Desde os fins da
Idade do Bronze
que o espaco hoje ocupado pela cidade do
Porto
tem sido quase ininterruptamente povoado. Ao longo deste tempo, e muito particularmente nos ultimos mil anos, este pequeno pedaco de territorio teve um papel primordial na
historia de Portugal
.
O morro da
Pena Ventosa
(literalmente
monte dos vendavais
) e uma saliencia granitica coroada por uma plataforma de cotas maximas na ordem dos 78 m, rodeada de vertentes de acentuado declive que descem para o
rio Douro
e para o pequeno
rio da Vila
. Estas caracteristicas da
topografia
e da
hidrografia
constituiam boas condicoes defensivas e foram decisivas para que o alto da Pena Ventosa tivesse sido o sitio original da urbe portuense, primeiramente chamada
Cale
e, depois,
Portus Cale
e
Portucale
.
Durante as decadas de
1980
e de
1990
, as
investigacoes arqueologicas
realizadas nas traseiras da
Se
, nomeadamente na
Casa da Rua de D. Hugo n.° 5
, permitiram identificar um
perfil estratigrafico
que ilustra a evolucao do nucleo primitivo da cidade. Destes estudos concluiu-se ter havido uma ocupacao quase continua do local desde os finais da
Idade do Bronze
.
Estes vestigios arqueologicos documentam:
- Do
seculo VIII a.C.
ate
500 a.C.
? a existencia de contactos principalmente com os outros povos Atlanticos principalmente da Bretanha e Ilhas Britanicas mas tambem com o distante
Mediterraneo
de populacoes que viviam no alto do morro da Pena Ventosa;
- Entre 500 e 200 a.C. ? a presenca de um
povoado castrejo
de casas de planta redonda e a continuacao dos contactos com povos Celtas do Atlantico, contactos bastante acentuados evidentes na cultura castreja presente no Noroeste penisular e as suas semelhancas com os outros povos celtas do Atlantico principalmente da Irlanda e Bretanha francesa.
- Do
seculo II a.C.
a meados do
seculo I d.C.
? uma fase de
romanizacao
durante a qual o povoado adquire crescente importancia, que se revela na funcao organizativa em relacao aos territorios circundantes. Foram provavelmente os
romanos
que aqui criaram uma primeira estrutura urbana, reorganizando o tracado das ruas, implantando casas de planta rectangular e criando instalacoes portuarias nas imediacoes do local onde mais tarde se ergueu a chamada
Casa do Infante
.
A
arqueologia
permitiu tambem encontrar indicios da ocupacao da Pena Ventosa nos seculos I e II d.C. e vestigios de uma
muralha
construida no
seculo III
. Pensa-se que o seu tracado fosse identico ao da
Cerca Velha
ou
Romanica
reconstruida no
seculo XII
.
Segundo o
Itinerario de Antonino
, a
estrada romana
de
Olissipo
a
Bracara Augusta
(Via XVI) oferecia nesse passo do Douro uma estacao. Nao ha unanimidade quanto a sua localizacao, na margem esquerda ou na direita. O mais provavel seria a estacao estar repartida nas duas margens. Os
cavalos
das mudas ficariam nos dois altos e os proprios mensageiros teriam de um lado e outro o seu
albergue
. No
seculo IV
assiste-se a uma fase de expansao da cidade em direccao ao vizinho
Morro da Cividade
e a zona ribeirinha, tendo sido encontrados
mosaicos
romanos do
seculo IV
na Casa do Infante.
No final da epoca imperial o toponimo
Portucale
abrangia ja ambas as margens e, mais tarde, passou a designar toda a regiao circundante.
No
seculo V
assistimos a invasao dos
suevos
e, em 585 e seguintes, durante o
reino visigotico
, verifica-se a emissao de
moeda
em Portucale e a presenca de um
bispo portucalense
no
III Concilio de Toledo
, em 589. A relativa importancia do lugar nessa epoca e comprovada por diversas e significativas moedas dos reis visigodos
Leovigildo
(572-586),
Recaredo I
(586-601),
Liuva II
(601-603) e
Sisebuto
(612-620), cunhadas com a legenda toponimica de
Portucale
ou
Portocale
.
Em 716, deu-se a
invasao muculmana
e a destruicao da cidade por
Abdalazize ibne Muca
. Julga-se, no entanto, que a dominacao muculmana de Portucale (em
arabe
:
Burtughal
?
??????
) tera sido relativamente breve, pois parece ter sido atacada, logo por volta de 750, por
Afonso I das Asturias
. Durante um seculo, a regiao teria jazido ao abandono e quase desabitada. Ate a presuria de Portucale pelo conde
Vimara Peres
em 868, quando se da inicio a uma fase de repovoamento e de renovacao urbana. A partir dai, Portucale assume grande protagonismo politico e militar, com a criacao do respectivo
condado
. Nesta epoca, o nome Portucale ja tem um sentido acentuadamente lato.
O renascido burgo vive entao uma existencia dificil entre incursoes de
normandos
e de
sarracenos
. Estas ultimas so deixam de se fazer com a fixacao do
condado de Coimbra
.
Um episodio importante ocorre por volta de 990 com a retomada da cidade por
D. Munio Viegas
e a
armada dos gascoes
. Por volta de 999 uns nobres e valorosos fidalgos Gascoes entre os quais se encontrava D.
Nonego
bispo de Vendome em Franca e mais tarde bispo do Porto, entraram com uma grande Armada pela foz do Rio Douro, para expulsarem os Mouros. Esta armada,que ficou conhecida como a
Armada dos Gascoes
associada a D.
Munio Viegas
arrancou a cidade do Porto para dedica-la a Virgem Mae de Deus. Depois d'esta batalha, D. Munio e os franceses trataram de reedificar o Porto. Ergueram as antigas e fortes muralhas, e na parte mais elevada da cidade fundaram um castelo bem fortalecido que, depois do conde Henrique, serviu de habitacao dos bispos, aos quais foi doado. A torre e a porta principal foram obra de D.
Nonego
, que, em memoria da patria, a nomeou
porta de Vandoma
, e que na frontaria da torre fez erguer o santuario, onde meteu a imagem de
Nossa Senhora do Porto
, que ja trouxera consigo de Franca.
[
1
]
As incursoes dos
viquingues
ainda se mantem nos principios do
seculo XI
. Um dos assaltos dos nordicos deu-se em 1014, nos arredores do Porto, no proprio coracao das
Terras da Maia
, em
Vermoim
. Ao sul do Douro estendia-se entao uma importante comarca guerreira portucalense, a chamada
Terra de Santa Maria
. O
castelo da Feira
, ja existente, era o principal nucleo de defesa dessa, entao, regiao estremenha.
Em 1096 da-se a concessao do
governo de Portucale
ao
conde D. Henrique de Borgonha
e a capital desloca-se para o interior.
Braga
readquire, pela sua posicao e pela sua tradicional
primazia eclesiastica
, um certo ascendente politico sobre o burgo portucalense. Nela se sepulta o conde, pai do primeiro rei portugues, trazido, em cortejo funebre, da cidade de
Astorga
onde falecera.
No
seculo XII
dao-se acontecimentos de grande significado para a evolucao da cidade do Porto:
- 1114 ?
D. Hugo
toma posse da
diocese do Porto
;
- 1120 ?
D. Teresa
faz a doacao de um vasto territorio?o
Couto de Portucale
-- a D. Hugo;
- 1123 ? o bispo D. Hugo concede a
carta de foral
aos moradores da cidade. Este foral, de caracter liberal e inovador, vem trazer um enorme impulso ao povoamento e ao desenvolvimento do burgo.
O
Porto
do
seculo XII
, com uma so
paroquia
, a
Se
, era um burgo episcopal organizado em funcao da
catedral
, que comecou a ser construida neste seculo, no local onde anteriormente tinha existido uma pequena
ermida
. Em redor, um conjunto de ruas, vielas, pequenos largos e becos ocupavam a plataforma superior da
Pena Ventosa
. As vertentes proximas foram tambem desde cedo habitadas e ligadas entre si por ruas, ruelas ou serventias que, sabiamente adaptadas a topografia, tanto seguiam o tracado das curvas de nivel (por ex. a actual
Rua das Aldas
) como as cortavam perpendicularmente (por ex. a atual
Rua da Pena Ventosa
).
Outro importante elemento que condicionou a estrutura da malha urbana do burgo medieval foi a
Cerca Velha
ou
Cerca Romanica
reconstruida no
seculo XII
sobre fundacoes de muros anteriores. Durante muito tempo conhecida por
Muralha Sueva
, esta hoje identificada como obra de origem
romana
. Desta
Muralha Primitiva
apenas subsistem hoje um cubelo e um reduzido trecho, reconstruidos em meados do
seculo XX
.
O
seculo XIII
representou um periodo de expansao em que o
Porto
cresceu para fora da
Cerca Velha
em varias direcoes:
- Em redor da
Pena Ventosa
, terrenos antes de quintais, hortas, pomares, soutos e matas passaram a ter casas ligadas por ruas e vielas. Ainda hoje nalgumas ruas desta area subsistem designacoes de referencias rurais, como por exemplo a
Rua do Souto
;
- No sope da escarpa que dava acesso a Porta das Verdades, proximo da margem ribeirinha, tambem se desenvolve casario, ruas, escadas e vielas, como por exemplo a
Rua da Lada
;
- Na margem direita do
rio da Vila
o povoado crescia pela beira-rio de
Sao Nicolau
, por exemplo pela
Rua da Reboleira
ou pela
Rua dos Banhos
, acabando por atingir o "arrabalde" de
Miragaia
, pequeno nucleo de pescadores e construtores de barcos desde ha muito ligados a vida do
rio
e do
mar
.
Assim, foram surgindo dois polos de povoamento?um na zona alta, no morro da Pena Ventosa, em redor da
se
, e outro na zona baixa, na
Ribeira
, na margem do Douro proximo da foz do rio da Vila?ligados por uma malha urbana que se foi adensando.
O eixo mais antigo que ligava os dois aglomerados seguia pela Rua "Detras da Se" (atual
Rua de D. Hugo
), pela Porta das Verdades e pelas
Escadas do Barredo
, segundo o caminho mais curto, mas de declive muito acentuado. Mais tarde, desenvolveu-se outro eixo de melhor acessibilidade constituido pelas
Ruas dos Mercadores
,
Bainharia
e
Escura
, ligando a Porta de Sao Sebastiao.
Entretanto a encosta do
Morro do Olival
, na margem direita do rio da Vila e ainda pouco ocupada, comecou a ser mais povoada sobretudo depois da instalacao dos mosteiros das
ordens mendicantes
, o de Sao Francisco em 1233 e o de Sao Domingos em 1238, que, para alem das casas conventuais, tinham extensas cercas com
jardins
,
hortas
,
pomares
e
vinhas
.
A construcao destes conventos e a urbanizacao da encosta do Olival realizaram-se num clima de conflito entre o
rei
e o
bispo
, senhor do burgo. Sao exemplos desta luta de poderes a longa disputa pela faixa de terras entre o rio da Vila e o
rio Frio
(em Miragaia), exacerbada durante a edificacao do Convento de Sao Francisco e da Alfandega Velha, hoje vulgarmente conhecida como
Casa do Infante
, iniciada em 1325, proxima do cais do rio. Estes acontecimentos representaram momentos em que o poder regio se quis afirmar perante o poder da
Mitra
.
Entretanto, em 1387, a cidade engalana-se para receber o casamento do rei
Joao I de Portugal
com a princesa inglesa
Filipa de Lencastre
, celebrado na Se do Porto, selando a alianca luso-britanica. Foi no
Porto
que, em 1394, nasceu o
Infante D. Henrique
.
Apos prolongadas negociacoes entre o rei D. Joao I e o bispo do Porto
D. Gil Alma
, chega-se a um acordo, ratificado em 1406 pelo
papa Inocencio VII
, pelo qual o senhorio da cidade passava definitivamente do bispo para a coroa, conquistando a cidade a sua autonomia administrativa.
[
4
]
Nova muralha e afirmacao da cidade burguesa
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]
Ao longo do
seculo XIV
o
Porto
teve uma grande expansao do povoamento ao longo da margem ribeirinha do
Douro
, refletindo a crescente importancia das atividades
comerciais
e
maritimas
. A cidade sente, assim, necessidade de um espaco amuralhado mais vasto que o da
Cerca Velha
. Os primeiros a apresentarem essa reivindicacao foram burgueses com casas e negocios extramuros e portanto menos protegidos.
Em meados desse seculo, ainda no tempo de
D. Afonso IV
, comecou a ser construida uma nova cintura de
muralhas
que ficou praticamente concluida por volta de 1370. Esta
Cerca Nova
ou
Muralha Gotica
tem sido correntemente designada por
Muralha Fernandina
porque, apesar de iniciada com D. Afonso IV, o seu grande impulsionador, so ficou concluida no reinado de
D. Fernando
.
Este muro, de tracado geometrico e uma altura de 30 pes (9 m), de alto porte e grande robustez, era recortado de ameias salientes, tendo varios cubelos e torres elevadas e ainda numerosas portas e postigos (dezassete, no total). Com um perimetro de cerca de 3.000 passos (2.600 m), limitava uma area de 44,5 hectares.
O
tracado da Cerca Nova
seguia pela margem ribeirinha do Douro ate ao limite com
Miragaia
, subia pelo
Caminho Novo
e Sao Joao Novo ate ao cimo do
Morro do Olival
; depois tomava a direccao leste passando junto as hortas do bispo e do cabido e continuava para
Cimo de Vila
; a seguir contornava os morros da
Cividade
e da
Se
por nascente e descia pela
escarpa dos Guindais
ate a
Ribeira
, proximo da saida do tabuleiro inferior da atual
Ponte Luis I
.
Entre as
portas
destacaram-se as de Cimo de Vila, de Carros (em frente a atual
Estacao de Sao Bento
), de Santo Eloi, do Olival (ao lado da atual
Cadeia da Relacao
), das Virtudes, da Esperanca (ou Sao Joao Novo), de Miragaia (ou Nova ou Nobre), da Ribeira (no local da atual
Praca da Ribeira
), do Sol. Os nomes das portas e dos postigos foram mudando ao longo dos tempos. Tambem aconteceu alguns postigos serem alargados e passarem a portas, como o de Carros, que deu origem a Porta de Carros, e o do Carvalho do Monte, mais tarde do Penedo, que veio a ser a Porta do Sol.
Em 1386,
D. Joao I
decidiu criar uma
judiaria
e, invocando motivos de seguranca, mandou transferir os
judeus
, para os concentrar dentro de muros, no topo aplanado do Morro do Olival. Implantada num sitio quase desocupado, a
Judiaria do Olival
deu origem a uma urbanizacao propria que condicionou a posterior evolucao da malha urbana deste local.
Na ultima decada do
seculo XIV
, e ainda por iniciativa de D. Joao I, comecou a ser aberta a
Rua Nova
, uma rua que contrastava com o labirintico Porto medieval, "a minha rua formosa" como lhe chamou o rei. Constituiu um grande avanco em termos urbanisticos, pode mesmo dizer-se que foi o primeiro caso de planeamento do
pais
. De tracado retilineo, considerada na epoca comprida e larga, foi local de prestigio que atraiu a construcao de edificios de luxo para habitacao da elite
burguesa
e do
clero
e centralizou a vida e os negocios dos mercadores.
A Rua Nova (hoje do Rua do Infante D. Henrique) levou cerca de cem anos a ser concluida. Como ligava a
Rua dos Mercadores
ao Convento de Sao Francisco, constituiu um importante eixo de circulacao paralelo a margem ribeirinha. Por causa desta rua, a partir do
seculo XVI
, a Porta de Miragaia ou Porta Nova passou a ser conhecida por Porta Nobre, atraves da qual entravam na cidade as figuras notaveis, bispos e reis, em actos oficiais.
No inicio do
seculo XV
a malha urbana fechada pela Muralha Fernandina era uma rede apertada de ruas e ruelas irregulares, estreitas e ingremes que se desenvolviam em redor de tres nucleos:
- O
Alto da Se
, sede do burgo dos bispos ate 1406, onde nao permaneciam
monges
nem
fidalgos
;
- A
Ribeira
, fervilhante de gentes ligadas as multiplas atividades do
rio
e do
mar
, dominio dos mercadores e geradora de burgueses, com o
centro
na Praca da Ribeira e, a partir do
seculo XV
, em expansao para a Rua Nova;
- O
Morro do Olival
, nucleo mais periferico e mais tardiamente ocupado, onde se situou a Judiaria Nova, dentro de muros. Nas vertentes deste morro, as ruas de
Belomonte
,
Taipas
, Ferraria de Baixo (hoje
Rua do Comercio do Porto
) vao tomando significado no tecido urbano, tal como a
Rua de Tras
, rente a muralha e proxima das Hortas do Bispo, aberta em 1491 aquando da construcao do Convento dos Loios ou de Santo Eloi.
Dois eixos principais ligavam estes tres nucleos:
Ainda no
seculo XV
, o
Largo de Sao Domingos
, em frente ao convento do mesmo nome, tornou-se um centro importante da cidade, nao so pela feira que aqui se realizava e pelas reunioes da camara no alpendre do convento, mas tambem por constituir um no de circulacao e local de encontro dos portuenses, um verdadeiro centro civico.
A estrutura urbana da cidade do Porto de finais do
seculo XV
tomou uma configuracao radioconcentrica com a posicao das principais portas da Cerca Nova a evidenciar os acessos aos arrabaldes ou a areas mais longinquas:
Entretanto, em 1496, um decreto de
D. Manuel I
ordenava a conversao de todos os
judeus
, sob pena de expulsao. Alguns converteram-se tornando-se
cristaos-novos
outros, porem, decidiram abandonar a
cidade
e o
reino
. Foi o fim da Judiaria Nova do
Morro do Olival
.
So em 1509 e que o Porto se abre aos
nobres
, ate entao impedidos de ter casa na cidade ou de nela residir por mais de tres dias, o que explica a quase ausencia de casas nobres dentro do perimetro amuralhado.
Do foral manuelino aos inicios do sec. XVII
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]
O
Foral Novo
de
D. Manuel I
, concedendo privilegios a cidade do
Porto
e datado de 1517, inicia um periodo de crescente desenvolvimento economico e urbano.
A partir de 1521, por iniciativa do rei, comecou a ser aberta, atraves das hortas do bispo e do cabido e em terrenos da
Misericordia
, a
Rua de Santa Catarina das Flores
, atual
Rua das Flores
. Construida para enobrecer a cidade, tornou-se elegante, aristocratica e ainda de importante atividade comercial. Ligando o
Largo de Sao Domingos
ao
Convento de Sao Bento da Ave-Maria
, permitia um acesso directo entre dois polos citadinos de grande movimento, a
Ribeira
e a Porta de Carros. Este novo eixo de circulacao vai ser vital para a progressiva urbanizacao da margem direita do
rio da Vila
.
Por meados do
seculo XVI
construiu-se uma ponte de pedra para atravessar este rio, substituindo uma anterior de madeira, o que permitiu a ligacao da nova Rua de Santa Catarina das Flores a
Rua da Bainharia
e deu origem ao desenvolvimento da
Rua da Ponte Nova
. No rio da Vila, um pouco mais para jusante, havia uma outra ponte mais antiga, a de Sao Domingos.
Devido a concorrencia do eixo da Rua das Flores, a velha
Rua dos Mercadores
perdeu progressivamente caracteristicas de rua de grande comercio, habitada por burgueses de posses que viviam nas suas
casas-torre medievais
.
Durante os seculos XV e XVI a cidade ve surgir notaveis edificios de congregacoes religiosas ou de assistencia:
Na zona da
Se
os padres da
Companhia de Jesus
dao inicio a construcao do
Colegio de Sao Lourenco
e, mais tarde, da Igreja de Sao Lourenco (popularmente conhecida como "Igreja dos Grilos"), o que implicou a destruicao de algumas ruas e trouxe alteracoes urbanisticas ao local.
Ate 1583 o Porto teve apenas uma
paroquia
, a da Se, que nesse ano foi dividida em quatro: Se,
Sao Nicolau
,
Nossa Senhora da Vitoria
e Sao Joao Baptista de Belmonte, esta ultima extinta alguns anos mais tarde.
No comeco do
seculo XVII
iniciam-se as construcoes do primeiro edificio da
Casa da Relacao e Cadeia
, do
Convento dos Carmelitas Descalcos
, hoje quartel da
Guarda Nacional Republicana
(GNR) e as obras do Mosteiro e da Igreja de Sao Bento da Vitoria, que irao prolongar-se por todo este seculo, ocupando o vazio deixado pelo abandono forcado dos
judeus
do
Morro do Olival
, um seculo antes.
Os finais do
seculo XVII
e o
seculo XVIII
vao trazer a cidade do
Porto
uma intensa atividade arquitectonica, tanto religiosa como civil, que lhe dara uma nova imagem. Realizam-se
obras publicas
como fontes e chafarizes. Constroem-se os grandes edificios de
arquitectura barroca
, de aspecto monumental, que identificam um
Porto barroco
.
Sao exemplos:
Muitos destes importantes edificios tem o traco ou a influencia de
Nicolau Nasoni
, artista
italiano
que chegou ao Porto em 1725 e aqui desenvolveu uma notavel obra nos dominios da
pintura
e da
arquitectura
. Sao considerados expoentes maximos a frontaria da Igreja da Misericordia e o monumental conjunto dos Clerigos, nomeadamente a sua celebre Torre com cerca de 75 metros de altura.
Ate meados do
seculo XVIII
a vida urbana portuense ficou quase confinada aos limites da
Muralha Gotica
estendendo-se ainda ao longo das vias de ligacao aos pequenos nucleos das paroquias rurais e dos centros piscatorios da margem do
Douro
. A segunda metade do
seculo XVIII
traz novas transformacoes urbanisticas e arquitectonicas que irao alterar profundamente o aspecto da cidade.
Foram factores decisivos para o desencadear desta nova fase o crescimento rapido da populacao citadina, uma conjuntura economica favoravel ligada a actividade mercantil, nomeadamente ao comercio e a exportacao do
vinho do Porto
como resultado da crescente importancia da producao vinicola e da criacao da
Companhia da Agricultura do Alto Douro
, e ainda a nomeacao de
Joao de Almada e Melo
como comandante militar.
A data de 1763 representa o inicio do funcionamento da
Junta de Obras Publicas
, presidida por Joao de Almada, que incluia membros da Camara apoiados por engenheiros militares e, mais tarde, por arquitectos encarregados dos trabalhos. A direccao do desenvolvimento urbanistico da cidade centralizou-se assim num unico departamento que funcionou ate 1804.
A accao da Junta introduziu uma abordagem racional na concepcao da cidade, defendendo aspectos como a luz, a higiene e a salubridade. Segundo estes novos conceitos urbanisticos as construcoes deviam obedecer a planos rigorosos em que se privilegiava o conjunto arquitectonico e nao o edificio isolado. O risco das novas ruas era acompanhado pelo desenho dos alcados a edificar. Estas areas constituem, ainda hoje, paradigma de coerencia e equilibrio na relacao rua-conjunto edificado.
O plano almadino pretendia renovar a cidade antiga e ordenar o crescimento para fora da
Cerca Fernandina
que, sobretudo desde meados do
seculo XVII
, estava a realizar-se de uma forma espontanea e caotica. Visava ainda redefinir as principais vias de acesso tornando-as desafogadas. Sao disso exemplos as Ruas de
Cedofeita
, de
Santa Catarina
, Direita (hoje de
Santo Ildefonso
), do Reimao (atual
Avenida Rodrigues de Freitas
), dos Quarteis (agora
Rua de D. Manuel II
), a Calcada da Natividade (
Rua dos Clerigos
), a Rua Nova das Hortas (troco inicial da
Rua do Almada
), o
Passeio das Virtudes
.
Da concretizacao deste plano resultaram: novas pracas como a Praca de Sao Roque entre a
Rua do Souto
e a
Rua das Flores
(desaparecida um seculo mais tarde, aquando da construcao da
Rua de Mouzinho da Silveira
); a renovacao da Praca da Ribeira; a abertura de ruas amplas e com passeios como a
Rua de Sao Joao
; realinhamentos de fachadas e ruas antigas. Surgem tambem novas preocupacoes com os espacos publicos, de que sao exemplos as alamedas voltadas para o rio Douro, como as das
Virtudes
, das
Fontainhas
ou de
Massarelos
.
O plano urbanistico de Joao de Almada para a cidade do Porto?um dos primeiros planos de conjunto a aparecer na Europa?criou um novo e importante eixo citadino que partia da Praca da Ribeira, seguia pela Rua de Sao Joao,
Largo de Sao Domingos
, Rua das Flores, Rua Nova das Hortas e Rua do Almada ate ao Campo de Santo Ovidio (atual
Praca da Republica
).
A segunda metade do
seculo XVIII
foi tambem a epoca da construcao de grandes edificios representativos da
arquitectura neoclassica
de influencia inglesa, que se prolongaria ainda pelo
seculo XIX
. Sao exemplos do
Porto neoclassico
:
Data ainda de finais de
setecentos
o
Convento de Santo Antonio da Cidade
, dos Capuchos, um enorme edificio claustral situado defronte do atual
Jardim de Sao Lazaro
, onde desde 1842 tem funcionado a Real Biblioteca Publica da Cidade do Porto, depois
Biblioteca Publica Municipal do Porto
.
Entretanto, desde finais do
seculo XVIII
e ao longo do
seculo XIX
, a velha
Muralha Fernandina
foi sendo progressivamente demolida, uma resposta da epoca a crescente expansao urbana. Dela sao hoje visiveis os trechos dos
Guindais
(o mais extenso), o do
Caminho Novo
e ainda vestigios como no
Muro dos Bacalhoeiros
e no interior do edificio da antiga
Cadeia da Relacao
.
Apesar de todas estas transformacoes, o Porto de finais do
seculo XVIII
manteve-se uma cidade virada para o Douro, vivendo em funcao do rio, com o centro economico e social nas suas proximidades ? Praca da Ribeira,
Rua Nova dos Ingleses
,
Rua de Sao Joao
e
Largo de Sao Domingos
.
As imagens da epoca, representando o rio coberto de
navios
, sugerem a importancia do intenso trafego comercial. O acentuado
crescimento demografico
verificado por essa epoca na cidade e principalmente nos nucleos rurais fora da area amuralhada (onde surgiram as primeiras fabricas precursoras do dinamismo industrial do seculo seguinte) significa outra das potencialidades deste Porto de finais do
seculo XVIII
.
O
seculo XIX
portuense ficou marcado, logo no inicio, por situacoes de instabilidade politica como as
invasoes francesas
, na primeira decada, e as
guerras liberais
que culminaram com o
Cerco do Porto
, em 1832-1833, que provocaram destruicoes na cidade antiga, sobretudo na parte
baixa ribeirinha
e nas encostas circundantes.
Mas este seculo, principalmente a segunda metade, apresenta epocas de grande dinamismo que se traduziram no adensamento da malha urbana e numa enorme expansao. A abertura de novas arterias extramuros, como a
Rua dos Bragas
ou a
Rua de Alvares Cabral
, proporciona novas areas residenciais. A funcao habitacional concretiza-se agora nas mais diversas formas e dimensoes, desde a pequena casa popular e operaria as variadas casas da burguesia, mono ou polifuncionais, e as
casas do brasileiro
, de grande ostentacao e representativas de outros gostos esteticos.
A criacao de mercados (do
Anjo
, em 1839; do
Bolhao
, em 1837), de jardins (
Sao Lazaro
, em 1834;
Cordoaria
, em 1866;
Praca do Infante
em 1885), a abertura do
Cemiterio de Agramonte
em 1855, o aparecimento da
arquitectura do ferro
de que foi exemplo paradigmatico o desaparecido
Palacio de Cristal
(1865), a instalacao de sistemas de
iluminacao publica
a gas (1855), de
abastecimento de agua
ao domicilio (1887) e de
saneamento
, a criacao do Liceu Central do Porto (1840), sao alguns aspectos significativos da acelerada evolucao portuense da segunda metade de oitocentos.
Esta intensa fase de expansao urbana surge inserida num contexto de forte
crescimento demografico
, de
atraccao de populacoes do mundo rural
e de transformacoes economicas, nomeadamente da crescente importancia das
atividades industriais
. Observa-se uma grande difusao de
fabricas
,
oficinas
e bairros operarios pela cidade fabril, sobretudo no
Bonfim
, em
Massarelos
,
Cedofeita
,
Lordelo do Ouro
e
Ramalde
. A presenca das altas
chamines
e das respectivas instalacoes fabris, assim como os extensos conjuntos de habitacoes operarias e
ilhas
, vem introduzir novos elementos na paisagem urbana de algumas areas da cidade.
A reorganizacao da estrutura urbana portuense no
seculo XIX
foi tambem muito condicionada pela revolucao das infraestruturas de circulacao. Para a travessia do
rio Douro
, ao longo deste seculo, sucederam-se a
Ponte das Barcas
inaugurada em 1806, a
Ponte Pensil
ou Ponte D. Maria II em 1843, a
Ponte Maria Pia
(ferroviaria) em 1877 e a
Ponte Luis I
(rodoviaria) em 1886. Ainda em 1875, na
estacao de Campanha
, sao inauguradas as ligacoes ferroviarias ate
Nine
(
linha do Minho
) e ate Penafiel (
linha do Douro
). Tambem neste ano fica concluida a ligacao ferroviaria
Boavista
-
Povoa de Varzim
.
Simultaneamente assiste-se ao desenvolvimento dos transportes urbanos: o
americano
, tracao animal sobre carris, estreia-se em 1872 ligando a
Alfandega
a
Matosinhos
; o
carro electrico
sobre carris circula pela primeira vez no Porto em 1895. Ainda neste ano e aberto a navegacao o
Porto de Leixoes
, que ira retirar importancia ao velho porto fluvial do Douro.
As profundas mudancas da vida portuense durante o
seculo XIX
tambem atingem a parte mais antiga da cidade, dentro da
Muralha Fernandina
. O centro da vida social, politica e de negocios portuense situado na area da Ribeira-
Sao Domingos
deslocou-se progressivamente para a
Praca Nova
e suas imediacoes, que adquiriram crescente importancia. Nesta praca, num palacio que a delimitava do lado norte, esteve instalada a
Camara Municipal do Porto
desde 1819 ate 1916.
Em meados do seculo ja o verdadeiro polo da vida social, intelectual, cultural, politica e administrativa assim como o centro comercial portuense estao localizados na zona da Praca Nova e areas circundantes ? a chamada "
Baixa
".
No nucleo antigo, na segunda metade de oitocentos, da-se uma importante reorganizacao das vias de transito com a abertura de novas ruas que cortam e se sobrepoem a malha urbana preexistente. Sao exemplos a
Rua de Ferreira Borges
(iniciada em 1838), a
Rua de Mouzinho da Silveira
(1872) e a
Rua Nova da Alfandega
(1869-1871).
A Rua de Mouzinho da Silveira criou um novo eixo para a distribuicao do trafego e circulacao das mercadorias, mais largo, retilineo e menos ingreme que os anteriores, ligando a Rua Nova dos Ingleses (
Rua do Infante D. Henrique
) ao
Convento da Ave-Maria de Sao Bento
.
Esta area antiga ficou tambem enriquecida com algumas monumentais construcoes que criaram novas centralidades. Sao exemplos:
Salientam-se ainda outras transformacoes no nucleo historico durante o
seculo XIX
:
- Perda progressiva da importancia da atividade comercial, deslocada para o novo centro na
Praca Nova
e proximidades;
- Fixacao das sedes de empresas, seguros e bancos, ligados a burguesia mercantil e financeira, que procuram instalar-se junto dos novos arruamentos de melhor acessibilidade (Rua Nova da Alfandega, Rua de Ferreira Borges, Rua de Mouzinho da Silveira);
- Reducao da funcao habitacional devido a gradual transferencia das familias ricas para locais mais amplos e apraziveis e consequente separacao entre locais de trabalho e de residencia;
- Sobre-ocupacao habitacional, acelerada pelo crescente
afluxo de gentes do campo
atraidas pelo despontar da
industrializacao
. Esta ocupacao tanto se deu nos velhos predios da zona antiga, abandonados pelas familias de posses e transformados em "colmeias", como nas numerosas
ilhas
. Em qualquer destas situacoes, verificou-se uma acelerada degradacao das condicoes higienicas e de salubridade.
Em suma, o Porto do
seculo XIX
industrializou-se, manteve a tradicional e prospera actividade mercantil, afirmou-se como centro polarizador de toda a
regiao norte do pais
, como entreposto atlantico e mostrou-se uma cidade moderna, aberta a vida social, politica e cultural, plena de vitalidade com os seus
teatros
,
tertulias
,
cafes
,
feiras
,
livrarias
,
exposicoes internacionais
, os seus
passeios publicos
e
jardins romanticos
.
Em 1895, com o inicio da abertura da
estrada da Circunvalacao
e a inclusao das ultimas tres freguesias,
Aldoar
,
Nevogilde
e
Ramalde
, ficou definido o atual territorio do
Porto
,
cidade
e
concelho
.
A primeira metade do
seculo XX
portuense caracteriza-se por um acentuado
crescimento demografico
acompanhado pelo alastrar de uma
urbanizacao
generalizada que progressivamente se foi subordinando as novas exigencias do
transito motorizado
e as crescentes preocupacoes com o
planeamento urbanistico
concretizadas em numerosas e variadas propostas de planos. Ficaram mais conhecidos o "Plano Regulador" de
Antao de Almeida Garrett
(1952), o "Plano Director" de
Robert Auzelle
(1962) e, na ultima decada do seculo, o "Plano Director Municipal" de 1993.
Nas primeiras decadas do
seculo XX
a implantacao industrial e o
exodo dos campos
continuaram a ser factores decisivos do crescimento da cidade.
[
6
]
A conclusao da
Avenida da Boavista
por volta de 1915 (iniciada em meados do
seculo XIX
) ? uma longa arteria de 5 km de extensao e 40 m de largura cortada pela ampla
Rotunda da Boavista
? representou uma nova direccao de expansao do crescimento da cidade para ocidente em direccao ao
mar
e aproximou-a do
Porto de Leixoes
, inaugurado em 1895. Na
Baixa
, a abertura da
Avenida dos Aliados
, em 1916, implicou a demolicao do edificio dos antigos Pacos do Concelho e o desaparecimento do bairro do Laranjal e desencadeou a transferencia da
banca
e das
empresas seguradoras
do antigo centro
Sao Domingos
-
Rua do Infante
para a zona da
Praca Nova
, que se tornou tambem polo financeiro. Mais tarde, a partir de 1957, com a transferencia da
Camara Municipal
do
Paco Episcopal
, onde funcionava desde 1916, para o actual edificio, esta area passou a ser centro do poder local.
Na
arquitectura
do inicio do
seculo XX
salientam-se grandes edificios dispersos pela Baixa, representativos da influencia do estilo frances que inspirou os projectos do arquitecto
Marques da Silva
, formado na escola de
Paris
. Sao exemplos a
Estacao de Sao Bento
, o quarteirao das Carmelitas, o
Teatro de Sao Joao
e varias fachadas de edificios da Avenida dos Aliados. No pos-guerra o
urbanismo
sofreu a influencia dos principios decorrentes da "Carta de Atenas" publicada em 1941, cujas orientacoes apontavam para a divisao das cidades em espacos exclusivos para as quatro funcoes basicas ?
habitar
,
trabalhar
,
lazer
,
circular
? e para uma tipologia de construcao em que dominava o bloco de andares isolado com amplos espacos a volta. Esta concepcao opunha-se ao conceito tradicional de cidade, onde as diferentes funcoes se misturavam e a
rua
, tal como a
praca
, representava o elemento basico organizador do espaco urbano.
Surgem novos e grandes equipamentos como a zona industrial de
Ramalde
, a
Ponte da Arrabida
(inaugurada em 1963), a via rapida de ligacao a Leixoes, o
aeroporto de Pedras Rubras
. Infraestruturas de circulacao mais recentes como a
Via de Cintura Interna
- VCI, as novas pontes de
Sao Joao
(ferroviaria - 1991) e do
Freixo
(rodoviaria - 1995) vem condicionar e determinar outras areas de expansao da cidade do
Porto
e dos seus suburbios.
A partir dos
anos 1950
verificou-se a disseminacao de bairros sociais pela periferia de feicao rural, que ainda ocupava largas extensoes do interior da cidade. Aparecem entao
bairros
como os de
Fernao de Magalhaes
,
Pasteleira
,
Ramalde
,
Francos
, e muitos outros surgirao depois. Estes novos tipos de urbanizacoes vem instalar-se predominantemente nas freguesias ate entao de dominante rural como
Campanha
,
Paranhos
,
Lordelo do Ouro
,
Aldoar
e Ramalde.
Na segunda metade do
seculo XX
a proliferacao generalizada dos blocos de
cimento armado
alterou profundamente o perfil da cidade tradicional, ate entao dominada pela proeminencia das torres sineiras e das construcoes de
granito
. Sobretudo apos os
anos 1960
/
70
as implantacoes dominantes sao predios em altura, muitas vezes numa escala desproporcionada em relacao a envolvente. Tambem depois dos anos 1970 a acelerada evolucao do
sector terciario
contribuiu para o aparecimento de novos centros como o da Rotunda da Boavista que atraiu sedes de
empresas
e bancos.
Nas ultimas decadas do
seculo XX
acentuou-se na cidade do Porto, e nomeadamente no seu centro antigo, a perda de populacao, sobretudo da populacao jovem. As novas urbanizacoes invadiram os arrabaldes da cidade onde se formaram
suburbios
que se estendem muito para alem dos limites administrativos desta. A mancha urbana tornou-se polinucleada e a vaga de expansao, cada vez mais tentacular e periferica, deu origem a um crescimento anarquico que os planos nao tem tido capacidade de disciplinar.
Condicionada aos limites do
rio Douro
, do oceano Atlantico e da
estrada da Circunvalacao
, a cidade do Porto ? cujo territorio, de uns meros 42 km², coincide exactamente com o do respectivo concelho ?, passou a posicionar-se como cabeca de uma extensa e dinamica
Grande Area Metropolitana do Porto
, com cerca de 1.760.000 habitantes, polarizadora de toda a
Regiao Norte
do pais e com potencialidades de atraccao e irradiacao por todo o Noroeste Peninsular.
Os primeiros anos do novo seculo foram prodigos em grandes investimentos em obras publicas, nem sempre geridos da melhor forma e, quase sempre, envoltos em controversia.
Logo em 2001, o Porto, em conjunto com
Roterdao
, foi
Capital Europeia da Cultura
. O programa cultural gizado pela
Porto 2001
, a sociedade criada para gerir o evento, foi acompanhado por um forte investimento na recuperacao do espaco publico ?
Jardim da Cordoaria
,
Praca da Batalha
,
Praca de D. Joao I
? e em novas construcoes ?
Edificio Transparente
e
Casa da Musica
. Algumas das intervencoes nao foram concluidas a tempo, outras sofreram grandes atrasos na sua execucao e derrapagens orcamentais, e quase todas foram controversas.
Investimento estrutural para o
Grande Porto
foi o
Metro do Porto
, aberto em 2002 e que foi sendo aumentado nos anos subsequentes. Contou com a adesao imediata dos portuenses que o viram como uma infraestrutura da maxima importancia, que so pecava por tardia. Igualmente valida parece ter sido a modernizacao e o alargamento do
Aeroporto Francisco Sa Carneiro
? responsavel por um significativo aumento de turistas estrangeiros na cidade ?, bem como a construcao de uma miriade de vias rapidas e auto-estradas ? nomeadamente a
Via de Cintura Interna
, so integralmente concluida em 2007 ? que foram desencravando o transito do Grande Porto, propiciando a fixacao das pessoas mais longe do seu local de trabalho, incentivando o uso do transporte individual e o facil acesso aos
shoppings
que foram proliferando.
Integrado na organizacao do
Campeonato Europeu de Futebol de 2004
, em
Portugal
, a cidade recebeu varios encontros, nomeadamente o jogo inaugural. Para este evento foram efectuados grandes investimentos, nomeadamente a completa remodelacao e ampliacao do
Estadio do Bessa
e a construcao do novo e sofisticado
Estadio do Dragao
, projeto da autoria de
Manuel Salgado
, que veio substituir o ja ultrapassado Estadio das Antas. Nova celeuma em torno da pertinencia destes investimentos e da alegada promiscuidade entre o poder autarquico e o mundo do futebol que acabou por propiciar a ascensao de
Rui Rio
a presidencia do municipio.
A tendencia de desertificacao da
Baixa
, que ja se fazia sentir nas ultimas duas decadas do
seculo XX
, acentuou-se.
[
7
]
A diminuicao da populacao, seguiu-se o encerramento dos estabelecimentos comerciais e a decadencia do edificado no centro da cidade. Em fins de 2004 foi criada a
Porto Vivo - Sociedade de Reabilitacao Urbana
, com a espinhosa missao de inverter esta situacao.
O Porto tem a ganhar protagonismo tendo sido eleito como melhor destino Europeu em 2004. O Turismo tem aumentado constantemente e a sua zona historia tem sido gradualmente reabilitada. Tem-se assumido como oposicao ao Centralismo.
Referencias
- COSTA, Agostinho Rebelo da ?
Descripcao Topografica e Historica da Cidade do Porto
, 3ª edicao, Lisboa: Edicoes Frenesi, 2001.
- DUARTE, Luis Miguel ?
Historia do Porto em BD
, Porto: Edicoes ASA, 2001.
- PERES, Damiao
(direcao) ?
Historia da Cidade do Porto
, 3 volumes, Porto: Portucalense Editora, 1962-1965.
- RAMOS, Luis A. de Oliveira
(direcao) ?
Historia do Porto
, 3ª edicao, Porto: Porto Editora, 2001.
- SILVA, Francisco Ribeiro da
?
O Porto e o seu Termo - Os homens, as instituicoes e o poder (1580-1640)
, Porto: Camara Municipal do Porto, 2 volumes, 1988.
- SOUSA, Manuel de ?
Porto d'Honra
, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2017