Literatura comparada

Origem: Wikipedia, a enciclopedia livre.

Literatura comparada e o ramo da teoria literaria que estuda, atraves da comparacao dos diferentes textos literarios junto de seus grupos linguisticos, como, as regras gramaticais, intertextualidades, culturas e nacionalidades, pontos que buscam uma relacao de aproximacao ou afastamento, sendo possivel entre dois ou mais textos, incidindo o seu foco nao somente na comparacao da literatura em si, mas com maior enfase nas respectivas teorias da literatura. Embora seja mais praticado com trabalhos em diferentes idiomas, os estudos no campo da literatura comparada podem tambem ser realizados com trabalhos em um mesmo idioma, de diferentes nacoes ou culturas na qual a lingua e falada. Tambem pode abranger a comparacao de diferentes tipos de artes; por exemplo, pode investigar a relacao entre filmes e obras literarias .

Em outras palavras, a literatura comparada pode ser compreendida como um campo interdisciplinar cujos “praticantes” estudam literatura transversalmente as fronteiras nacionais, ao tempo, as linguas, aos generos, aos limites entre a Literatura e as demais artes, assim como qualquer outra disciplina (literatura e psicologia, filosofia, ciencias, historia, arquitetura, sociologia e politica).

A literatura comparada, doravante LC, consiste em uma abordagem multidisciplinar que configura-se nos estudos comparativos das literaturas em diferentes areas linguisticas, mas tambem de diferentes midias e tipos de arte. O comparatista pode se interessar pelas literaturas nacionais, assim como pela musica , pela Pintura e pelo Cinema , por exemplo. A pratica dessa disciplina exige o dominio de muitas linguagens e conhecimentos em mais de um dominio de pesquisa. Por sua natureza pluralista, a LC encoraja o intercambio entre as disciplinas e os lugares de pesquisa.

Surgimento [ editar | editar codigo-fonte ]

A expressao “literatura comparada” surge no seculo XIX e usa-se da comparacao de estruturas com a finalidade de extrair leis gerais da literatura. Consagrada academicamente na Franca , tem sua primeira catedra em Lyon , em 1887, seguida por Sorbonne , 1910. Mas apenas nos primeiros decenios do seculo XX, ela ganha estatura de disciplina reconhecida, tornando-se objeto de ensino regular nas grandes universidades europeias e norte-americanas e dotando-se de bibliografia especifica e publico especializados. Suas grandes representacoes foram a Escola Francesa (criada nos principios de fonte e influencia), a Escola Americana (despojada de inflexoes nacionalistas, grande ecletismo, facil absorcao de nocoes teoricas), Escola Sovietica (compreensao da literatura como produto da sociedade).

Inicialmente, a LC fazia comparacoes e distincoes implicitas entre “literaturas maiores” e “literaturas menores”, sendo as primeiras as que, por via de uma maior forca quantitativa e qualitativa, funcionariam como verdadeiros modelos ou “fontes” para as segundas, que se limitariam assim a um papel secundario, periferico, de integracao de influencias provenientes dos modelos. Esse comparatismo configurava-se como uma relativizacao de uma hierarquia (“imagologia”, o estudo das imagens culturais que um determinado povo provoca em outra literatura nacional). Cabe salientar que os estudos comparados existiam muito antes de adentrarem o campo da literatura em si

O conceito de Weltliteratur (“literatura mundial”) proposto ainda no seculo XVIII por Goethe (escritor, romancista, dramaturgo e filosofo alemao), corresponde assim a este intuito que pretende evitar um isolacionismo literario, sublinhando ainda a continuidade relativamente ao modelo anterior de uma “republica das letras" (Republica das letras e uma expressao cunhada na Italia e que designa um espaco imaginario no qual estao todos os textos produzidos pelo Ocidente desde a Antiguidade, isto e, desde os gregos), no interior da qual os pressupostos nacionalistas eram relativamente pouco atuantes. Pelo contrario, a LC desenvolver-se-a e sistematizar-se-a adentro do que poderemos designar como um “paradigma nacionalista”, o que explica que ela seja considera frequentemente, como uma disciplina pela qual os gestos e as vontades de entendimento internacionalista encontram um canal quase exclusivo. E ao longo, entao, do seculo XIX que se assistira a progressiva implantacao institucional da disciplina, quer atraves de cursos universitarios que se reclamam do comparatismo, quer atraves da publicacao de obras que integram ja esta designacao, quer ainda atraves da publicacao de revistas em que a “literatura comparada” surge como proposito fundador.

A LC nasceu em um ambito em que cada nacao fechava-se dentro de si mesma e era necessario combater esse isolacionismo nacionalista. Ela ficou um longo tempo limitada aos estudos de autores em relacao biografica. Mas hoje, sob influencia notadamente das pesquisas norte-americanas, ela se abriu para os estudos tematicos e ideologicos.

A Escola Americana, verbi gratia, era vernaculamente alinhada as visoes internacionalistas de Goethe e Posnett (possivelmente refletindo o desejo pos-guerra de uma cooperacao internacional), procurando por exemplos de confiancas universais do ser humano baseadas nos arquetipos literarios que apareciam por toda a literatura a todo tempo e em todo lugar.

A LC pressupoe a existencia e a pratica de uma atitude comparativa que, no entanto, apresenta um ambito e um escopo muito mais amplos e ambiciosos, se bem que metodologicamente menos consistentes. Reconhecendo que a comparacao se configuraria como um meio, uma metodologia de analise e estudo e nao como algo fechado em si.

Surgida de uma necessidade de evitar o fechamento em si das nacoes recem constituidas e com uma intencao de cosmopolitismo literario, a LC deixa de exercer essa funcao “internacionalista” para converter-se em uma disciplina que poe em relacao diferentes campos cientificos.

A atitude comparativa foi central, por exemplo, para que a literatura e a cultura latinas se pensassem nas suas relacoes e especificidades face a literatura e cultura gregas; ou na forma como a Idade-Media integrou e reformulou essa heranca classica, diversificando-a atraves das especificas direcoes que viriam a constituir as varias literaturas nacionais.

Nao deveremos confundir a area dos estudos de recepcao com o “velho” estudo de fontes e influencias: nao so porque a tonica nao e ja a da producao (o autor), mas sim a da recepcao (o leitor e suas diversas configuracoes), mas, sobretudo, porque se passa a insistir quer no carater dinamico da historia literaria quer nas relacoes culturais que o literario pressupoe. Bem como o carater universal da literatura.

Crise [ editar | editar codigo-fonte ]

Desvinculando-se da exclusividade dos estudos franceses e de uma postura classica, Rene Wellek em 1958, no 2º Congresso da recem-criada Association Internationale de Litterature Comparee, polemicamente intitula a sua conferencia “The crisis of comparative literature” (Wellek, 1959). A “crise” diagnosticada e analisada por Wellek, e que ele faz radicar na fundamentacao historicista e positivista do modelo comparatista tradicional, levara a que, progressivamente, se assista a uma clara renovacao dos objetos e metodos da disciplina, protagonizada pela crescente importancia da teoria literaria nos estudos literarios em geral e na Literatura Comparada em particular.

Para Wellek, a LC estava restringindo-se a analise de fragmentos e estudos de fontes e influencias, com isso, geraria um enorme desprestigio da area. Defendia, ainda, que a analise focasse no texto em si e nao em questoes externas e contextuais.

Conforme, Guillen (1985), “as fronteiras de uma nacao nao rasuram nem conseguem esbater as passagens culturais e mais especificamente literarias que estao na base de qualquer dita ‘literatura nacional’” .

Areas de atuacao [ editar | editar codigo-fonte ]

Enfim, o campo de atuacao da LC e hoje altamente diversificado: por exemplo, comparatistas frequentemente estudam literatura chinesa, arabe e de grandes linguas mundiais e de outras regioes, assim como o fazem com o Ingles e as literaturas europeias.

Ha marcas em muitas partes do mundo de que a disciplina vem prosperando, especialmente na Asia, na America Latina e no Mediterraneo. As atuais tendencias da LC tambem refletem a crescente importancia dos estudos culturais nos campos da literatura.

Outra area de atuacao da LC e o campo da traducao. Relacionados de modo muito forte com esta area, os estudos de traducao afirmam-se progressivamente como zona cujo crescente impacto e fundamentacao teorica tem inclusivamente levado a sua defesa como area comparatista privilegiada.

Em sintese, a LC parece poder surgir como espaco reflexivo privilegiado para a tomada de consciencia do carater historico, teorico e cultural do fenomeno literario, quer insistindo em aproximacoes caracterizadas por fenomenos “transtemporais” e supranacionais quer acentuando uma dimensao especificamente cultural, visivel, por exemplo, em areas como os estudos de traducao ou os estudos Inter semioticos. Daqui decorrem tres tendencias centrais para o entendimento das perspectivas atuais do comparatismo: uma tendencia multidisciplinar (e mesmo eventualmente interdisciplinar); uma tendencia interdiscursiva, visivel no desenvolvimento das relacoes com areas como a historia, a filosofia, a sociologia e a antropologia; finalmente, uma tendencia Inter semiotica, que tenta colocar o fenomeno literario no quadro mais alto das manifestacoes artisticas humanas. De todas elas ressalta um aspecto comum: o de que a LC situa-se na area particularmente sensivel da “fronteira” entre nacoes, linguas, discursos, praticas artisticas, problemas e conformacoes culturais. E esta colocacao faz dela um campo de indagacoes particularmente fertil para a colocacao de problemas que, se tomados em absoluto, dificilmente poderao encontrar uma formulacao epistemologica significativa.

Ver tambem [ editar | editar codigo-fonte ]

Referencias

  • BALDENSPERGER, Ferdinand. 1921, “Litteratura comparee: le mot et la chose”, Revue de Litterature Comparee,1(1), pp. 5-29, 1921.
  • BASSNET, Susan, 1992, Comparative Literature. An Introduction, Oxford, Blackwell
  • BORGES, J.L. O Escritor Argentino e a Tradicao. In: Obras Completas de Jorge Luis Borges, volume I. Sao Paulo: Globo, 1999, p. 288-296.
  • CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. Sao Paulo, Atica, 1986.
  • NITRINI, Sandra. Literatura Comparada. Sao Paulo, EDUSP, 2000.
  • CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada: a estrategia interdisciplinar. Revista Brasileira de Literatura Comparada. Niteroi: Abralic, n.1, p.9-21, 1991.
  • CARVALHAL, Tania Franco & COUTINHO, Eduardo F. (org). Literatura Comparada: textos fundadores. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
  • GUILLEN, Claudio. Entre lo Uno y lo Diverso. Introduccion a la Literatura Comparada, Barcelona, ed. Critica, 1985.
  • WELLECK, Rene, 1959, “The crisis of comparative literature”, in 1963, Concepts of Criticism, Yale U.P.

Ligacoes externas [ editar | editar codigo-fonte ]


Ícone de esboço Este artigo sobre literatura e um esboco . Voce pode ajudar a Wikipedia expandindo-o .