Catarina Cybo
(em
italiano
Caterina Cybo
;
Florenca
,
13 de setembro
de
1501
? Florenca,
17 de fevereiro
de
1557
) foi
duquesa consorte de Camerino
, regente de 1527 a 1535, e aderente do movimento de reforma religiosa na Italia do
seculo XVI
.
Catarina foi a quinta filha de
Franceschetto Cybo
(
1449
-
1519
), (filho natural do Papa
Inocencio VIII
) e de
Madalena de Medici
(
1473
-
1519
) (filha de
Lourenco o Magnifico
e irma do Papa
Leao X
).
Em
1513
, aos 12 anos, Catarina fora prometida em casamento a Joao Maria de Varano (
Giovanni Maria da Varano
) (
1481
-
1527
), feito
duque de Camerino
em
1515
pelo Papa
Leao X
, tio de Catarina. O matrimonio foi adiado dada a oposicao de Madalena de Medici que preferia que a filha casasse com Sigismundo de Varano, sobrinho de Joao Maria. Mas, em
1519
, com a morte da mae, Catarina acaba por casar com Joao Maria em
1520
.
[
1
]
Mas a morte de Leao X, protetor de Joao Maria, altera o
status quo
: Sigismundo de Varano apodera-se de Camerino com o apoio dos exercitos do tio materno
Francisco Maria I Della Rovere
. Catarina refugia-se em
Civitanova
, enquanto o marido fica em Roma, onde organiza um pequeno exercito com o qual reconquistou Camerino, matando Sigismundo.
Em
24 de marco
de
1523
, nasce a unica filha
Julia
e, em novembro, e eleito Papa um outro tio de Catarina, Julio de Medici, que toma o nome de
Clemente VII
. O casal assiste a cerimonia de coroacao do pontifice, a quem pedem, em vao, a restituicao de
Senigalia
e de
Sassoferrato
, conquistadas pelo
Duque de Urbino
Francisco Maria I Della Rovere
. Como compensacao, o marido obtem a absolvicao pelo homicidio de Sigismundo e e-lhe, entao, garantido o direito de sucessao no Ducado de Camerino a sua filha no caso de morte sem herdeiros masculinos.
Joao Maria de Varano morre de peste em
10 de agosto
de
1527
, deixando a filha como herdeira e prometida a um dos filhos do seu parente de
Ferrara
, Hercucles de Varano (
Ercole da Varano
). Hercules tem 2 filhos, Alexandre (
Alessandro
) e Mateus (
Matteo
), devendo o casamento realizar-se assim que Julia atingisse idade adequada. Nessa altura, Rodolfo de Varano, um dos filhos naturais de Joao Maria
[
2
]
, aprisiona Catarina, proclamando-se duque, mas a pronta reacao da familia Cybo, do pontifice e do duque de Urbino, fazem os revoltosos abandonar Camerino, sendo Rodolfo executado.
[
3
]
Em socorro de Catarina Cybo vieram Hercules, Alexandre e Mateus de Varano, interessados em preservar os territorios do ducado para a propria familia visando o matrimonio com Julia: para se apoderarem de imediato de Camerino, provavelmente porque tinham sido informados que Catarina ja nao tinha mais interesse naquele acordo matrimonial. Contra eles, Catarina pede ajuda ao duque de Urbino, prometendo Julia ao filho
Guidobaldo Della Rovere
assim que a menina atingisse os catorze anos: o acordo, que permaneceu secreto, foi formalmente alcancado em
Todi
em
14 de dezembro
de
1527
. As forcas do duque Francisco Maria Della Rovere repelem facilmente as tentativas dos Varano de Ferrara, que acabaram por ser excomungados pelo Papa em
18 de fevereiro
de
1529
, enquanto Catarina os condenava a morte
in absentia
.
Em
13 de abril
de
1533
da-se uma nova tentativa de Mateus de Varano de se apoderar do ducado. Penetrando com poucos homens armados no palacio ducal, fazendo prisioneiros Catarina e o seu amante Pietro Mellini, mas nao consegue sequestrar a pequena Julia, defendida na fortaleza da cidade. O seu objetivo era anular o noivado com o duque de Urbino, mas a recusa de Caterina em aceitar as suas ameacas acaba por colocar Mateus em fuga.
A morte de Clemente VII, ocorrida em setembro de
1534
, tras novas dificuldades uma vez o novo pontifice, qualquer que fosse, provavelmente opor-se-ia ao casamento para favorecer alguem da propria familia no ducado de Camerino. Por seu lado, o cardeal
Inocencio Cybo
, irmao de Catarina, procurava recolher os votos no conclave prometendo a sobrinha Julia como mulher a um familiar dos cardeais eleitores.
Perante tais manobras, Francisco Maria della Rovere impoe o casamento imediato entre Julia e o filho Guidobaldo, em troca da restituicao a Catarina do
dote
da filha. A cerimonia foi celebrada em
12 de outubro
de
1534
em Camerino. O novo Papa
Paulo III
, um
Farnesio
, eleito em
13 de outubro
, que procurava aumentar as possessoes da propria familia, reage violentamente a noticia, convocando a Roma Catarina, Julia e Guidobaldo, que se recusam em se apresentar. Catariana acaba por renunciar ao governo do ducado a favor de Guidobaldo, em
17 de fevereiro
de
1535
e Paulo III excomunga os duques, reintegra Camerino, pelo menos formalmente, nos bens da Igreja e, em
28 de marco
, da o territorio como interdito.
Catarina Cybo havia entretanto favorecido a formacao da nova Ordem Capuchinha. O frade do convento de
Montefalcone
,
Matteo da Bascio
, durante uma epidemia de peste que atingiu aquela provincia em
1523
, ficou escandalizado pela inercia dos seus confrades, convencendo-se da necessidade de reformar a Ordem franciscana ou de fundar uma outra com regras mais rigorosas. Tendo ido a
Roma
em
1525
para pedir o acordo do pontifice, teve de se contentar apenas com promessas, acabando por ser encarcerado pelo seu superior ao regressar ao convento. Catarina consegue a sua libertacao, recomendando ao Papa um seguidor de Matteo, Ludovico Tenaglia de
Fossombrone
, que, em
18 de maio
de
1525
obtem, para si e seus seguidores, autorizacao de usar o tipico capuz quadrado e de praticar vida eremita. Em
3 de Julho
de
1528
, Clemente VII emanava a bula
Religionis zelus
, com a qual instituia oficialmente a nova Ordem.
Livre das funcoes governativas, Catarina vai viver para Florenca em
1535
, ficando no
palacio Pazzi
, onde moravam seu irmao Inocencio e sua cunhada e amante
Ricarda Malaspina
, alem de sua mae e irma. Ai trava conhecimentos com diversos escritores, como Francesco Berni (que lhe escreve um elogio no seu
Orlando innamorato
),
Benedetto Varchi
(que lhe dedicou um
soneto
) e
Agnolo Firenzuola
(que lhe havia dedicado um ato do seu
Ragionamenti
, em 1525).
Esteve tambem em contacto com muitos dissidentes religiosos, como Bernardino Ochino, o geral dos capuchinhos que, em
1542
, fugiu para a
Suica
, na sequencia de uma ordem da
Inquisicao
para se apresentar em Roma. Ele faz de Catarina protagonista dos seus
Dialogi sette
, onde estao refletidas as teorias do espiritual
Juan de Valdes
. Outros intelectuais da Igreja que aspiravam a uma profunda reforma da Igreja, conviveram com Catarina, como os cardeais
Reginald Pole
e
Frederico Fregoso
, e o bispo
Gian Matteo Giberti
. Hospedou Marcantonio Flaminio, que publicou
Beneficio de Cristo
de Benedetto Fontanini, um texto de referencia para os reformados italianos. Um dos condenados, num processo de perante os inquisidores, chegou a identifica-la como seguidora de Valdes.
Quando em
1539
a filha Julia e Guidobaldo Della Rovere sao obrigados a ceder Camerino a
Octavio Farnesio
, neto de
Paulo III
, a troco de 78.000 ducados de ouro, o Papa anulou a
excomunhao
. Julia morre em
1547
em
Fossombrone
, assistida pela mae, que esteve presente tambem no leito de morte dos dois irmaos Lourenco e Inocencio. Em Julho de
1555
faz testamento a favor da neta,
Virginia Della Rovere
.
[
4
]
Catarina Cybo morre em
17 de fevereiro
de
1557
em
Florenca
, sendo sepultada na Basilica da Santissima Anunciada, ao lado da sobrinha Leonor e de outros membros da familia
Cybo
.
- ↑
Feliciangeli, p.18
- ↑
enteado de Catarina Cybo
- ↑
Feliciangeli, p. 49
- ↑
Feliciangeli, p.118
- AA. VV.,
I volti di una dinastia. I da Varano di Camerino
, Milao 2001.
- Francesco Serdonati,
Vite di cinque illustri italiane: Cia degli Ubaldini, Caterina Sforza, Mandella Gaetani, Caterina Cybo, Caterina de' Medici scritte nel sec. XVI da Francesco Serdonati
, Florenca, G. B. Campolini 1869
- Bernardino Feliciangeli,
Notizie e documenti sulla vita di Caterina Cibo-Varano
, Camerino, Tipografia Savini 1891
- Franca Petrucci,
Cibo, Caterina
, in ≪Dizionario biografico degli Italiani≫, Roma, Istituto dell'Enciclopedia italiana 1981
- Bernardino Ochino,
I Dialogi sette
, Turim, Claudiana 1985
- Adriana Valerio,
Caterina Cibo e la spiritualita savonaroliana attraverso il magistero profetico di Domenica da Paradiso
, in AA. VV.,
Munera Parva, Studi in onore di Boris Ulianich
, a cura di G. Luongo, II, Napoles, Federiciana Editrice Universitaria 1999