Mercedes Baptista

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Mercedes Baptista
Mercedes Baptista
Mercedes Baptista, 1959 ( Arquivo Nacional .)
Nascimento 20 de maio de 1921
Campos dos Goytacazes , Rio de Janeiro
Nacionalidade brasileira
Morte 19 de agosto de 2014  (93 anos)
Rio de Janeiro
Ocupacao bailarina

Mercedes Baptista ( Campos dos Goytacazes , 20 de maio de 1921 ? Rio de Janeiro , 19 de agosto de 2014 ) foi uma bailarina e coreografa brasileira , a primeira negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro . [ 1 ]

Baptista foi a responsavel pela criacao do bale afro-brasileiro, inspirado nos terreiros de candomble , elaborando uma codificacao e vocabulario proprio para essas dancas. [ 1 ] [ 2 ]

O seu Ballet Folclorico Mercedes Baptista foi responsavel pela consolidacao da danca moderna do Brasil . [ 2 ] Segundo a pesquisadora Mariana Monteiro, da Universidade Estadual Paulista :

Biografia [ editar | editar codigo-fonte ]

Mercedes Baptista no seu bale folclorico, anos 1950. Arquivo Nacional.

De origem humilde, Mercedes mudou-se nova para o Rio de Janeiro onde teve varios trabalhos (dentre os quais como empregada domestica e como operaria em fabrica de chapeus e numa grafica [ 1 ] [ 4 ] ), mas foi como bilheteira de cinema que teve acesso aos filmes e ao sonho de dedicar-se a arte. [ 5 ] Frequentou escola publica situada no bairro da Tijuca , o Colegio Municipal Homem de Mello. [ 6 ]

Iniciou seus estudos de bale (em 1945 [ 6 ] ) com a bailarina Eros Volusia , entao professora do Servico Nacional de Teatro, [ 4 ] que indicou-lhe os primeiros caminhos para a danca; completou sua formacao na Escola de Dancas do Theatro Municipal (atualmente a Escola Estadual de Danca Maria Olenewa ) com a professora russo-brasileira Maria Olenewa e Yuco Linderberg , na decada de 1940. [ 5 ] Em 18 de marco de 1948, em dificil concurso publico , passou a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal, sendo a primeira mulher negra a consegui-lo e, ao lado de Raul Soares que tambem prestou este concurso, uma dos dois negros ali. [ 1 ] [ 6 ]

Apesar disto, sofria constante discriminacao racial , a ponto de nao conseguir trabalhar; numa entrevista de 1981 ela declarou: " Madeleine Rosay , Vaslav Veltchek , Edy Vasconcelos e Nina Verchinina me deram boas oportunidades na carreira, sem olhar minha cor. Os problemas vieram depois. Eu me vi de repente excluida de tudo, e nem que pusesse um capacho cobrindo meu rosto me deixavam pisar em cena. So uma vez atravessei o palco usando sapatilhas de pontas e, ainda assim, la no fundo." ? ao que ela procurou contornar, como disse em outra ocasiao: “Tudo foi sempre muito dificil, mas quem iria assumir ou deixar claro que parte das minhas dificuldades era pelo fato de que eu nao era branca? Nunca iriam me dizer isso, nem dizer que o problema era racial, mas eu sabia que era e, por isso, sempre lutei cada vez procurando me aperfeicoar.” [ 6 ] Ela entao passa a integrar o Teatro Experimental do Negro como bailarina, depois como colaboradora e finalmente coreografa. [ 6 ]

Escultura de Mercedes Baptista no Largo de Sao Francisco da Prainha (cidade do Rio de Janeiro), por Mario Pitanguy .

A convite da coreografa e antropologa Katherine Dunham , que havia criado nos Estados Unidos uma companhia de danca exclusivamente formada por bailarinos negros, Baptista foi para aquele pais onde teve aulas de danca moderna e tomou parte do ativismo negro . [ 5 ]

De volta ao Brasil funda o Ballet Folclorico Mercedes Baptista , dedicado a formacao de bailarinos negros que, ali, pesquisavam e incorporavam em seus trabalhos e movimentos a cultura afro-brasileira , granjeando destaque no cenario artistico e realizando turnes por paises da Europa e America do Sul . [ 5 ]

Em 1963 elaborou a coreografia da escola de samba Academicos do Salgueiro , e inseriu de modo pioneiro na sua Comissao de Frente elementos da danca classica. [ 5 ] Tambem foi responsavel pela "ala do minueto", hoje considerada classica, no enredo que tratava de Xica da Silva ; sobre essa inovacao o carnavalesco Manoel Dionisio, que participara do desfile, declarou: " Houve muitas criticas na epoca. Foi um escandalo. Fomos considerados pela critica os idealizadores de uma coreografia maldita para o carnaval carioca. Mas, dois anos depois, comecaram nos copiar. " [ 4 ]

Morte [ editar | editar codigo-fonte ]

Sofrendo de diabetes e problemas cardiacos, Mercedes faleceu em 19 de agosto de 2014, aos noventa e tres anos de idade, no asilo onde morava no bairro de Copacabana , e teve seu corpo cremado no Memorial do Carmo . [ 1 ] [ 4 ]

Homenagens [ editar | editar codigo-fonte ]

No desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro de 2008 a Academicos do Cubango apresentou como seu samba-enredo o tema “Mercedes Batista, de passo a passo, um passo” em sua homenagem. [ 4 ]

Em 2009 tambem foi lembrada pela escola Unidos de Vila Isabel , que homenageou os cem anos do Theatro Municipal; neste ano tambem foi premiada simbolicamente peo jornal O Globo com o trofeu Estandarte de Ouro por sua contribuicao ao carnaval do Rio de Janeiro. [ 4 ]

Em 2007 foi lancado o filme documentario Bale de Pe no Chao ? A danca afro de Mercedes Baptista , dirigido por Lilian Sola Santiago e Marianna Monteiro. [ 5 ]

Em 2016 foi autorizada pela Prefeitura do Rio a instalacao numa das areas recuperadas da zona portuaria da cidade de uma estatua em sua homenagem, obra do escultor Mario Pitanguy , e doada a Prefeitura pelo "Movimento Artistico da Praia Vermelha". [ 7 ]

Premiacoes [ editar | editar codigo-fonte ]

2009 - Personalidade [ 8 ]

Referencias

  1. a b c d e ≪Mercedes Baptista≫ . Museu Afro Brasil . Consultado em 8 de marco de 2018  
  2. a b Vania Alves (24 de abril de 2013). ≪Ao som dos atabaques≫ . Revista de Danca . Consultado em 21 de dezembro de 2017 . Copia arquivada em 21 de dezembro de 2017  
  3. Jonas Sales (1 de novembro de 2017). ≪A negritude e a cena no Brasil≫ . Revista Eixo, nº 2 (Especial), vol. 6 . Consultado em 23 de dezembro de 2017 . Copia arquivada em 23 de dezembro de 2017  
  4. a b c d e f ≪Morre Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Teatro Municipal, aos 93 anos≫ . O Globo. 19 de agosto de 2014 . Consultado em 23 de dezembro de 2017 . Copia arquivada em 23 de dezembro de 2017  
  5. a b c d e f Flavia Fontes Oliveira (24 de abril de 2013). ≪Mercedes Baptista e a danca brasileira≫ . Revista de Danca . Consultado em 21 de dezembro de 2017 . Copia arquivada em 21 de dezembro de 2017  
  6. a b c d e Viviane Maria Candiotto (2017). ≪Da diaspora de Stuart Hall para danca de Mercedes Baptista≫ . Consultado em 23 de dezembro de 2017 . Copia arquivada em 23 de dezembro de 2017  
  7. Ancelmo Gois (26 de setembro de 2016). ≪A Danca de Mercedes≫ . O Globo . Consultado em 15 de marco de 2019 . Copia arquivada em 15 de marco de 2019  
  8. ≪Estandarte de Ouro 2009: Salgueiro leva titulo de melhor escola; Vila Isabel e Imperio Serrano conquistam tres outros premios cada≫ . O Globo . 25 de fevereiro de 2009. p. 18 . Consultado em 30 de outubro de 2019 . Arquivado do original em 30 de outubro de 2019  

Bibliografia [ editar | editar codigo-fonte ]