Patricio

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Busto de Julio Cesar , o mais conhecido membro da familia romana Julia , de estatuto patricio

Os patricios (em latim : patricius ) originalmente eram os cidadaos que constituiam a aristocracia da Roma Antiga , equivalendo a uma forma de nobreza hereditaria. A distincao foi altamente significativa no Reino Romano e no inicio da Republica , mas a sua relevancia diminuiu apos o Conflito das Ordens (494 a.C. a 287 a.C.). Na epoca do final da Republica e do Imperio, a adesao ao patriciado tinha apenas significado nominal. A estrutura social da Roma antiga girava em torno da distincao entre patricios e plebeus. O estatuto dos patricios deu-lhes mais poder politico do que os plebeus, mas a relacao entre os grupos acabou por causar o Conflito das Ordens. Este periodo resultou na mudanca da estrutura social da Roma Antiga.

Apos a queda do Imperio Ocidental , o termo patricio continuou como um titulo honorario elevado no Imperio Oriental. Na Europa Ocidental passou a ser usado em uma larga regiao para designar a classe urbana governante, mantendo muitas caracteristicas do antigo patriciado romano. Em muitas republicas italianas medievais, especialmente em Veneza e Genova , as classes patricias eram mais uma vez grupos formalmente definidos de familias lideres. No Sacro Imperio Romano , as familias da chamada grande burguesia tinham um estatuto semelhante. Posteriormente, patricio tornou-se um termo vago usado para se referir aos aristocratas e a elite burguesa em muitos paises.

Origem [ editar | editar codigo-fonte ]

De acordo com Tito Livio , os primeiros 100 homens nomeados senadores por Romulo foram chamados de "pais" (latim patres ), e os descendentes desses homens tornaram-se a classe patricia. Este relato tambem e descrito por Cicero . [ 1 ] A nomeacao desses cem homens para o Senado deu-lhes um status de nobreza. [ 1 ] Esse status e o que separava os patricios dos plebeus . Alguns relatos detalham que os cem homens foram escolhidos por causa da sua sabedoria. [ 1 ] Isto coincidiria com a ideia de que a Roma Antiga foi fundada num ideal baseado no merito. [ 1 ] Segundo outras opinioes, os patricios ( patricii ) eram aqueles que podiam apontar os pais, ou seja, aqueles que eram membros dos clas ( gentes ) cujos membros originalmente constituiam todo o corpo de cidadaos. [ 2 ]

Outras familias nobres que vieram para Roma durante o tempo dos reis tambem foram admitidas no patriciado, incluindo varias que emigraram de Alba Longa , depois desta cidade ter sido destruida por Tullus Hostilius . O ultimo caso conhecido de uma gente admitida no patriciado antes do seculo I a.C foi quando os Claudios foram acrescentados as fileiras dos patricios apos chegarem a Roma em 504 a.C, cinco anos apos o estabelecimento da Republica. [ 3 ] [ 4 ] [ 5 ] [ 6 ]

Os criterios que explicam por que Romulo escolheu certos homens para esta classe permanecem contestados por academicos e historiadores, mas a importancia da distincao patricio/plebeu e considerada por todos como fundamental para a antiga sociedade romana. A distincao entre a classe nobre, os patricios, e a populacao romana, os plebeus, existia desde o inicio da Roma Antiga. [ 7 ] Esta distincao tornou-se cada vez mais importante na sociedade ate o periodo do final da republica.

Em Roma [ editar | editar codigo-fonte ]

A palavra patricio deriva do latim patres , designacao dada a familias cujos chefes tinham um lugar no Senado . O patriciado existiu ao longo de toda a historia de Roma , desde o periodo regio ate a queda do Imperio , e pouco se modificou em suas caracteristicas basicas, embora seu poder e influencia tivessem variado ao longo dos seculos. As familias patricias alegavam descender dos fundadores de Roma , sugerindo que seu prestigio antedatava a formacao da cidade, quando a regiao era governada pelas principais familias das antigas tribos italicas, mas as origens desse sistema sao incertas. Uma possivel explicacao e que surgiu como uma articulacao politica de familias influentes, mas a motivacao principal pode ter sido de natureza economica ou social, como uma alianca de ajuda mutua entre familias ligadas por lacos de parentesco. O patriciado desde o inicio assumiu um carater aristocratico, e constituiu a unica nobreza de Roma ate o fim da monarquia. [ 8 ]

Os patricios detinham varios privilegios governamentais, dentre eles a isencao de tributos , a exclusiva possibilidade de se tornarem soberanos de Roma e tambem a de serem magistrados, oficiais e senadores. Desempenhavam altas funcoes no exercito , na religiao , na justica e na administracao publica. Eram em geral grandes proprietarios de terra e credores dos plebeus . [ 8 ] Na cidade habitavam num domus , uma grande e sofisticada residencia, e em suas propriedades rurais, nas villas , casas senhoriais.

Originalmente patricios nao podiam casar com plebeus. Ao longo do tempo, com a extincao de muitas gentes , seu numero se reduziu. Das cerca de 130 gentes patricias originais, no ano de 367 a.C. restavam apenas 22, compostas por 81 familias. No final da Republica eram 14 gentes, com cerca de 30 familias, mas Julio Cesar instituiu uma lei possibilitando o ingresso de novas familias. [ 8 ] [ 9 ]

Na era republicana varios cargos publicos importantes se tornaram acessiveis a plebe, incluindo as mais altas magistraturas ? o consulado e o senado ? perdendo o patriciado parte de sua forca politica, mas preservando significativo prestigio e influencia, especialmente quando pertencentes as familias mais tradicionais. [ 10 ] [ 8 ] Preservaram tambem o monopolio dos cargos de rei das coisas sagradas , de salios , dos tres flamines principais , e de principe do senado . Mantiveram ainda o privilegio de foro especial, [ 8 ] e aparentemente so eles podiam contrair o matrimonio solene conhecido como confarreatio . [ 9 ]

Uma cadeira curul , simbolo de autoridade entre os romanos.

Na Republica os patricios tambem deixaram de representar a nobreza com exclusividade. Com a aquisicao de riqueza e poder por muitas familias plebeias, foi introduzido o conceito de nobilitas , que dispensava o requisito do sangue patricio e dependia apenas da notoriedade, da posse dos direitos de cidadania e sobretudo do exercicio da virtude civica, sendo atribuivel a plebeus na condicao de que suas familias tivessem tido acesso ao consulado ou a alguma outra magistratura curul , que detinha poder de imperium . [ 11 ] [ 12 ] A partir do periodo imperial a nobilitas passou a depender eminentemente da riqueza, condicionada a posse de pelo menos um milhao de sestercios . [ 13 ]

Vespasiano ( r. 69?79) foi o primeiro imperador a pertencer a plebe , mas assim que ascendeu a dignidade imperial o senado concedeu-lhe o estatuto, providencia repetida para todos os seus sucessores que caiam na mesma situacao. No ambito do senado, era apanagio dos patricios serem escolhidos como inter-rei , e somente aos senadores patricios cabia a auctoritas patrum , que lhes dava o poder de confirmar as deliberacoes das assembleias populares, mas no seculo III a.C. o privilegio havia se tornado mera formalidade. Constantino ( r. 306?337) revitalizou o patriciado, mas apenas como distincao honoraria, pessoal e vitalicia, nao extensiva a familia. Mesmo assim, esses novos patricios tinham o direito de precedencia sobre os oficiais e consules. Zenao (r. 474-475; 476-491) restringiu o titulo para os prefeitos pretorianos e urbanos de Constantinopla , para os mestres dos soldados e os consules. [ 9 ] No fim do Imperio Romano do Ocidente os patricios recuperaram poder e virtualmente monopolizaram as funcoes da administracao publica. [ 8 ] No Imperio Bizantino indicou uma dignidade da corte. [ 14 ]

Pos-Antiguidade [ editar | editar codigo-fonte ]

Ver artigos principais: Burguesia e Nobreza
Daniele Dolfin, patricio de Veneza , onde foi formado um dos mais poderosos patriciados europeus.

A partir da Idade Media , em grande parte da Europa Ocidental , mas especialmente na Italia , Germania e Franca , passou a ser um titulo usado para denominar a nobreza urbana que governava uma comuna , cidade ou uma republica aristocratica, contrapondo-se a autoridade dos nobres da tradicao feudal . [ 8 ] [ 15 ] Na Germania e nos Paises Baixos os patricios foram conhecidos em muitos locais pelo titulo de burgueses , termo que neste caso difere da definicao marxista . [ 16 ] [ 17 ]

As origens do patriciado pos-antigo sao muito heterogeneas e variaram de acordo com a regiao. Em alguns locais emergiu de familias de vassalos, da pequena nobreza feudal e de oficiais do Sacro Imperio radicados nas cidades, [ 18 ] [ 19 ] mas em geral foi o resultado do progressivo empoderamento da burguesia urbana, estruturada sobre uma solida legislacao que lhe atribuia, assim como ocorreu na Roma Antiga, uma serie de privilegios hereditarios e a capacidade de acesso ao governo civico, caracteristicas que em essencia definem um patriciado. [ 20 ] [ 21 ]

Porem, o termo so entrou em uso em seu sentido estrito bem depois do estabelecimento da burguesia, em seus primordios uma classe estatutariamente bastante homogenea. O processo de formacao das elites urbanas variou consideravelmente em termos cronologicos e geograficos, mas no fim do seculo XV em quase todas as cidades europeias ja havia se formado uma distinta elite burguesa de grandes comerciantes, financistas e profissionais liberais de oficios muito rendosos e prestigiados na epoca, como os de medico e advogado. Este estrato burgues superior, que veio a ser chamado de patricio (ou "grande burgues"), passou a monopolizar o poder politico e economico, afastando os grupos manufatureiros e artesanais, e adotou habitos tipicos da nobreza, como um estilo de vida de luxo ostensivo, o uso de brasoes, a exibicao publica de genealogias (muitas vezes ficticias), a aquisicao de feudos e direitos hereditarios no campo, e a confeccao de cronicas onde as glorias de cada familia eram exaltadas. [ 20 ]

Quando as cidades legislaram para estabelecer patriciados formais, o estatuto foi atribuido apenas as familias da alta burguesia, as mais antigas, ricas ou influentes, ao mesmo tempo passando a ser investido de um carater de efetiva nobreza hereditaria. Mas em muitos locais jamais veio a ser criada uma legislacao consistente para organizar esses patriciados, a palavra podia ser usada apenas informalmente para designar o estrato superior da burguesia, e seu reconhecimento como nobreza muitas vezes dependeu mais de um consenso social do que de uma regulamentacao juridica. Ja em outros locais nunca foram considerados propriamente nobres, embora formassem uma classe aristocratica. [ 22 ] [ 23 ] [ 24 ]

Embora os patriciados formais tenham sido abolidos em quase todos os paises, o termo ainda sobrevive na linguagem popular para designar a elite. [ 25 ] Ainda existe oficialmente na republica de San Marino , sendo um titulo nobiliarquico acima de nobre e abaixo de barao; [ 26 ] nos Paises Baixos, titulo concedido a familias que nao sao nobres e que tenham comprovado uma longa tradicao de notadas contribuicoes a sociedade, [ 27 ] e em alguns cantoes da Suica , onde a classe perdeu muitas de suas antigas capacidades politicas mas manteve jurisdicao sobre a administracao de bens coletivos. [ 28 ]

Referencias

  1. a b c d Botsford, George Willis (1906). ≪The Social Composition of the Primitive Roman Populus≫. Political Science Quarterly . 21 (3): 498?526. ISSN   0032-3195 . JSTOR   2140599 . doi : 10.2307/2140599  
  2. ( Clay 1911 , p. 931) cites Livy ii. 56
  3. Harper's Dictionary of Classical Literature and Antiquities , Second Edition, Harry Thurston Peck , Editor (1897)
  4. Oxford Classical Dictionary , 2nd ed. (1970).
  5. Titus Livius , Ab Urbe Condita , Book II
  6. Titus Livius , Ab Urbe Condita , Book I
  7. Botsford, George Willis (1906). ≪The Social Composition of the Primitive Roman Populus≫. Political Science Quarterly . 21 (3): 498?526. ISSN   0032-3195 . JSTOR   2140599 . doi : 10.2307/2140599  
  8. a b c d e f g "Patrizio" . Enciclopedia Treccani
  9. a b c Fraccaro, Plinio. "Patriziato" . Enciclopedia Italiana , 1935
  10. "Patriziato" . Enciclopedia Treccani
  11. Cornell, T. J."The Lex Ouinia and the Emancipation of the Senate". In: Richardson, James H. Santangelo, Federico (eds.). The Roman Historical Tradition: Regal and Republican Rome . Oxford University Press, 2014, pp. 207-238
  12. Weisweiler, John. "Domesticating the Senatorial Elite: Universal Monarchy and Transregional Aristocracy in the Fourth Century AD". In: Wienand, Johannes. Contested Monarchy: Integrating the Roman Empire in the Fourth Century AD . Oxford University Press, 2015, pp. 17-41
  13. "Nobilta". In: Dizionario di Storia . Treccani, 2010
  14. Kazhdan, Alexander (ed.). Oxford Dictionary of Byzantium . Oxford University Press, 1991, p. 1600
  15. "Patriziato" . Dizionario di Storia , 2011
  16. Clarke, M. V. The Medieval City State: An Essay on Tyranny and Federation in the Later Middle Ages . Routledge, 2015, s/pp.
  17. Kamen, Henry. Early Modern European Society . Routledge, 2005, pp. 93-109
  18. Hibbert, A. B. "The Origins of the Medieval Town Patriciate". In: Past and Present , 1953; 3:15-27
  19. Hall, Peter. Cities in Civilization . Phoenix, 1999, p. 91
  20. a b Teuscher, Simon. "Property Regimes and Migration of Patrician Families in Western Europe Around 1500". In: Johnson, Christopher H. et al. (eds.). Transregional and Transnational Families in Europe and Beyond: Experiences Since the Middle Ages . Berghahn Books, 2011, pp. 75-92
  21. Hettling, Manfred. "Burger, Burgertum, Burgerlichkeit (english version)". In: Docupedia-Zeitgeschichte , 08/06/2016
  22. Dronkers, Jaap & Schijf, Huibert. "Marriages between nobility and high bourgeoisie as a way to maintain their elite positions in modern Dutch society". In: 6th Conference of the European Sociological Association . Murcia, 23- 26/09/2003
  23. Cacamp, Francois de. "Quelques conclusions. En ce qui concerne la structure du milieu lignager". In: Genealogie des familles inscrites aux Lignages de Bruxelles en 1376 . Bruxelles, tome III, 1971
  24. Pietri, Valerie, "Vraie et fausse noblesse : l’identite nobiliaire provencale a l’epreuve des reformations (1656-1718)". In: Cahiers de la Mediterranee , 2003 (66)
  25. "Patrician". In: Longman Dictionary of Contemporary English Online
  26. Broccoli, Michele. "La nobilta a San Marino: passato, presente, prospettive per il futuro". In: Nobilta , 2006; 74:445-454
  27. "Nederland’s Patriciaat" . Blauwe boekje
  28. "Comune patriziale" . In: Dizionario storico della Svizzera , 26/11/2003
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