Dom
Duarte de Meneses
[
1
]
(
Tanger
,
6 de dezembro
de
1537
?
Goa
,
4 de maio
de
1588
) foi um
nobre
e
militar
portugues
. Foi
Capitao de Tanger
e Capitao de
Arzila
; foi o 30.º
governador da India
e o 14.º
vice-rei da India
. Era neto de
Duarte de Meneses
, que tambem foi governador da India, entre
1522
e
1524
.
D. Duarte nasceu em Tanger duma familia que governava a cidade quase por sucessao hereditaria : o mais antigo sendo D.
Joao de Meneses, 1.° Conde de Tarouca
(que governou entre 1486 e 1489 & 1501-1508) ; os filhos deste,
Duarte de Meneses
, seu avo (1508-1521 e 1536-1539), e
Henrique de Meneses
(1521-1522) ;
Joao de Meneses,
o Pucaro
, seu pai (1539-1546), e seus tios
Pedro
(1520-1550) e
Fernando
(1553). D. Duarte foi nomeado governador em
1574
.
Sucedeu a D.
Antonio de Portugal, Prior do Crato
, que voltou para Portugal.
Pouco depois atacou os mouros, fazendo muitos mortos e ≪mais de cento e cinquenta cativos, sem contar grande numero de cavalos e outros despojos
[
2
]
≫.
Diz D.
Fernando de Menezes
, que em previsao da sua Jornada,
D. Sebastiao
≪mandou chamar (...) a D. Duarte para tratar com ele o referente a Africa≫ (idem). Entretanto substitui-o
Pedro da Silva
, seu cunhado. Nesse mesmo ano Chegou D. Sebastiao a visitar Tanger, com D. Duarte, tomando de novo o governo da Praca.
O rei ≪saia ao campo a cacar com toda a confianca como se estivera em Almeirim (...). Atemorizado ElRei de
Fez
com estes principios, reuniu tanta gente que cobria os campos ; pelejaram os nossos contra eles, servindo a presenca do Rei de estimulo ao valor natural ; mas como era tao desigual o numero, foi-lhes necessario valerse das defesas da cidade e arredores, que fizeram com a artilharia consideravel dano aos mouros. Assistia ElRei desde a torre mais alta do Castelo, donde via a batalha e a retirada dos mouros pelo prejuizo que recebia. Alegrou-se muito com o exito, querendo a fortuna lisonjea-lo em estes comecos para empenha-lo depois em maiores ruinas.
[
3
]
≫
Voltou entao o rei para Portugal, sempre acompanhado de D. Duarte.
Pedro da Silva
ficou governando a praca. Mas D. Duarte voltou pouco depois. Em
1576
,
Cid-Abdelcherim
, filho de
Bentude
, ≪senhor de Alcacere-quibir, Arzila, larache, Taleg, Carife, Agera, e outros muitso lugares e comarcaos≫, por morte de seu pai, ≪lhe succedeo no estado e auctoridade e esforco (...). E como foi sempre leal vasallo do
Xarife
Mulei Hamete
, por o ter jurado rei, (...) estando em Alcacere-quibir,tendo posto seu irmao Cid-Hazus por capitao de Arzila, e temendo
Mulei Maluco
o prendesse ou matasse, se recolheo secretamente, com as mulheres, filhos e fazenda, a Arzila, onde o irmao estava, e nao se dando por seguro na fortaleza, querendo-se encomendar ao emparo de elreide Portugal, escreveo a dom Duarte de Menezes (...) que em hum dia certo viesse, e lhe entregaria Arzila. Dom Duarte de Menezes, que nao desprezou a ocasiao, com toda a pressa fez cinco navios prestes, com a gente necessaria, e chegou a Arzila no dia e hora aprazados, a quem Cid-Abdelcherim abrio pacificamente as portas ; e os portugueses entrarao sem resistencia
[
4
]
≫.
O rei D. Sebastiao prevenido ≪estremadamente se alegrou≫.
≪Passou esta entrega d'Arzila no anno de
1577
(...). D. Duarte de Menezes, como tomou posse de Arzila, nao se sahio delle, ate nao ter recado de elrei ; mas porque Tangere ficava sem capitao na absencia de dom Duarte, ficando la sua mulher e filhos, mandou elrei a
Pero da Silva
por capitao a Tangere, por ser cunhado de Dom Duarte e irmao de Dona Leanor da Silva, sua mulher
[
5
]
Quando D. Sebastiao voltou a Marrocos, em 1578, foi para a infortunada expedicao que acabou com sua morte. Mais uma vez vinha acompanhado de D. Duarte, mas ≪governando-se so por sua opiniao, resolveu a batalha, sem valer para nada as indicacoes de D. Duarte, a quem encarregou o governo do Exercito. Disse-lhe D. Duarte, que ja que queria pelejar, lhe desse licenca para atacar de noite aos mouros em seus alojamentos, pois que a experiencia, que de eles tinha, o assegurava a vitoria, sem muito derramento de sangue
[
6
]
≫.
O rei nao quis aceitar, e foi de dia, em 4 de Agosto de 1578, que formou o exercito e passou o rio, comecando a batalha que acabou desastrosamente.
D. Duarte ficou prisioneiro em
Alcacer Quibir
. Quando o corpo do rei lhe foi apresentado, a ele e aos outros fidalgos cativos, reconheceram-no
[
7
]
.
Fizeram um conselho dos fidalgos cativos ≪& assentarao que se deviao resgatar todos juntos, assi por ficar o preco mais favoravel, como por atalhar o dano que resultaria do muito que por si prometessem alguns mal sofridos impossibilitando-os mais.
[
8
]
≫
≪Depois desta resolucao pareceo bem aos do conselho, a quem os mais aviao dado sua authoridade que se devia pedir ao Xarife, mandasse por em guarda do corpo del Rey algum fidalgo, assi por authoridade, como por nao acontecer ficar de maneira que se pudesse outro por em seu lugar, dando-se daqui occasiao, a nunca se ter aquelle por verdadeiro, tornou dom Duarte com isto ao Xarife, o qual o concedeo muy facilmente, & foy ordenado que Belchior do Amaral fosse acompanhar o corpo, & dar-lhe sepultura. Partio Belchior do Amaral pera Alcacar, & nas logeas das casas de Abraen Sufiane Alcayde da mesma villa lhe fez a sepultura, ajudado de hum Tudesco, onde no caixao em que vinha foy enterrado, cuberto de cal & area, & de infinitas lagrimas, pondo-lhe alguns sinaes de pedras & tijolos, pera se conhecer a todo o tempo.
[
9
]
≫
Quando, resgatado, regressou a Portugal, foi nomeado pelos cinco governadores do Reino, capitao-geral do Algarve, por carta de 24 de Marco de 1580. Devido ao seu grande prestigio nobiliarquico, politico e militar, foi nomeado vice-rei da India por carta de 18 de Fevereiro de 1584, tendo
Filipe I
atribuido a D. Duarte de Menezes, o titulo de conde de Tarouca, com que deveria partir para a India, mas que este rejeitou por nao lhe ser atribuido de juro e herdade.
D. Duarte partiu de Lisboa a 10 de Abril de 1584, aportando em
Cochim
a 25 de Outubro.
Pouco depois da sua chegada decidiu a polemica nomeacao do seu tio,
Rui Goncalves da Camara
, para fundar a fortaleza de
Panane
, com base nos acordos firmados no vice-reinado anterior, por D.
Gil Eanes Mascarenhas
, com o
Samorim
de
Calicute
, e de o colocar no comando de uma esquadra enviada ao Estreito, encarregada de destruir uma alegada armada turca que estava ser preparada para atacar os Portugueses.
Esse mesmo ano mandou, por ordem regia, submeter
Solor
, praca construida e guarnecida por frades, a jurisdicao da Coroa e elevou
Macau
ao estatuto de cidade, aprovando a constituicao do Senado da cidade.
Nas naus que partiam da India para o Reino durante o ano de 1586, seguia a bordo o arcebispo de Goa,
frei Vicente
, que se tinha demitido do seu cargo, por varias desinteligencias com o vice-rei e oficiais da Coroa, estando em causa conflitos jurisdicionais de poder. Morreu na viagem, algures envenenado. Diz [[manuel de Faria e Sousa : ≪ deixava seu arcebispado, por nao poder sofrer Vice-Reis, e Ministros ; nem mesmo os proprios Eclesiasticos. Vinha (dizia ele) informar o Rei, e o sumo Pontifice. Com sua morte morreram as culpas
[
10
]
≫...
Em Abril de 1588, pouco antes da sua morte, enviou uma carta ao
Daimio
Toyotomi Hideyoshi
, unificador do
Japao
(≪suas vitorias, e obras, e fama, & nome, que ainda nas partes, que estao mui longe se ouve de Vossa Alteza e como sugeitou a seu imperio os mais senhores e reinos das quatro partes de Japao cousa que nunca foi ouvida desde os antigos ate gora≫), agredecendo-lhe de proteger os padres (≪Soube tambem que os Padres, que estao nesses reinos recebem muitos favores de V. A. e com o resplandor de seu favor vao promulgando, pregando, e ensinando a lei para salvar aos homens≫) e enviando-lhe um embaixador, a pedido dos jesuitas (≪por elles me pedirem que escrevesse a Vossa alteza e lhe mandasse um embaixador dandolhe as gracas disto, folguei de o fazer. E porquanto o Padre Visitador estes anos atras foi outra vez a esses reinos de V. A. e eh ai conhecido nessa terra lhe encarreguei esta embaixada, e peco a V. A. por esta carta que daqui adiante mais, e mais o queira favorecer≫), com presentes (≪dous montantes; 2 corpos de armas; 2 cavalos com seus arreos; 2 pistoletes e hum tersado; 2 pares de guademecins dourados, e hua tenda pera campo≫). No
Japao
a situacao estava longe do que indica a carta. O Daimio, tinha interdito aos Senhores japoneses de se converterem ao cristianismo, receando que estes se tornem em uma forca contraria aos seus projetos, e se deixava os padres mais ou menos libres era porque o comercio com Portugal e Espanha era-lhe indispensavel...
Morreu em 4 de maio de 1588, logo depois de ter celebrado em presenca de
Manuel de Sousa Coutinho
, a vitoria deste que tinha quebrado o cerco de
Colombo
por
Raju
,
rei de Ceitavaca
: abertas as vias da sucessao, nas quais primeiramente surgiu o nome de
Matias de Albuquerque
, entao estante no Reino, na segunda via de sucessao apareceu Manuel de Sousa Coutinho indigitado governador da India.
D. Duarte tinha casado com D. Leonor da Silva, filha de
Diogo da Silva
, da Casa de Vagos, embaixador ao
Concilio de Trento
, e de D. Antonia de Vilhena (filha do 2.°
Barao de Alvito
, D.
Diogo Lobo da Silveira
), de quem teve:
- D. Joao, morto sem descendencia. Era o mais velho, e ≪morreu na batalha com ElRey D. Sebastiao, estando naquelle tempo vencendo huma Comenda em Tangere, em companhia de seu pai, que era Capitao, e Governador daquella cidade
[
11
]
≫ ;
- D.
Luis de Meneses, 2.º Conde de Tarouca
;
- D. Antonio de Meneses, Comendador do Sardoal, Governador de Malaca, morto na India sem posteridade ;
- Dona Maria de Vilhena (c. 1570), que casou com D.
Francisco da Gama, 4.º Conde da Vidigueira
;
- Dona Luisa e D. Antonia de Meneses, freiras em
Santa Clara
,
Santarem
.
- Dona Francisca, religiosa na Anunciada de Lisboa
Referencias
- ↑
Pela grafia arcaica,
Duarte de Menezes
.
- ↑
Historia de Tanger durante la dominacion portuguesa, por D. Fernando de Menezes, conde de la Ericeira, etc. traduccion del R. P. Buanaventura Diaz, O.F.M., Misionero del Vicariato apostolico de Marruecos. Lisboa Occidental. Imprenta Ferreiriana. 1732. p. 91
- ↑
Historia de Tanger. P. 91-92
- ↑
Chronica de ElRei D. Sebastiao por Fr. Bernardo da Cruz ("frade da Terceira Ordem, [que] viveu na segunda metade do seculo deseseis") ; publicada por
A. Herculano
, e o Dr. A.C. Payva. Lisboa : 1837. Na impressao de Galhardao e irmaos, rua da Procissao N° 45.P. 176-177.
- ↑
Chronica de ElRei D. Sebastiao. P. 178.
- ↑
Historia de Tanger. P. 93
- ↑
Iornada de Africa composta por Hieronymo de Mendoca, em Lisboa, impresso por Pedro Crasbeeck, anno 1607. Capituo III.
Enterra-se o corpo del Rey dom Sebastiao, vay Belchior do Amaral a arzilla & Tanjar (Tanger) com licenca do Xarife
. P. 63v
- ↑
Iornada de Africa, ibidem.
- ↑
Iornada de Africa, P. 64
- ↑
Manuel de Faria e Sousa, Asia portugueza. Lisboa 1675. Tom.III. Part.I.Cap.IV. p. 39
- ↑
Da Asia de Diogo do Couto : Decada Decima, parte segunda. Lisboa, na regia Officina Typografica. Anno
M. DCC.LXXXVIII.
P. 682.
- Historia de Tanger durante la dominacion portuguesa, por
D. Fernando de Menezes
, conde de la Ericeira, etc. traduccion del R. P. Buanaventura Diaz, O.F.M., Misionero del Vicariato apostolico de Marruecos. Lisboa Occidental. Imprenta Ferreiriana. 1732
- Iornada de Africa composta por
Hieronymo de Mendoca
, em Lisboa, impresso por Pedro Crasbeeck, anno 1607.
- Manuel de Faria e Sousa
, Asia portugueza. Lisboa 1675.
- Diogo do Couto
Da Asia, X, vi-x, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974
- Angela DOMINGUES, ?D. Duarte de Meneses?. In
Dicionario de Historia dos Descobrimentos Portugueses
, dir. Luis de Albuquerque, vol. II, s.l., Caminho, 1994, pp. 730?731