Mapa cor-de-rosa
foi o mapa representativo da pretensao de
Portugal
a exercer soberania sobre os territorios entre
Angola
e
Mocambique
, nos quais hoje se situam a
Zambia
, o
Zimbabue
e o
Malaui
, numa vasta faixa de territorio que ligava o Oceano Atlantico ao Indico. Tera sido apresentado em
1886
, pela
Sociedade de Geografia de Lisboa
, que colidia com os interesses ingleses de ligar o Cairo (
Egito
) ao Cabo (
Africa do Sul
), tendo-se assim tornado publico um ano depois.
Embora a sua genese tenha sido atribuida ao entao Ministro dos Negocios Estrangeiros
Henrique de Barros Gomes
,
[
1
]
que se empenhou na promocao de expedicoes que pudessem comprovar a efectiva ocupacao dos territorios pretendidos por Portugal em Africa, este sempre negou a paternidade do mapa.
Este entrou em colisao com o objectivo britanico de criar uma faixa de territorio que ligasse o Cairo a Cidade do Cabo, que desencadeou uma disputa com a
Gra-Bretanha
que culminou no
ultimato britanico de 1890
e no
Tratado Anglo-Portugues de 1891
, a que
Portugal
cedeu, causando serios danos a imagem do governo monarquico portugues. Nas relacoes luso-britanicas, este foi o segundo maior conflito entre as potencias, somente menor (em nivel militar, mas nao diplomatico) que a
Questao de Bolama
.
Face ao crescente interesse das potencias europeias pela
Africa
, ao final do seculo XIX, tornou-se claro que
Portugal
deveria tambem definir uma nova politica africana ja que a crescente presenca inglesa,
francesa
e
alema
naquele continente ameacava a tradicional hegemonia portuguesa nas zonas costeiras de
Angola
e
Mocambique
.
Com base no chamado
direito historico
, alicercado na primazia da ocupacao
europeia
,
Portugal
reclamava vastas areas do continente africano, embora, de facto, apenas dominasse feitorias costeiras e pequenissimos territorios ao redor dessas. Contudo, a partir da
decada de 1870
ficou claro que apenas o direito historico nao seria suficiente e que a presenca portuguesa dependia do alargamento para o interior das possessoes reclamadas. Para tal comecaram a ser organizados planos destinados a promover a exploracao do interior da
Africa
.
Em
1877
foi lancado, por
Joao de Andrade Corvo
, um conjunto de iniciativas de exploracao destinadas a conhecer a zona que separava as colonias de
Angola
e
Mocambique
, que levaram as famosas expedicoes de
Hermenegildo Capelo
,
Roberto Ivens
e
Serpa Pinto
, integradas numa nova, e entao pouco aceite, estrategia portuguesa para o continente africano que privilegiava a ocupacao efectiva atraves da exploracao e
colonizacao
em detrimento dos simples direitos historicos.
Predominando em
Portugal
a visao colonial que assentava ainda nos direitos historicos, o governo portugues comecou por reclamar areas cada vez maiores do
continente africano
, entrando em colisao com as restantes potencias europeias, o que levou a um agudizar de tensoes, enquanto eram desenvolvidos esforcos para uma ocupacao efectiva do territorio.
Nesse contexto, a
Sociedade de Geografia de Lisboa
, defendendo a necessidade de formar uma barreira as intencoes expansionistas britanicas que pretendiam a soberania sobre um territorio que, do
Sudao
, se prolongasse ate ao
Cabo
pelo interior da Africa, organizou uma subscricao permanente para manter
estacoes civilizadoras
na zona de influencia portuguesa do interior do continente, definida num mapa como uma ampla faixa da costa a contracosta, ligando
Angola
a
Mocambique
. Nascia assim, ainda sem sancao oficial, o chamado "Mapa Cor-de-Rosa".
Em
1884
a aceitacao unilateral pela
Gra-Bretanha
das reivindicacoes portuguesas ao controlo da foz do
rio Congo
levou ao acirramento dos conflitos com as potencias europeias rivais. Convocada uma conferencia internacional, a
Conferencia de Berlim
(
1884
?
1885
), para dirimir os multiplos conflitos existentes e fixar as zonas de influencia de cada potencia em Africa, assistiu-se a um entendimento entre a Franca e Alemanha, face a uma atitude conciliatoria da
Gra-Bretanha
, que abandonou totalmente o seu anterior entendimento com
Portugal
. O resultado foi a partilha do continente entre as potencias europeias e o estabelecimento de novas regras para a
corrida a Africa
.
Portugal
foi o grande derrotado da
Conferencia de Berlim
pois, para alem de assistir a recusa do direito historico como criterio de ocupacao de territorio, foi ainda obrigado a aceitar o principio da livre navegacao dos rios internacionais (aplicando-se ao
Congo
, ao
Zambeze
e ao
Rovuma
em territorio tradicionalmente portugues), e perdeu o controlo da foz do Congo, ficando so com o pequeno enclave de
Cabinda
.
Apos o choque da
Conferencia de Berlim
, em
Portugal
percebeu-se a urgencia de delimitar as possessoes em
Africa
. Logo em
1885
, comecaram negociacoes com a
Franca
e a
Alemanha
para delimitar as fronteiras dos territorios portugueses.
O tratado com a
Franca
foi assinado em
1886
. Nele foi incluido, como anexo, a primeira versao oficial do "mapa cor-de-rosa", apesar de a
Franca
nao ter interesses naquele territorio. No tratado com a
Alemanha
, concluido em
1887
, o "mapa cor-de-rosa" foi novamente apenso, sendo apresentado as Cortes como a versao oficial das pretensoes territoriais portuguesas. Contudo, no tratado assinado, a
Alemanha
apenas garantiu que nao tinha pretensoes directas na zona.
Informada desta pretensao portuguesa, a
Gra-Bretanha
reagiu de imediato informando a
Portugal
ser nulo o pretenso reconhecimento frances e alemao do "mapa cor-de-rosa", pois aquelas potencias nunca tiveram interesses na zona.
As pretensoes portuguesas entravam em conflito com o mega projecto ingles de criar uma
ferrovia
que atravessaria o todo o continente africano de norte a sul, ligando o
Cairo
a
Cidade do Cabo
(Este acabaria por nunca se realizar, pois alem das enormes dificuldades de um projecto desta dimensao, dos obstaculos postos pelo clima e geografia, a oposicao portuguesa com o mapa cor-de-rosa seguiu-se o
Incidente de Fachoda
entre 1898 e 1899, que colocou a Franca e Inglaterra a beira de uma guerra).
O governo portugues, que necessitava do acordo britanico (a
Gra-Bretanha
era a super-potencia do tempo) para a delimitacao de fronteiras, resolveu atrasar a negociacao, fazendo saber que as suas pretensoes eram efectivamente as do "mapa cor-de-rosa", que entretanto se tinha transformado num documento com ampla divulgacao publica e objecto de arraigadas paixoes patrioticas (a designacao de "mapa cor-de-rosa" nasceu nesta altura dado o mapa enviado ao parlamento apresentar os territorios em disputa aguados com esta cor).
Barros Gomes
, o responsavel pela politica colonial da epoca, aparentemente apostou no atraso ingles no controlo efectivo das areas disputadas e organizou expedicoes portuguesas que percorreram as zonas em disputa e assinaram dezenas de tratados de vassalagem com os povos autoctones. O plano era secreto mas a espionagem britanica estava a par dele desde o primeiro momento, gracas a um informador que tinha no proprio gabinete de Barros Gomes.
Apos o desfecho do
ultimato britanico de 1890
foi afirmado que o governo portugues em
1888
nao assumia por completo as pretensoes do "mapa cor-de-rosa", tendo-o utilizado apenas como base para negociacoes com
Londres
. Estaria entao disposto a ceder a Gra-Bretanha o norte do
Transvaal
(o pais dos
Matabeles
), retendo apenas o sul do
lago Niassa
e o planalto de
Manica
, por temer que a cedencia daqueles territorios, para alem de impedir a ligacao costa a costa, conduzisse a livre navegacao no
rio Zambeze
, podendo retalhar
Mocambique
.
Procurando o apoio do
Transvaal
e da
Alemanha
, o governo portugues procurou convencer o chanceler
Bismarck
que era do interesse
boer
e alemao entregar a zona central de
Africa
a um terceiro poder de modo a criar uma comunidade de interesses que obrigasse a Inglaterra a cedencias.
Prosseguindo uma politica de aproximacao aos interesses boer, o governo portugues retirou a Inglaterra o controlo do caminho de ferro de
Lourenco Marques
expropriando em meados de
1889
a companhia inglesa que o controlava. O
Transvaal
, em contrapartida, assinou pouco depois um acordo de tarifas aduaneiras e acedeu na fixacao do tracado definitivo da fronteira com
Mocambique
.
Considerando
injusta e injustificavel
a expropriacao do caminho de ferro, a Gra-Bretanha reclamou de imediato, com o apoio dos
Estados Unidos
, pedindo uma arbitragem internacional, que Portugal recusou. Iniciou-se uma grande campanha de imprensa contra Portugal, que criou as condicoes politicas para a ruptura.
O resultado foi o ultimato britanico de
11 de Janeiro
de
1890
sendo exigido a Portugal a retirada de toda a zona disputada sob pena de serem cortadas as relacoes diplomaticas. Isolado, Portugal protestou mas seguiu-se a inevitavel cedencia e recuo, definido pelo
Tratado Anglo-Portugues de 1891
. E assim acabou o "mapa cor-de-rosa", mas nao sem que antes tivesse deixado um legado de humilhacao nacional e frustracao (bem patente no
Finis Patriae
de
Guerra Junqueiro
) que haveria de marcar
Portugal
durante muitas decadas. Na sequencia deste episodio,
Alfredo Keil
compos
A Portuguesa
.
Referencias
- FRANCESCO TAMBURINI,
Il ruolo dell'Italia nella vertenza anglo-portoghese sui territori dell'Africa australe: dal mapa-cor-de-rosa al barotseland (1886-1905)
, "Africana, rivista di studi extraeuropei", 2014.
- CHARLES NOWELL,
The Rose-colored map. Portugal attempt to build an African empire from the Atlantic to the Indian Ocean
, Junta de Investigacoes Cinetificas do Ultramar, Lisboa, 1
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sec. IX ? sec. XI
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sec. XII ? sec. XIII
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sec. XIV
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sec. XV
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sec. XVI
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sec. XVII
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sec. XVIII
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sec. XIX
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sec. XX
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