Guerra das Areias
|
|
Data
|
25 de Setembro de 1963 - 20 de Fevereiro de 1964
|
Local
|
Antiga colonia
francesa
de Saoura (hoje
Tindouf
,
Bechar
e
Adrar
)
|
Desfecho
|
Inconclusivo
|
Mudancas territoriais
|
Nenhuma
|
Beligerantes
|
|
Comandantes
|
|
Baixas
|
39 mortos, 57 capturados ou 200 mortos
|
60 mortos, 250 feridos ou 300 mortos, 379 capturados
|
|
A
Guerra das Areias
foi um conflito fronteirico entre
Marrocos
e
Argelia
em Outubro de
1963
, na sequencia da reivindicacao por parte de Marrocos das provincias de
Tindouf
e
Bechar
que a
Franca
havia anexado a
Argelia Francesa
decadas antes.
Antes da colonizacao francesa no
seculo XIX
, partes do sul e oeste da Argelia pertenciam a Marrocos.
[
1
]
Na
decada de 1930
e depois na
decada de 1950
, a Franca integrou-as no que era conhecido como o Departamento Ultramarino da Argelia Francesa, nas areas de Tindouf e Bechar. Quando Marrocos se tornou independente, quis reaver a soberania sobre essas areas. Num esforco para cortar o apoio que o movimento de libertacao da Argelia tinha em Marrocos, a Franca ofereceu-se para devolver essas areas em troca de Marrocos cancelar o seu apoio as guerrilhas. O rei
Mohammed V de Marrocos
recusou-se a fazer tal acordo com Franca, nas costas dos "irmaos argelinos", e acordou com o governo provisorio argelino e seu lider
nacionalista
Ferhat Abbas
, que quando a Argelia ganhasse a sua independencia renegociaria o estatuto das areas de
Tindouf
e
Bechar
.
Todavia, logo depois da independencia da Argelia, e antes de que o acordo com Mohammed V pudesse ser formalmente ratificado, Abbas foi afastado da
Front de Liberation Nationale
por uma coligacao apoiada pelos militares e conduzida pelo lider radical
Ahmad Ben Bella
. Os ultimos e sangrentos anos da rebeliao da FLN foram combatidos essencialmente para prevenir a Franca de dividir as regioes no
Deserto do Saara
e entrega-las a Marrocos, e assim nem Ben Bella nem os restantes dirigentes da FLN estavam particularmente receptivos as reclamacoes de Marrocos. Os argelinos assim nao reconheceram as reclamacoes historicas e politicas de Marrocos, e, pelo contrario, encararam as demandas marroquinas como tentativas de agastar o recem-independente vizinho e pressiona-lo quando estava ainda fraco em termos de consolidacao de estruturas de defesa. A Argelia estava ainda a recuperar da longa e desgastante
Guerra da Argelia
, e o governo mal tinha controlo sobre a totalidade do territorio - significativamente, uma rebeliao dos
Berberes
anti-FLN sob a lideranca de
Hocine Ait Ahmed
tinha-se iniciado pouco antes nas montanhas da
Cabilia
. A tensao escalava, e nenhum lado queria ceder.
Escaramucas ao longo da linha de fronteira acabaram por dar origem a um confronto com combates intensos em redor dos oasis de
Tindouf
e
Figuigue
. O exercito da Argelia, acabado de se formar a partir da
guerrilha
da FLN (a ALN,
Armee de Liberation Nationale
) dispunha quase somente de equipamento e armas ligeiras.
[
2
]
Tinha, no entanto, dezenas de milhar de veteranos com experiencia de guerra, prontos para o combate, e motivados pelo governo militar pos-Guerra da Argelia. Por outro lado, enquanto o exercito moderno e bem-equipado de Marrocos era superior no campo de batalha,
[
1
]
[
3
]
nao conseguiu penetrar na Argelia.
Os aliados da Argelia foram a
Uniao Sovietica
,
Cuba
e
Egipto
. Marrocos recebeu uma ajuda mais discreta de
Franca
e dos
Estados Unidos da America
.
A guerra entrou em impasse e foi parada com a intervencao da
Organizacao de Unidade Africana
(OUA) e a
Liga Arabe
, e terminou em cerca de tres semanas. A OUA conseguiu obter um
cessar-fogo
em
20 de Fevereiro
de
1964
[
4
]
. Um acordo de paz foi feito entao pela mediacao da Liga Arabe e uma
zona desmilitarizada
instituida, embora a hostilidade permanecesse.
A Guerra das Areias foi a base de uma permanente e por vezes hostil rivalidade entre Marrocos e Argelia, exacerbada pelas diferencas politicas entre a
conservadora
monarquia marroquina e o
revolucionario
e
nacionalista
arabe governo militar argelino
[
1
]
[
5
]
. A marcacao final da fronteira na area de Tindouf apenas foi acordada muitos anos depois, num processo de negociacao que se estendeu de 1969 a 1972, com a Argelia a oferecer a Marrocos a partilha dos lucros do
minerio de ferro
de Tindouf em troca do reconhecimento de fronteiras.
Tanto em Marrocos como na Argelia, os governos usaram a guerra para denominar os movimentos de
oposicao
como antipatrioticos. A
UNFP
marroquina e a argelina-berbere
FFS
de
Ait Ahmed
sofreram ambas com esta atitude. No caso da UNFP, o seu lider
Mehdi Ben Barka
alinhou com a Argelia, e foi
condenado a morte
in absentia
. Na Argelia, a rebeliao armada da FFS na
Cabilia
ficou parada, porque os comandantes desertaram para se juntar as forcas armadas nacionais contra Marrocos.
Muitos argumentaram que a Guerra das Areias e o seu amargo legado foram um factor importante na atitude da Argelia em relacao ao conflito no
Saara Espanhol
no inicio da
decada de 1970
. Em 1975, Marrocos tomou o controlo desse territorio, agora conhecido como
Saara Ocidental
, enquanto a Argelia comecou a apoiar politica e militarmente a
Frente Polisario
, a
guerrilha
independentista
Sahrawi
.
- Pennell, C. R. (2000),
Morocco since 1830. A History
, New York University Press (
ISBN 0-8147-6676-5
)
- Stora, Benjamin (2004),
Algeria 1830-2000. A Short History
, Cornell University Press (
ISBN 0-8014-3715-6
)
Referencias