Fenomenologia

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Fenomenologia (do grego phainesthai ? aquilo que se apresenta ou que mostra ? e logos explicacao, estudo) e uma metodologia ou um modo de pensamento filosofico que retoma a importancia dos fenomenos, os quais devem ser estudados em si mesmos ? tudo que podemos saber do mundo e de nos proprios resume-se a esses fenomenos, a esses objetos fenomenais que o ser experimenta em sua finitude. Os objetos da Fenomenologia sao dados imediatos apreendidos em intuicao pura, na nossa lida cotidiana com as coisas, com o proposito de descobrir estruturas existenciais dos atos ( noesis ) e as entidades que correspondem a elas ( noema ).

Edmund Husserl (1859-1938) ? filosofo, matematico e logico ? e o fundador desse metodo de investigacao filosofica e quem estabeleceu os principais conceitos e metodos que seriam amplamente usados pelos filosofos desta tradicao. Ele, influenciado por Franz Brentano , seu mestre, lutou contra o historicismo e o psicologismo . Propos por meio de sua experiencia de pensamento um recomeco para a filosofia como uma investigacao rigorosa que se iniciaria com os estudos dos fenomenos, como estes aparecem na e para a consciencia do tempo, para expor os limites da razao. Suas investigacoes logicas influenciaram ate mesmo os filosofos e matematicos da mais forte corrente oposta, o empirismo logico . A Fenomenologia representou uma reacao no sentido de superacao da metafisica, pretensao de parte dos filosofos e cientistas dos seculos XIX e XX.

Husserl foi professor em Gotinga e Friburgo em Brisgovia , tendo como assistente a filosofa Edith Stein ( Santa Teresa Benedita da Cruz ). Contrariamente a todas as tendencias no mundo intelectual de sua epoca, quis que a ciencia tivesse as bases e as condicoes de uma ciencia rigorosa em sua fundamentacao fenomenologica originaria que orientasse as possibilidades do fazer cientifico.

O exito do metodo cientifico esta no estabelecimento de uma "verdade provisoria" util, que sera verdade ate que um fato novo mostre outra realidade. Para evitar que a verdade filosofica tambem fosse provisoria, Husserl propoe que ela deveria referir-se as coisas como se apresentam na experiencia de consciencia , estudadas fenomenologicamente, em seu retorno, "rumo as coisas mesma", de um modo livre de teorias e pressuposicoes, de hipoteses sem fundamento fenomenologicos, despidas dos acidentes proprios da teoria cientifica de fundamentacao metafisica, do mundo empirico da ciencia. Buscando restaurar a "logica pura" e dar rigor a possibilidade cientifica por meio de uma filosofia fenomenologica, argumenta a respeito do principio da contradicao na Logica .

No primeiro volume de “Investigacoes logicas” (1900-01), sob o titulo Prolegomena , Husserl lanca sua critica contra o Psicologismo. Segundo os psicologistas, o principio de contradicao seria a impossibilidade de o sistema associativo estar a associar e dissociar ao mesmo tempo. Significaria que o homem nao pode pensar que A e "A" e ao mesmo tempo pensar que A e "nao A". Husserl opoe-se a isto e diz que o sentido do principio de contradicao esta em que, se A e "A", nao pode ser "nao A". Segundo ele, o principio da contradicao nao se refere a possibilidade do pensar, mas a verdade daquilo que e pensado. Insistiu em que o principio da contradicao , e assim os demais principios logicos, tem validez objetiva, isto e, referem-se a alguma coisa como verdadeira ou falsa, independentemente de como a mente pensa ou o pensamento funciona.

Em seu artigo Filosofia como ciencia rigorosa (1910-1), Husserl ataca o naturalismo e o historicismo. Objetou que o Historicismo implicava relativismo e, por esse motivo, era incapaz de alcancar o rigor requerido por uma ciencia genuina. Sendo assim, para uma ciencia rigorosa, deveria haver um conduzir fenomenologico que superasse a metafisica enquanto possibilidade do fazer cientifico. Pois, em ultima instancia, a teoria cientifica metafisica careceria de uma comprovacao fenomenologica. Portanto, nao teria uma fundamentacao ontologica consistente.

Pressupostos [ editar | editar codigo-fonte ]

A reducao Fenomenologica [ editar | editar codigo-fonte ]

A fenomenologia e o estudo da consciencia e dos objetos da consciencia. A reducao fenomenologica, epoche , e o processo pelo qual tudo que e informado pelos sentidos e mudado em uma experiencia de consciencia, em um fenomeno que consiste em se estar consciente de algo. Coisas, imagens, fantasias, atos, relacoes, pensamentos, eventos, memorias, sentimentos etc. constituem nossas experiencias de consciencia. [ 1 ]

Husserl propos que no estudo das nossas vivencias, dos nossos estados de consciencia, dos objetos ideais, desse fenomeno que e estar consciente de algo, nao devemos nos preocupar se ele corresponde ou nao a objetos do mundo externo a nossa mente. O interesse para a Fenomenologia nao e o mundo que existe, mas sim o modo como o conhecimento do mundo se realiza para cada pessoa. A reducao fenomenologica requer a suspensao das atitudes, crencas, teorias, e colocar em suspenso o conhecimento das coisas do mundo exterior a fim de concentrar-se a pessoa exclusivamente na experiencia em foco, porque esta e a realidade para ela.

O Noesis e o ato de perceber e o Noema e o objeto da percepcao ? esses sao os dois polos da experiencia. A coisa como fenomeno de consciencia ( noema ) e a coisa que importa, e refere-se a conclamacao "as coisas em si mesmas" que fizera Husserl. "Reducao fenomenologica" significa, portanto, restringir o conhecimento ao fenomeno da experiencia de consciencia, desconsiderar o mundo real, coloca-lo "entre parenteses", o que no jargao fenomenologico nao quer dizer que o filosofo deva duvidar da existencia do mundo como os idealistas radicais duvidam, mas se preocupar com o conhecimento do mundo na forma que se realiza e na visao do mundo que o individuo tem.

Consciencia e Intencionalidade [ editar | editar codigo-fonte ]

Franz Brentano: mestre de Husserl

Vivencia ( Erlebnis ) e todo o ato psiquico; a Fenomenologia, ao envolver o estudo de todas as vivencias, tem que englobar o estudo dos objetos das vivencias, porque as vivencias sao intencionais e e nelas essencial a referencia a um objeto. A consciencia e caracterizada pela intencionalidade, porque ela e sempre a consciencia de alguma coisa. Essa intencionalidade e a essencia da consciencia que e representada pelo significado, o nome pelo qual a consciencia se dirige a cada objeto.

Em “A Psicologia de um ponto de vista empirico" (1874), Franz Brentano afirma: "Podemos assim definir os fenomenos psiquicos dizendo que eles sao aqueles fenomenos os quais, precisamente por serem intencionais, contem neles proprios um objeto". Isto equivale afirmar, como Husserl, que os objetos dos fenomenos psiquicos independem da existencia de sua replica exata no mundo real porque contem o proprio objeto. A descricao de atos mentais, assim, envolve a descricao de seus objetos, mas somente como fenomenos e sem assumir ou afirmar sua existencia no mundo empirico. O objeto nao precisa de fato existir. Foi um uso novo do termo "intencionalidade" que antes se aplicava apenas ao direcionamento da vontade.

A Reducao Eidetica [ editar | editar codigo-fonte ]

Reconhecido o objeto ideal, o noema , o passo seguinte e sua “reducao eidetica”, reducao a ideia. Consiste na analise do noema para encontrar sua essencia. Isto porque nao podemos nos livrar da subjetividade e ver as coisas em si mesmas, pois em toda experiencia de consciencia estao envolvidos o que e informado pelos sentidos e o modo como a mente enfoca aquilo que e informado. Portanto, dando-se conta dos objetos ideais, uma realidade criada na consciencia nao e suficiente ? ao contrario: os varios atos da consciencia precisam ser conhecidos nas suas essencias, aquelas essencias que a experiencia de consciencia de um individuo devera ter em comum com experiencias semelhantes nos outros.

A reducao eidetica e necessaria para que a filosofia preencha os requisitos de uma ciencia genuinamente rigorosa de claridade apoditica, a certeza absolutamente transparente e sem ambiguidade ? requisitos antes mencionados por Descartes. Os objetos da ciencia rigorosa tem que ser essencias atemporais, cuja atemporalidade e garantida por sua idealidade, fora do mundo cambiavel e transiente da ciencia empirica.

Por exemplo, "um triangulo". Posso observar um triangulo maior, outro menor, outro de lados iguais, ou desiguais. Esses detalhes da observacao ? elementos empiricos ? precisam ser deixados de lado a fim de encontrar a essencia da ideia de triangulo ? do objeto ideal que e o triangulo ?, que e tratar-se de uma figura de tres lados no mesmo plano. Essa reducao a essencia, ao triangulo como um objeto ideal, e a reducao eidetica.

A Intuicao do Invariante [ editar | editar codigo-fonte ]

Nao importa para a Fenomenologia como os sentidos sao afetados pelo mundo real. Husserl distingue entre percepcao e intuicao. Alguem pode perceber e estar consciente de algo, porem sem intuir o seu significado. A intuicao eidetica e essencial para a reducao eidetica. Ela e o dar-se conta da essencia, do significado do que foi percebido. O modo de apreender a essencia, Wesensschau , e a intuicao das essencias e das estruturas essenciais. De comum, o homem forma uma multiplicidade de variacoes do que e dado. Porem, enquanto mantem a multiplicidade, o homem pode focalizar sua atencao naquilo que permanece imutavel na multiplicidade, a essencia ? esse algo identico que continuamente se mantem durante o processo de variacao, e que Husserl chamou "Invariante".

A Universidade de Friburgo, onde Husserl e Heidegger ensinavam filosofia.

No exemplo do triangulo, o "Invariante" do triangulo e aquilo que estara em todos os triangulos, e nao vai variar de um triangulo para outro. A figura que tiver unicamente tres lados em um mesmo plano, nao sera outra coisa, sera um triangulo. Nao podemos acreditar cegamente naquilo que o mundo nos oferece. No mundo, as essencias estao acrescidas de acidentes enganosos. Por isso, e preciso fazer variar imaginariamente os pontos de vista sobre a essencia para fazer aparecer o invariante.

O que importa nao e a coisa existir ou nao ou como ela existe no mundo, mas a maneira pela qual o conhecimento do mundo acontece como intuicao, o ato pelo qual a pessoa apreende imediatamente o conhecimento de alguma coisa com que se depara ? que tambem e um ato primordialmente dado sobre o qual todo o resto e para ser fundado. Husserl definiu a Fenomenologia em termos de um retorno a intuicao, Anschauung , e a percepcao da essencia. Alem do mais, a enfase de Husserl sobre a intuicao precisa ser entendida como uma refutacao de qualquer abordagem meramente especulativa da filosofia. Sua abordagem e “concreta”, trata do fenomeno dos varios modos de consciencia.

A Fenomenologia nao restringe seus dados a faixa das experiencias sensiveis, pois admite dados nao sensiveis (categoriais) como as relacoes de valor, desde que se apresentem intuitivamente.

Reducao Transcendental [ editar | editar codigo-fonte ]

Embora tenha trabalhado ate o final de sua vida na definicao do que chamou "Reducao Transcendental", Husserl nao chegou a uma conclusao clara. Basicamente seria a reducao fenomenologica aplicada ao proprio sujeito, que entao se ve nao como um ser real, empirico, mas como consciencia pura, transcendental, geradora de todo significado.

Para o fenomenologo, a funcao das palavras nao e nomear tudo que nos vemos ou ouvimos, mas salientar os padroes recorrentes em nossa experiencia. Identificam nossos dados dos sentidos atuais como sendo do mesmo grupo que outros que ja tenhamos registrado antes. Uma palavra nao descreve uma unica experiencia, mas um grupo ou um tipo de experiencias; a palavra "mesa" descreve todos os varios dados dos sentidos que nos consultamos normalmente quanto as aparencias ou as sensacoes de "mesa". Assim, tudo que o homem pensa, quer, ama ou teme, e intencional, isto e, refere-se a um desses universais (que sao significados e, como tal, sao fenomenos da consciencia). E por sua vez, o conjunto dos fenomenos, o conjunto das significacoes, tem um significado maior, que abrange todos os outros, e o que a palavra "Mundo" significa.

Fenomenologia e Fenomenalismo [ editar | editar codigo-fonte ]

A fenomenologia nao pode ser confundida com o Fenomenalismo, pois este nao leva em conta a complexidade da estrutura intencional da consciencia que o homem tem dos fenomenos. A Fenomenologia examina a relacao entre a consciencia e o Ser. Para o Fenomenalismo, tudo que existe sao as sensacoes ou possibilidades permanentes de sensacoes, que e aquilo a que chamam fenomeno. O fenomenologo, diferentemente do fenomenalista, precisa prestar atencao cuidadosa ao que ocorre nos atos da consciencia, que sao o que ele chama fenomeno.

Outros Pensadores [ editar | editar codigo-fonte ]

Max Scheler ? um dos grandes expoentes da fenomenologia

Max Scheler [ editar | editar codigo-fonte ]

O mais original e dinamico dos primeiros associados de Husserl foi Max Scheler (1874-1928), que havia integrado o grupo de Munique e que realizou seu principal trabalho fenomenologico com respeito a problemas do valor e da obrigacao. Ampliou a ideia de intuicao, colocando, ao lado de uma intuicao intelectual, outra de carater emocional, fundamento da apreensao do valor.

Heidegger [ editar | editar codigo-fonte ]

Discipulo de Husserl , Martin Heidegger (1889-1976) dedicou a ele sua obra fundamental, Ser e Tempo (1927), mas logo surgiram diferencas entre ele e o mestre. Discutir e absorver os trabalhos de importantes filosofos na historia da metafisica era, para Heidegger, uma tarefa indispensavel, enquanto Husserl repetidamente enfatizou a importancia de um comeco radicalmente novo para a filosofia, querendo colocar "entre parenteses" a historia do pensamento filosofico ? abrindo poucas excecoes, como Descartes , Locke , Hume e Kant .

Heidegger tomou seu caminho proprio, preocupado que a fenomenologia se dedicasse ao que esta escondido na experiencia do dia a dia. Ele tentou em Ser e tempo descrever o que chamou de estrutura do cotidiano, ou "o estar no mundo", com tudo que isto implica quanto a projetos pessoais, relacionamento e papeis sociais, pois que tudo isto tambem sao objetos ideais.

Em sua critica a Husserl, Heidegger salientou que ser lancado no mundo entre coisas e na contingencia de realizar projetos e um tipo de intencionalidade muito mais fundamental que a intencionalidade de meramente contemplar ou pensar objetos. E e aquela intencionalidade mais fundamental a causa e a razao desta ultima.

Merleau-Ponty [ editar | editar codigo-fonte ]

Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) foi um dos mais importantes fenomenologos franceses. Suas obras, “A Estrutura do comportamento” (1942) e “Fenomenologia da percepcao” (1945), foram originais desenvolvimentos e aplicacoes posteriores da Fenomenologia produzidos na Franca.

Em sua tentativa de aplicar a Fenomenologia ao exame da existencia humana, como fez Heidegger, Sartre e outros autores franceses desenvolveram uma linguagem sofisticada, recheada de termos que cairam no gosto dos academicos, mas se tornaram um obstaculo ao entendimento da doutrina inclusive entre os proprios intelectuais.

Emmanuel Levinas [ editar | editar codigo-fonte ]

Emmanuel Levinas (1906-1995) Bastante influenciado pela fenomenologia de Edmund Husserl, de quem foi tradutor, assim como pelas obras de Martin Heidegger, Franz Rosenzweig e Monsieur Chouchani, o pensamento de Levinas parte da ideia de que a Etica, e nao a Ontologia, e a Filosofia primeira. E no face-a-face humano que se irrompe todo sentido. Diante do rosto do Outro, o sujeito se descobre responsavel e lhe vem a ideia o Infinito.

Sartre [ editar | editar codigo-fonte ]

Jean-Paul Sartre (1905-1980) segue estritamente o pensamento de Husserl na analise da consciencia em seus primeiros trabalhos, “A Imaginacao” (1936) e “O Imaginario: Psicologia fenomenologica da imaginacao” (1940), nos quais faz a distincao entre a consciencia perceptual e a consciencia imaginativa aplicando o conceito de intencionalidade de Husserl.

No seu “A Filosofia do Existencialismo”, de 1965, Sartre declara que "a subjetividade deve ser o ponto de partida" do pensamento existencialista, o que mostra que o existencialista e primeiramente um fenomenologo. A negacao de valores e o convite ao anarquismo implicitos na doutrina atrairam os pensadores de Esquerda e afastaram os conservadores de Direita.

A Fenomenologia e Outras Filosofias [ editar | editar codigo-fonte ]

O Empirismo [ editar | editar codigo-fonte ]

Galileu (1564-1642), e apontado como um dos fundadores do Empirismo pelo fato de aplicar aos objetos de estudo a experimentacao, algo que possui seu limiar na atitude de Galileu em apontar sua luneta para o espaco, descobrindo posteriormente a nao existencia das esferas celestes, tal qual determinavam as premissas de Aristoteles. Desta forma, Galileu lancou sua teoria com carencia de provas (embora sua teoria fosse consistente e embasada no seu experimento) passando posteriormente por sessoes da Inquisicao Catolica a fim de dirimir as duvidas em relacao ao sistema Aristotelico.

A nova atitude naturalista de Galileu de duvida e observacao, inspirou Francis Bacon (1561-1626) a criar tabuas para o controle da experimentacao e o estabelecimento de leis cientificas, o que levou rapidamente o homem a novos conhecimentos no campo da astronomia, da quimica e da fisica. A mesma atitude de observacao e interpretacao natural levada ao estudo da mente e do conhecimento, deu origem a Corrente Empirista, que haveria de afetar profundamente a filosofia e criar o Positivismo, ou seja, o tratamento cientifico de todos os fatos e fenomenos, inclusive em Politica.

John Locke [ editar | editar codigo-fonte ]

O filosofo empirista procurou, no seu Essay Concerning Human Understanding (1690), mostrar que todas as ideias sao registros de impressoes sensiveis (ou sao derivadas de combinacoes, de associacoes entre essas ideias de origem sensivel) e criticou o pensamento de Descartes (1596-1650) de que existiriam algumas ideias que seriam inatas ? que o homem teria no espirito ao nascer ?, como, por exemplo, a ideia de perfeicao. Segundo John Locke , alguma coisa e enviada pelos objetos e e captada por nossos sentidos e dao causa a formacao das ideias. Este pensamento e a base da teoria corpuscular da luz.

David Hume [ editar | editar codigo-fonte ]

Ainda mais contundente que seu predecessor, Locke, Hume negou o valor do raciocinio indutivo e denunciou que a relacao de causa e efeito nao e suficiente como conhecimento, pois nada encontramos entre causa e efeito senao que um acidente costumeiramente se segue a outro. Estamos habituados a chamar o primeiro acidente de causa apenas porque ele sempre acontece antes do segundo que chamamos de efeito . Ou seja, um efeito nao remonta necessariamente a sempre uma mesma causa. "O Sol nasce todos os dias", logo "O Sol nascera amanha". Segundo Hume, nada nos garante que necessariamente o sol nascera amanha. Entretanto, atraves do habito, tomamos uma crenca ( belief ) de que isso acontecera.

Psicologismo e Historicismo [ editar | editar codigo-fonte ]

A influencia da psicologia associativa de Locke sobre a filosofia (ou teoria) do conhecimento se chamou Psicologismo. E a teoria de que os problemas da epistemologia (a validade do conhecimento humano), e inclusive a questao da consciencia, podem ser solucionados por meio do estudo cientifico dos processos psicologicos. A Psicologia deve ser tomada como base para a Logica. Os psicologistas entendiam a logica ? dominio da filosofia ? como ciencia. Seria apenas uma disciplina definidora, normativa, dos atos psiquicos, dos modos associativos do pensamento, e suas materias apenas regras para pensar bem, e nao fonte de verdade. A filosofia ficou fora de moda, "reduzida" a uma psicologia cientifica vinculada ao Positivismo.

O historicismo representava a mesma tendencia empirista para uma interpretacao cientifica da Historia. Os fatos historicos somente poderiam ser compreendidos e julgados se confrontados com a cultura estetica, religiosa, intelectual e moral do periodo historico em que aconteciam, e nao em relacao a valores morais permanentes.

Idealismo [ editar | editar codigo-fonte ]

A Fenomenologia de Husserl e uma forma de idealismo , porque lida com objetos ideais, com as ideias das coisas em sua essencia, tal como os idealistas Platao, Hegel [ 2 ] e outros. Desde os ensinamentos de Platao a filosofia nos diz que, por influencia dos sentidos (a construcao das ideias que o homem tem em sua mente se faz por informacao dos sentidos, como dito por Locke), existem varias imagens possiveis de um objeto, porem todas elas significando a mesma coisa, ou seja, todas elas redutiveis ao mesmo significado, todas referindo-se ao mesmo objeto ideal, contendo a mesma ideia, constituidas da mesma essencia. Todas as imagens de mesa (o exemplo mais frequente nos textos) tem uns certos componentes que fazem com que cada uma das imagens signifique "mesa", uma mesa maior, menor, alta ou baixa, vista de cima ou de baixo, por uma pessoa miope ou por outra daltonica , nao importa, tera sempre aqueles componentes basicos que garantirao aquele objeto o significado de mesa.

Platao [ editar | editar codigo-fonte ]

Para Platao (428-347 AC), essa essencia de cada coisa, o que se chamou "universais", estava no Mundo das Ideias que as almas humanas podiam vislumbrar antes da encarnacao. Aristoteles (384-322 AC) reconheceu de pronto a importancia desse pensamento, porem trouxe a essencia das coisas para o mundo real, para as coisas mesmas. Em uma mesa, por exemplo, havia algo que era sua essencia, e que, nao importando quantas e quais fossem as variacoes acidentais, fazia que fosse uma mesa e nao outra coisa qualquer. Husserl, por sua vez, retira do objeto a sua essencia e a coloca na mente do homem. O objeto ideal mesa, o fenomeno da representacao da mesa na mente, independe de que haja qualquer mesa no mundo externo, no mundo real, porque a essencia de "mesa" esta na propria mente.

Immanuel Kant [ editar | editar codigo-fonte ]

A afinidade entre Husserl e Kant esta em ambos buscarem a condicao de verdade do conhecimento. Husserl sustenta que a verdade esta no conhecimento das essencias, e Kant, que ela existe limitada as categorias do que e possivel conhecer.

Segundo a filosofia do conhecimento (Critica) de Immanuel Kant (1724-1804), nos nao podemos conhecer as coisas inteiramente, porque nem todos os sinais que recebemos das coisas sao aceitos pela mente, e disto resulta que nao podemos conhecer inteiramente o real. Conhecemos do real apenas aquilo que a mente pode assimilar, e que ele chamou fenomeno ; ao que permanece incognoscivel para nos ele chamou noumeno . Entao Kant tomou a serie de conceitos que Aristoteles havia listado como o que podemos dizer das coisas, e transformou-a em uma serie de categorias que sao o que podemos conhecer das coisas. Para Kant, o dado empirico tem validade, porem nunca validade absoluta ou apoditica. Husserl igualmente duvida do conhecimento cientifico dos fatos e, para ele, o que deve ser procurado e o conhecimento cientifico das essencias.

Fenomenologia e Psicologia [ editar | editar codigo-fonte ]

Carl Stumpf

Foi de grande importancia e de grande impacto o pensamento fenomenologico na psicologia, na qual Franz Brentano e o alemao Carl Stumpf haviam preparado o terreno, e na qual o psicologo americano William James , a escola de Wurzburg e os psicologos da Gestalt haviam trabalhado ao longo de linhas paralelas. Este metodo, e as adaptacoes desse metodo, tem sido usados para estudar diferentes emocoes, patologias, coisas tais quais separacao, solidao, solidariedade, as experiencias artistica e religiosa, o silencio e a fala, percepcao e o comportamento e assim por diante.

Karl Jaspers [ editar | editar codigo-fonte ]

Mas a Fenomenologia deu provavelmente sua maior contribuicao no campo da psiquiatria, no qual o alemao Karl Jaspers (1883-1969), um destacado existencialista contemporaneo, ressaltou a importancia da investigacao fenomenologica da experiencia subjetiva de um paciente.

O paciente psicologico e paciente em vista do objeto ideal que em sua mente corresponde a realidade, nao importa qual a situacao externa, e porque essa construcao ideal difere do padrao comum dos objetos ideais na mente das demais pessoas com respeito aos mesmos estimulos dos sentidos. O psicologo precisa encontrar o significado nos objetos do mundo ideal do seu paciente, a fim de poder lidar com sua situacao psicologica.

Jaspers foi seguido pelo suico Ludwig Binswanger (1881-1966) e varios outros, inclusive Ronald David Laing (1927-1989) na Inglaterra, na psiquiatria existencial da linha filosofica ateia de Sartre; e, pioneiramente, Halley Bessa (1915-1994), no Brasil, ambos da linha do existencialismo cristao de Gabriel Marcel (1889-1973).

Viktor Frankl [ editar | editar codigo-fonte ]

A logoterapia de Viktor Frankl possui a fenomenologia como metodologia de sua psicoterapia. Frankl encontrou no estudo dos fenomenos a motivacao basica do existir humano o sentido de vida, ou seja, encontrou na analise da existencia humana a essencia do existir como a profunda e inerente tendencia para o sentido. O autor da corrente fenomenologica que mais influenciou Frankl foi, sem duvida, Max Scheler. [ 3 ]

Criticas a Fenomenologia [ editar | editar codigo-fonte ]

Na psicologia, a objecao que se levanta e contra a possibilidade de se viver com o paciente sua propria visao do mundo, de sua situacao e de si mesmo. Como a subjetividade deve estar tambem no psicologo, e impossivel ter o terapeuta uma intuicao desses aspectos que seja inteiramente livre do seu proprio eu, do seu proprio pensar, de modo a evitar introduzirem-se em sua analise certas impressoes pessoais que precisaria evitar.

A Fenomenologia diz que o terapeuta deve buscar compreender com a sua subjetividade a subjetividade alheia. Na verdade, necessita um grupo de psicologos consultores de modo que as suas visoes possam se somar para uma compreensao mais profunda de um fenomeno, "intersubjetividade". Porem deve lembrar-se de que, a rigor, ele nao tem nenhum padrao absolutamente confiavel para aprovar ou reprovar qualquer comportamento alheio, apesar de se encontrar confortavel com a estatistica da normalidade das atitudes e dos costumes.

Na Politica e no Direito, o modo de se lidar com a subjetividade e a Democracia, em que o problema da subjetividade e contornado por meio do consenso, pela coincidencia estatistica de opinioes, pelo voto de um conselho ou da populacao, de modo que, por assim dizer, a subjetividade de um unico individuo, ou de uma minoria de intelectuais, nao venha a prevalecer. Em Moral e Religiao, a ancora sao as escrituras, consideradas revelacao divina.

Lista de Pensadores [ editar | editar codigo-fonte ]

Referencias

  1. Marques, Rodrigo Vieira; Manzi Filho, Ronaldo (2012). Paisagens da Fenomenologia Francesa . Curitiba: Editora UFPR. ISBN   9788573352801  
  2. SANTOS, Jose Henrique. O trabalho do negativo: ensaios sobre a Fenomenologia do espirito. Sao Paulo: Edicoes Loyola, c2007. 356p. ISBN 9788515034512 (broch.).
  3. Psicol. USP vol.26 no.3 Sao Paulo Sept./Dec. 2015

Ligacoes externas [ editar | editar codigo-fonte ]