Programa de Estimulo a Reestruturacao e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional

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O Proer , ou Programa de Estimulo a Reestruturacao e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional , foi um programa economico brasileiro elaborado pelo governo Fernando Henrique Cardoso e implementado em novembro de 1995.

Ele permitiu ao Banco Central a utilizacao de recursos publicos (como depositos compulsorios ) para organizar e garantir a aquisicao ou fusao de bancos e outras instituicoes financeiras em dificuldades. [ 1 ]

O programa foi voltado para o setor privado. Os bancos publicos foram objeto do Proes ( Programa de Incentivos a Reducao do Setor Publico Estadual na Atividade Bancaria ).

Contexto economico [ editar | editar codigo-fonte ]

Gustavo Loyola , que foi presidente do Banco Central (1995-97) e criador do Proer

Com a estabilizacao da moeda , com o Plano Real , muitas instituicoes que dependiam de ganhos inflacionarios tiveram dificuldades em manter suas operacoes.

A hiperinflacao fizera com que os bancos se esticassem ao maximo (abrindo novas agencias) para acumular depositos e investir em titulos da divida publica , [ 2 ] captando o float (lucro inflacionario).

A epoca o Brasil tinha 265 bancos com mais de 16 mil agencias. [ 3 ]

O fim do float [ editar | editar codigo-fonte ]

A lucratividade do float (lucro inflacionario) chegou a representar 4.2 por cento do PIB nacional em 1993; no ano seguinte caiu para dois por cento e em 1995 quase zero. [ 2 ]

Relativo a totalidade dos lucros bancarios, o float correspondia a 35 por cento do total em 1993. Caiu para 20 por cento em 1994 e por fim quase zero em 1995. [ 2 ]

Os bancos foram forcados a encolher, fechar agencias, e redirecionar suas atividades. [ 2 ]

Lucros inflacionarios ( float ) [ 2 ]
Ano % do

Produto

Interno Bruto

% do

Lucro dos

Bancos

1990 4,0 35,7
1991 3,9 41,3
1992 4,0 41,9
1993 4,2 35,3
1994 2,0 20,4
1995 0,0 0,6

As fraudes e a crise mexicana [ editar | editar codigo-fonte ]

A hiperinflacao tambem facilitava fraudes contabeis. Instituicoes bancarias e financeiras podiam realizar desvios monetarios, que eram "acobertados" pela inflacao, impedindo que auditorias descobrissem facilmente tais acontecimentos.

No segundo trimestre de 1995 houve uma desaceleracao economica causada em parte pela crise mexicana . [ 2 ] Isso colocou mais pressao nos bancos.

Entre primeiro de julho de 1994 (dia da implementacao do plano Real ) e 3 de novembro de 1995 (data da medida provisoria que criou o Proer) houve vinte e duas intervencoes pelo Banco Central entre as quais a maior foi do Banco Economico . [ 3 ]

Implementacao do programa [ editar | editar codigo-fonte ]

O programa teve inicio em 3 de novembro de 1995 com a medida provisoria 1179 e a resolucao 2208 do Conselho Monetario Nacional .

Duas semanas depois, em 17 de novembro de 1995, foi publicada a medida provisoria 1182 que dava ao Banco Central a obrigacao e o poder de escolher os bancos que teriam solidez. [ 3 ] A medida provisoria 1182 tambem fez responsavel, pessoalmente, os controladores de instituicoes em regime de intervencao. [ 3 ]

O Banco Central emitiu circulares sobre a reestruturacao da carteira de ativos e passivos: 2636/95, 2672/96, 2681/96, 2713/96. Tambem emitiu circulares sobre fusoes, transferencia de controle, e modificacao de objeto social: 2636/95 e 2681/96. E tambem circulares sobre os creditos junto ao Fundo Garantidor de Credito : 2369/97 e 2748/97.

Modelo de aquisicao good bank e bad bank [ editar | editar codigo-fonte ]

O modelo do Proer consistia em identificar os ativos dos bancos sob intervencao e dividi-los em um pedaco bom ( good bank ) e um pedaco podre ( bad bank ). O comprador da instituicao financeira sob intervencao tinha o direito de escolher os pedacos bons ( good bank ) mas se obrigava a absorver todos os depositos bancarios. [ 2 ] O Proer se obrigava a fechar a diferenca entre os depositos bancarios e os pedacos bons ( good bank ). Assim se criava uma nova instituicao financeira. [ 2 ] O pedacos podres ( bad bank ) ficavam com o Proer.

Intervencoes [ editar | editar codigo-fonte ]

Sete instituicoes foram objeto de fusao ou aquisicao com coordenacao e garantias do Proer:

Nome do banco Tipo Data da intervencao Comprador do good bank
Banco Economico Intervencao 11 de agosto de 1995 Banco Excel
Banco Mercantil Intervencao 11 de agosto de 1995 n/a
Banco Nacional RAET 18 de novembro de 1995 Unibanco
Banorte Intervencao 24 de maio de 1996 Banco Bandeirantes
Bamerindus Intervencao 26 de marco de 1997 HSBC
Pontual Intervencao 30 de outubro de 1998 Banco de Credito Nacional
Crefisul Liquidacao extrajudicial 23 de marco de 1999 n/a

Estimativa do custo do programa [ editar | editar codigo-fonte ]

No periodo de 1995 a aproximadamente 2000, foram destinados em titulos de longo prazo mais de R$ 30 bilhoes a bancos brasileiros, aproximadamente 2,5% do produto interno bruto . A precos de 2005, equivaleria a aproximadamente R$ 44,23 bilhoes.

Disse Jose Baia Sobrinho, presidente do Banco Pontual:

No Brasil, entre 1995 e 1997, o preco do ajuste alcancou 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), isso ja incluindo o caso recente do Bamerindus . E um valor bem abaixo do que se registrou em vizinhos nossos sul-americanos ou mesmo em paises desenvolvidos. No Chile, por exemplo, o custo foi de 19,6% do PIB em 1985. Na Argentina, em 1982, de 13%. Para sairmos da America Latina, basta ver os numeros em paises como a Noruega ou os Estados Unidos. No primeiro, entre 1988 e 1992, gastou-se 4,5% da riqueza nacional. Nos EUA, o buraco, em 1991, chegou a 5,3% do PIB. Essas nacoes nao dispunham de instrumentos similares ao Proer, que e uma invencao nossa, muito bem elaborada, barata e que vem dando certo. [ 4 ]

Controversias [ editar | editar codigo-fonte ]

O Proer foi polemico desde o inicio porque a otica do uso de dinheiro publico para socorrer bancos nao era boa.

Seus apoiadores defendiam o programa como "preventivo" e de baixo custo (frente o beneficio). Seus detratores acusavam o programa e o governo de favoritismo e ma gestao de recursos publicos.

CPI do Proer em 2001 [ editar | editar codigo-fonte ]

Em 27 de marco de 1996 foi requerida uma comissao parlamentar de inquerito pelos deputados Milton Temer ( PT - RJ ), Ivan Valente e Jose Pimentel para averiguar as "multiplas irregularidades amplamente divulgadas sobre aspectos complexos e obscuros no processo de intervencao do Banco Central do Brasil no Banco Economico ". [ 5 ]

Em 3 de setembro de 2001 o presidente da Camara Aecio Neves aprovou a criacao da comissao. [ 5 ]

Foram realizadas 23 audiencias publicas para tomar depoimentos. Ofereceram depoimentos: Gustavo Loyola (ex presidente do Banco Central ), Gustavo Franco (ex presidente do Banco Central ), Mauricio Schulman (ex presidente da Febraban ), Angelo Calmon de Sa (ex controlador do Banco Economico ), Jose Roberto Mendonca de Barros (economista), Pedro Malan (ministro da Fazenda), Pedro Moreira Salles (do Unibanco ), Ezequiel Nasser (do banco Excel ), Arminio Fraga Neto (presidente do Banco Central ), Jose Eduardo de Andrade Vieira (ex controlador do Bamerindus ) e outros. [ 5 ]

O relatorio final, de abril de 2002, de autoria do deputado Alberto Goldman , foi aprovado pela comissao. Concluiu que o Proer "foi uma necessaria intervencao do poder publico para evitar um mal maior". [ 6 ]

Comentario de Lula em 2008 [ editar | editar codigo-fonte ]

Em evento a empresarios em Recife em marco de 2008, o presidente Lula teceu comentarios sobre a crise imobiliaria americana que se tornaria a crise economica mundial de 2008 . Disse que telefonou para o presidente Bush e falou: "Bush, meu filho, resolva a sua crise. Passamos vinte seis anos sem crescer e agora voce quer com a crise nos atrapalhar." Adicionou:

O Brasil tem know-how para salvar banco. E so criar um Proer. Se ele [Bush] quiser, pode vir ao Brasil que tem gente aqui que pode ensinar. Eu nao vou ensinar. Se eles precisarem, nos podemos mandar essa tecnologia para eles. [ 7 ] [ 8 ] [ 9 ] [ 10 ] [ 11 ]

Esse comentario foi interpretado por alguns como um elogio ao programa, dentre eles o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola . [ 12 ]

Referencias

  1. Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentacao Historia Contemporanea do. ≪BANCO CENTRAL≫ . CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentacao de Historia Contemporanea do Brasil . Consultado em 8 de novembro de 2020  
  2. a b c d e f g h Maia, Geraldo (1999). ≪Restructuring the banking system: the case of Brazil≫ (PDF) . BIS. BIS Policy Papers  
  3. a b c d ≪Proer≫ . www.bcb.gov.br . Consultado em 8 de novembro de 2020  
  4. Bacellar, Lara Nascimento (2008). De Banco Multiplo a Holding Financeiras: A Trajetoria do Itau . [S.l.: s.n.] 21 paginas  
  5. a b c ≪Comissao Parlamentar de Inquerito Destinada a Investigar as Relacoes do Banco Central do Brasil com o Sistema Financeiro Privato: SINTESE DAS ATIVIDADS≫ (PDF) . Abril de 2002  
  6. ≪CPI conclui que Proer evitou crise bancaria - Politica≫ . Estadao . Consultado em 8 de novembro de 2020  
  7. ≪G1 > Economia e Negocios - NOTICIAS - Lula diz ter falado a Bush: 'Resolve a tua crise ' . g1.globo.com . Consultado em 8 de novembro de 2020  
  8. ≪Loyola: elogio de Lula ao Proer e evolucao natural≫ . www2.senado.leg.br . Consultado em 8 de novembro de 2020  
  9. ≪Folha de S.Paulo - Lula diz que pediu para Bush nao "atrapalhar" crescimento do pais - 28/03/2008≫ . www1.folha.uol.com.br . Consultado em 8 de novembro de 2020  
  10. ≪Lula brinca e pede para Bush 'resolver sua crise' - Economia≫ . Estadao . Consultado em 8 de novembro de 2020  
  11. " Bush, meu filho, resolve tua crise", diz Lula - 27/03/2008 - Ultimas Noticias≫ . noticias.uol.com.br . Consultado em 8 de novembro de 2020  
  12. ≪Loyola: elogio de Lula ao Proer e 'evolucao natural ' . O Globo . 28 de marco de 2008 . Consultado em 8 de novembro de 2020