O
portugues angolano
e a variacao da
lingua portuguesa
maioritariamente usada em
Angola
. A existencia de uma variante de portugues em Angola, divergente da norma-padrao do
portugues europeu
, tem vindo a ser reconhecida, embora a sua identificacao se encontre ainda em estudo.
[
2
]
De todos os paises africanos, Angola e o pais onde a percentagem de falantes de portugues como primeira lingua e a maior:
[
3
]
cerca de 80,05 % dos 36,6
milhoes de habitantes, isto e, 29,3 milhoes falam portugues.
[
1
]
Angola e o segundo pais com maior numero de pessoas
lusofonas
, atras apenas do Brasil.
[
4
]
A adocao da lingua do
antigo colonizador
como
lingua oficial
foi uma decisao comum a grande maioria dos paises africanos. No caso de
Angola
deu-se o facto pouco comum de uma intensa disseminacao do
portugues
entre a populacao angolana, a ponto de haver uma expressiva parcela da populacao que tem como sua unica lingua aquela herdada do
colonizador
.
Entre 1575 e 1592 estima-se que tenham desembarcado em Angola 2340 portugueses. Destes, 450 foram vitimas de guerras e doencas, 300 radicaram-se em
Luanda
e os restantes no interior, onde assimilaram as linguas e culturas africanas.
[
5
]
O numero de mulheres europeias na colonia seria muitissimo reduzido, o que significa que a larga maioria dos filhos dos colonos eram mesticos, educados por mulheres africanas que lhes ensinavam as suas linguas.
[
6
]
Entre 1620 e 1750 o
quimbundo
afirmou-se como a lingua mais usada em praticamente todos os lares de Luanda e na vida diaria da cidade. O estabelecimento de uma elite
afro-portuguesa
? que ocupava os principais cargos da
administracao publica
e estava envolvida no
trafico de escravos
? foi o factor que mais contribuiu para esta situacao.
[
7
]
Embora tivesse um bom conhecimento de portugues, esta elite era falante nativa de
quimbundo
ou
congo
.
[
8
]
No interior dos territorios controlados pelos portugueses, o portugues era usado como
lingua franca
entre chefes e comerciantes, mas a maioria da populacao expressava-se exclusivamente em quimbundo. Na verdade, os
escravos
exportados a partir de Luanda, independentemente das suas origens, aprendiam algum quimbundo e eram
baptizados
nesta lingua antes de serem embarcados.
[
9
]
Entre 1750 e 1822, os portugueses procuraram impedir a crescente
africanizacao
, cultural e linguistica, da elite afro-portuguesa de Angola, nomeadamente atraves do decreto de
1765
do
governador
Francisco Inocencio de Sousa Coutinho
, que desencorajava o uso de linguas africanas na educacao das criancas.
[
10
]
Os testemunhos da epoca apontam para a utilizacao de variedades reestruturadas do portugues entre as camadas mais pobres das cidades costeiras e arredores. Em 1894, o folclorista e filologo americano Heli Chatelain, ao referir-se ao quimbundo falado em Luanda, define-o como sendo uma mistura de elementos portugueses, enumerando 90 emprestimos do portugues ao quimbundo, que incluem nao so emprestimos lexicais (ex.
palaia
, praia), mas tambem gramaticais (ex.
poji
, pois), bem como varios exemplos de palavras portuguesas adaptadas a morfologia do quimbundo (ex.
njanena
, janela;
jinjanena
, janelas).
[
11
]
So durante o
seculo XX
e que o portugues se tornou gradualmente a lingua mais falada nas areas urbanas de Angola. Este facto ficou a dever-se, essencialmente, ao aumento do numero de colonos portugueses, tanto homens como mulheres, a maioria dos quais preferia fixar-se nos centros urbanos costeiros, em detrimento das zonas do interior. E apenas na
decada de 1950
se reuniram as condicoes para a generalizacao do portugues a todo o territorio angolano, pois so entao a maioria da populacao precisou efectivamente de dominar esta lingua.
Varios factores contribuiram para esta situacao. Por um lado, durante o
Estado Novo
, para serem reconhecidos como
assimilados
,
[
12
]
os angolanos tinham de demonstrar saber ler, escrever e falar fluentemente em portugues, bem como vestirem e professarem a mesma religiao que os portugueses e manterem padroes de vida e costumes semelhantes aos europeus. O dominio de uma variedade rudimentar do portugues nao os tornaria, portanto, elegiveis. Era obrigatorio dominar o portugues europeu, ainda que o acesso a educacao fosse praticamente vedado a generalidade dos angolanos.
[
carece de fontes
]
Por outro lado, na
decada de 1960
, em resposta a influencia crescente dos
movimentos nacionalistas em Angola
, Portugal investiu massivamente na intensificacao da sua presenca no interior, nomeadamente atraves do fomento da criacao de grandes colonatos agricolas.
[
13
]
Finalmente, durante a
decada de 1970
, o
exercito portugues
agrupou grande parte da populacao do interior, especialmente no leste, em
aldeamentos
, ou seja, em "vastas aldeias organizadas pelos militares, muitas vezes rodeadas de arame farpado, onde se agrupavam africanos anteriormente dispersos".
[
14
]
Apesar de ser um processo impositivo, a adopcao do
portugues
como lingua de comunicacao corrente em Angola propiciou tambem a veiculacao de ideias de emancipacao em certos setores da sociedade angolana, facilitando a comunicacao entre pessoas de diferentes origens etnicas. O periodo da
guerra colonial
foi o momento fundamental da expansao da consciencia nacional angolana. De instrumento de dominacao e clivagem entre colonizador e colonizado, o portugues adquiriu um caracter unificador entre os diferentes povos de Angola.
[
3
]
Com a
independencia
em
1975
, o alastramento da
guerra civil
, nas decadas subsequentes, levou a fuga de muitas centenas de milhares de angolanos das zonas rurais para as grandes cidades ? particularmente
Luanda
? levando ao seu desenraizamento cultural. Esta deslocacao interna haveria, contudo, de favorecer a difusao da lingua portuguesa, ja que esta se tornaria a unica lingua de contacto dos refugiados internos entre si e com os habitantes destas cidades. Apos a paz entre a
Uniao Nacional para a Independencia Total de Angola
(UNITA) e o
Movimento Popular de Libertacao de Angola
(MPLA) os refugiados que regressaram as regioes rurais de origem levavam ja o portugues como primeira lingua.
[
3
]
A construcao da estrutura administrativa do novo Estado nacional reforcou a presenca da lingua portuguesa, usada no exercito, na administracao, no sistema escolar, nos meios de comunicacao, etc. Embora, oficialmente, o Estado angolano declare, na propria
Consituicao
, que "valoriza e promove o estudo, o ensino e a utilizacao das demais linguas de Angola",
[
15
]
na pratica tendeu sempre a valorizar exclusivamente os aspectos que contribuem para a unificacao do pais ? o
portugues
como a unica lingua unificadora ? em detrimento de tudo o que pudesse contribuir para a diferenciacao dos grupos e a tribalizacao ? a miriade de linguas e dialectos regionais e etnicos. Aspecto particularmente critico num continente de fronteiras recentes e artificiais.
[
3
]
O poder politico em Angola fala em portugues. A elite do MPLA, em grande percentagem, tem a lingua portuguesa como
lingua materna
. E uma elite urbanizada que perdeu algo da sua raiz etnica. Os quatro presidentes de Angola,
Agostinho Neto
,
Lucio Lara
,
Jose Eduardo dos Santos
e
Joao Lourenco
, sempre se expressaram em portugues.
[
16
]
Lingua oficial e do ensino e um dos factores de unificacao e integracao social, o
portugues
encontra-se em permanente transformacao em Angola. As influencias linguisticas resultantes do contacto com as linguas nacionais, a criacao de novas palavras e expressoes assim como certos desvios a
norma culta
de
Portugal
, imprimem-lhe um novo caracter. Alguns exemplos ja dicionarizados na lingua portuguesa sao as palavras:
Cambolacao, cambolar, cara, jimbolamento, jimbolo, jingo, jinguba, machimbombo, maxim, munda, mupanda, mutula, muzungo, pupu, quibuca, quilombo, sibongo, tacula, tamargueira, tarrafe, tesse, ulojanja, umbala
.
[
17
]
Sobre a existencia de uma variante propria do portugues em Angola, a linguista
Amelia Mingas
escreve:
(...) uma nova realidade linguistica em Angola, a que chamamos "portugues de Angola" ou "angolano", a semelhanca do que aconteceu ao brasileiro ou ao crioulo. Embora em estado embrionario, o "angolano" apresenta ja especificidades proprias (...). Pensamos que, no nosso pais, o "portugues de Angola" sobrepor-se-a ao "portugues padrao" como lingua segunda dos Angolanos.
Ivo Castro
, professor de
Linguistica
na
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
, na sua
Introducao a Historia do Portugues
, de
2006
, refere que, para alem das duas grandes variantes bem definidas ? a
portuguesa
e a
brasileira
?, existem outras duas variantes em formacao, a angolana e a
mocambicana
, sendo de esperar que estas tambem se individualizem normativamente quando estabilizarem.
[
19
]
No entanto, neste momento, nao ratificaram ainda o Acordo ortografico de 1990 para o qual pediram uma moratoria visando uma adaptacao social ao novo contexto, mas tambem nao ha qualquer expressao institucional, nem instrumentos prescritivos consagrados que eventualmente fixem as caracteristicas dessas supostas novas normas. O que se conhece sao aspectos tipicos da oralidade que frequentemente afloram no discurso escrito e que caberiam no atual Acordo ratificado pelos outros paises.
[
20
]
A lingua literaria em
Angola
distinguiu-se sempre pela presenca das linguas nacionais, expressamente em dialogos ou interferindo fortemente nas estruturas do
portugues
. Embora quase exclusivamente em lingua portuguesa, a literatura angolana conta tambem com algumas obras em quimbundo e
umbundo
.
O sotaque do portugues de Angola e muito caracteristico e bastante diferente, quer do europeu, quer do brasileiro. Muitos sons abertos em Portugal e muito abertos no Brasil sao pura e simplesmente fechados em Angola. Por exemplo: "trofeu" e dito como
trofeu
. Por outro lado, o portugues angolano e mais cantado e arrastado por influencia das linguas africanas.
[
16
]
A excepcao do
Brasil
, todas as demais ex-colonias portuguesas, Angola inclusive, seguem o padrao ortografico de Portugal.
Apesar de ter participado na redaccao do
Acordo Ortografico de 1990
, firmado pelo Secretario de Estado da Cultura de
Angola
, Jose Mateus de Adelino Peixoto, e nas reunioes da
CPLP
onde os dois protocolos modificativos foram aprovados, o
governo angolano
ainda nao ratificou nenhum desses documentos. Em Marco de 2010, Angola solicitou uma moratoria de tres anos para ratificar o Acordo Ortografico pela necessidade de incluir o vocabulario especifico do pais no vocabulario comum.
[
21
]
Ate ao momento, no pais continuam a vigorar as normas do
Acordo Ortografico de 1945
,
[
22
]
o que paradoxalmente ja nao acontece em Portugal.
No entanto, em Angola recorre-se frequentemente ao uso de
k
,
w
e
y
na escrita de certos antroponimos, toponimos e outras palavras que, em Portugal, escreveram-se com
c
ou
q
,
u
e
i
, respectivamente. Exemplos:
Soyo
em vez de
Soio
;
Kwanza
em vez de Cuanza; kimbundu em vez de quimbundo, etc.
A maior parte do vocabulario do portugues e comum entre todas as variantes. Entretanto existem termos que sao usados exclusivamente em Angola ou sao muito raros nas outras variantes. Muitas palavras africanas foram incorporadas ao portugues angolano.
Angola
|
Portugal
|
Brasil
|
chuinga (do ingles
chewing-gum
)
|
pastilha elastica, chiclete, (chicle e gums usado em alguns socioletos)
|
chiclete, chicle, goma de mascar
|
jinguba
[
23
]
|
amendoim
|
amendoim
|
machimbombo
|
autocarro, camioneta (machimbombo e por vezes usado como forma depreciativa de autocarro)
|
onibus
|
mata-bicho
|
pequeno-almoco, mata-bicho (usado em alguns socioletos)
|
cafe da manha
|
musseque
|
bairro de lata
|
favela
|
mboa
|
rapariga, miuda, garota, pita, gaja, moca
|
mina, garota, guria, menina, moca
|
geleira
|
frigorifico
|
geladeira
|
jindungo
|
piripiri, malagueta
|
pimenta
|
Referencias
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a
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.
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https://web.archive.org/web/20101105175705/http://movv.org/2008/09/12/da-situacao-da-lingua-portuguesa-em-angola/
|arquivodata=2010-11-05 |urlmorta=yes }}
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Acto Colonial
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Carta Organica do Imperio Colonial Portugues
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(1933),
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e
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Oficial
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Nacionais
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Nativas
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Dialectos
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