Hanns Eisler
(
Leipzig
,
6 de julho
de
1898
?
Berlim
,
6 de setembro
de
1962
) foi um compositor
alemao
.
Com tres anos de idade se transfere para Viena, onde passa a infancia e a juventude, tendo sido discipulo de teoria e composicao musical de Arnold
Schonberg
e de Anton Webern. A assim chamada Segunda Escola de Viena, ou Escola de Schonberg, e composta pelo mestre e seus tres principais alunos: Webern,
Alban Berg
e Hanns Eisler, nao obstante este ultimo ter composto tambem em outros estilos ou poeticas musicais. Em 1925, Eisler se transfere para Berlim, e, em 1933, por sua militancia politica proxima ao Partido Comunista, se ve obrigado a fugir do nazismo e partir para o Exilio (tendo passado a maior parte do tempo no Mexico e em especial na
California
,
Estados Unidos
). Em 1949, perseguido pelo
macarthismo
e tendo sido chamado de "
Karl Marx
da musica" pelo seu inquisidor, e expulso dos EUA e regressa a Alemanha entao ainda em ruinas, estabelecendo-se em Berlim Oriental (capital da recem fundada
Republica Democratica Alema
- DDR ) ate sua morte. Sua obra musical abrange repertorio sinfonico, de camara, cerca de 400 cancoes, e ainda vasta producao para cinema e teatro, destacando-se sua parceria com o grande poeta e dramaturgo alemao
Bertolt Brecht
. Em 1949, com letra de Johannes R. Becher, entao ministro da cultura, compos o
hino da antiga Republica Democratica Alema
.
Obras de Juventude - Sao as primeiras tentativas de composicao de Eisler. Caracteriza-se por uma linguagem
tonal
do
romantismo
tardio. Destacam-se as Cinco pecas para piano, Tres cancoes para orquestra - com textos de Li Tai-Pe e Klabund e uma serie de cancoes para canto e
piano
.
Escola de Viena de Schonberg - Sao as obras compostas imediatamente apos os quatro anos consecutivos de aulas com Schonberg (1919-1923). Embora Eisler tenha sido aluno tambem de Webern, sua linha de composicao - principalmente na concepcao temporal da forma - e de fato mais proxima ao proprio Schonberg. Caracteriza-se pelo
atonalismo
livre ou ja pelo uso de tecnicas seriais. Destacam-se as Sonata Nr. 1 Op. 1 (1923) e a Sonata Nr. 2 Op. 6 (1924) para piano, as Seis cancoes para canto e piano Op. 2 (1922-23), o Divertimento para
quinteto de sopros
Op. 4 (1923), Palmstrom Op. 5 (1924) -
parodia
do Pierrot Lunaire, Duo para
Violino
e
Violoncelo
Op. 7 (1924), as Quatro pecas Op. 3 (1923) e as Oito pecas Op. 8 (1925) para piano.
Da fase schonbergiana para o
neoclassicismo
politicamente engajado, Eisler compoe 4 obras satiricas. A cantata Tagebuch Op. 9 (1926), as cancoes dos Recortes de Jornal Op. 11 (1925-27) - obras primas da
modernidade
musical - e duas obras corais: as Tres pecas para coro masculino Op. 10 (1925) e as Quatro pecas para coro misto Op. 13 (1928-29). As duas primeiras estao, estilisticamente, ainda mais inseridas na 2a. fase e as duas ultimas, na 3a. fase.
Neoclassicismo politicamente engajado - Na sua maior parte, sao obras engajadas nos movimentos politico-artisticos de
esquerda
. Caracteriza-se pela retomada do sistema tonal e pelo emprego do desenvolvimento tematico como configuracao formal. Sao desta fase suas melhores cancoes de luta. Inicio do trabalho como compositor para cinema e teatro. O trabalho conjunto com
Bertolt Brecht
torna-se uma importante referencia. Destacam-se as obras: As cantatas Tempo do Tempo Op. 16 (1929) e A mae Op. 25 (1931). As pecas corais Para cantar na rua Op. 15 (1928) para coro misto, Dois Corais Masculinos Op. 17 (1929), Duas pecas Op. 19 (1929) para coro masculino e as Duas pecas para coro masculino Op. 21 (1930). As pecas para canto e piano Seis baladas Op. 18 (1929-30), Quatro baladas Op. 22 (1930), a Balada do Soldado Op. 39 (1928) com texto de Brecht, Seis Cancoes Op. 28 (1929-31) e as Quatro Cancoes para uma mae operaria Op. 33 (1932). Suas pecas para piano Dezoito pequenas pecas para piano Op. 31 (1932) e as Sete pecas para piano Op. 32 (1932). Inumeras composicoes para teatro, como A medida Op. 20 (1930) e para cinema, que depois foram transformadas em suites para orquestra, como a Suite Nr. 2 Terra de ninguem Op. 24 (1931), Suite Nr. 3 Kuhle Wampe Op. 26 (1931-32) e a Suite Nr. 4 A juventude tem a palavra Op. 30 (1932). Paralelamente, Eisler continua compondo obras seriais. Exemplo disso e a Pequena
Sinfonia
Op. 29 (1932), esteticamente ainda ligada a sua 2a. fase.
Entre o Neoclassicismo e Escola de Schonberg - Eisler permanece varios anos sem residencia fixa, passando por varios paises da
Europa
e no Mexico, ate se estabelecer nos Estados Unidos, em 1938. Nesta fase, Eisler retoma a linha da Escola de Schonberg em algumas obras, prossegue no desenvolvimento de sua tendencia neoclassica em outras, assim como atraves da composicao de cancoes, redescobre a tradicao do
Lied
alemao. E desta fase, a maior parte de sua producao cameristica, ora ligada a Escola de Schonberg, onde frequentemente utiliza-se de tecnicas seriais, ora com o emprego de formas neoclassicas. Destacamos: Preludio e
Fuga
sobre B-A-C-H Op. 46 (1934), Sonata para flauta, oboe e harpa Op. 49 (1935), Sonata para violino e piano - Sonata Viagem (1937), Quarteto de cordas (1938), Noneto Nr. 1 (1939), Septeto Nr. 1 Variacoes sobre cancoes infantis do folclore norte-americano Op. 92 (1940), Noneto Nr. 2 (1941), Quatorze maneiras de descrever a chuva Op. 70 (1941), Sonata para piano Nr. 3 (1943) e o Septeto Nr. 2 - O circo - (1947). Um destaque especial merecem ainda os ciclos de cancoes, como as Elegias de Hollywood (1942) - alem de inumeras outras cancoes com textos de Brecht - e os Fragmentos de Holderlin (1943). Por causa destas obras, Eisler se confirma como um compositor de Lied no Sec. XX de grande importancia. Destacam-se tambem as series de cantatas de camara escritas em 1937 e as obras sinfonicas Sinfonia Alema Op. 50 (1935-59) - sua maior obra, as Cinco pecas para orquestra (1938-40) e a Sinfonia de Camara Op. 69 (1940).
Fase jdanovista - A maior parte das obras desta fase serao compostas diretamente sob influencia do "Discurso" (1948) de Jdanov, a politica oficial stalinista para a musica caracterizada pela "luta contra o formalismo e pelo realismo na arte". Ja a producao de Eisler nesta fase se torna conservadora, tonal-convencional, com a utilizacao de formas mais tradicionais de hinos e cancoes populares alemas, sobretudo retomando praticas do folclore alemao do seculo XIX. Neste sentido, o neofolclorismo torna-se a palavra-chave. Como exemplo disto temos: Rapsodia de Goethe (1949), Hino da Republica Democratica Alema (1949), Novas cancoes populares alemas (1950), e as cantatas Meio do Seculo (1950), Das Vorbild (1951-52), Os tapeceiros de Kujan-Bulak (1957) e os Quadros de uma Cartilha de Guerra (1957). Destacariamos suas Cancoes Infantis com textos de Brecht (1950-51) assim como A cancao distante - que faz parte das Novas cancoes populares alemas, como obras mais bem sucedidas ainda que dentro da linha jdanovista. E ainda a cantata Lenda do surgimento do livro Taoteking no caminho de Laotse para a imigracao (1957), retomando o estilo de suas cantatas de exilio, as satiricas Cancoes com textos de Kurt Tucholsky (1959-61), retomando o estilo de suas cancoes politicas dos anos 20, antes do trabalho conjunto com Brecht e os Cantos Serios (1961-62), sua ultima obra. Eisler, aqui, apresenta em versao unitaria, para baritono e orquestra de cordas, uma coletanea de cancoes, algumas novas, outras de fases anteriores, como as extraidas do ciclo Fragmentos de
Holderlin
, como se ele pretendesse, ja ciente da morte proxima, refletir retrospectivamente sobre sua propria vida e obra.
- ADORNO, T.W.; EISLER, H.; Komposition fur den Film. Leipzig: Deutscher Verlag fur Musik, 1977. (Gesammelte Werke III/4)
- BUNGE, HANS; EISLER, HANNS. Gesprache mit Hans Bunge - Fragen Sie mehr uber Brecht. Leipzig: Deutscher Verlag fur Musik, 1975 (Gesammelte Werke III/7).
- EISLER, HANNS; BUNGE, HANS. Gesprache mit Hans Bunge - Fragen Sie mehr uber Brecht. Leipzig, Deutscher Verlag fur Musik, 1975. (Gesammelte Werke III/7)
- EISLER, HANNS. Johann Faustus. Berlim, Henschelverlag Kunst und Gesellschaft, 1983.
- EISLER, HANNS. Musik und Politik - Schriften 1924-1948. Leipzig, Deutscher Verlag fur Musik, 1973. (Gesammelte Werke III/1)
- EISLER, HANNS. Musik und Politik - Schriften 1948-1962. Leipzig, Deutscher Verlag fur Musik, 1982. (Gesammelte Werke III/2)
- EISLER, HANNS. Musik und Politik - Schriften Addenda. Leipzig, Deutscher Verlag fur Musik, 1983. (Gesammelte Werke III/3)
- BETZ, ALBRECHT. Hanns Eisler - Musik einer Zeit, die sich eben bildet. Munique: text + kritik, 1976.
- BRECHT, BERTOLT. Thesen zur Faustus Diskussion. In: Sinn und Form V. Berlim: 1953. Pag. 194.
- BRECHT, BERTOLT. Was ist Formalismus (1953). In: Schriften zur Literatur und Kunst. Berlim / Weimar: Aufbauverlag, 1966, Bd. V. Pag. 328-342.
- DAHLHAUS, CARL. Thesen uber engagierte Musik. In: KOLLERITSCH, OTTO. Musik zwischen Engagement und Kunst. Graz: Universal, 1972.
- DUMLING, ALBRECHT. Lasst euch nicht verfuhren - Brecht und die Musik. Munique: Kindler, 1985.
- HARRY. Gedanken uber Hanns Eisler. In: Musik und Gesellschaft 8/58. Berlim: Henschelverlag, 1958. Pag. 352.
- MANFRED. Hanns Eisler Kompositionen - Schriften - Literatur - Ein Handbuch. Leipzig: Deutscher Verlag fur Musik, 1984.
- MANFRED. Uber Hanns Eislers Kammerkantaten. In: Musik und Gesellschaft 7/68. Berlim: Henschelverlag, 1968.
- HEISTER, H.-WERNER; MAYER, GUNTER. Thesen Politische Musik - Musikpolitik. In: Musik und Gesellschaft 1/84. Berlim: Henschelverlag, 1984. Pag. 2-10.
- HENNENBERG, FRITZ. Hanns Eisler. 1.ed. Leipzig: Bibliographisches Institut, 1986.
- JUNGHEINRICH, HANS-KLAUS. Musik und Realismus - Aspekte bei Hanns Eisler. In: KOLLERITSCH, OTTO. (ed.) Musik zwischen Engagement und Kunst. Graz: Universal, 1972. Pag. 69-79.
- KOLLERTISCH, OTTO. Musik zwischen Engagement und Kunst. In: KOLLERTISCH, OTTO. (ed.) Musik zwischen Engagement und Kunst. Graz: Universal, 1972. Pag. 92-99.
- KLEMM, EBERHARDT. Bemerkungen zur Zwolftontechnik bei Eisler und Schonberg. In: Sinn und Form XXI. Berlim: 1964.
- EBERHARDT. Hanns Eisler - Fur Sie portratiert. Leipzig: Deutscher Verlag fur Musik, 1973.
- KLEMM. EBERHARDT. Zum Tode von Hans Bunge. In: Musik und Gesellschaft 7/90. Berlim: Henschelverlag, 1990. Pag. 399.
- LOMBARDI, LUCA. Musica della rivoluzione - Hanns Eisler. Milao: Feltrinelli, 1978.
- JOACHIM. Impuls zu literarischer Produktion Bertolt Brechts Verhaltnis zur Musik. In: Musik und Gesellschaft 6/85. Berlim: Henschelverlag, 1985. Pag. 309-313.
- MARKOWISKI, LIESEL. Hanns Eislers theoretisches Erbe. In: Weimarer Beitrage Sonderdruck Heft 7/1988. Weimar: 1988. Pag. 1076-1101.
- LIESEL. Wege zu einer universellen Offentlichkeit. In: Musik und Gesellschaft 9/87. Berlim: Henschelverlag, 1987. Pag. 451-460.
- MAYER, GUNTER. Adorno und Eisler. In: KOLLERITSCH, OTTO. (ed.) Adorno und die Musik. Graz: Universal, 1979. Pag. 133-155.
- MAYER, GUNTER. Musik aus kapitalistischen Landern. In: MAINKA, J. e WICKE, P. (ed.). Wegzeichen - Studien zur Musikwissenschaft. Berlim: Neue Musik, 1985. Pag. 289-307.
- GUNTER; HEISTER, H.-WERNER. Thesen Politische Musik - Musikpolitik. In: Musik und Gesellschaft 1/84. Berlim: Henschelverlag, 1984. Pag. 2-10.
- MAYER, GUNTER. Weltbild-Notenbild - Zur Dialektik des musikalischen Materials. Leipzig: Reclam, 1978.
- MAYER, GUNTER. Revolucao na Musica - As vanguardas de 1200 e 2000. Relacao entre vanguarda politica e musical. In: Revista Musica. Vol. 1 Nr. 1 - maio de 1990. Sao Paulo, Departamento de Musica da Escola de Comunicacoes e Artes da Universidade de Sao Paulo, 1990. Pag. 9-17.
- MEYER, ERNST H. Geleitwort zur Zeitschrift Musik und Gesellschaft e Realismus im Musikschaffen. In: Musik und Gesellschaft Nr. 1. Berlim, Henschelverlag, marco de 1951. Pag. 1 e 22.
- MITTENZWEI, WERNER. Uber das Wagnis und die Folgen, fur das deutsche Publikum einen neuen “Faust” zu schreiben, unternommen von dem Komponisten und Dichter Hanns Eisler im Jahre 1953. In: EISLER, H. Johann Faustus. Berlim: Henschelverlag Kunst und gesellschaft, 1983. Nachwort. Pag. 115-147.
- MULLER, HANS-PETER. Ein Genie bin ich selber - Hanns Eisler in Anekdoten, Aphorismen und Ausspruchen. 2.ed. Berlim: Neue Musik, 1984.
- UND GESELLSCHAFT. (Revista alema) Ed. Comem. dos 90 anos de Eisler. Textos de GRABS; SCHEBERA; HENNENBERG; KLEMM; RICCIARDI; SCHUTZ; ANDERS. Berlim: Julho de 1988.
- PHLEPS, THOMAS. Hanns Eislers "Deutsche Sinfonie" - Ein Beitrag zur Asthetik des Widerstands. Kassel: Barenreiter, 1988. (Kasseler Schriften zur Musik 1)
- REBLING, EBERHARDT. Ein Blick in ein grosses Werk - Zum Liedschaffen Hanns Eislers. In: Musik und Gesellschaft 7/57. Berlim: Henschelverlag, 1957.
- RICCIARDI, RUBENS. Jdanov, Brecht, Eisler e a Questao do Formalismo. In: REVISTA MUSICA. Sao Paulo: Departamento de Musica da ECA-USP, Vol. 8 ? Nr.1-2 ? maio - novembro de 1997. p.167-205.
- SANTANA, ILMA ESPERANCA DE ASSIS. O cinema operario na Republica de Weimar. Sao Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993.
- SCHEBERA, JURGEN. Hanns Eisler. Berlim: Henschelverlag. Kunst und Gesellschaft, 1981.
- SCHEBERA, JURGEN. Hanns Eisler im USA-Exil. Berlim: Akademie-Verlag, 1978.
- SCHNEIDER, FRANK. Vorwarts (und) nicht vergessen. In: Musik und Gesellschaft 8/84. Berlim: Henschelverlag, 1984. Pag. 398-403.
- STEPHAN, RUDOF. Kleine Beitrage zur Eisler - Kritik. In: KOLLERITSCH, OTTO. (ed.) Musik zwischen Engagement und Kunst. Graz: Universal, 1972. Pag. 53-68.
- STRELLER, FRIEDBERT. Revolte und Aufbruch - Musikhistorische Studien zum Expressionismus in Deutschland. Halle: 1988. 218p. - 1. volume e 367p. - 2. volume. Dissertacao (Dr. sc. phil.). Universidade Martin Luther de Halle-Wittenberg.
- ZANI, HELOISA H.F. Hanns Eisler: As pequenas pecas para criancas ou como e importante falar sobre Napoleao. Sao Paulo: ECA-USP, 1993. 144p. Dissertacao (Mestrado) - Departamento de Cinema, Radio e Televisao da Escola de Comunicacoes e Artes da Universidade de Sao Paulo.
- ZOBL, WILHELM. Hanns Eislers Verhaltnis zur Tradition - Aspekte der Ausarbeitung einer marxistischen Erbetheorie in der Musik - dargestellt bis 1933. Berlim: 1978. 308p. Dissertacao (Dr. phil.) - Universidade Humboldt de Berlim.
- WILHELM. Kritik der westlichen Avantgarde und ihrer okonomischen Widerspruche - ausgehend von Hanns Eislers Uberlegungen. In: KOLLERITSCH, OTTO. (ed.) Musik zwischen Engagement und Kunst. Graz: Universal, 1972. Pag. 80-91.