한국   대만   중국   일본 
Portugues angolano ? Wikipedia, a enciclopedia livre Saltar para o conteudo

Portugues angolano

Origem: Wikipedia, a enciclopedia livre.
(Redirecionado de Portugues de Angola )
Portugues angolano
Falado(a) em:   Angola
Regiao: Em toda Angola e nas regioes fronteiricas
Total de falantes: ? 29,3 milhoes [ 1 ]
Posicao : 1
Familia : Lingua portuguesa
 Portugues angolano
Regulado por: Academia Angolana de Letras (AAL)
Codigos de lingua
ISO 639 -1: pt-AO
ISO 639-2: ---

Localizacao de Angola.

O portugues angolano e a variacao da lingua portuguesa maioritariamente usada em Angola . A existencia de uma variante de portugues em Angola, divergente da norma-padrao do portugues europeu , tem vindo a ser reconhecida, embora a sua identificacao se encontre ainda em estudo. [ 2 ]

De todos os paises africanos, Angola e o pais onde a percentagem de falantes de portugues como primeira lingua e a maior: [ 3 ] cerca de 80,05 % dos 36,6 milhoes de habitantes, isto e, 29,3 milhoes falam portugues. [ 1 ] Angola e o segundo pais com maior numero de pessoas lusofonas , atras apenas do Brasil. [ 4 ]

Historia [ editar | editar codigo-fonte ]

A adocao da lingua do antigo colonizador como lingua oficial foi uma decisao comum a grande maioria dos paises africanos. No caso de Angola deu-se o facto pouco comum de uma intensa disseminacao do portugues entre a populacao angolana, a ponto de haver uma expressiva parcela da populacao que tem como sua unica lingua aquela herdada do colonizador .

Entre 1575 e 1592 estima-se que tenham desembarcado em Angola 2340 portugueses. Destes, 450 foram vitimas de guerras e doencas, 300 radicaram-se em Luanda e os restantes no interior, onde assimilaram as linguas e culturas africanas. [ 5 ] O numero de mulheres europeias na colonia seria muitissimo reduzido, o que significa que a larga maioria dos filhos dos colonos eram mesticos, educados por mulheres africanas que lhes ensinavam as suas linguas. [ 6 ]

Entre 1620 e 1750 o quimbundo afirmou-se como a lingua mais usada em praticamente todos os lares de Luanda e na vida diaria da cidade. O estabelecimento de uma elite afro-portuguesa ? que ocupava os principais cargos da administracao publica e estava envolvida no trafico de escravos ? foi o factor que mais contribuiu para esta situacao. [ 7 ] Embora tivesse um bom conhecimento de portugues, esta elite era falante nativa de quimbundo ou congo . [ 8 ]

No interior dos territorios controlados pelos portugueses, o portugues era usado como lingua franca entre chefes e comerciantes, mas a maioria da populacao expressava-se exclusivamente em quimbundo. Na verdade, os escravos exportados a partir de Luanda, independentemente das suas origens, aprendiam algum quimbundo e eram baptizados nesta lingua antes de serem embarcados. [ 9 ]

Entre 1750 e 1822, os portugueses procuraram impedir a crescente africanizacao , cultural e linguistica, da elite afro-portuguesa de Angola, nomeadamente atraves do decreto de 1765 do governador Francisco Inocencio de Sousa Coutinho , que desencorajava o uso de linguas africanas na educacao das criancas. [ 10 ]

Os testemunhos da epoca apontam para a utilizacao de variedades reestruturadas do portugues entre as camadas mais pobres das cidades costeiras e arredores. Em 1894, o folclorista e filologo americano Heli Chatelain, ao referir-se ao quimbundo falado em Luanda, define-o como sendo uma mistura de elementos portugueses, enumerando 90 emprestimos do portugues ao quimbundo, que incluem nao so emprestimos lexicais (ex. palaia , praia), mas tambem gramaticais (ex. poji , pois), bem como varios exemplos de palavras portuguesas adaptadas a morfologia do quimbundo (ex. njanena , janela; jinjanena , janelas). [ 11 ]

So durante o seculo XX e que o portugues se tornou gradualmente a lingua mais falada nas areas urbanas de Angola. Este facto ficou a dever-se, essencialmente, ao aumento do numero de colonos portugueses, tanto homens como mulheres, a maioria dos quais preferia fixar-se nos centros urbanos costeiros, em detrimento das zonas do interior. E apenas na decada de 1950 se reuniram as condicoes para a generalizacao do portugues a todo o territorio angolano, pois so entao a maioria da populacao precisou efectivamente de dominar esta lingua.

Varios factores contribuiram para esta situacao. Por um lado, durante o Estado Novo , para serem reconhecidos como assimilados , [ 12 ] os angolanos tinham de demonstrar saber ler, escrever e falar fluentemente em portugues, bem como vestirem e professarem a mesma religiao que os portugueses e manterem padroes de vida e costumes semelhantes aos europeus. O dominio de uma variedade rudimentar do portugues nao os tornaria, portanto, elegiveis. Era obrigatorio dominar o portugues europeu, ainda que o acesso a educacao fosse praticamente vedado a generalidade dos angolanos. [ carece de fontes ? ]

Mapa de Angola:
   Portugues como lingua nativa majoritaria
   Portugues como oficial mas nao idioma nativo majoritario

Por outro lado, na decada de 1960 , em resposta a influencia crescente dos movimentos nacionalistas em Angola , Portugal investiu massivamente na intensificacao da sua presenca no interior, nomeadamente atraves do fomento da criacao de grandes colonatos agricolas. [ 13 ] Finalmente, durante a decada de 1970 , o exercito portugues agrupou grande parte da populacao do interior, especialmente no leste, em aldeamentos , ou seja, em "vastas aldeias organizadas pelos militares, muitas vezes rodeadas de arame farpado, onde se agrupavam africanos anteriormente dispersos". [ 14 ]

Apesar de ser um processo impositivo, a adopcao do portugues como lingua de comunicacao corrente em Angola propiciou tambem a veiculacao de ideias de emancipacao em certos setores da sociedade angolana, facilitando a comunicacao entre pessoas de diferentes origens etnicas. O periodo da guerra colonial foi o momento fundamental da expansao da consciencia nacional angolana. De instrumento de dominacao e clivagem entre colonizador e colonizado, o portugues adquiriu um caracter unificador entre os diferentes povos de Angola. [ 3 ]

Com a independencia em 1975 , o alastramento da guerra civil , nas decadas subsequentes, levou a fuga de muitas centenas de milhares de angolanos das zonas rurais para as grandes cidades ? particularmente Luanda ? levando ao seu desenraizamento cultural. Esta deslocacao interna haveria, contudo, de favorecer a difusao da lingua portuguesa, ja que esta se tornaria a unica lingua de contacto dos refugiados internos entre si e com os habitantes destas cidades. Apos a paz entre a Uniao Nacional para a Independencia Total de Angola (UNITA) e o Movimento Popular de Libertacao de Angola (MPLA) os refugiados que regressaram as regioes rurais de origem levavam ja o portugues como primeira lingua. [ 3 ]

A construcao da estrutura administrativa do novo Estado nacional reforcou a presenca da lingua portuguesa, usada no exercito, na administracao, no sistema escolar, nos meios de comunicacao, etc. Embora, oficialmente, o Estado angolano declare, na propria Consituicao , que "valoriza e promove o estudo, o ensino e a utilizacao das demais linguas de Angola", [ 15 ] na pratica tendeu sempre a valorizar exclusivamente os aspectos que contribuem para a unificacao do pais ? o portugues como a unica lingua unificadora ? em detrimento de tudo o que pudesse contribuir para a diferenciacao dos grupos e a tribalizacao ? a miriade de linguas e dialectos regionais e etnicos. Aspecto particularmente critico num continente de fronteiras recentes e artificiais. [ 3 ]

O poder politico em Angola fala em portugues. A elite do MPLA, em grande percentagem, tem a lingua portuguesa como lingua materna . E uma elite urbanizada que perdeu algo da sua raiz etnica. Os quatro presidentes de Angola, Agostinho Neto , Lucio Lara , Jose Eduardo dos Santos e Joao Lourenco , sempre se expressaram em portugues. [ 16 ]

Variedade angolana do portugues [ editar | editar codigo-fonte ]

Lingua oficial e do ensino e um dos factores de unificacao e integracao social, o portugues encontra-se em permanente transformacao em Angola. As influencias linguisticas resultantes do contacto com as linguas nacionais, a criacao de novas palavras e expressoes assim como certos desvios a norma culta de Portugal , imprimem-lhe um novo caracter. Alguns exemplos ja dicionarizados na lingua portuguesa sao as palavras: Cambolacao, cambolar, cara, jimbolamento, jimbolo, jingo, jinguba, machimbombo, maxim, munda, mupanda, mutula, muzungo, pupu, quibuca, quilombo, sibongo, tacula, tamargueira, tarrafe, tesse, ulojanja, umbala . [ 17 ]

Sobre a existencia de uma variante propria do portugues em Angola, a linguista Amelia Mingas escreve:

(...) uma nova realidade linguistica em Angola, a que chamamos "portugues de Angola" ou "angolano", a semelhanca do que aconteceu ao brasileiro ou ao crioulo. Embora em estado embrionario, o "angolano" apresenta ja especificidades proprias (...). Pensamos que, no nosso pais, o "portugues de Angola" sobrepor-se-a ao "portugues padrao" como lingua segunda dos Angolanos.
— Amelia Mingas [ 18 ]

Ivo Castro , professor de Linguistica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa , na sua Introducao a Historia do Portugues , de 2006 , refere que, para alem das duas grandes variantes bem definidas ? a portuguesa e a brasileira ?, existem outras duas variantes em formacao, a angolana e a mocambicana , sendo de esperar que estas tambem se individualizem normativamente quando estabilizarem. [ 19 ] No entanto, neste momento, nao ratificaram ainda o Acordo ortografico de 1990 para o qual pediram uma moratoria visando uma adaptacao social ao novo contexto, mas tambem nao ha qualquer expressao institucional, nem instrumentos prescritivos consagrados que eventualmente fixem as caracteristicas dessas supostas novas normas. O que se conhece sao aspectos tipicos da oralidade que frequentemente afloram no discurso escrito e que caberiam no atual Acordo ratificado pelos outros paises. [ 20 ]

A lingua literaria em Angola distinguiu-se sempre pela presenca das linguas nacionais, expressamente em dialogos ou interferindo fortemente nas estruturas do portugues . Embora quase exclusivamente em lingua portuguesa, a literatura angolana conta tambem com algumas obras em quimbundo e umbundo .

Fonologia [ editar | editar codigo-fonte ]

O sotaque do portugues de Angola e muito caracteristico e bastante diferente, quer do europeu, quer do brasileiro. Muitos sons abertos em Portugal e muito abertos no Brasil sao pura e simplesmente fechados em Angola. Por exemplo: "trofeu" e dito como trofeu . Por outro lado, o portugues angolano e mais cantado e arrastado por influencia das linguas africanas. [ 16 ]

Ortografia [ editar | editar codigo-fonte ]

A excepcao do Brasil , todas as demais ex-colonias portuguesas, Angola inclusive, seguem o padrao ortografico de Portugal.

Apesar de ter participado na redaccao do Acordo Ortografico de 1990 , firmado pelo Secretario de Estado da Cultura de Angola , Jose Mateus de Adelino Peixoto, e nas reunioes da CPLP onde os dois protocolos modificativos foram aprovados, o governo angolano ainda nao ratificou nenhum desses documentos. Em Marco de 2010, Angola solicitou uma moratoria de tres anos para ratificar o Acordo Ortografico pela necessidade de incluir o vocabulario especifico do pais no vocabulario comum. [ 21 ] Ate ao momento, no pais continuam a vigorar as normas do Acordo Ortografico de 1945 , [ 22 ] o que paradoxalmente ja nao acontece em Portugal.

No entanto, em Angola recorre-se frequentemente ao uso de k , w e y na escrita de certos antroponimos, toponimos e outras palavras que, em Portugal, escreveram-se com c ou q , u e i , respectivamente. Exemplos: Soyo em vez de Soio ; Kwanza em vez de Cuanza; kimbundu em vez de quimbundo, etc.

Lexico [ editar | editar codigo-fonte ]

A maior parte do vocabulario do portugues e comum entre todas as variantes. Entretanto existem termos que sao usados exclusivamente em Angola ou sao muito raros nas outras variantes. Muitas palavras africanas foram incorporadas ao portugues angolano.

Angola Portugal Brasil
chuinga (do ingles chewing-gum ) pastilha elastica, chiclete, (chicle e gums usado em alguns socioletos) chiclete, chicle, goma de mascar
jinguba [ 23 ] amendoim amendoim
machimbombo autocarro, camioneta (machimbombo e por vezes usado como forma depreciativa de autocarro) onibus
mata-bicho pequeno-almoco, mata-bicho (usado em alguns socioletos) cafe da manha
musseque bairro de lata favela
mboa rapariga, miuda, garota, pita, gaja, moca mina, garota, guria, menina, moca
geleira frigorifico geladeira
jindungo piripiri, malagueta pimenta

Referencias

  1. a b ≪Populacao atual≫ . Country Meters . Consultado em 24 de junho de 2023  
  2. Adriano, Paulino Soma (2014). Tratamento Morfossintactico de Expressoes e Estruturas Frasicas do Portugues em Angola (PDF) . Evora: Universidade de Evora  
  3. a b c d Clavis Prophetarum. ≪Da situacao da lingua portuguesa em Angola≫ . Consultado em 29 de novembro de 2010   |arquivourl= https://web.archive.org/web/20101105175705/http://movv.org/2008/09/12/da-situacao-da-lingua-portuguesa-em-angola/ |arquivodata=2010-11-05 |urlmorta=yes }}
  4. Erro de citacao: Etiqueta <ref> invalida; nao foi fornecido texto para as refs de nome :0
  5. Santos, Joao Marinho dos (1998). Estudos sobre os Descobrimentos e a expansao portuguesa . Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. 85 paginas  
  6. Vansina, Jan (2001). Portuguese vs Kimbundu: language use in the colony of Angola (1575 - c. 1845) . Bull. Seanc. Acad. R. Sci. Outre-Mer Mede. Zitt. K. Acad. Overzeese Wet (em ingles). 47 . [S.l.: s.n.] 269 paginas  
  7. Venancio, Jose Carlos (1996). A economia de Luanda e Hinterland no seculo XVIII . Um estudo de sociologia historica. Lisboa: Editorial Estampa. 51 paginas  
  8. Vansina. op. cit . [S.l.: s.n.] 273 paginas  
  9. Vansina. op. cit . [S.l.: s.n.] pp. 273?274  
  10. Vansina. op. cit . [S.l.: s.n.] pp. 274?275  
  11. Chatelain, Heli (2001). Folk-tales of Angola . fifty tales, with Ki-mbundu text literal English translation, introduction and notes (em ingles). Honululu, Hawaii: University Press of the Pacific  
  12. A figura legal do assimilado foi definida por varios decretos publicados entre 1926 e 1961, altura em que foi extinta: Estatuto Politico, Social e Criminal dos Indigenas de Angola e Mocambique (1926), Acto Colonial (1930), Carta Organica do Imperio Colonial Portugues e Reforma Administrativa Ultramarina (1933), Lei Organica do Ultramar Portugues e Estatuto dos Indigenas das Provincias da Guine, Angola e Mocambique (1953) in Marques, A. H. de Oliveira (2001). Breve historia de Portugal . Lisboa: Editorial Presenca  
  13. Bender, Gerald J. (2004). Angola sob o dominio portugues . mito e realidade. Luanda: Editorial Nzila. 185 paginas  
  14. Bender. op. cit . [S.l.: s.n.] pp. 264?265  
  15. Ponto 2 do artigo 19.º da Constituicao cit. in Angelo Feijo. ≪Uma palavra sobre as linguas angolanas≫ . Jornal de Angola . Consultado em 20 de setembro de 2010 . Arquivado do original em 28 de janeiro de 2012  
  16. a b Rui Ramos. ≪O portugues em Angola≫ . Ciberduvidas . Consultado em 20 de setembro de 2010  
  17. D'Silvas Filho. ≪Angola, variantes da comum lingua≫ . Ciberduvidas . Consultado em 19 de setembro de 2010  
  18. MINGAS, Amelia A.: "O portugues em Angola: Reflexoes", em: VIII Encontro da Associacao das Universidades de Lingua Portuguesa (vol. 1). Macau: Centro Cultural da Universidade de Macau, 1998 pp. 109-126 cit em INVERNO, Liliana. ≪A transicao de Angola para o portugues vernaculo: estudo morfossintactico do sintagma nominal≫ . Consultado em 16 de setembro de 2010  
  19. Castro, Ivo (2006). Introducao a Historia do Portugues 2.ª ed. Lisboa: Edicoes Colibri. pp. 11?12  
  20. Carlos Rocha. ≪Norma angolana, a proposito de pronomes cliticos≫ . Ciberduvidas . Consultado em 20 de setembro de 2010  
  21. ≪Acordo Ortografico da Lingua Portuguesa: Angola pede moratoria≫ . Consultado em 20 de setembro de 2010   [ligacao inativa]
  22. ≪Acordo ortografico deve merecer antes profunda reflexao≫ . Consultado em 20 de setembro de 2010 . Arquivado do original em 28 de janeiro de 2012  
  23. ≪Jinguba (e nao *ginguba) e o mesmo que amendoim≫ . DicionarioeGramatica.com . Consultado em 21 de fevereiro de 2016  

Ligacoes externas [ editar | editar codigo-fonte ]