Joao Bosco Penido Burnier

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Joao Bosco Penido Burnier
Presbitero da Igreja Catolica
Info/Prelado da Igreja Catolica
Padre Joao Bosco Burnier
Atividade eclesiastica
Ordem Companhia de Jesus
Ordenacao e nomeacao
Ordenacao presbiteral 1946
Dados pessoais
Nascimento Juiz de Fora
12 de junho de 1917
Morte Goiania
12 de outubro de 1976  (59 anos)
Nacionalidade brasileiro
Progenitores Mae: Maria Candida Penido
Pai: Henrique Burnier
Categoria:Igreja Catolica
Categoria:Hierarquia catolica
Projeto Catolicismo

Joao Bosco Penido Burnier , S.J. ( Juiz de Fora , 12 de junho de 1917 ? Goiania , 12 de outubro de 1976 ) foi um sacerdote jesuita brasileiro que dedicou os anos de sua vida a Igreja ate ser morto por agentes da ditadura militar .

E um dos casos que e investigados pela Comissao Nacional da Verdade . [ 1 ]

Biografia [ editar | editar codigo-fonte ]

Padre Joao Bosco Penido Burnier nasceu em Juiz de Fora , Minas Gerais , no dia 12 de junho de 1917 . Filho de Henrique Burnier e Maria Candida Penido, sendo o quinto filho de uma familia de nove irmaos.

Dois de seus oito irmaos tambem se dedicaram a vida religiosa: Frei Martinho da dominicano e o monsenhor Vicente Burnier, o primeiro sacerdote surdo do Brasil, que ficou conhecido como um dos padres mais atuantes da Pastoral dos Surdos.

Aos 11 anos de idade, Padre Joao Bosco Penido Burnier foi para um seminario em Paqueta , no Rio de Janeiro , em 1928 . De la, seguiu para Rio Comprido e para o Seminario Maior, em Roma , onde concluiu realizou um mestrado em Filosofia e Teologia na Pontificia Universidade Gregoriana . [ 2 ] Anos mais tarde, em 1946 , foi ordenado sacerdote e complementou sua formacao na Espanha . Burnier era ligado ao Conselho Indigenista Missionario (Cimi). Fazia trabalho pastoral junto a camponeses e indigenas, denunciando violencias cometidas por latifundiarios e agentes publicos. [ 3 ]

Seu retorno para o Brasil ocorreu em 1954 , apos ser nomeado assistente da Companhia de Jesus na America Latina e vice-provincial da regiao de Minas Gerais , Goias e Espirito Santo . Tambem participou da fundacao do Colegio dos Jesuitas , em Juiz de Fora e respondeu pelos cargos de mestre de novicos e diretor espiritual dos juniores. Os anos de sua vida madura foram dedicados a Missao de Diamantino , Mato Grosso , servindo junto aos indios beico de pau e bacairis , quando participou da coordenacao regional do CIMI . Um de seus trabalhos mais notaveis com os indios foi na Missao Anchieta, segundo o padre Egon Heck, coordenador do CIMI de Mato Grosso do Sul . [ 4 ]

Morte [ editar | editar codigo-fonte ]

Joao Bosco Penido Burnier foi morto no dia 11 de outubro de 1976 por policiais em Ribeirao Cascalheira (na epoca chamada de Ribeirao Bonito), no Mato Grosso [ 2 ] . O padre estava visitando a cadeia junto a outros padres e ao bispo Dom Pedro Casaldaliga , com o objetivo de interceder por pessoas que, apos terem sido presas sem mandado judicial ou flagrante delito estavam sendo torturadas. Eram elas Margarid Barbosa da Silva, Yolanda Elisa de Santos, Santana Rodrigues de oliveira Santos e Jose pereira Andrade.

Santuario dos Martires da Caminhada , construido dez anos apos o assassinato do Padre Joao Bosco.

Na delegacia quatro policiais receberam os religiosos de maneira truculenta, com ate ameacas de morte, mesmo eles tendo avisado que estavam ali a pedidos de hierarquia das forcas de seguranca. O padre foi baleado ao interceder em favor de duas dessas mulheres presas que estavam sendo torturadas . [ 5 ] Dom Pedro Casaldaliga contou em seu depoimento que "era possivel ouvir os gritos da rua".

Segundo Dom Pedro, as mulheres eram ameacadas com um caititu bravo que poderia despedaca-las. O assassino foi o soldado Ezy Ramalho Feitosa, que lhe deu um soco, uma coronhada e um tiro de bala dum dum na nuca. Gravemente ferido, o religioso foi internado no Instituto Neurologico de Goiania, mas nao resistiu aos ferimentos.

O assassinato do jesuita aumentou a tensao entre a ditadura e a hierarquia catolica, que denunciou o crime nas missas dominicais. A reacao ao crime desencadeou protestos de estudantes em varias universidades. [ 3 ] Nove dias depois da sua morte, o povo invadiu a delegacia, soltou os presos e destruiu o predio. [ 6 ]

Seu corpo permanece sepultado no seminario menor, Jesus o Bom Pastor, em Diamantino, no Mato Grosso. A cerimonia de despedida do padre foi acompanhada por mais de duas mil pessoas, juntamente com um caravana de 45 carros. No mesmo dia do assassinato, a populacao de Ribeirao destruiu e incendiou a delegacia.

Com 33 anos de atraso, o Governo Federal admitiu, no inicio de dezembro de 2009 , atraves do trabalho da Comissao Especial sobre Mortos e Desaparecidos Politicos , CEMDP, que o assassinato do Padre Burnier foi provocado pelo regime militar . [ 4 ] [ 7 ] O reconhecimento oficial da culpa do Estado na morte repara um erro historico e abre caminho para a indenizacao dos familiares de Burnier.

O nome religioso consta no Dossie ditadura: mortos e desaparecidos politicos no Brasil (1964-1985) , organizado pela Comissao de Familiares de Mortos e Desaparecidos Politicos. O seu caso ja havia sido apresentado anteriormente a CEMDP, mas foi indeferido em 24 de abril de 1997.

Homenagens [ editar | editar codigo-fonte ]

Uma rua localizada no bairro do Trevo, em Belo Horizonte, Minas Gerais, foi batizada com o seu nome. [ 2 ] Assim como uma rua no bairro Camobi, em Santa Maria (RS), como uma praca no bairro Jardim Julieta em Sao Paulo e outra rua no conjunto Habitacional P, em Campinas (SP). Ainda um bairro na cidade de Rondonopolis (MT) recebeu seu nome, homenageado pelas mais de 400 familias sem teto que, apos grilarem a propriedade, a policia tentou tira-los com a forca, mas com a intervencao do Padre Lothar Bauchrowitz o local foi adquirido pelo padre e a prefeitura e empossado pelo povo.

O livro " O Sangue pela Justica" , escrito pelo padre Jose Coelho de Souza, foi publicado em 1978. Dom Pedro Casaldaliga escreveu " Martirio do Padre Joao Bosco Burnier" em 2006. [ 2 ] A obra reconstitui por meio de documentos e depoimentos a vida e o martirio do mesmo.

Hoje, "Burnier" e o nome de uma ONG em defesa dos direitos humanos e de escolas em Minas Gerais e Mato Grosso. [ 8 ]

No local em que o jesuita agonizou, aguardando transporte para atendimento medico foi erguida uma capela que ate hoje e visitada por amigos, religiosos e romeiros. Em julho de 2006, a romaria dos Martires da Caminhada, em Ribeirao Cascalheira, Mato Grosso, marcou as homenagens relativas ao 30º ano do assassinato do religioso. A cerimonia teve a participacao de cerca quatro mil pessoas, contando com a presenca de dom Pedro Casaldaliga e de outros lideres religiosos, assim como de integrantes da Comissao Pastoral da Terra (CPT).

Referencias

  1. ≪Joao Bosco Penido Burnier (Padre)≫ . Memorias da ditadura . Consultado em 11 de outubro de 2019  
  2. a b c d ≪Dossie Ditadura: Mortos e Desaparecidos Politicos no Brasil (1964-1985)≫ (PDF) . Consultado em 5 de outubro de 2019  
  3. a b ≪Memorial da Democracia - Padre das CEBs e morto na delegacia≫ . Memorial da Democracia . Consultado em 13 de outubro de 2019  
  4. a b Secretaria de Direitos Humanos reconhece que religioso morreu vitima do regime militar . Por Christina Machado. Agencia Brasil , 19 de abril de 2010.
  5. CNBB, Comunicacao Pastoral ao Povo de Deus, 1976 [ligacao inativa]
  6. Frei Betto. "Dom Pedro Casaldaliga (1928-2020). Testemunho Profetico" . Revista Humanitas ? Unisinos , 11/08/2020
  7. ≪O Brasil reconhece o assassinato do Padre Joao Bosco Burnier como crime politico, depois de 33 anos≫ . Provincia Jesuita do Brasil Centro-Leste. 21 de abril de 2010 . Consultado em 20 de novembro de 2010   [ligacao inativa]
  8. Web, Administrador. ≪Apos 33 anos, Brasil reconhece o assassinato do padre Joao Bosco Burnier como crime politico≫ . www.ihu.unisinos.br . Consultado em 13 de outubro de 2019  

Ligacoes externas [ editar | editar codigo-fonte ]