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Isabel Valenca

Origem: Wikipedia, a enciclopedia livre.
Isabel Valenca incorpora Xica da Silva, no desfile do Salgueiro em 1965 sobre a Historia do Carnaval Carioca.

Isabel Valenca foi uma destaque e personalidade do carnaval carioca nas decadas de 1960 e 1970. Famosa por interpretar a Xica da Silva, no desfile de 1963 do Academicos do Salgueiro . Esposa do presidente Osmar Valenca ja havia desfilado com destaque interpretando Dona Maria, Rainha de Portugal, no enredo de 1962 sobre o Descobrimento do Brasil. Mas foi ao incorporar a escrava que se tornou nobre nas terras de Diamantina que Isabel fez historia e virou uma verdadeira celebridade carioca da decada de 1960. E uma icone feminina do processo de transformacoes das escolas de samba conhecido como Revolucao Salgueiro, que promoveu uma renovacao narrativa e visual nos desfiles das escolas de samba .

Foi por muito pouco que Isabel nao entrou na Avenida, com uma obrigacao a Iansa e Omulu em seu terreiro, era nao estava nos planos originais para incorporar a personagem titulo do enredo. Foi so depois que a atriz Zelia Hoffman nao quis sair da personagem, que Isabel pediu autorizacao aos seus guias para desfilar. Com o luxo do figurino idealizado por Arlindo Rodrigues e realizado pelo costureiro Carlos Gil, Isabel entrou na Avenida Presidente Vargas com uma fantasia que custava mais que um apartamento popular na epoca. O enorme figurino inspirado na moda do seculo XVIII pensava mais de 25 quilos, cauda de 3 metros, uma infinidade de paetes, cristais, perolas e pedras semipreciosas, alem da imponente peruca de fio de nylon frances medindo cinquenta e cinco centimetros. O luxo da fantasia e atencao que Isabel recebeu, assumindo protagonismo tanto da narrativa quanto estetico, ao buscar se diferenciar dos outros desfilantes com seu exuberante figurino. Foi assim que Isabel comecou a estabelecer o que entendemos hoje como “destaque”. [ 1 ]

Ao incorporar Xica da Silva, Isabel Valenca seria nao so a propria entidade da rainha do Tijuco, manifestada atraves de corpo e fantasia, mas tambem a primeira grande “imagem” gerada por um desfile de escola de samba. A repercussao de Isabel ao assumir o papel da protagonista do desfile seria enorme, fazendo-a se confundir com a personagem. [ 2 ] A partir daquele ano, Isabel se tornaria uma especie de celebridade, estampou capas de jornais e revistas nao so no Brasil, mas no mundo, como a norte-americana Times, concedendo entrevistas para importantes veiculos de comunicacao, sempre referida como a “Xica da Silva”.

A incorporacao de Xica da Silva em Isabel Valenca seria o primeiro lastro da potencia da personagem como entidade brasileira a se apropriar do corpo de mediuns. Na pele de Isabel, Xica e majestosa e invejada. Se veste de joias, perucas e tudo que o dinheiro de seu contratador pode oferecer: “a fantasia da mulata que re-presentou Chica da Silva era assim como uma fabula, tao rica quanto as mais ricas dos bailes sofisticados”, disse materia publicada no Jornal do Brasil, assinada pelo jornalista Marcos de Castro.

Isabel Valenca com a fantasia Rainha Rita, esposa de Chico Rei. Protagonista do enredo do Salgueiro em 1964.

No ano seguinte, em 1964, a destaque fez historia a ser a primeira negra a vencer o concurso de fantasias do Teatro Municipa l, um episodio que marcou um transito entre a festa erudita e os desfiles populares de maneira definitiva. Tendo sua inscricao no concurso negada por racismo, Isabel contou com o apoio do governador Carlos Lacerda para ter sua inscricao aceita. Sob o titulo “Preconceito de fantasia no Municipal”, a materia do Jornal do Brasil (07/02/1964) descreveu: “os organizadores do Concurso de Fantasias do Municipal negaram a inscricao ontem da fantasia Vila Rica, e Isabel Valenca, a mulata que fez o papel de Xica da Silva no Salgueiro, no ano passado, sob o pretexto de que o Teatro nao podia admitir fantasias ja exibidas em desfiles de rua”. Para Melo (2018, p. 49), Isabel Valenca se viu diante das tensoes sociais e raciais ate hoje presentes no pais. [ 1 ]

Isabel Valenca se abaixa em frente a cabine de jurados no carnaval de 1966.

Com a fantasia Rainha Rita que usou para o desfile do Salgueiro no domingo de carnaval no enredo de Arlindo Rodrigues sobre Chico Rei, Isabel Valenca se consagrou campea do concurso sobre uma plateia encantada. A vitoria causou a revolta da atriz Wilza Carla , que competiu na categoria luxo feminino com a fantasia “Sinfonia de Inverno”, ele afirmou que "Negro de escola de samba nao pode ganhar no Municipal!". Haroldo Costa (1984) completa a informacao dizendo que Wilza Carla teria proferido a polemica frase como um “desabafo impensado”, mas, segundo o autor, Isabel Valenca teria ficado bastante magoada. [ 3 ] O tal “desabafo” nos faz levantar questoes ligadas ao racismo, manifestado no palco do grande concurso de fantasias da cidade, local que abrigava figuras conhecidas da alta sociedade carioca e do mundo dos espetaculos, como o caso da propria Wilza Carla. Para FARIA (2014, p.12), “sua trajetoria na escola e no concurso de fantasias do Teatro Municipal conferiu-lhe uma aura mitica, sendo lembrada ate os dias atuais nas narrativas dos jornalistas e antigos componentes do Salgueiro. Assim, a vitoria de Isabel no Teatro Municipal marcou um transito entao inedito na historia do carnaval. A edicao do Correio da Manha, de 13 de fevereiro de 1964, reafirmava o acontecimento como “uma vitoria do samba, que apos descer o morro e dominar o asfalto, levou tambem, de vencida, a elite que frequenta a nossa principal casa de espetaculos”. [ 4 ]

Sua atuacao seguiu brilhante no Salgueiro nos anos seguindo, vivendo outros personagens marcantes ate o fim da sua vida. So como Xica da Silva ela voltou a sair em 1965, 1984 e 1989.

Isabel como Dona Beija, em 1968.

Em 1966 no enredo sobre os Amores celebres do Brasil interpretou a Marquesa de Santos acompanhada de Clovis Bornay que era o carnavalesco q viria de Dom Pedro I. O problema era que a Marquesa de Santos era amante de D. Pedro e isso geraria impacto no publico conservador em anos de ditadura. Isabel nao se intimidou e protagonizou uma das cenas mais marcantes da historia do Carnaval. Ao lado de Clovis, parou de frente para os jurados e olhou fixamente para um deles. Permaneceu estatica fitando o julgador. Ate que alguem do publico puxou um aplauso. No que se seguiram novos aplausos e Isabel permanecia paralisada de frente para o jurado hipnotizado.

Isabel Valenca em 1967.

Em 1967, no enredo sobre Historia da Liberdade no Brasil se vestiu de Princesa Isabel em vestido dourado com vidros e pedrarias q chamavam atencao em meio ao mar vermelho e branco da escola. Em 68, encarnou o personagem principal, Ana Jacinta de Sao Jose, a Dona Beja .

Isabel Valenca no desfile de 1969.

Em 69, se vestiu como uma luxuosa baiana em um vestido por ela mesma costurado naquele que foi dos maiores momentos do Salgueiro sob sol de meio dia do verao carioca que cantou a Bahia de Todos os Deuses e foi campeao daquele ano.

Em 1970, se fantasiou de Tia Ciata no enredo sobre a Praca Onze. Em 71, interpretou Ana da Paz, a amante de Mauricio de Nassau que receberia a corte do Congo no enredo de Maria Augusta , desenvolvido pelo grupo liderado por Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues.

Em 1974, outro figurino historico, a longa cauda da Rainha de Medici concebida por Joaosinho Trinta . Morreu no inicio dos anos 1990. Em 1975, novamente chama atencao como Rainha de Saba no enredo sobre "As minas do rei Salomao", tambem de Joaosinho Trinta.

Em 77, o destaque foi Isabel protagonizar a Moca Branca, a cachaca no desfile de Fernando Pamplona . Em 87, no enredo sobre os temas otimistas do Salgueiro saiu como a propria Isabel e no seu ultimo desfile em 90 novamente como rainha de Franca.

Isabel partiu em 1990 vitima de problemas circulatorios. Foi a maior destaque da historia do carnaval e papel preponderante ao encarnar e interpretar personagens fundamentais da historia da revolucionario salgueirense.

Referencias

  1. a b MELO, Joao Gustavo (2018). Vestidos pra brilhar . Rio de janeiro: RIco Editora. p. 49  
  2. ANTAN, Leonardo. Laroye Xica da Silva: narrativas encruzilhadas de uma incorporacao no carnaval carioca. Dissertacao de mestrado apresentado ao Instituto de Artes da UERJ, 2018.
  3. COSTA, Haroldo (1984). Academia do Samba . Rio de Janeiro: Record  
  4. FARIA, Guilherme Jose Motta. O G.R.E.S Academicos do Salgueiros e as representacoes do negro nos desfiles das escolas de samba da decada de 1960. Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Ciencias Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense. Niteroi, UFF, 2014.