A
prisao apos condenacao criminal em segunda instancia
refere-se a possibilidade, no
ordenamento juridico
brasileiro
, de o reu condenado a
pena
privativa de liberdade ser sentenciado a iniciar o cumprimento de sua pena apos decisao judicial de
segunda instancia
, ainda que pendentes recursos as instancias superiores, o
Superior Tribunal de Justica
e o
Supremo Tribunal Federal
.
O ultimo entendimento de permitir a prisao foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em fevereiro de 2016, por sete votos a quatro,
[
1
]
e confirmado em uma nova decisao da corte, em outubro de 2016, por seis votos a cinco.
[
2
]
Os reus condenados nessa situacao tem direito a recorrer aos tribunais superiores, mas nao em liberdade.
[
3
]
Em 7 de novembro de 2019, contudo, o Supremo Tribunal Federal decidiu, por maioria de 6 x 5, que cumprimento da pena deve comecar apos esgotamento de recursos, apesar de nao ter afastado a possibilidade de prisao antes do transito em julgado, desde que sejam preenchidos os requisitos do Codigo de Processo Penal para a prisao preventiva.
[
4
]
No Brasil, historicamente o tema sofreu diversas modificacoes. A partir da decada de 1941, a legislacao do
Estado Novo
partia de um juizo de antecipacao de culpabilidade e previa a prisao mesmo sem a existencia de uma condenacao formal.
[
5
]
Isso mudou nos anos 1970, com o pedido de prisao do delegado
Sergio Fleury
, que levou a
ditadura militar brasileira
a promulgar, em regime de urgencia, a chamada
Lei Fleury
, que permitia ao reu primario aguardar o julgamento em liberdade.
[
5
]
Por ter sido usada para evitar a punicao de pessoas influentes do regime ditatorial, essa lei gerou criticas e foi revogada; assim, a prisao preventiva voltou a ser aplicada mais frequentemente, mas nao em todos os casos.
[
5
]
Sob a
Constituicao Federal de 1988
, o principio da presuncao da inocencia foi legitimado, mas a prisao preventiva continuou a nao contar com um entendimento uniforme: a prisao em segunda instancia era possivel, mas os casos eram decididos um a um, de acordo com suas particularidades.
[
5
]
[
6
]
Em 2009, no julgamento do
habeas corpus
nº 84.078, o STF decidiu pela inconstitucionalidade desse instituto. Em 2011, a Lei nº 12.403 alterou o art. 283 do
Codigo de Processo Penal
, adequando-o ao entendimento da corte, de modo a permitir a prisao para fins de cumprimento da pena somente apos o transito em julgado da condenacao.
[
7
]
Esse entendimento perdurou ate 2016.
[
8
]
[
9
]
[
6
]
[
5
]
[
1
]
A constitucionalidade e eficacia desse artigo sao objeto das
acoes declaratorias de constitucionalidade
(ADCs) 43 e 44, apresentadas pelo
Partido Ecologico Nacional
(PEN) e pelo
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), respectivamente, visando a alterar o atual entendimento do STF.
[
2
]
[
10
]
Nos
Estados Unidos
,
Canada
,
Argentina
e em varios paises da
Europa
, como
Franca
,
Inglaterra
e
Espanha
, prisao em segunda instancia e permitida.
[
11
]
[
12
]
[
13
]
[
14
]
[
15
]
Na
Alemanha
, a
Constituicao
preve que a pena so deve ser cumprida apos esgotadas as possibilidades de recurso, mas e comum que o processo transite em julgado apos julgamento em apenas dois graus, pois crimes considerados graves, como
homicidio
, ja comecam a ser julgados nos orgaos que normalmente atuam como segunda instancia e sao cabiveis apenas recursos para a corte superior.
[
12
]
Em
Portugal
, a execucao da pena so se inicia depois de a condenacao se ter tornado definitiva. Contudo, apenas recursos de crimes com pena superior a oito anos chegam ao Tribunal Constitucional, a ultima instancia.
[
12
]
Em 29 de junho de 2015, a
Associacao dos Juizes Federais do Brasil
apresentou ao
Senado
um anteprojeto de lei que determinaria que condenados em segunda instancia ou pelo
tribunal do juri
a penas privativas de liberdade por determinados crimes passassem a cumpri-las de imediato, mesmo que recorressem da condenacao, argumentando que a medida aumentaria a efetividade da lei penal e desestimularia a interposicao de recursos protelatorios.
[
16
]
O entao
juiz federal
Sergio Moro
defendeu publicamente a proposta.
[
17
]
Os juizes federais Jose Jacomo Gimenes e Marcos Cesar Romeira Moraes publicaram artigo defendendo a prisao apos a condenacao em primeiro grau, mas ressaltando que seria necessaria a aprovacao de lei para tanto.
[
18
]
O projeto de lei da AJUFE foi criticado pela
Associacao Juizes para a Democracia
, pelo
juiz de direito
Marcelo Semer, pelo
defensor publico
Gustavo Virginelli e pelos professores Elmir Duclerc Ramalho Junior, Mauricio Stegemann Dieter e Thiago Bottino do Amaral, especialmente sob o argumento de que violaria a presuncao de inocencia. O
conselheiro federal da OAB
Pedro Paulo Guerra defendeu que a alegada ampla profusao de recursos e exagerada, ja que menos de dez por cento das acoes em curso nos tribunais superiores sao recursos.
[
19
]
Em artigo de 2015, o ministro
Gilmar Mendes
previu, em artigo, que o STF enfrentaria o tema em breve. Declarou que nao havia “
como prever se o Supremo Tribunal acolhera a proposta de nova analise do tema
”. E ainda que, “
se vier a julgar novamente a questao, a Corte tera que enfrentar, com a devida consideracao e respeito, seu proprio precedente, solidificado a partir da posicao firme do Ministro Marco Aurelio
”.
[
20
]
O paciente
[
nota 1
]
do
habeas corpus
, Marcio Rodrigues Dantas, foi acusado de participar de um
roubo
de dois mil e seiscentos reais em dinheiro, ocorrido em 16 de setembro de 2010 na cidade de
Itapecerica da Serra
. Segundo a denuncia, Dantas seria o condutor da motocicleta
Twister
usada no crime e teria um veiculo da mesma cor e do mesmo modelo. Uma testemunha disse que Dantas era "com certeza" o criminoso na investigacao, mas mudou sua versao no julgamento, e a outra nao o reconheceu. O dinheiro nao foi encontrado em sua casa. Dantas foi condenado a cinco anos e quatro meses de prisao.
[
21
]
Moveu recurso de
apelacao
, mas a condenacao foi mantida e o
Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo
determinou sua prisao.
Maria Claudia de Seixas, advogada de Dantas, inicialmente impetrou o
habeas corpus
nº 313.021 no
Superior Tribunal de Justica
, argumentando que o
acordao
do TJ-SP determinou a prisao do reu sem motivacao acerca da necessidade de
prisao preventiva
. Segundo a impetrante, a prisao fora determinada um ano e meio apos a sentenca condenatoria e mais de tres anos apos o paciente ter sido posto em liberdade, sem que ocorresse fato novo ou transito em julgado da condenacao. Em decisao disponibilizada em 22 de dezembro de 2014, o ministro
Francisco Falcao
indeferiu a liminar pleiteada.
[
22
]
Tendo em vista a decisao do STJ, a impetrante propos o
habeas corpus
nº 126.292 no
Supremo Tribunal Federal
em 15 de janeiro de 2015. No dia 5 de fevereiro de 2015, o ministro relator do caso,
Teori Zavascki
, deferiu
liminarmente
o pedido e determinou que Dantas fosse posto em liberdade. No dia 9 do mesmo mes, a
Procuradoria-Geral da Republica
opinou favoravelmente a concessao da ordem, entendendo que no acordao houve
reformatio in pejus
[
23
]
(isso e, o agravamento da situacao do recorrente, vedado pelo art. 617 do
Codigo de Processo Penal
), pois o Juizo de primeira instancia permitira o recurso em liberdade. Em 15 de dezembro, a Segunda Turma do STF, responsavel pelo julgamento, afetou-o ao plenario.
Em 17 de fevereiro de 2016, o plenario do Supremo Tribunal Federal julgou o
habeas corpus
nº 126.292. O relator Teori Zavascki, que havia concedido a liminar para a soltura do paciente, votou pela denegacao da ordem, argumentando que o cumprimento da pena apos a condenacao em segundo grau e uma forma de “harmonizar” o principio da presuncao de inocencia com a efetividade da justica. “
Nao se mostra arbitraria, mas inteiramente justificavel, a possibilidade de o julgador determinar o imediato inicio do cumprimento da pena, inclusive com restricao da liberdade do condenado, apos firmada a responsabilidade criminal pelas instancias ordinarias
”, declarou no voto.
[
1
]
Tambem votaram pela mudanca de entendimento e pela denegacao da ordem os ministros
Edson Fachin
,
Luis Roberto Barroso
,
Luiz Fux
,
Dias Toffoli
,
Carmen Lucia
e
Gilmar Mendes
. Foram vencidos os ministros
Rosa Weber
,
Marco Aurelio Mello
,
Celso de Mello
e
Ricardo Lewandowski
. O julgamento pelo plenario do STF gera forte precedente, mas, por se tratar de
habeas corpus
, tem eficacia vinculante apenas entre as partes, nao
erga omnes
.
[
24
]
Em maio de 2016, o
Partido Ecologico Nacional
(atualmente denominado Patriota) e o
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
propuseram as
acoes declaratorias de constitucionalidade
nº 43 e 44, respectivamente. O objetivo das duas acoes e defender a constitucionalidade e a aplicacao do art. 283 do
Codigo de Processo Penal
, que determina que "
ninguem podera ser preso senao em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciaria competente, em decorrencia de sentenca condenatoria transitada em julgado ou, no curso da investigacao ou do processo, em virtude de prisao temporaria ou prisao preventiva
", isso e, que a prisao para cumprimento de pena so e permitida apos o transito em julgado da condenacao. O partido argumentou que “
dada a incompatibilidade da decisao tomada em tal julgamento com o disposto expressamente no art. 283 do CPP ? o qual determina a necessidade de transito em julgado da condenacao para que ocorra o inicio do cumprimento da pena de prisao ?, fica demonstrada a relevancia da controversia judicial suscitada na presente acao declaratoria
”.
[
25
]
Tambem foi alegada violacao ao
principio da presuncao da inocencia
. A acao proposta pela OAB foi apensada a anterior para julgamento conjunto.
[
26
]
Em medida cautelar julgada em 5 de outubro de 2016, o Supremo decidiu por seis votos a cinco por manter o entendimento pela prisao em segunda instancia, mesmo reconhecendo a constitucionalidade do dispositivo de lei mencionado.
[
27
]
No voto condutor da maioria, o ministro Edson Fachin admitiu interpretar o dispositivo do Codigo de Processo Penal a luz do
Codigo de Processo Civil
, que nao estava em vigor a epoca do julgamento do HC 126.292.
[
28
]
Mudou de opiniao somente o ministro Dias Toffoli, que decidiu pela opcao intermediaria de cumprimento da pena apos julgamento pelo STJ.
[
27
]
O acordao foi publicado somente em 8 de marco de 2018.
[
29
]
A partir de entao, por conta da natureza de ADC, o precedente tornou-se vinculante e a nao execucao de pena apos a condenacao em segunda instancia passou a exigir justificativa.
[
30
]
Em 23 de maio de 2016, o jornal
Folha de S.Paulo
divulgou trechos de conversas de
Sergio Machado
com o senador
Romero Juca
(PMDB-RR). O primeiro dialogo comeca quando Sergio Machado lamenta o risco de as delacoes se tornarem mais frequentes a partir da decisao do STF de admitir prisao apos condenacao em segunda instancia. Para ele, essa mudanca de entendimento do Supremo provocaria um efeito em cascata e o aumento das
delacoes
.
[
31
]
O juiz federal
Sergio Moro
, responsavel pelas acoes da
Operacao Lava Jato
na Justica Federal em Curitiba, saiu em defesa do cumprimento da pena antes do final do processo. Em visita ao
Senado Federal
para defender a tese, Moro chegou a criticar o que chamou de "sistema de recursos sem fim".
[
1
]
A
Associacao dos Juizes Federais do Brasil
tambem defendeu o projeto. “Era frustrante nos sentenciarmos, condenarmos e a nossa sentenca nao ser efetivada. Havia uma sensacao de impotencia diante da criminalidade, principalmente da criminalidade organizada no Brasil”, disse Roberto Veloso, presidente da Associacao de Juizes Federais do Brasil.
[
32
]
O procurador da
Lava Jato
Carlos Fernando dos Santos Lima
considerou a decisao uma das mais importantes dos ultimos anos.
[
32
]
Em janeiro de 2018, o assunto voltou a ser debatido pela imprensa e no meio juridico em razao da condenacao em segunda instancia do ex-presidente
Luiz Inacio Lula da Silva
. A presidente do
Supremo Tribunal Federal
(STF),
Carmen Lucia
, afirmou que utilizar o caso do ex-presidente Lula para revisar a decisao sobre prisao apos segunda instancia seria "apequenar" o tribunal.
[
33
]
[
34
]
Em marco do mesmo ano, a
procuradora-geral da Republica
Raquel Dodge
se posicionou a favor e afirmou que uma decisao do STF mantendo a prisao provisoria de condenados pela segunda instancia sera importante para o futuro das investigacoes no Brasil envolvendo
crime organizado
e de
corrupcao
.
[
35
]
No dia 2 de abril, um grupo de advogados entregou ao STF um abaixo assinado com tres mil e seiscentas assinaturas contra a prisao em segunda instancia.
[
36
]
No mesmo dia, procuradores e juizes de todo o pais entregaram um abaixo assinado a favor da prisao em segunda instancia com mais de cinco mil assinaturas.
[
37
]
A historia mostra como foi o posicionamento sobre a prisao em segunda instancia ao longo dos anos.
O Brasil teve diversas leis penais. Com a
Constituicao do Imperio
(1824), veio o Codigo Criminal do
Imperio
(1830). Quando a
Republica
e proclamada pelo Decreto nº 1, em 15 de novembro de 1889
[
38
]
, os novos donos do poder providenciam a
Constituicao da Republica em 1891
e um novo
Codigo Criminal em 1890
.
[
8
]
Prendia-se inclusive antes de uma condenacao em primeira instancia.
Em 1941, foi promulgado no Brasil o
Codigo de Processo Penal
(CPP) e, a partir dele, foram regulados temas como inquerito policial, prova e interrogatorio, alem de ficar estabelecido que o juiz pode aplicar, provisoriamente, medidas de seguranca ainda no curso do inquerito. O CPP teve como base um contexto historico autoritario, com o
Estado Novo
, e ao inves de partir da
presuncao de inocencia
do acusado, considerava-se um juizo de antecipacao de
culpabilidade
. Com isso, uma simples denuncia ja poderia levar alguem ao encarceramento. Na epoca, para recorrer da decisao de prisao, o condenado necessariamente teria que estar preso.
[
5
]
O codigo entrou em vigor em janeiro de 1942.
[
39
]
Em 1973, quando o delegado
Sergio Fleury
teve a prisao preventiva decretada, apos liderar o chamado "
Esquadrao da Morte
", em Sao Paulo, e atuar como delegado do
DOPS
durante a
ditadura militar
, alterou-se a lei processual penal, em regime de urgencia, e deu origem a lei 5.941/73
[
40
]
, conhecida como
Lei Fleury
, abrindo a possibilidade do reu primario, e de bons antecedentes, aguardar o julgamento em liberdade. A prisao preventiva somente deveria ser determinada em caso de necessidade ? uma das bases do principio da presuncao da inocencia.
[
5
]
Mas nada mudava quanto a prisao em primeira ou segunda instancia.
Em 1977, a Lei Fleury foi revogada apos ser duramente criticada, sob o argumento de que ela permitia a impunidade de pessoas influentes. E foi substituida pela lei 6.416/77
[
41
]
, que alterou o sistema de prisao provisoria, ainda mais com o art. 310 do CPP, com sua antiga redacao, que tratava da fianca, que passou a ser aplicada apenas em casos excepcionais. A prisao em primeira ou segunda instancia nao se alterara.
O principio da presuncao da inocencia foi legitimado anos mais tarde com a
Constituicao Federal de 1988
.
[
42
]
Mas as alteracoes legislativas, ao longo dos anos, nao deram uniformidade ao entendimento do tema. De um lado, estava o
CPP
que discorria sobre a antecipacao de culpabilidade; do outro lado, uma Constituicao recem formulada na qual consta explicitamente a nao culpabilidade ate o transito em julgado da sentenca. Ficou a questao: uma pessoa pode ser presa antes que todos os recursos sejam exauridos sem que isso afete a presuncao da inocencia? A sumula 9 do
Superior Tribunal de Justica
(STJ)
[
43
]
, que vigorava na epoca, respondia que sim. A exigencia da prisao provisoria, para apelar, nao ofendia a garantia constitucional da presuncao de inocencia
[
5
]
? continuava, portanto, sendo permitida a prisao em segunda instancia.
Em 2008, com a Reforma do
Codigo de Processo Penal Brasileiro
[
44
]
, os procedimentos criminais foram significativamente modificados em diversos pontos, quando reduziram de cinco para tres as hipoteses de prisao antes do julgamento: se hoje contamos com a prisao em flagrante, a prisao temporaria e a prisao preventiva, antes dessa alteracao legal ainda se acresciam a essas a prisao decorrente de pronuncia no procedimento do juri, e a prisao em razao de sentenca condenatoria de 1ª Instancia ? alias, vale observar que o recolhimento a prisao era obrigatorio para quem quisesse exercer o direito de apelar da sentenca (e sim, o artigo 594, que trazia essa previsao flagrantemente violadora do direito a ampla defesa tambem so foi modificado em 2008).
[
45
]
Ha um Projeto de novo Codigo de Processo Penal tramitando na
Camara dos Deputados
, mas ainda sem a perspectiva de ser efetivamente aprovado pelo Congresso Nacional em curto prazo.
[
44
]
O
Supremo Tribunal Federal
, porem, mudou o entendimento da prisao em segunda instancia em 2009 (nessa epoca o processo do
Escandalo do Mensalao
no STF ainda se arrastava
[
46
]
), quando julgou o
habeas corpus
(HC) 84.078 ? que tratava do caso de um condenado por tentativa de homicidio apos dar 5 tiros na vitima desarmada
[
6
]
(que posteriormente foi beneficiado pela prescricao do crime apos recursos judiciais)
[
9
]
?, estabelecendo pela primeira vez o direito de o condenado em segunda instancia recorrer em liberdade.
[
47
]
[
5
]
Em 17 de fevereiro de 2016
[
48
]
, com o julgamento de outro
HC
, o 126.292
[
49
]
, a jurisprudencia sobre o tema mudou novamente, quando discutia-se a legitimidade de ato do TJ/SP que, ao negar recurso da defesa, determinou o inicio da execucao da pena. Por maioria, sete votos a quatro, o plenario mudou jurisprudencia da Corte, afirmando que e, sim, possivel a execucao da pena depois de decisao condenatoria confirmada em segunda instancia.
[
5
]
Atualmente, aguarda-se que as duas medidas cautelares em Acao Declaratoria de Constitucionalidade (ADC), numeros 43
[
50
]
e 44
[
51
]
, de outubro de 2016, sejam julgadas no merito, mesmo com a Corte tendo reconhecido via plenario virtual a repercussao geral na materia (Recurso Extraordinario com Agravo, ARE 964.246
[
52
]
) e entendido pela reafirmacao do entendimento a favor da execucao antecipada, ou seja, prisao em segunda instancia.
Em 2018, o STJ publicou pesquisa demonstrando que a absolvicao de reus condenados em segunda instancia e de 0,62 por cento no tribunal.
[
53
]
Em 3 de abril de 2018, a
procuradora-Geral da Republica
Raquel Dodge
enviou manifestacao aos 11 ministros do Supremo defendendo a prisao em segunda instancia.
[
54
]
No dia seguinte, o STF julgou e rejeitou, por seis votos a cinco
[
55
]
, o pedido de habeas corpus do ex-presidente
Luiz Inacio Lula da Silva
, solicitado pela defesa para tentar evitar que ele fosse preso por condenacao decorrente da
Operacao Lava Jato
, mantendo o entendimento de prisao em segunda instancia. Apesar de Lula ter sido solto, altas liderancas do governo Bolsonaro tem defendido que eles pretendem com isso voltar com o ex-presidente.
[
56
]
[
57
]
[
58
]
[
59
]
Em abril de 2018, o
PEN
(atual Patriota) destituiu o advogado
Antonio Carlos de Almeida Castro
(Kakay) e afirmou que o pedido de liminar para mudar o entendimento da prisao em segunda instancia "foi apresentado sem anuencia da direcao do partido. E ainda que o PEN e a favor da prisao em segunda instancia; que a acao original era apenas para esclarecer a aplicacao da lei; e que nunca foi intencao do partido defender a prisao apenas apos todos recursos".
[
60
]
Diante da possivel desistencia do PEN, o Instituto de Garantias Penais (IGP), que e
amicus curiae
no processo, e do qual Almeida Castro faz parte, apresentou em 9 de abril um pedido identico ao do partido.
[
61
]
Notas e referencias
Notas
- ↑
Denominacao juridica do beneficiario do
habeas corpus
, pessoa que tem sua liberdade de ir e vir atacada por ato considerado ilegal pelo impetrante.
Referencias
- ↑
a
b
c
d
≪STF libera prisao apos 2ª instancia e condenado sera preso mais cedo≫
. Estado de Minas
. Consultado em 7 de outubro de 2016
- ↑
a
b
Renan Ramalho (5 de outubro de 2016).
≪Supremo mantem possibilidade de prisao a condenados em 2ª instancia≫
.
G1
. Globo.com
. Consultado em 7 de outubro de 2016
- ↑
≪STF permite prisao apos condenacao em segunda instancia≫
.
Band
. Uol
. Consultado em 7 de outubro de 2016
- ↑
≪Por 6 votos a 5, STF muda de posicao e decide contra prisao apos condenacao em 2ª instancia≫
.
G1
. Consultado em 22 de novembro de 2019
- ↑
a
b
c
d
e
f
g
h
i
j
≪Prisao em 2ª instancia e tema polemico com muitas idas e vindas≫
.
Migalhas
. 4 de abril de 2018
. Consultado em 8 de dezembro de 2020
.
Copia arquivada em 8 de dezembro de 2020
- ↑
a
b
c
≪Primeira decisao no STF sobre prisao em segunda instancia foi em 2009≫
.
Jornal Nacional
. 3 de abril de 2018
- ↑
≪A Constituicao nao resolve a polemica da prisao em segunda instancia≫
.
Gazeta do Povo
. Consultado em 19 de dezembro de 2018
- ↑
a
b
Zapater, Maira (3 de junho de 2016).
≪O Codigo Penal de 1940: nao parece que foi ontem?≫
.
Carta Capital
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
a
b
≪Pivo de decisao do STF em 2009 contra prisao em 2ª instancia ficou impune≫
.
O Globo
. 3 de abril de 2018
- ↑
≪Noticias STF :: STF - Supremo Tribunal Federal≫
.
www.stf.jus.br
. Consultado em 31 de outubro de 2016
- ↑
≪Supremo mantem possibilidade de prisao a condenados em 2ª instancia≫
.
Politica
. 5 de outubro de 2016
- ↑
a
b
c
@marischreiber, Mariana Schreiber- (3 de abril de 2018).
≪Alvo de disputa no Brasil, prisao apos condenacao em segunda instancia e permitida nos EUA e em paises da Europa≫
.
BBC Brasil
(em ingles)
- ↑
≪Franca, Argentina e EUA preveem prisao apos decisao de 2.ª instancia - Politica - Estadao≫
.
Estadao
- ↑
≪Alvo de disputa no Brasil, prisao apos condenacao em segunda instancia e permitida nos EUA e em paises da Europa≫
.
R7.com
. 4 de abril de 2018
- ↑
≪Supremo recebe manifestos contra e a favor de prisao em 2ª instancia≫
.
Jornal Nacional
. 2 de abril de 2018
- ↑
≪Ajufe apresenta ao Senado PL que permite prisao apos condenacao em 2ª instancia≫
.
Consultor Juridico
. Consultado em 17 de janeiro de 2019
- ↑
≪Sergio Moro defende prisao para condenados em segunda instancia≫
.
Agencia Brasil
. 9 de setembro de 2015
. Consultado em 17 de janeiro de 2019
- ↑
≪Somente mudanca em lei pode prever prisao apos condenacao em primeira instancia≫
.
Consultor Juridico
. Consultado em 17 de janeiro de 2019
- ↑
≪Falta consenso entre juizes sobre ampliacao da prisao preventiva≫
.
Senado Federal
. Consultado em 17 de janeiro de 2019
- ↑
≪JULGAMENTO HISTORICO: STF muda jurisprudencia e permite prisao a partir da decisao de segunda instancia≫
.
Migalhas
. 17 de fevereiro de 2016
. Consultado em 17 de janeiro de 2019
- ↑
Machado, Leandro (10 de abril de 2018).
≪O que um assalto em Sao Paulo tem a ver com a discussao juridica que pode beneficiar Lula≫
(em ingles)
- ↑
≪STJ - Consulta Processual≫
.
ww2.stj.jus.br
. Consultado em 17 de janeiro de 2019
- ↑
≪STF - Parecer Nº. 11536/PGR≫
(PDF)
. Consultado em 17 de janeiro de 2018
- ↑
≪Condenados em segundo grau conseguem HC no Supremo em 23% dos casos≫
.
Consultor Juridico
. Consultado em 18 de janeiro de 2019
- ↑
Scocuglia, Livia (8 de junho de 2016).
≪STF vai julgar artigo do CPP que preve transito em julgado para cumprimento da pena≫
. Jota
. Consultado em 18 de janeiro de 2019
- ↑
≪Supremo Tribunal Federal≫
.
portal.stf.jus.br
. Consultado em 18 de janeiro de 2019
- ↑
a
b
≪STF mantem posicionamento para permitir prisao apos condenacao em 2ª instancia≫
.
Migalhas
. 5 de outubro de 2016
. Consultado em 18 de janeiro de 2019
- ↑
≪Presuncao da inocencia: Fachin interpreta a Constituicao conforme o CPC?≫
.
Consultor Juridico
. Consultado em 18 de janeiro de 2019
- ↑
≪Supremo publica acordao da cautelar nas ADCs sobre execucao antecipada da pena≫
.
Consultor Juridico
. Consultado em 18 de janeiro de 2019
- ↑
Coura, Kalleo (15 de marco de 2018).
≪STF: execucao apos 2ª instancia e regra e liberdade precisa ser justificada≫
. Jota
. Consultado em 18 de janeiro de 2018
- ↑
Rubens Valente.
≪Em dialogos gravados, Juca fala em pacto para deter avanco da Lava Jato≫
. Folha de S.Paulo
. Consultado em 7 de outubro de 2016
- ↑
a
b
≪Prisao apos condenacao em segunda instancia recebe elogios≫
.
Jornal Nacional
. Globo.com
. Consultado em 7 de outubro de 2016
- ↑
≪Carmen Lucia: "Rever prisao em 2ª instancia e apequenar STF
"
≫
.
Reuters
. R7
. Consultado em 20 de marco de 2018
- ↑
≪Revisar prisao apos 2ª instancia por Lula seria apequenar STF, diz Carmen Lucia≫
. O Estado de Sao Paulo. 30 de janeiro de 2018
. Consultado em 20 de marco de 2018
- ↑
≪Dodge diz que confia em decisao do STF a favor da prisao em segunda instancia≫
.
Agencia Brasil
. EBC
. Consultado em 22 de marco de 2018
- ↑
≪Advogados entregam ao STF abaixo-assinado contra prisoes apos condenacao em segunda instancia≫
.
G1
. Globo.com
. Consultado em 12 de abril de 2018
- ↑
Felipe Amorim.
≪Juizes e procuradores entregam ao STF abaixo-assinado a favor de prisao na 2ª instancia≫
. Uol
. Consultado em 12 de abril de 2018
- ↑
≪Decreto Nº 1, de 15 de Novembro de 1889.≫
.
Presidencia da Republica Federativa do Brasil
. 15 de novembro de 1889
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪Codigo Processual Penal de 1941 ? Decreto-Lei nº 3.689≫
.
Presidencia da Republica Federativa do Brasil
. 3 de outubro de 1941
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪Lei 5.941, de 22 de novembro de 1973.≫
.
Presidencia da Republica Federativa do Brasil
. 22 de novembro de 1973
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪Lei 6.416, de 24 de maio de 1977≫
.
Presidencia da Republica Federativa do Brasil
. 24 de maio de 1977
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪Constituicao da Republica Federativa do Brasil de 1988≫
.
Presidencia da Republica Federativa do Brasil
. 5 de outubro de 1988
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪Sumula 9 do STJ≫
. Superior Tribunal de Justica. 12 de setembro de 1990
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
a
b
Ishida, Valter Kenji (junho de 2012).
≪A Reforma Processual Penal de 2008 e a modernizacao da Administracao Publica≫
. Jus.com.br
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
Zapater, Maira (17 de junho de 2016).
≪O Codigo de Processo Penal de 1941: tudo o que voce disser podera ser usado contra voce≫
.
Justificando
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪O manual dos ladroes nos Correios: um ano depois, processo arrastado≫
. VEJA.com. 28 de janeiro de 2009
. Consultado em 18 de fevereiro de 2017
.
Copia arquivada em 31 de janeiro de 2009
- ↑
MENDONCA, A. B. (2011).
Prisao e outras medidas cautelares pessoais
. Sao Paulo: Metodo
- ↑
Renan Ramalho (17 de fevereiro de 2016).
≪Por 7 a 4, STF admite prisao logo apos condenacao em 2ª instancia≫
.
G1
. Globo.com
. Consultado em 7 de outubro de 2016
- ↑
≪HC 126.292≫
.
Supremo Tribunal Federal
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪ADC 43≫
.
Supremo Tribunal Federal
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪ADC 44≫
.
Supremo Tribunal Federal
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪ARE 964246≫
.
Supremo Tribunal Federal
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪Superior Tribunal de Justica - O Tribunal da Cidadania≫
.
www.stj.jus.br
. Consultado em 11 de abril de 2018
- ↑
≪Ao STF, Dodge defende prisao apos 2ª instancia e diz que revisao da medida poe 'em xeque' seriedade do sistema juridico≫
.
G1
. Globo.com
. Consultado em 12 de abril de 2018
- ↑
≪Por 6 votos a 5, STF nega habeas corpus e abre caminho para prisao de Lula≫
.
BBC Brasil
(em ingles). 4 de abril de 2018
- ↑
Bandeirantes, Radio e Tv.
≪band.uol.com.br≫
.
No Twitter, Doria diz que e hora de lutar pela prisao em 2ª instancia
. Consultado em 11 de novembro de 2019
- ↑
≪
"
Solto sim, livre nao", diz Onyx Lorenzoni sobre soltura de Lula≫
.
Metropoles
. 8 de novembro de 2019
. Consultado em 11 de novembro de 2019
- ↑
≪Bolsonaro: "Nao de municao ao [...], que esta momentaneamente livre
"
≫
.
noticias.uol.com.br
. Consultado em 11 de novembro de 2019
- ↑
≪Doria: saida temporaria de Lula da cadeia nao anula os crimes que cometeu≫
.
www.agazeta.com.br
. Consultado em 11 de novembro de 2019
- ↑
Gioconda Brasil.
≪PEN destitui advogado Kakay da acao sobre prisao apos condenacao em segunda instancia≫
.
G1
. Globo.com
- ↑
Matheus Teixeira.
≪PEN quer desistir de liminar para tentar barrar prisao em 2ª instancia no STF≫
. Jota
. Consultado em 12 de abril de 2018