Guerra das Areias

Origem: Wikipedia, a enciclopedia livre.
Guerra das Areias
Data 25 de Setembro de 1963 - 20 de Fevereiro de 1964
Local Antiga colonia francesa de Saoura (hoje Tindouf , Bechar e Adrar )
Desfecho Inconclusivo
Mudancas territoriais Nenhuma
Beligerantes
  Marrocos
Apoiado por:
  Estados Unidos
  Franca
  Argelia
Apoiado por:
  Uniao Sovietica
Egipto
  Cuba
Comandantes
Marrocos Rei Hassan II Argélia Ahmed Ben Bella
Baixas
Marrocos 39 mortos, 57 capturados ou 200 mortos Argélia 60 mortos, 250 feridos ou 300 mortos, 379 capturados

A Guerra das Areias foi um conflito fronteirico entre Marrocos e Argelia em Outubro de 1963 , na sequencia da reivindicacao por parte de Marrocos das provincias de Tindouf e Bechar que a Franca havia anexado a Argelia Francesa decadas antes.

Antecedentes [ editar | editar codigo-fonte ]

Antes da colonizacao francesa no seculo XIX , partes do sul e oeste da Argelia pertenciam a Marrocos. [ 1 ] Na decada de 1930 e depois na decada de 1950 , a Franca integrou-as no que era conhecido como o Departamento Ultramarino da Argelia Francesa, nas areas de Tindouf e Bechar. Quando Marrocos se tornou independente, quis reaver a soberania sobre essas areas. Num esforco para cortar o apoio que o movimento de libertacao da Argelia tinha em Marrocos, a Franca ofereceu-se para devolver essas areas em troca de Marrocos cancelar o seu apoio as guerrilhas. O rei Mohammed V de Marrocos recusou-se a fazer tal acordo com Franca, nas costas dos "irmaos argelinos", e acordou com o governo provisorio argelino e seu lider nacionalista Ferhat Abbas , que quando a Argelia ganhasse a sua independencia renegociaria o estatuto das areas de Tindouf e Bechar .

Todavia, logo depois da independencia da Argelia, e antes de que o acordo com Mohammed V pudesse ser formalmente ratificado, Abbas foi afastado da Front de Liberation Nationale por uma coligacao apoiada pelos militares e conduzida pelo lider radical Ahmad Ben Bella . Os ultimos e sangrentos anos da rebeliao da FLN foram combatidos essencialmente para prevenir a Franca de dividir as regioes no Deserto do Saara e entrega-las a Marrocos, e assim nem Ben Bella nem os restantes dirigentes da FLN estavam particularmente receptivos as reclamacoes de Marrocos. Os argelinos assim nao reconheceram as reclamacoes historicas e politicas de Marrocos, e, pelo contrario, encararam as demandas marroquinas como tentativas de agastar o recem-independente vizinho e pressiona-lo quando estava ainda fraco em termos de consolidacao de estruturas de defesa. A Argelia estava ainda a recuperar da longa e desgastante Guerra da Argelia , e o governo mal tinha controlo sobre a totalidade do territorio - significativamente, uma rebeliao dos Berberes anti-FLN sob a lideranca de Hocine Ait Ahmed tinha-se iniciado pouco antes nas montanhas da Cabilia . A tensao escalava, e nenhum lado queria ceder.

A guerra [ editar | editar codigo-fonte ]

Escaramucas ao longo da linha de fronteira acabaram por dar origem a um confronto com combates intensos em redor dos oasis de Tindouf e Figuigue . O exercito da Argelia, acabado de se formar a partir da guerrilha da FLN (a ALN, Armee de Liberation Nationale ) dispunha quase somente de equipamento e armas ligeiras. [ 2 ] Tinha, no entanto, dezenas de milhar de veteranos com experiencia de guerra, prontos para o combate, e motivados pelo governo militar pos-Guerra da Argelia. Por outro lado, enquanto o exercito moderno e bem-equipado de Marrocos era superior no campo de batalha, [ 1 ] [ 3 ] nao conseguiu penetrar na Argelia.

Os aliados da Argelia foram a Uniao Sovietica , Cuba e Egipto . Marrocos recebeu uma ajuda mais discreta de Franca e dos Estados Unidos da America .

A guerra entrou em impasse e foi parada com a intervencao da Organizacao de Unidade Africana (OUA) e a Liga Arabe , e terminou em cerca de tres semanas. A OUA conseguiu obter um cessar-fogo em 20 de Fevereiro de 1964 [ 4 ] . Um acordo de paz foi feito entao pela mediacao da Liga Arabe e uma zona desmilitarizada instituida, embora a hostilidade permanecesse.

Resultado [ editar | editar codigo-fonte ]

A Guerra das Areias foi a base de uma permanente e por vezes hostil rivalidade entre Marrocos e Argelia, exacerbada pelas diferencas politicas entre a conservadora monarquia marroquina e o revolucionario e nacionalista arabe governo militar argelino [ 1 ] [ 5 ] . A marcacao final da fronteira na area de Tindouf apenas foi acordada muitos anos depois, num processo de negociacao que se estendeu de 1969 a 1972, com a Argelia a oferecer a Marrocos a partilha dos lucros do minerio de ferro de Tindouf em troca do reconhecimento de fronteiras.

Tanto em Marrocos como na Argelia, os governos usaram a guerra para denominar os movimentos de oposicao como antipatrioticos. A UNFP marroquina e a argelina-berbere FFS de Ait Ahmed sofreram ambas com esta atitude. No caso da UNFP, o seu lider Mehdi Ben Barka alinhou com a Argelia, e foi condenado a morte in absentia . Na Argelia, a rebeliao armada da FFS na Cabilia ficou parada, porque os comandantes desertaram para se juntar as forcas armadas nacionais contra Marrocos.

Muitos argumentaram que a Guerra das Areias e o seu amargo legado foram um factor importante na atitude da Argelia em relacao ao conflito no Saara Espanhol no inicio da decada de 1970 . Em 1975, Marrocos tomou o controlo desse territorio, agora conhecido como Saara Ocidental , enquanto a Argelia comecou a apoiar politica e militarmente a Frente Polisario , a guerrilha independentista Sahrawi .

Bibliografia [ editar | editar codigo-fonte ]

  • Pennell, C. R. (2000), Morocco since 1830. A History , New York University Press ( ISBN 0-8147-6676-5 )
  • Stora, Benjamin (2004), Algeria 1830-2000. A Short History , Cornell University Press ( ISBN 0-8014-3715-6 )

Referencias