Silva Carvalho em
1822
; Gravura da epoca.
Jose da Silva Carvalho
GCSE
(
Santa Comba Dao
,
Sao Joao de Areias
,
Vila Dianteira
,
19 de Dezembro
de
1782
?
Lisboa
,
Santa Isabel
,
5 de Setembro
de
1856
), advogado e magistrado
[
1
]
foi um dos obreiros da
Revolucao de 1820
, ministro de
D. Joao VI
,
D. Pedro IV
,
D. Maria II
e o primeiro Presidente do
Supremo Tribunal de Justica
.
1782
-
1820
: Filho dum casal de humildes lavradores, seus pais, Jose da Silva Saraiva e Ana Maria de Jesus Carvalho, a custa de milagres de economia, conseguiram que frequentasse o Colegio das Artes em Coimbra e mais tarde, em
1800
, a
Faculdade de Leis
da
Universidade de Coimbra
, onde se formou como
Bacharel
[
1
]
em
1805
.
Em
1810
foi colocado como
juiz de fora
[
1
]
da vila de
Recardaes
, casando-se em
1811
com Maria Clara Esteves Correia de Brito, e em
1814
foi nomeado Juiz dos Orfaos
[
1
]
da cidade do
Porto
. Foi nessa altura que se iniciou, como
Liberal
,
[
1
]
na vida politica em que tanto se notabilizou.
Descontentes com a ingerencia inglesa na vida politica de
Portugal
, em
1818
, Jose da Silva Carvalho,
Manuel Fernandes Tomas
,
Jose Ferreira Borges
e
Joao Ferreira Viana
, fundaram o
Sinedrio
, associacao revolucionaria de que veio a resultar a
Revolucao Liberal de 1820
.
[
1
]
[
2
]
1820
-
1823
: Saindo vitoriosa a revolta, Silva Carvalho foi eleito membro da
Junta Provisional preparatoria das Cortes
.
[
1
]
Mais tarde fez parte da
Regencia do Reino
ate ao regresso de
D. Joao VI
do
Brasil
,
[
1
]
onde se tinha refugiado quando se iniciou a
Primeira Invasao Francesa
.
Depois da chegada do soberano a Lisboa (
3 de Julho
de
1821
) foi-lhe confiada a pasta de Ministro dos Negocios Eclesiasticos e da Justica, cargo que exerceu ate 1822, devendo-se-lhe boa parte das reformas liberais do periodo.
[
1
]
Iniciado na
Maconaria
em data e
Loja
desconhecidas, com o nome simbolico de
Hydaspe
, pertenceu a
Loja 15 de Outubro, N.° 11
, de
Lisboa
, afecta ao
Grande Oriente Lusitano
, da qual foi
Veneravel Mestre
. Em
1822
ou
1823
e ate
1839
exerceu as funcoes de 8.º
Grao-Mestre
do
Grande Oriente Lusitano
.
[
1
]
[
2
]
[
3
]
1823
-
1826
: Em
1823
deu-se a reaccao absolutista com a
Vilafrancada
, apos o que Silva Carvalho foi forcado a emigrar e teve que se exilar na
Gra-Bretanha e Irlanda
[
1
]
a fim de salvar a vida ?
1.º Exilio
.
1826
-
1828
: Aclamado rei,
D. Pedro IV
outorgou a
Carta Constitucional
, a que se seguiu uma amnistia e, entao, Silva Carvalho regressou ao reino
[
1
]
mas, desiludido com o governo, retirou-se da politica e veio viver para a sua aldeia natal, onde foi alvo de perseguicoes; a casa onde nasceu e onde viveu nos seus retiros campestres, ainda hoje e propriedade dos seus descendentes.
D. Pedro IV abdicou do trono em favor de sua filha
D. Maria da Gloria
que deveria casar com
D. Miguel
; D. Miguel jurou a Carta e regressou a Portugal para ser rei.
1828
-
1832
: D. Miguel chegou a Portugal, vindo de
Viena
de
Austria
, e foi proclamado pelas Cortes
rei absoluto
, movendo uma perseguicao feroz contra os liberais, o que forcou Jose da Silva Carvalho a fugir de novo
[
1
]
e a refugiar-se num esconderijo na sua casa de Vila Dianteira; desse esconderijo ainda hoje existem vestigios.
Ai foi perseguido pelos
miguelistas
conseguindo, no entanto, escapar fugindo de sua casa disfarcado de criado e rumou para Lisboa e daqui para a Gra-Bretanha e Irlanda ?
2.º Exilio
. E um episodio curioso que o povo desta aldeia guardou na memoria e transmitiu de pais para filhos.
Os exilados reuniram-se no estrangeiro formando um partido que defendia a Carta Constitucional e a Rainha, e, mais tarde, quando D. Pedro IV veio do
Brasil
a
Franca
para se colocar a frente dos liberais, organizaram uma expedicao que comandada pelo conde de Vila Flor, depois marques de Vila Flor e duque da Terceira, conquistou os
Acores
.
De novo em Portugal, ao lado de D. Pedro IV, Silva Carvalho e nomeado Auditor-Geral do Exercito Libertador a Norte do
Rio Douro
.
[
1
]
A expedicao saiu de S. Miguel e a
8 de Julho
de
1832
desembarcou na praia de Mindelo e a
9
os liberais entraram na cidade do Porto.
1832
-
1836
: Os miguelistas retiraram desta cidade e os liberais ocuparam-na. As tropas de D. Miguel fizeram depois um cerco ao Porto por largo tempo, tornando muito penosa a vida da populacao.
Distinguiu-se Silva Carvalho neste cerco pela sua coragem e inteligencia incutindo animo aos ja desanimados. Por tudo isto D. Pedro nomeou-o a
3 de Dezembro
de
1832
,
ministro da Fazenda
, cargo que exerceu ate 1835, e da
Justica
, cargo que exerceu ate 1834, e, poucos meses depois, da
Marinha e Ultramar
, cargo que exerceu em 1833, devendo-se-lhe uma obra notavel de administracao e de reforma.
[
1
]
Foi a instancias de Silva Carvalho, que em
1833
, para libertar a cidade sitiada, saiu do Porto, a bordo de uma esquadra, uma expedicao comandada pelo duque de Terceira; a esquadra estava por sua vez sob o comando do almirante ingles
Charles Napier
.
A esquadra miguelista foi derrotada no
cabo de S. Vicente
e o duque de Terceira atravessou o
Algarve
, o
Alentejo
e apoderou-se de
Lisboa
.
Um outro chefe liberal, o
duque de Saldanha
, bateu os miguelistas (que levantaram o cerco do
Porto
para acudir ao sul) em
Almoster
. O duque de Terceira bateu-os em
Asseiceira
e foi assinada a
Convencao de Evora-Monte
(
26 de Maio
de
1834
). D. Miguel partiu para o estrangeiro e a paz voltou ao Reino.
Foi, igualmente,
Deputado
, de 1834 a 1836 e, novamente, duas vezes Ministro da Fazenda, em 1835 e em 1836.
[
1
]
A
24 de Setembro
de
1834
, morreu
D. Pedro IV
e desde logo a accao de Silva Carvalho foi entorpecida, ate que a
revolucao de Setembro
de
1836
a aniquilou de todo, obrigando-o a expatriar-se mais uma vez e a exilar-se pela terceira vez, durante o
Setembrismo
, entre 1836 e 1838
[
1
]
?
3.º Exilio
.
1836-
1856
: Silva Carvalho regressou a Portugal em
1838
, para jurar a
Constituicao
e ser, de novo, Deputado, de 1838 a 1842.
[
1
]
Encontrou ainda os animos muito exaltados, no entanto, dotado de nobre caracter estendeu a mao aos adversarios e continuou a sua carreira de legislador e de magistrado.
Recebeu, em 1840 ou 1841, o Grau 33 dum tal Teixeira, Membro do
Supremo Conselho do Brasil
, da
Obediencia Montezuma
, que, ao tempo, se encontrava em Portugal, tendo fundado, nesse mesmo ano, o primeiro
Supremo Conselho do Grau 33
, do qual foi 1.º
Soberano Grande Comendador
, do
Supremo Conselho
do
Grau 33
afecto ao
Grande Oriente do Rito Escoces
e 1.º
Grao-Mestre
do
Grande Oriente do Rito Escoces
,
[
2
]
ate a sua morte em 1856.
[
1
]
De 1842 ate a sua morte em 1856 foi, finalmente,
Par do Reino
.
[
1
]
Jose da Silva Carvalho faleceu a
5 de Setembro
de
1856
e foi sepultado no
Cemiterio dos Prazeres
, em
Lisboa
, no sector das figuras ilustres de Portugal.
Recusou por varias vezes titulos de nobreza que lhe encobrissem a sua origem plebeia, em virtude de ser Macon. O seu filho
Joao da Silva Carvalho
, todavia, aceitou o titulo de 1.º
Visconde de Silva Carvalho
.
Como nos diz o historiador
Luis Augusto Rebelo da Silva
:
No seu tumulo pobre, mas ornado dos brasoes populares de uma larga serie de servicos e de sacrificios, fala mais alto o nome so, como elogio e epitafio, do que uma longa serie de avos esquecidos ou pior ainda do que a fatuidade de uma coroa de conde ou de marques (…). Silva Carvalho previu que o nome lhe havia de chegar puro a posteridade como o recebera de seus pais e guardou-o com o nobre orgulho de uma grande alma
.
O seu neto materno Antonio da Silva Carvalho Viana sintetiza a vida do seu avo dizendo que: "Silva Carvalho representou o tipo mais elevado de revolucionario politico ? espirito transigente, coracao magnanimo, pulso de ferro" (in Jose da Silva Carvalho e o seu Tempo, de Antonio Viana).
- Ministro da Justica (7 de Setembro de 1821 a 28 de Maio de 1822),
[
1
]
- Grao-mestre do
Grande Oriente Lusitano
, de 1822 a 1839,
[
1
]
- Ministro da Fazenda: na regencia de D. Isabel Maria, desde 13 de Dezembro de 1832, substituindo
Mouzinho da Silveira
; entre (1834-1835); no governo de Saldanha, de 15 de Junho a 18 de Novembro de 1835, substituindo
Francisco Antonio de Campos
; no governo de Terceira, de 20 de Abril a 10 de Setembro de 1836.
[
1
]
- Acumulacao de pastas: a da Marinha, de 26 de Marco a 26 de Abril de 1833; a Justica, de 31 de Abril de 1833 a 23 de Abril de 1834.
[
1
]
- Membro da Associacao Eleitoral do Centro, que concorre as eleicoes de 1838.
- Juiz Conselheiro
e primeiro Presidente do
Supremo Tribunal de Justica
,
[
1
]
- Deputado
as Cortes varias vezes,
- Par do Reino
,
[
1
]
- Conselheiro de Estado
efectivo,
- Gra-Cruz da
Ordem Militar de Sant'Iago da Espada
de Portugal e da
Ordem de Carlos III
de Espanha,
- Socio da
Academia Real das Ciencias de Lisboa
e do
Instituto Historico do Brasil
.
A correspondencia de Silva Carvalho e vasta e encontra-se, em boa parte, publicada na obra do seu neto
Antonio Viana
. No entanto, acrescenta-se/destaca-se a correspondencia com:
- Revolucao Anti-Constitucional de 1823 - suas verdadeiras causas e efeitos
(em colaboracao com
Francisco Simoes Margiochi
), Impresso por L. Thompson, Londres, 1825
- Instrucoes Provisorias dirigidas as autoridades administrativas e fiscais…
, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1834
- Relatorio apresentado na Camara dos Senhores Deputados da Nacao Portuguesa em 23 de Janeiro de 1835
, Imprensa Nacional, Lisboa, 1835
- Manifesto sobre a execucao que teve a lei de 19 de Dezembro de 1834 nas operacoes de fazenda que em virtude della se fizeram…
, Typ. Patriotica de Carlos Jose da Silva & Comp.ª, Lisboa, 1836, 44 pp
- Retratos de Silva Carvalho:
1834
,
1842
- Silva Carvalho na sala dos Passos Perdidos da Assembleia da Republica
[1]
- GUEDES, Armando Marques
.
Jose da Silva Carvalho
, in
Jurisconsultos Portugueses do Seculo XIX
(direccao e colaboracao de Jose Pinto Loureiro), volume I,
Lisboa
, Conselho Geral da Ordem dos Advogados,
1947
, pp. 292?420.
- MOGARRO, Maria Joao.
Jose da Silva Carvalho e a Revolucao de 1820
,
Lisboa
, Livros Horizonte,
1990
, 155 pp.,
ISBN 972-24-0791-0
.
- MONICA, Maria Filomena
(direccao), e PEREIRA, Zelia.
Carvalho, Jose da Silva
, in
Dicionario Biografico Parlamentar 1834-1910
,
Lisboa
,
Assembleia da Republica
e
Instituto de Ciencias Sociais da Universidade de Lisboa
,
2004
, volume I, pp. 644?646,
ISBN 972-671-120-7
.
- SILVA, L. A. Rebelo da
.
Varoes Illustres das Tres Epochas Constitucionaes
,
Lisboa
,
1870
, pp. 188?211.
- VIANA, Antonio
.
Jose da Silva Carvalho e o seu tempo
, 3 vols.,
Lisboa
, Imprensa Nacional,
1891
-
1894
.
Notas e referencias
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Ministros e
Secretarios de Estado
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