval ainda considerava-se favoravel aos bolcheviques, contando com diversos afiliados ao partido. [ 38 ]

Penalidades [ editar | editar codigo-fonte ]

A frota do Baltico estava sendo reduzida desde o verao de 1917, quando contava com oito navios de guerra, nove cruzadores, mais de cinquenta contratorpedeiros, cerca de quarenta submarinos e centenas de embarcacoes auxiliares; em 1920, restara da frota de 1917 apenas dois navios de guerra, dezesseis contratorpedeiros, seis submarinos e uma flotilha de caca-minas. [ 15 ] A escassez de combustivel [ 39 ] agravava-se [ 15 ] e havia temores de que se perdessem ainda mais navios por conta de certas falhas que eram suscetiveis no inverno. [ 40 ] A falta de combustivel impedia tambem a calefacao dos navios. [ 39 ] O abastecimento na ilha tambem era deficiente, [ 39 ] em parte pelo sistema de controle altamente centralizado; muitas unidades ainda nao haviam recebido seus novos uniformes em 1919. [ 40 ] As racoes diminuiram em quantidade e qualidade, e no final de 1920, ocorreu um surto epidemico de escorbuto na frota; os protestos exigindo melhorias nas racoes alimenticias dos soldados foram ignorados e os agitadores foram presos. [ 41 ]

Tentativas de reformas e problemas na administracao [ editar | editar codigo-fonte ]

A organizacao da frota havia mudado drasticamente desde 1917: o comite central, o Tsentrobalt , que havia tomado o controle apos a Revolucao de Outubro, progressivamente ia dando passos em direcao a uma organizacao centralizada, processo que se acelerou em janeiro de 1919, com a visita de Trotski a Kronstadt apos um desastroso ataque naval a Reval. [ 42 ] A frota agora era controlada por um Comite Militar Revolucionario escolhido pelo governo e os comites navais foram abolidos. [ 42 ] Fracassaram as tentativas de formar um novo corpo de oficiais navais bolcheviques para substituir os poucos czaristas que ainda dirigiam a frota. [ 42 ] A nomeacao do Fyodor Raskolnikov como comandante em chefe em junho de 1920, feita com o objetivo de aumentar a capacidade de acao da frota e acabar com as tensoes, resultou em um fracasso e os marinheiros receberam-no com hostilidade. [ 43 ] [ 44 ] As tentativas de reforma e de aumentar a disciplina, que implicaram na mudanca do pessoal da frota, produziram grande insatisfacao entre os membros locais do partido. [ 45 ] As tentativas de centralizar o controle desagradaram a maioria dos comunistas locais. [ 46 ] Raskolnikov tambem entrou em confronto com Zinoviev, ja que ambos desejavam controlar a atividade politica na frota. [ 45 ] Zinoviev tentou apresentar-se como um defensor da velha democracia sovietica e acusava Trotski e seus comissarios de serem os responsaveis pela introducao do autoritarismo na organizacao da frota. [ 32 ] Raskolnikov tentou se livrar da forte oposicao existente mediante a expulsao [ 38 ] [ 47 ] de um quarto dos membros da frota no fim de outubro de 1920, porem fracassou. [ 48 ]

Crescimento do descontentamento e da oposicao [ editar | editar codigo-fonte ]

Em 15 de fevereiro de 1921, um grupo de oposicao [ 41 ] dentro do proprio partido bolchevique que discordava das medidas aplicadas na frota conseguiu aprovar uma resolucao critica em uma conferencia do partido que reuniu delegados bolcheviques da frota do Baltico. [ 31 ] [ 49 ] Tal resolucao criticava duramente a politica administrativa da frota, acusando-a de ter afastado esta das massas e dos funcionarios mais ativos, e de ter-se tornado um orgao meramente burocratico; [ 31 ] [ 50 ] [ 49 ] alem disso, exigia a democratizacao das estruturas do partido e advertiu que, se nao houvesse mudancas, poderia haver uma rebeliao. [ 31 ] Alem disso, a organizacao da frota passava por uma situacao problematica: [ 51 ] em janeiro, Raskolnikov havia perdido o controle real [ 51 ] da administracao da frota por conta de suas disputas com Zinoviev e mantinha seu cargo apenas formalmente, [ 50 ] enquanto a frota encontrava-se desorganizada. [ 50 ] No mesmo dia em que os marinheiros revoltaram-se em Kronstadt, Raskolnikov foi oficialmente deposto de seu cargo. [ 52 ]

Por outro lado, o moral das tropas era baixo: a inatividade, a escassez de abastecimentos e municao, a impossibilidade de abandonar o servico e a crise administrativa contribuiram para desanimar os marinheiros. [ 53 ] O aumento temporario nas licencas dos marinheiros apos o fim dos combates com as forcas antissovieticas tambem contribuiu para minar o animo da frota: os protestos nas cidades e a crise no campo por conta das apreensoes do governo e a proibicao do comercio privado afetaram diretamente os marinheiros que regressaram temporariamente para suas casas; os marinheiros haviam descoberto a grave situacao do pais apos meses ou anos de luta em favor do governo, o que lhes desencadeou um forte sentimento de desilusao. [ 39 ] O numero de desercoes cresceu abruptamente durante o inverno de 1920-1921. [ 39 ]

As noticias dos protestos em Petrogrado, juntamente de rumores [ 19 ] inquietantes de uma dura repressao dessas manifestacoes por parte das autoridades, fez aumentar a tensao entre os membros da frota. [ 49 ] [ 54 ] Em 26 de fevereiro, em resposta aos acontecimentos de Petrogrado, [ 19 ] as tripulacoes dos navios Petropavlovsk e Sebastopol realizaram um encontro de emergencia e enviaram uma delegacao a cidade para investigar e informar Kronstadt a respeito dos protestos. [ 55 ] [ 51 ] Ao regressar dois dias depois, [ 56 ] a delegacao informou as demais tripulacoes sobre as greves e protestos em Petrogrado e a repressao governamental. Os marinheiros decidiram apoiar os manifestantes da capital, [ 55 ] aprovando uma resolucao com quinze exigencias que seria enviada ao governo. [ 55 ]

Primeiras acoes [ editar | editar codigo-fonte ]

As exigencias de Kronstadt [ editar | editar codigo-fonte ]

As exigencias aprovadas na reuniao dos marinheiros de Kronstadt no dia 28 de fevereiro, semelhantes em alguns pontos as exigencias feitas pelos mencheviques em Petrogrado, [ 56 ] foram as seguintes: [ 57 ] [ 58 ] [ 59 ]

  1. Novas eleicoes imediatas para os sovietes. Os presentes sovietes nao mais expressam os desejos dos trabalhadores e camponeses. As novas eleicoes devem ocorrer sob voto secreto, e devem ser precedidas de livre propaganda eleitoral;
  2. Liberdade de expressao e de imprensa para trabalhadores e camponeses, para os anarquistas, e para partidos socialistas de esquerda;
  3. Direito a reuniao, e liberdade para sindicatos e organizacoes camponesas;
  4. A organizacao, no mais tardar ate o dia 10 de marco de 1921, de uma conferencia de trabalhadores, soldados e marinheiros de Petrogrado, Kronstadt e do distrito de Petrogrado nao militantes do Partido;
  5. A libertacao de todos os presos politicos anarquistas e dos partidos socialistas, e de todos os trabalhadores, camponeses, soldados e marinheiros militantes de organizacoes operarias e camponesas entao presos;
  6. A eleicao de uma comissao para estudar os dossies de todos os detidos em prisoes e campos de concentracao;
  7. A abolicao de todas as secoes politicas dentro das forcas armadas. Nenhum partido politico deve ter privilegios para a propagacao de suas ideias, ou receber subsidios do Estado para este fim. No lugar de secoes politicas varios grupos culturais devem ser criados, tomando recursos do Estado;
  8. A abolicao imediata das barreiras militares criadas entre as cidades e o campo;
  9. A isonomia de racoes para todos os trabalhadores, exceto para os que executam funcoes perigosas ou insalubres;
  10. A abolicao dos destacamentos de combate do Partido em todos os grupos militares. A abolicao dos guardas do Partido nas fabricas e empresas. Se guardas fazem-se necessarios, eles devem ser nomeados, levando-se em consideracao as opinioes dos trabalhadores;
  11. A concessao aos camponeses de liberdade de acao sobre seu proprio solo, e do direito de possuir gado, contanto que sejam diretamente responsaveis por aqueles e que nao utilizem mao de obra assalariada;
  12. Nos pedimos que todas as unidades militares e grupos de cadetes aspirantes se juntem a esta resolucao;
  13. Nos exigimos que a imprensa de publicidade adequada a esta resolucao;
  14. Nos exigimos a instituicao de grupos de controle operario moveis;
  15. Nos exigimos que a producao artesanal seja autorizada desde que nao utilize mao de obra assalariada.
A resolucao tomada pelos marinheiros de Kronstadt, exigindo demandas como a eleicao de sovietes livres e liberdade de expressao e imprensa.

Entre as principais reivindicacoes exigidas pelos rebeldes estavam a realizacao de novas eleicoes livres ? como estipulava a constituicao ? para os sovietes, [ 31 ] o direito a liberdade de expressao e a total liberdade de acao e comercio. [ 60 ] [ 54 ] Segundo os proponentes da resolucao, as eleicoes resultariam na derrota dos comunistas e no "triunfo das conquistas da Revolucao de Outubro". [ 31 ] Os comunistas, que planejavam um programa economico muito mais ambicioso e que ia alem das reivindicacoes exigidas pelos marinheiros, [ 61 ] nao podiam tolerar, porem, a afronta que as reivindicacoes politicas representavam ao seu poder, pois questionavam a legitimidade dos bolcheviques como representantes das classes trabalhadoras. [ 60 ] As antigas demandas que Lenin havia defendido em 1917 foram consideradas contrarrevolucionarias e perigosas ao governo sovietico pelos bolcheviques. [ 62 ]

No dia seguinte, 1º de marco, cerca de quinze mil pessoas [ 19 ] [ 63 ] compareceram a uma grande assembleia convocada pelo proprio soviete local e presidida pelo dirigente executivo [ 64 ] deste na praca de Ancla. [ 65 ] [ 62 ] [ 66 ] As autoridades tentaram apaziguar os animos da multidao enviando Mikhail Kalinin , presidente do Comite Executivo Central de Todas as Russias (VTsIK) como orador, [ 65 ] [ 62 ] [ 66 ] [ 64 ] enquanto Zinoviev nao se atreveu a ir para a ilha. [ 62 ] Porem, logo ficou clara a atitude da multidao presente, que exigia eleicoes livres para os sovietes, liberdade de expressao e imprensa para os anarquistas e socialistas de esquerda e para todos os operarios e camponeses, liberdade de reuniao, supressao das secoes politicas no exercito, racoes iguais salvo para aqueles que realizavam trabalhos mais pesados ? os comunistas desfrutavam das melhores racoes ?, liberdade economica e liberdade de organizacao para os operarios e camponeses, alem de uma anistia politica. [ 65 ] [ 67 ] Os presentes assim aprovaram por esmagadora maioria a resolucao adotada anteriormente pelos marinheiros de Kronstadt. [ 68 ] [ 69 ] [ 64 ] Grande parte dos comunistas presentes na multidao tambem apoiaram a resolucao. [ 63 ] Os protestos dos dirigentes comunistas foram rechacados, porem Kalinin pode regressar sem problemas a Petrogrado. [ 65 ] [ 68 ]

Embora os rebeldes nao esperassem um confronto militar com o governo, a tensao em Kronstadt cresceu apos a prisao e o desaparecimento de uma delegacao da base naval, enviada para Petrogrado para investigar a situacao das greves e protestos que ocorriam na cidade. [ 65 ] [ 68 ] Enquanto isso, alguns comunistas da base comecavam a se armar, enquanto outros a abandonavam. [ 65 ]

Stepan Petrichenko , marinheiro anarquista de origem ucraniana que presidiu o Comite Revolucionario Provisorio durante a revolta de Kronstadt.

Em 2 de marco, os delegados dos navios de guerra, das unidades militares e dos sindicatos reuniram-se para preparar a reeleicao do soviete local. [ 65 ] [ 70 ] [ 69 ] Cerca de trezentos delegados juntaram-se para renovar o soviete como decidido na assembleia do dia anterior. [ 70 ] Os principais representantes comunistas tentaram dissuadir os delegados atraves de ameacas, porem nao obtiveram exito. [ 65 ] [ 71 ] Tres deles, o presidente do soviete local e os comissarios da frota Kuzmin e do pelotao de Kronstadt, foram presos pelos rebeldes. [ 71 ] [ 72 ] A ruptura com o governo ocorreu por conta de um rumor que se espalhou pela assembleia: o governo estaria planejando reprimir a assembleia e as tropas governamentais estariam se aproximando da base naval. [ 73 ] [ 74 ] Imediatamente foi eleito um Comite Revolucionario Provisorio (CRP), [ 63 ] [ 75 ] formado pelos cinco membros da presidencia colegiada da assembleia, para administrar a ilha ate a eleicao de um novo soviete local. Dois dias mais tarde, foi aprovada a ampliacao do Comite para quinze membros. [ 76 ] [ 73 ] [ 74 ] [ 72 ] A assembleia dos delegados tornou-se o parlamento da ilha, e reuniu-se em duas ocasioes, nos dias 4 e 11 de marco. [ 72 ] [ 76 ]

Parte dos comunistas de Kronstadt abandonaram a ilha precipitadamente; um grupo deles, liderados pelo comissario da fortaleza, tentou esmagar a revolta, porem, carentes de apoio, acabaram fugindo. [ 77 ] Durante a madrugada do dia 2 de marco, a cidade, os barcos da frota e as fortificacoes da ilha ja estavam nas maos do CRP, que nao encontrou resistencia. [ 78 ] Os rebeldes prenderam trezentos e vinte e seis comunistas, [ 79 ] cerca de um quinto dos comunistas locais. Os demais foram deixados em liberdade, embora as autoridades bolcheviques tenham executado quarenta e cinco marinheiros em Oranienbaum e tomado parentes dos rebeldes como refens. [ 80 ] Nenhum dos comunistas detidos pelos rebeldes sofreu maus tratos ou torturas e nem houve execucoes. [ 81 ] [ 75 ] Os presos receberam as mesmas racoes que o resto dos habitantes da ilha e perderam apenas suas botas e abrigos, que foram entregues aos soldados que realizavam plantao nas fortificacoes. [ 82 ]

O governo acusou os opositores de serem contrarrevolucionarios liderados pela Franca e afirmou que os rebeldes de Kronstadt eram comandados pelo general Kozlovski, antigo oficial czarista entao responsavel pela artilharia da base [ 73 ] [ 83 ] [ 63 ] ? embora estivesse nas maos do Comite Revolucionario. [ 73 ] Ainda no dia 2 de marco, toda a provincia de Petrogrado foi submetida a lei marcial e o Comite de Defesa presidido por Zinoviev obteve poderes especiais para reprimir os protestos. [ 84 ] Trotski apresentou supostos artigos da imprensa francesa que anunciavam a revolta duas semanas antes de sua eclosao, como prova de que a rebeliao seria um plano tramado pelos emigrados e pelas forcas da Entente. Lenin adotou a mesma estrategia para acusar os rebeldes poucos dias mais tarde no X Congresso do Partido. [ 84 ]

Apesar da intransigencia do governo e da disposicao das autoridades em esmagar a revolta atraves da forca, muitos comunistas defendiam a aplicacao das reformas exigidas pelos marinheiros e preferiam uma resolucao negociada para por fim ao conflito. [ 73 ] Na realidade, a atitude inicial do governo de Petrogrado nao foi tao intransigente quanto parecia; o proprio Kalinin assumiu que as reivindicacoes eram aceitaveis, devendo sofrer apenas algumas alteracoes, [ 85 ] enquanto o soviete local tentou apelar para os marinheiros ao dizer que eles haviam sido enganados por certos agentes contrarrevolucionarios. [ 85 ] A atitude de Moscou, porem, desde o inicio foi bem mais dura do que a dos dirigentes de Petrogrado. [ 85 ]

Os criticos do governo, inclusive alguns comunistas, acusavam este de ter traido os ideais da revolucao de 1917 e implantado um regime violento, corrupto e burocratico. [ 86 ] Em parte, os diversos grupos de oposicao dentro do proprio partido ? os comunistas de esquerda , centralistas democraticos e a oposicao operaria ? concordavam com tais criticas, ainda que seus dirigentes nao tenham apoiado a revolta; [ 87 ] no entanto, os membros da oposicao operaria e os centralistas democraticos ajudaram a reprimir a revolta. [ 88 ] [ 89 ]

Acusacoes e postura das autoridades [ editar | editar codigo-fonte ]

Propaganda bolchevique contra os mencheviques e socialistas revolucionarios : "Cuidado com os mencheviques e socialistas revolucionarios. Eles seguem os generais, sacerdotes e proprietarios de terras czaristas".

As acusacoes das autoridades de que a revolta seria um plano contrarrevolucionario eram falsas. [ 21 ] Os rebeldes nao esperavam ataques por parte das autoridades e nem iniciaram ataques contra o continente ? rechacando os conselhos de Kozlovski [ 90 ] ?, nem os comunistas da ilha denunciaram qualquer tipo conluio por parte dos rebeldes nos primeiros momentos da revolta, e inclusive participaram da assembleia de delegados ocorrida em 2 de marco. [ 91 ] [ 92 ] Inicialmente, os rebeldes procuraram mostrar uma postura conciliadora com o governo, acreditando que este pudesse acatar as reivindicacoes de Kronstadt. Kalinin, que poderia ter sido um valioso refem para os rebeldes, pode voltar sem complicacoes para Petrogrado apos a assembleia ocorrida em 1º de marco. [ 92 ]

Nem os rebeldes e nem o governo esperavam que os protestos de Kronstadt desencadeassem uma rebeliao. [ 92 ] Os comunistas locais inclusive publicaram um manifesto no novo periodico da ilha. [ 92 ] Muitos dos membros locais do partido bolchevique nao viam nos rebeldes e em suas reivindicacoes o carater supostamente contrarrevolucionario denunciado pelos dirigentes de Moscou. [ 93 ]

Parte das tropas enviadas pelo governo para reprimir a revolta passou para o lado dos rebeldes, ao saber que estes haviam eliminado a "comissariocracia" na ilha. [ 93 ] O governo teve serios problemas com as tropas regulares enviadas para reprimir a insurreicao, tendo que utilizar unidades de cadetes e agentes da Cheka . [ 93 ] [ 94 ] A direcao dos planos militares ficou nas maos dos mais altos dirigentes bolcheviques, que tiveram que regressar do X Congresso do Partido que estava sendo realizado em Moscou para encabecar as operacoes. [ 93 ]

A pretensao dos rebeldes de iniciar uma "terceira revolucao" que retomasse os ideais de 1917 e acabasse de vez com os desmandos do governo bolchevique representava uma grande ameaca para este, podendo minar o apoio popular ao partido e dividi-lo, criando um grande grupo de oposicao. [ 95 ] Para evitar tal possibilidade, o governo precisava fazer com que qualquer revolta parecesse contrarrevolucionaria, o que explica sua postura intransigente com Kronstadt e a campanha contra os rebeldes. [ 95 ] Os comunistas tentavam apresentar-se como os unicos defensores legitimos dos interesses das classes trabalhadoras. [ 96 ]

Atividades da oposicao [ editar | editar codigo-fonte ]

Os diversos grupos de emigrados e opositores do governo estavam muito divididos para realizarem um esforco em conjunto para apoiar os rebeldes. [ 97 ] Kadetes , mencheviques e socialistas revolucionarios mantiveram suas diferencas e nao colaboraram entre si para apoiar a rebeliao. [ 98 ] Victor Chernov e os socialistas revolucionarios tentaram lancar uma campanha de arrecadacao de fundos para ajudar os marinheiros, [ 98 ] porem o CRP recusou o auxilio, [ 99 ] [ 100 ] convencido de que a revolta iria espalhar-se pelo pais, nao havendo necessidade de ajuda externa. [ 101 ] Os mencheviques, por sua vez, mostraram-se simpaticos com as reivindicacoes dos rebeldes, mas nao com a revolta em si. [ 102 ] [ 32 ] A Uniao Russa de Industria e Comercio, sediada em Paris , conseguiu o apoio do Ministerio de Relacoes Exteriores frances para abastecer a ilha e comecou a arrecadar dinheiro para os rebeldes. [ 97 ] Wrangel ? a quem os franceses seguiam abastecendo [ 103 ] ? prometeu a Kozlovski o apoio de suas tropas de Constantinopla e iniciou uma campanha para obter o apoio das potencias, obtendo pouco exito. [ 104 ] Nenhuma potencia aceitou prestar apoio militar aos rebeldes e somente a Franca tratou de facilitar a chegada de alimentos na ilha. [ 103 ] O abastecimento planejado pelos kadetes da Finlandia nao estabeleceu-se em tempo habil. Apesar das tentativas dos antibolcheviques de pedir auxilio a secao russa da Cruz Vermelha para ajudar Kronstadt, nenhuma ajuda chegou a ilha durante as duas semanas de rebeliao. [ 105 ]

Ainda que existisse um plano do Centro Nacional de realizar um levante em Kronstadt, no qual os kadetes iriam tomar conta da cidade para converte-la em um novo centro de resistencia contra os bolcheviques com a chegada das tropas de Wrangel na ilha, a revolta que ocorreu nao teve qualquer qualquer relacao com a trama. [ 106 ] Foram poucos os contatos entre os rebeldes de Kronstadt e os emigrados durante a revolta, embora alguns rebeldes tenham se unido as forcas de Wrangel apos o fracasso da insurreicao. [ 106 ]

Postura e medidas tomadas pelos rebeldes [ editar | editar codigo-fonte ]

Os rebeldes justificaram o levante afirmando que este era um ataque contra o que eles chamavam de "comissariocracia" comunista. Segundo eles, os bolcheviques haviam traido os principios da Revolucao de Outubro, tornando o governo sovietico uma autocracia [ 75 ] burocratica sustentada pelo terror da Cheka. [ 107 ] [ 108 ] Segundo os rebeldes, uma "terceira revolucao" deveria devolver o poder aos sovietes eleitos livremente, eliminar a burocracia dos sindicatos e comecar a implantacao de um novo socialismo que serviria de exemplo para o mundo todo. [ 107 ] Os cidadaos de Kronstadt, entretanto, nao desejavam a realizacao de uma nova assembleia constituinte [ 109 ] [ 67 ] e nem o retorno da "democracia burguesa", [ 110 ] e sim a devolucao do poder aos sovietes livres. [ 107 ] Temerosos de justificarem as acusacoes dos bolcheviques, os dirigentes da rebeliao nao atentaram contra os simbolos revolucionarios e tomaram muito cuidado ao aceitar qualquer ajuda que pudesse os relacionar de alguma forma com os emigrados ou com as forcas contrarrevolucionarias. [ 111 ] Os rebeldes tampouco exigiam o fim do partido bolchevique, e sim uma reforma para eliminar sua forte tendencia autoritaria e burocratica que havia crescido durante a guerra civil, opiniao defendida por algumas correntes de oposicao dentro do proprio partido. [ 109 ] Os rebeldes sustentavam que o partido havia se afastado do povo e sacrificado seus ideais democraticos e igualitarios para manter-se no poder. [ 89 ] Os marinheiros de Kronstadt permaneciam fieis aos ideais de 1917, defendendo a ideia de que os sovietes deveriam ser livres do controle de qualquer partido e que todas as tendencias de esquerda poderiam participar destes sem restricoes, garantindo os direitos civis dos trabalhadores e serem eleitos diretamente por estes, e nao serem designados pelo governo ou por algum partido politico. [ 110 ]

Diversas tendencias de esquerda participaram da revolta. Os rebeldes de tendencia anarquista [ 112 ] reivindicavam, alem de liberdades individuais, a autodeterminacao dos trabalhadores. Os bolcheviques viam com receio os movimentos espontaneos das massas, acreditando que a populacao pudesse cair nas maos da reacao. [ 113 ] Para Lenin, as reivindicacoes de Kronstadt mostravam um "carater tipicamente anarquista e pequeno-burgues"; porem, como refletiam as inquietacoes das massas camponesas e operarias, representavam uma ameaca muito maior para o seu governo do que os exercitos czaristas. [ 113 ] Os ideais dos rebeldes, segundo os dirigentes bolcheviques, lembravam o populismo russo . Os bolcheviques muito haviam criticado os populistas, que em sua opiniao eram reacionarios e irrealistas por rejeitarem a ideia de um Estado centralizado e industrializado. [ 114 ] Tal ideia, por mais popular que fosse, [ 67 ] segundo Lenin deveria conduzir a desintegracao do pais em milhares de comunas separadas, pondo um fim no poder centralizado dos bolcheviques mas que, com o tempo, poderia resultar na implantacao de um novo regime centralista e de direita, razao pela qual tal ideia deveria ser suprimida. [ 114 ]

Influenciados por diversos grupos socialistas e anarquistas, porem livres do controle ou das iniciativas desses grupos, os rebeldes acataram diversas reivindicacoes de todos esses grupos em um programa vago e pouco definido, que representava muito mais um protesto popular contra a miseria e a opressao do que um programa de governo coerente. [ 115 ] Entretanto, muitos notam a proximidade das ideias rebeldes com o anarquismo, com discursos enfatizando a coletivizacao das terras, a liberdade, a importancia da vontade e da participacao popular e a defesa de um Estado descentralizado. [ 115 ] Naquele contexto, o grupo politico mais proximo destas posicoes, alem dos anarquistas, era a Uniao dos Socialistas Revolucionarios Maximalistas , que sustentava um programa muito semelhante aos slogans revolucionarios de 1917 ? "toda a terra para os camponeses", "todas as fabricas para os trabalhadores", "todo o pao e todos os produtos para os trabalhadores", "todo poder aos sovietes livres" ?, ainda muito populares. [ 116 ] Desiludidos com os partidos politicos, os sindicatos tomaram parte na revolta defendendo a ideia de que sindicatos livres deveriam devolver o poder economico aos trabalhadores. [ 117 ] Os marinheiros, assim como os socialistas revolucionarios, defendiam amplamente os interesses do campesinato e nao demonstravam muito interesse em questoes relativas a grande industria, ainda que rejeitassem a ideia de realizar uma nova assembleia constituinte, um dos pilares do programa socialista revolucionario. [ 118 ]

Durante a insurreicao, os rebeldes modificaram o sistema de racionamento; entregando quantias de racoes iguais para todos os cidadaos, com excecao das criancas e dos doentes, que recebiam racoes especiais. [ 119 ] Foi imposto um toque de recolher e as escolas foram fechadas. [ 119 ] Foram implantadas algumas reformas administrativas: foram abolidos os departamentos e comissariados, sendo substituidos por juntas de delegados sindicais, e em todas as fabricas, instituicoes e unidades militares foram formadas troikas revolucionarias para aplicar as medidas do CRP. [ 119 ] [ 79 ]

Extensao da revolta e enfrentamentos com o governo [ editar | editar codigo-fonte ]

Fracasso da extensao da revolta [ editar | editar codigo-fonte ]

Mapa de 1888 que ilustra bem a posicao de Kronstadt e Petrogrado no golfo da Finlandia . No mapa, tambem aparecem cidades proximas a costa que tiveram um papel importante durante as operacoes, como Oranienbaum , Peterhof e Lisy Nos .

Na tarde de 2 de marco, os delegados enviados por Kronstadt cruzaram o mar congelado ate Oranienbaum com a resolucao adotada pelos marinheiros, para divulga-la em Petrogrado e nos arredores da cidade. [ 120 ] Ja em Oranienbaum, receberam o apoio unanime da 1ª Esquadra Aerea e Naval. [ 121 ] Nessa noite, o CRP enviou um destacamento de 250 homens para Oranienbaum, porem as forcas de Kronstadt tiveram de retornar sem alcancar seu destino ao serem rechacadas sob o fogo de metralhadoras; os tres delegados que a esquadra aerea de Oranienbam havia enviado para Kronstadt foram presos pela Cheka enquanto regressavam para a cidade. [ 121 ] O comissario de Oranienbaum, ciente dos fatos e temendo a sublevacao de suas outras unidades, solicitou a ajuda urgente de Zinoviev, armou os membros locais do partido e aumentou suas racoes para tentar assegurar sua lealdade. [ 121 ] Durante a madrugada do dia seguinte, um blindado com cadetes e tres baterias de artilharia leve chegaram em Petrogrado, cercando os quarteis da unidade sublevada e prendendo os insurretos. Apos um extenso interrogatorio, quarenta e cinco deles foram fuzilados. [ 121 ]

Apesar deste reves, [ 121 ] os rebeldes seguiram mantendo uma postura passiva e rechacaram os conselhos dos "especialistas militares" ? eufemismo que se utilizava para designar os oficiais czaristas empregados pelos sovieticos sob vigilancia dos comissarios ? de atacarem diversos pontos do continente em vez de se manterem na ilha. [ 122 ] [ 63 ] [ 75 ] [ 123 ] O gelo ao redor da base nao foi rompido, os navios de guerra nao foram liberados e as defesas das entradas de Petrogrado nao foram reforcadas. [ 122 ] Kozlovski queixava-se da hostilidade dos marinheiros em relacao aos oficiais, julgando o momento da insurreicao inoportuno. [ 122 ] Os rebeldes estavam convencidos de que as autoridades comunistas cederiam e negociaram as reivindicacoes exigidas. [ 123 ]

Nos poucos lugares do continente onde os rebeldes conseguiram certo apoio, os comunistas agiram com prontidao para sufocar as revoltas. [ 124 ] Na capital, foi detida uma delegacao da base naval que tentava convencer a tripulacao de um quebra-gelo de se unir a rebeliao. [ 124 ] A maioria delegados da ilha enviados para o continente foram detidos. [ 124 ] Incapazes de fazerem com que a revolta se propagasse pelo pais e rechacando as exigencias das autoridades sovieticas de acabar com a rebeliao, os rebeldes adotaram uma estrategia defensiva com o objetivo de comecar as reformas administrativas na ilha e evitar que fossem detidos ate o degelo da primavera, que aumentaria suas defesas naturais. [ 124 ]

Em 4 de marco, na assembleia que aprovou a ampliacao do CRP e a entrega de armas aos cidadaos a fim de manter a seguranca na cidade, para que os soldados e marinheiros pudessem se dedicar a defesa da ilha, ja que os informes dos delegados que haviam conseguido regressar do continente indicavam que as autoridades haviam silenciado o carater real da revolta e comecado a difundir noticias de um suposto levante branco na base naval. [ 76 ]

Ultimato do governo e preparacao das forcas militares [ editar | editar codigo-fonte ]

Em uma tumultuada reuniao do Soviete de Petrogrado na qual foram convidadas outras organizacoes, foi aprovada uma resolucao exigindo o fim da rebeliao e a devolucao do poder ao soviete local de Kronstadt, apesar da resistencia por parte dos representantes dos rebeldes. [ 125 ] Trotski, que era bastante habilidoso com negociacoes, nao pode chegar a tempo para participar da reuniao: soube da rebeliao quando estava na Siberia ocidental, partiu imediatamente para Moscou para falar com Lenin e chegou em Petrogrado no dia 5 de marco. [ 125 ] Imediatamente, foi apresentado um ultimato aos rebeldes que exigia a rendicao incondicional e imediata. [ 125 ] [ 94 ] As autoridades de Petrogrado ordenaram a prisao dos familiares dos rebeldes, estrategia antes usada por Trotski durante a guerra civil para tentar assegurar a lealdade dos oficiais czaristas empregados pelo Exercito Vermelho e que dessa vez foi aplicada nao por Trotski, mas sim pelo Comite de Defesa de Zinoviev. [ 126 ] Petrogrado exigiu a libertacao dos oficiais comunistas detidos em Kronstadt e ameacou atentar contra seus refens, mas os rebeldes responderam afirmando que os presos nao estavam sofrendo maus tratos e nao os libertaram. [ 126 ]

A pedido de alguns anarquistas que desejavam a mediacao entre as partes e evitar um conflito armado, o Soviete de Petrogrado propos o envio de uma comissao formada por comunistas a Kronstadt para estudar a situacao. [ 127 ] Revoltados com a tomada dos refens pelas autoridades, os rebeldes rejeitaram a proposta, a unica no sentido de tentar mediar o impasse diante negociacoes de alguma forma. [ 127 ] Eles exigiram o envio de delegados que nao fossem do partido comunista, eleitos por operarios, soldados e marinheiros sob a supervisao dos rebeldes, alem de alguns comunistas eleitos pelo Soviete de Petrogrado; a contraproposta foi rejeitada e pos fim a um possivel dialogo. [ 127 ]

Mikhail Tukhachevski , figura destacada do Exercito Vermelho que comandou as operacoes contra Kronstadt.

Em 7 de marco, expirou o prazo de aceitacao do ultimato de 24 horas de Trotski, que ja havia sido ampliado um dia. [ 127 ] Entre os dias 5 e 7 de marco, o governo havia preparado forcas ? cadetes, unidades da Cheka e outras consideradas as mais leais do Exercito Vermelho ? para atacar a ilha. [ 127 ] Foram chamados alguns dos mais importantes "especialistas militares" e comandantes comunistas para preparar um plano de ataque. [ 127 ] Em 5 de marco, Mikhail Tukhachevski , entao um jovem oficial de grande destaque, tomou o comando [ 52 ] do 7º Exercito e do resto das tropas do distrito militar de Petrogrado. O 7º Exercito, que havia defendido a antiga capital durante toda a guerra civil e era formado principalmente por camponeses, encontrava-se desmotivado e desmoralizado, tanto pelo desejo de acabar logo com a guerra por parte de seus soldados quanto pela simpatia destes com os protestos operarios e sua relutancia em combater aqueles que consideraram camaradas em combates anteriores. [ 128 ] Tukhachevski teve que contar com as unidades de cadetes, da Cheka e dos comunistas para encabecar o ataque a ilha rebelde. [ 128 ]

Em Kronstadt, a guarnicao de treze mil homens havia sido reforcada com o recrutamento de dois mil civis e a defesa comecou a ser reforcada. [ 128 ] A ilha contava com uma serie de fortes ? nove ao norte e seis ao sul ? bem blindado e equipados com canhoes pesados de grande alcance. [ 129 ] No total, 135 canhoes e sessenta e oito metralhadoras defendiam a ilha. [ 129 ] Os principais navios de guerra da base, Petropavlovsk e Sebastopol , eram fortemente armados, porem ainda nao haviam sido liberados por conta do gelo e nao podiam manobrar livremente. [ 129 ] Apesar disso, sua artilharia era superior a de qualquer outro navio disposto pelas autoridades sovieticas. [ 129 ] A base tambem contava com mais oito encouracados, quinze canhoneiras e vinte rebocadores [ 129 ] que poderiam ser usados nas operacoes. [ 130 ] O ataque a ilha nao era facil de ser realizado: o ponto mais proximo do continente, Oranienbaum, encontrava-se a oito quilometros ao sul. [ 130 ] Um ataque de infantaria supunha que os atacantes cruzassem grandes distancias sobre o mar congelado sem qualquer protecao e sob fogo da artilharia e das metralhadoras que defendiam as fortificacoes de Kronstadt. [ 130 ]

Os rebeldes de Kronstadt tambem tinham suas dificuldades: nao contavam com municao suficiente para se defenderem de um cerco prolongado, nem com roupas e calcados adequados para o inverno e combustivel suficiente. [ 130 ] A reserva de alimentos da ilha tambem era escassa. [ 130 ]

Inicio dos combates [ editar | editar codigo-fonte ]

As operacoes militares contra a ilha comecaram na manha de 7 de marco [ 99 ] [ 94 ] com um ataque de artilharia [ 94 ] de Sestroretsk e Lisy Nos , na costa norte da ilha; os bombardeios tinham como objetivo debilitar as defesas da ilha para facilitar um posterior ataque da infantaria. [ 130 ] Apos o ataque da artilharia, em 8 de marco comecou o ataque da infantaria em meio a uma tempestade de neve; as unidades de Tukhachevski atacaram a ilha ao norte e ao sul. [ 131 ] Os cadetes iam na vanguarda, seguidos das unidades seletas do Exercito Vermelho e das unidades de metralhadoras da Cheka, que deveriam impedir possiveis desercoes. [ 132 ]

Os rebeldes, preparados, investiram violentamente contra as forcas do governo; alguns soldados do Exercito Vermelho se afogaram nos buracos abertos no gelo pelas explosoes, outros mudaram de lado e uniram-se aos rebeldes ou negaram-se a continuar na batalha. [ 132 ] Poucos soldados do governo alcancaram a ilha, sendo logo rechacados pelos rebeldes. [ 132 ] Quando a tempestade acalmou, foram retomados os ataques de artilharia e pela tarde os avioes sovieticos comecaram a bombardear a ilha, porem nao causaram danos consideraveis. [ 132 ] O primeiro ataque fracassou. [ 133 ] [ 94 ] Apesar das declaracoes triunfalistas das autoridades, os rebeldes continuavam resistindo. [ 133 ] As forcas enviadas para combater os rebeldes ? cerca de vinte mil soldados ? haviam sofrido centenas de baixas e desercoes, que se deram tanto pela desistencia dos soldados em enfrentar os marinheiros quanto pela inseguranca em realizar um ataque sem nenhuma protecao. [ 133 ]

Ataques menores [ editar | editar codigo-fonte ]

Enquanto os bolcheviques preparavam forcas maiores e mais eficientes ? que incluiam regimentos de cadetes, membros das juventudes comunistas, forcas da Cheka e unidades especialmente leais de diversas frentes ?, realizou-se uma serie de ataques menores contra Kronstadt nos dias seguintes ao primeiro ataque fracassado. [ 134 ] Zinoviev realizou novas concessoes para a populacao de Petrogrado para manter a calma na antiga capital; [ 135 ] um relatorio de Trotski ao X Congresso do Partido fez com que cerca de trezentos delegados do congresso se apresentassem como voluntarios [ 94 ] para combater em Kronstadt em 10 de marco. [ 99 ] [ 135 ] Como um sinal de lealdade ao partido, os grupos de oposicao intrapartidarios tambem apresentaram voluntarios. A principal tarefa destes voluntarios era elevar o moral das tropas apos o fracasso de 8 de marco. [ 136 ]

Em 9 de marco, os rebeldes rechacaram outro ataque menor das tropas governamentais; em 10 de marco, alguns avioes bombardearam a fortaleza de Kronstadt e pela noite, baterias localizadas na regiao costeira comecaram a disparar contra a ilha. [ 136 ] Na manha de 11 de marco, as autoridades tentaram realizar um ataque ao sudeste da ilha, que fracassou e resultou em um grande numero de baixas entre as forcas do governo. [ 136 ] A nevoa impediu as operacoes durante o resto do dia. [ 136 ] Estes reveses nao desanimaram os oficiais comunistas, que continuaram ordenando ataques a fortaleza enquanto organizavam forcas para uma investida maior. [ 137 ] Em 12 de marco, houve novos bombardeios, que causaram poucos danos; em 13 de marco se realizou uma nova investida contra a ilha, [ 138 ] tambem fracassada. [ 137 ] Na manha de 14 de marco, outro ataque foi realizado, fracassando novamente. Esta foi a ultima tentativa de tomar a ilha de assalto utilizando pequenas forcas militares, entretanto, os ataques aereos e de artilharia nas regioes costeiras foram mantidos. [ 137 ]

Durante as ultimas operacoes militares, os bolcheviques tiveram de reprimir diversas revoltas em Peterhof e Oranienbaum, mas isso nao os impediu de concentrarem suas forcas para um ataque final; as tropas, muitas delas de origem camponesa, tambem mostravam mais empolgacao do que nos primeiros dias do ataque, por conta da noticia ? propagada pelos delegados do X Congresso do partido ? do fim dos confiscos de graos do campesinato e a sua substituicao por um imposto em especie. [ 9 ] [ 139 ] A melhora no moral das tropas governamentais coincidiu com o crescente desalento dos rebeldes. [ 139 ] Estes nao haviam conseguido estender a revolta ate Petrogrado e os marinheiros sentiam-se traidos pelos operarios da cidade. [ 140 ] A falta de apoio somou-se a uma serie de privacoes para os rebeldes, ja que as reservas de petroleo, municao, roupa e alimento esgotavam-se. [ 140 ] O estresse causado pelos combates e bombardeios e a ausencia de qualquer apoio externo foram minando o moral dos rebeldes. [ 141 ] A paulatina reducao das racoes, o fim das reservas de farinha em 15 de marco e a possibilidade de que a fome se agravasse entre a populacao da ilha fizeram com que o CRP aceitasse a oferta de alimentos e medicacoes da Cruz Vermelha. [ 141 ]

O ataque final [ editar | editar codigo-fonte ]

No mesmo dia da chegada do representante da Cruz Vermelha em Kronstadt, Tukhachevski finalizava seus preparativos para atacar a ilha com um grande contingente militar. [ 142 ] A maior parte das forcas concentrou-se ao sul da ilha, enquanto um contingente menor concentrava-se ao norte. [ 142 ] Dos cinquenta mil soldados que participaram da operacao, trinta e cinco mil atacaram a ilha ao sul; participaram da operacao os mais destacados oficiais do Exercito Vermelho, inclusive alguns antigos oficiais czaristas. [ 142 ] Muito mais preparados do que no assalto de 8 de marco, os soldados mostraram muito mais animo para tomar a ilha sublevada. [ 142 ]

Danos no Petropavlovsk causados durante a repressao a Kronstadt.

O plano de Tukhachevski consistia em um ataque em tres colunas precedido por um intenso bombardeio. [ 143 ] Um grupo deveria atacar ao norte enquanto outros dois deveriam faze-lo ao sul e ao sudeste. [ 143 ] O ataque da artilharia comecou no inicio da tarde de 16 de marco e durou o dia todo; um dos disparos atingiu o navio Sebastopol e causou cerca de cinquenta baixas. [ 143 ] No dia seguinte, outro projetil atingiu o Petropavlovsk e causou ainda mais baixas. Os danos dos bombardeios aereos foram escassos, porem serviram para desmoralizar as forcas rebeldes. [ 143 ] Pela noite, o bombardeio cessou e os rebeldes prepararam-se para uma nova investida contra as forcas de Tukhachevski, que comecou na madrugada de 17 de marco. [ 143 ]

Protegidos pela escuridao e pela neblina, soldados das forcas concentradas ao norte comecaram a avancar contra as fortificacoes numeradas do norte desde Sestroretsk e Lisy Nos. [ 143 ] As 5h da manha, os cinco batalhoes que haviam partido de Lisy Nos alcancaram os fortes 5 e 6; apesar da camuflagem [ 138 ] e do cuidado ao tentarem passar despercebidos, acabaram sendo descobertos pelos rebeldes. [ 144 ] Estes, em vao tentaram convencer os soldados do governo de que nao lutassem e seguiu-se um violento combate [ 138 ] entre os rebeldes e os cadetes. [ 144 ] Apos terem sido inicialmente rechacados e sofrido grandes baixas, o Exercito Vermelho conseguiu tomar os fortes ao retornar. [ 144 ] Com a chegada da manha, a nevoa dissipou-se deixando os soldados sovieticos desprotegidos, forcando-os a acelerar a tomada dos outros fortes. [ 144 ] Os violentos combates causaram um grande numero de baixas, e apesar da persistente resistencia dos rebeldes, as unidades de Tukhachevski haviam tomado a maior parte das fortificacoes durante a tarde. [ 144 ]

Embora as forcas de Lisy Nos tenham alcancado Kronstadt, as de Sestroretsk ? formadas por duas companhias ? tiveram dificuldades para tomar o forte de Totleben na costa norte. [ 145 ] O violento combate causou muitas baixas e somente na madrugada de 18 de marco os cadetes conseguiram por fim conquistar o forte. [ 145 ]

Enquanto isso, no sul, uma grande forca militar havia partido de Oranienbaum na madrugada de 17 de marco. [ 145 ] Tres colunas avancaram para o porto militar da ilha, enquanto uma quarta coluna se dirigiu para a entrada de Petrogrado. [ 145 ] As primeiras, escondidas pela nevoa, conseguiram tomar diversas posicoes da artilharia rebelde, porem logo foram derrotadas por outras posicoes da artilharia rebelde e pelo fogo das metralhadoras. [ 145 ] A chegada de reforcos rebeldes permitiu o rechaco do Exercito Vermelho. A brigada 79 perdeu a metade de seus homens durante o ataque, fracassado. [ 145 ] A quarta coluna, pelo contrario, obteve mais exitos: ao amanhecer, a coluna conseguiu abrir uma brecha perto da entrada de Petrogrado e adentrou Kronstadt. As grandes perdas sofridas pelas unidades deste setor aumentaram ainda mais nas ruas de Kronstadt, onde a resistencia foi feroz; entretanto, um dos destacamentos conseguiu libertar os comunistas presos pelos rebeldes. [ 145 ]

A batalha continuou durante o dia todo e os civis, inclusive as mulheres, contribuiram para a defesa da ilha. [ 145 ] No meio da tarde, um contra-ataque dos rebeldes estava a ponto de rechacar as tropas governamentais, porem a chegada do 27º Regimento de Cavalaria e um grupo de voluntarios comunistas os derrotaram. [ 146 ] Ao anoitecer, a artilharia trazida de Oranienbaum comecou a atacar as posicoes que ainda eram controladas pelos rebeldes, causando grandes danos; pouco depois as forcas vindas de Lisy Nos entraram na cidade, capturaram o quartel general de Kronstadt e tomaram um grande numero de prisioneiros. [ 146 ] Ate a meia-noite, os combates foram perdendo a intensidade e as tropas governamentais foram tomando os ultimos fortes rebeldes. [ 146 ] Nessa mesma noite, e como havia previsto o Comite de Defesa de Petrogrado, os membros do CRP que ainda se encontravam em liberdade e os oficiais czaristas abandonaram a ilha e fugiram para a Finlandia [ 138 ] junto com outros oitocentos rebeldes. Ao longo do dia seguinte, cerca de oito mil pessoas da ilha buscaram refugio na Finlandia. [ 147 ] [ 148 ]

Os marinheiros sabotaram parte das fortificacoes antes de abandona-las, porem as tripulacoes dos encouracados negaram-se a leva-los para fora da ilha e estavam dispostas a renderem-se aos sovieticos. [ 147 ] Nas primeiras horas de 18 de marco, um grupo de cadetes tomou o controle dos barcos. [ 147 ] Ao meio-dia, havia apenas pequenos focos de resistencia e as autoridades ja tinham o controle dos fortes, dos barcos da frota e de quase toda a cidade. [ 147 ] Os ultimos focos de resistencia cairam ao longo da tarde. [ 147 ]

Nao se sabe ao certo o numero exato de vitimas dos combates, ainda que se pense que o Exercito Vermelho tenha sofrido muito mais baixas do que os rebeldes. [ 149 ] Segundo as estimativas do consul estadunidense em Viborg , que sao consideradas as mais confiaveis, as forcas governamentais teriam sofrido cerca de dez mil baixas entre mortos, feridos e desaparecidos. [ 149 ] Tambem nao ha cifras exatas das baixas dos rebeldes, mas calcula-se que tenham havido cerca de seiscentos mortos, mil feridos e dois mil e quinhentos prisioneiros. [ 149 ]

Repressao [ editar | editar codigo-fonte ]

Stepan Petrichenko e outros rebeldes de Kronstadt exilados na Finlandia.

A fortaleza de Kronstadt caiu em 18 de marco e as vitimas da posterior repressao nao tiveram direito a nenhum julgamento. [ 99 ] [ 150 ] Durante os ultimos momentos do combate, muitos rebeldes foram assassinados pelas forcas governamentais em um ato de vinganca pelas grandes perdas ocorridas durante o ataque. [ 149 ] Treze prisioneiros foram acusados de serem os articuladores da rebeliao e acabaram julgados por um tribunal militar em um julgamento secreto, ainda que nenhum deles tenha de fato pertencido ao CRP, foram todos sentenciados a morte em 20 de marco. [ 150 ]

Centenas de prisioneiros foram executados ou enviados para as prisoes da Cheka. [ 150 ] Durante os meses seguintes, um grande numero de rebeldes foi fuzilado, enquanto outros foram condenados a trabalhos forcados nos campos de concentracao da Siberia , onde muitos vieram a falecer de fome ou doentes. O mesmo destino tiveram os familiares de alguns rebeldes, como a familia do general Kozlovski. [ 150 ]

Os oito mil rebeldes ? em sua maioria soldados e marinheiros ? que haviam fugido para a Finlandia foram confinados em campos de refugiados, onde levaram uma vida dura; parte deles mais tarde regressaram a entao Uniao Sovietica com a promessa de anistia, porem foram enviados aos campos de concentracao. [ 151 ]

Consequencias [ editar | editar codigo-fonte ]

Ainda que a insurreicao tenha fracassado, ela havia deixado evidente para os bolcheviques que era impossivel a manutencao do " comunismo de guerra ", acelerando a implantacao da Nova Politica Economica (NEP), [ 152 ] [ 19 ] que apesar de recuperar alguns tracos do capitalismo, segundo Lenin, seria um "recuo tatico" para assegurar o poder sovietico. [ 95 ] Ainda que Moscou tenha inicialmente rejeitado as reivindicacoes dos rebeldes, terminou por aplica-las parcialmente. [ 95 ] O anuncio da implantacao da NEP minou a possibilidade de um triunfo da rebeliao, ja que aliviou o descontentamento popular que alimentava os movimentos grevistas nas cidades e as revoltas no campo. [ 152 ] Ainda que as diretrizes comunistas tenham hesitado desde o final de 1920 em abandonar o "comunismo de guerra", [ 152 ] a revolta, nas palavras do proprio Lenin, "havia mostrado a realidade melhor do que qualquer outra coisa". [ 153 ] O X Congresso do partido, ocorrido no mesmo momento em que se deu a revolta em Kronstadt, lancou as bases para o desmantelamento do "comunismo de guerra" e a implantacao de uma economia mista que satisfizesse minimamente os desejos dos operarios e camponeses, o que, segundo Lenin, era essencial para que os comunistas pudessem manter-se no poder. [ 154 ]

Embora as exigencias economicas de Kronstadt tenham sido adotadas parcialmente com a implantacao da NEP, o mesmo nao se deu com as reivindicacoes politicas dos rebeldes. [ 155 ] O governo tornou-se ainda mais autoritario, eliminando a oposicao interna e externa ao partido e nao cedeu mais nenhum direito civil a populacao. [ 155 ] O governo reprimiu fortemente os outros partidos de esquerda, mencheviques, socialistas revolucionarios e anarquistas; [ 155 ] Lenin afirmou que o destino dos socialistas que se opusessem ao partido seria o carcere ou o exilio. [ 155 ] Ainda que para alguns opositores fosse permitido o exilio, a maioria deles acabou nas prisoes da Cheka ou condenados a trabalhos forcados nos campos de concentracao da Siberia e da Asia central. [ 155 ] Ao final de 1921, a ditadura bolchevique havia finalmente se consolidado. [ 156 ]

De sua parte, o Partido Comunista agiu no X Congresso reforcando a disciplina interna, proibindo a atividade da oposicao intrapartidaria e aumentando o poder das organizacoes encarregadas de manter a disciplina dos filiados, [ 156 ] acoes que mais tarde facilitariam a ascensao de Stalin ao poder e a eliminacao de praticamente toda a oposicao politica. [ 96 ]

As potencias ocidentais nao se mostraram dispostas a abandonar as negociacoes com o governo bolchevique para apoiar a rebeliao. [ 157 ] Em 16 de marco, firmou-se em Londres o primeiro acordo comercial entre o Reino Unido e o governo de Lenin; no mesmo dia foi assinado um acordo de amizade com a Turquia em Moscou. [ 157 ] A revolta tampouco desbaratou as negociacoes de paz entre os sovieticos e poloneses e o Tratado de Riga foi firmado em 18 de marco. [ 157 ] A Finlandia, por sua parte, negou-se a auxiliar os rebeldes, confinados em campos de refugiados, e nao permitiu que se lhes prestasse ajuda em seu territorio. [ 157 ]

Analise [ editar | editar codigo-fonte ]

Na sua analise da rebeliao, o historiador Paul Avrich escreveu que os rebeldes tinham poucas hipoteses de exito, mesmo que o gelo tivesse derretido a seu favor e a ajuda tivesse chegado. Kronstadt estava despreparada, intempestiva e em desvantagem em relacao a um governo que acabara de vencer uma guerra civil de maior magnitude. Petrichenko, presidente do Comite Revolucionario de Kronstadt, partilhava esta critica retrospectiva. A ajuda do general Wrangel , do Exercito Branco , teria levado meses a ser mobilizada. Avrich resumiu todo o contexto na introducao do seu livro Kronstadt, 1921:

Em 1921, a Russia Sovietica nao era o Leviata das ultimas decadas. Era um Estado jovem e inseguro, confrontado com uma populacao rebelde a nivel interno e com inimigos implacaveis no exterior que ansiavam por ver os bolcheviques expulsos do poder. Mais importante ainda, Kronstadt estava em territorio russo; o que confrontava os bolcheviques era um motim na sua propria marinha, no seu posto mais estrategico, que guardava os acessos ocidentais a Petrogrado. Temiam que Kronstadt pudesse incendiar o continente russo ou tornar-se o trampolim para outra invasao antissovietica. Havia cada vez mais provas de que os emigrantes russos estavam a tentar ajudar a insurreicao e a transforma-la em seu proprio beneficio. Nao que as atividades dos brancos possam desculpar as atrocidades cometidas pelos bolcheviques contra os marinheiros. Mas tornam mais compreensivel o sentido de urgencia do governo em esmagar a revolta. Dentro de algumas semanas, o gelo do golfo finlandes derreteria e poderiam ser enviados mantimentos e reforcos do Ocidente, transformando a fortaleza numa base para uma nova intervencao. Para alem da propaganda envolvida, Lenine e Trotsky parecem ter ficado genuinamente ansiosos com esta possibilidade. [ 158 ]

Ver tambem [ editar | editar codigo-fonte ]

Referencias

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Bibliografia [ editar | editar codigo-fonte ]