As
crinolinas
eram armacoes usadas sob as saias para lhes conferir volume, sem a necessidade do uso de inumeras
anaguas
. Seu uso marca o momento em que surge a industria da moda propriamente dita, sendo este o primeiro modismo que poderiamos chamar de "universal".
As crinolinas foram usadas de 1852 a 1870 e chegaram a todos os cantos do planeta, atingindo o auge da sua popularidade na decada de 1860. Eram inicialmente feitas artesanalmente, com crinas de
cavalo
trancadas (dai o nome), mas, a partir de 1855, passaram a ser produzidas industrialmente, utilizando tirantes e finos
arames
de aco
.
As crinolinas eram usadas por mulheres de todas as classes sociais no
Ocidente
, da realeza as operarias das fabricas. O modismo foi amplamente criticado pelos cronistas da epoca, sobretudo em publicacoes satiricas.
Circula no universo da moda o boato, ao qual a historiadora Gilda de Mello e Souza
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alude apenas por alto, explicando o surgimento das crinolinas e demonstrando a ligacao destas com a industria:
Napoleao III
, sobrinho de
Napoleao Bonaparte
, governou a Franca de 1848 a 1852, como presidente da Republica, e de 1852 a 1870 como imperador. Era casado com a
belissima
nobre espanhola
Eugenia de Montijo
, mulher refinada e de grande inteligencia, que detestava o desconforto produzido pelas 9 anaguas engomadas que eram usadas para armar as saias na corte.
Nesta mesma epoca, uma fabrica de espetos chamada
Peugeot
estaria em processo de falencia. Em julho de 1854 a fabrica recebeu a ilustre visita da imperatriz, que lhes trouxe um desenho seu para uma especie de gaiola, feita com finissimos aros de arame de aco e que, desde entao, tornaria a indumentaria feminina muito mais leve e arejada. A invencao teria salvo a Peugeot da falencia (apos 1870 a empresa passou a produzir guarda-chuvas, depois bicicletas ate chegar aos automoveis), a Franca tornou-se lider mundial inconteste no universo da moda e o nome da Imperatriz Eugenia passou a estar associado para sempre as
maisons
de alta costura.
De qualquer maneira, mesmo que a imperatriz Eugenia nao estivesse ligada diretamente a invencao das crinolinas, o certo e que ela foi a principal difusora e propagandista deste modismo.
Apos a
Guerra Franco-Prussiana
, com o final do 2º Imperio e o exilio de Napoleao III e Eugenia, as crinolinas cairam em descredito, sendo substituidas pelas
tournures
("anquinhas")
que armavam apenas a parte traseira das saias e vestidos e assumiram protagonismo no final da decada de 1880.
Ironicamente, para tentar apagar as memorias do 2º Imperio, a 3ª Republica adotou o estilo "princesa".
As crinolinas ofereciam riscos as mulheres, entre eles a vulnerabilidade a ventanias pelo seu formato de
balao
: ha relatos de mulheres a beira de pieres em zonas portuarias que foram carregadas pelo vento ate o
mar
, onde se afogaram. Outras milhares - incluindo a segunda esposa do poeta
Henry Wadsworth Longfellow
- morreram queimadas quando as saias, muito rodadas (na sua parte mais larga uma crinolina podia chegar a 5,5 metros de
circunferencia
), eram incendiadas por velas e lareiras acesas.
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2
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Alem do fogo, havia o risco de as saias ficarem presas ao maquinario e as rodas das carruagens. Ha tambem relatos de mortes por eletrocussao, em ambientes ja servidos por energia eletrica.
Tambem consta que no ano de
1863
em
Santiago
,
Chile
, entre 2.000 e 3.000 pessoas morreram em um incendio em uma igreja quando um lampiao ateou fogo a um tecido na parede. As pessoas tentaram escapar das chamas pela saida, mas varias mulheres com esta peca de vestuario acabaram por bloquear a porta.
Por serem pecas de roupa tao marcantes do seu tempo, as crinolinas tem espaco garantido nas producoes de epoca que retratam a segunda metade do seculo XIX, seja nos longa-metragens de Hollywood ou em obras audiovisuais para a TV. Seu enorme sucesso em sua epoca fica claro em filmes ambientados na Nova Zelandia, cenario do
O Piano
, onde a peca de roupa inclusive participa da narrativa: a protagonista faz uma tenda com sua crinolina e pernoita sob ela com a filha a beira-mar.
A crinolina tambem tem grande destaque em
E o Vento Levou
, sendo o exemplo mais classico do uso das modas europeias pelas classes mais abastadas no sul dos Estados Unidos. No Brasil, o longa-metragem
Maua - O Imperador e o Rei
tambem traz a peca por meio da personagem May, interpretada por
Malu Mader
, que gira seguidamente sua crinolina, entao uma novidade. A presenca da crinolina nas colonias europeias da Africa e Asia tambem e lembrada na versao classica de
O Rei e Eu
.
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Evolucao da Moda de 1794 a 1887 (desenhos esquematicos).
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Desenho de crinolina (ainda em sua versao artesanal, com crina de cavalo trancada) de 1846.
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Crinolina industrializada de 1865 (EUA).
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Parodia, de
George Cruikshank
, para
The Comic Almanack
, 1850.
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Moda de 1854.
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Imagem da revista
Punch
, de 1856.
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Charge, de uma revista de 1857 (
Harper's Weekly
, New York), comparando o
estilo Imperio
as crinolinas.
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Ilustracao de revista para senhoras, de 1859, chamada "Gazette of Fashion" (EUA).
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Imagem da revista
Godey's Magazine
, 1859.
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Moda de 1860, Franca.
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Moda de 1860, Inglaterra.
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Imagem do inicio da decada de 1860 (
Petit Courrier des Dames
).
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Sequencia de fotografias de 1860 que mostram uma dama da sociedade colocando crinolina para ir a opera.
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Moda de Viena, 1862.
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Caricatura de homens sendo "espremidos" pelas crinolinas das damas.
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Moda de 1864.
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Moda de 1869, com
crinolettes
.
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Moda de 1870 com anquinhas.
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Modificacao do perfil: 1872, 1877 e 1880.
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Modas de Worth, 1875.
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Revista
Punch
, moda de 1879.
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Evolucao da moda durante a decada de 1880.
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Moda da decada de 1880.
-
Moda de 1888.
Referencias