Bandeirantes
e a denominacao dada aos
sertanistas
do
periodo colonial
, que, a partir do inicio do
seculo XVI
, penetraram no interior da
America do Sul
em busca de riquezas minerais, sobretudo o
ouro
e a
prata
, abundantes na
America espanhola
,
indigenas
para
escravizacao
ou exterminio de
quilombos
. Contribuiram, em grande parte, para a expansao territorial do Brasil alem dos limites impostos pelo
Tratado de Tordesilhas
, ocupando o Centro Oeste e o Sul do Brasil.
[
1
]
Tambem foram os descobridores do ouro em Minas Gerais, Goias e Mato Grosso.
[
2
]
Segundo
Carvalho Franco
, a maioria dos bandeirantes era formada por descendentes de primeira e segunda geracao de portugueses em Sao Paulo, sendo os capitaes das bandeiras de origens europeias variadas, havendo nao so descendentes de portugueses, mas tambem de
galegos
,
castelhanos
e
cristaos novos
, alem de alguns casos de parentescos
genoveses
,
bascos
,
sarracenos
,
napolitanos
e
toscanos
, entre outros.
[
3
]
Compunham minoritariamente
[
4
]
as tropas segmentos de
indios
(escravos e aliados) e
caboclos
(mesticos de indio com branco),
[
4
]
normalmente chegando a, no maximo, vinte por cento do contingente total,
[
5
]
e executando as tarefas secundarias da tropa, tal qual a manutencao dos mantimentos e cuidados dos animais de abate.
[
5
]
Informa
Afonso d'Escragnolle Taunay
, citando uma carta do
jesuita
Justo Mancila, que a segunda bandeira, a de
Nicolau Barreto
, em 1602, foi composta por 270 portugueses, numero elevado, considerando que Sao Paulo tinha poucos habitantes: "No ano de 1602, saiu de Sao Paulo a buscar e trazer indios, Nicolau Barreto com o pretexto de buscar minas e levou em sua companhia 270 portugueses e tres clerigos".
[
6
]
Para o historiador
Darcy Ribeiro
, os bandeirantes apresentavam um panorama racial diverso, afirmando que a
miscigenacao
com os indios era a regra na sociedade da epoca, inclusive entre a elite, considerados "homens bons". Nos primordios, a estrutura familiar paulista era patricenica e
poligamica
, formada pelo pai, suas mulheres indigenas com suas respectivas proles e os parentes delas. O casamento
catolico
apenas se firmou mais tarde.
[
7
]
A maior bandeira de Manuel Preto e
Antonio Raposo Tavares
, ocorrida em 1629, era composta por 69 brancos, 900
mamelucos
e 2 mil indigenas, demonstrando o enorme peso demografico amerindio naquele ambiente.
[
8
]
Alem do
portugues
, os bandeirantes tambem falavam a
lingua paulista
, lingua esta que era por vezes a utilizada cotidianamente por eles.
[
9
]
Foi com termos tupis que os bandeirantes nomearam os varios lugares por onde passaram, originando muitos dos atuais
toponimos
brasileiros, como
Jundiai
,
Piracicaba
,
Sorocaba
,
Taubate
,
Guaratingueta
,
Mogi das Cruzes
,
Sao Luiz do Paraitinga
,
Tatuape
, etc.
[
10
]
Os bandeirantes foram os responsaveis pela
escravizacao
e pelo exterminio de centenas de milhares de indigenas.
[
7
]
Nao obstante, a figura do bandeirante foi reconstruida sob uma otica positiva no final do
seculo XIX
e sobretudo nas decadas de 1920 e de 1930, como meio encontrado pela elite paulista de afirmar seu poder em um contexto de enfraquecimento da sua influencia politica.
[
11
]
[
12
]
[
13
]
Segundo um mando real de 1570, a Lei das Ordenancas, nas zonas rurais ao inves da Companhia de Ordenancas, se organizava uma Bandeira: tinha formacao similar a de uma companhia, sendo que seus componentes eram divididos em esquadras, reunindo todos os que estavam ate a uma
legua
da sede do capitao-mor. Foi essa a origem das bandeiras que exploraram e devassaram o territorio brasileiro. De inicio, tambem era uma forma de protecao contra os ataques indigenas, ja que haviam destruido uma expedicao de
Martim Afonso de Sousa
em Cananeia e a de
Juan Diaz de Solis
no
Rio da Prata
.
[
carece de fontes
]
No inicio da colonizacao, os interesses de Portugal se concentravam no litoral ou proximo dele, uma vez que nele estavam localizados o extrativismo do
pau-brasil
e o plantio da
cana-de-acucar
. O fator geografico, portanto, foi um dos que mais desmotivaram a penetracao dos colonizadores: a
Serra do Mar
, que era uma “grande muralha”, recoberta por densas matas, dificultava a penetracao. Em 1585,
Fernao Cardim
, tendo acompanhado o padre jesuita
Cristovao de Gouveia
de Sao Vicente a Sao Paulo, relatou: “O caminho e cheio de tijucos, o pior que nunca vi e sempre iamos subindo e descendo serras altissimas e passando rios e caudais de aguas frigidissimas”. Os rios serviam somente como pontos de referencia, oferecendo poucas condicoes a navegacao, pois possuiam diversas quedas d'agua, corredeiras e formacoes rochosas, sendo um outro empecilho a penetracao do branco no territorio brasileiro.
[
carece de fontes
]
A maioria dos Bandeirantes andava descalco, sendo que geralmente levavam como equipamento: as botas e as alpargatas, normalmente feitas de couro; coletes; armaduras e armas como as espadas, as adagas, as lancas, as facas, os punhais, os tercados, os alfanjes, os machados, as
bestas de arco de madeira
, os arcos e flechas indigenas, os tacapes ou as bordunas, as pistolas, os
arcabuzes
, as espingardas, as escopetas, os mosquetes de um unico tiro ou os bacamartes boca de sino.
[
carece de fontes
]
Houve umas poucas expedicoes ao atual territorio de
Minas Gerais
nos seculos XVI e XVII, sendo que tais entradas foram mal registradas e sobram poucas informacoes sobre os caminhos e os acontecimentos das viagens. Sertanistas corajosos, nao deram importancia ao registro e a documentacao das viagens. Uma bandeira vagueava anos por matas e sertoes, sem uma so pessoa com conhecimento de astronomia e geografia para guia-la (todos procuravam o limite do Brasil, que era o
Rio Parana
, estabelecido por
Pero Lopes de Sousa
em 1531). Ate mesmo a interpretacao erronea da lingua de uma tribo indigena fazia com que uma expedicao alterasse o percurso, em incursoes infrutiferas. Nem mesmo historiadores conseguiram definir, com exatidao, os caminhos usados.
Capistrano de Abreu
, comentando a descricao de
Gabriel Soares de Sousa
sobre a viagem de
Sebastiao Fernandes Tourinho
, diz: “No meio destas indicacoes e contraindicacoes, fielmente resumidas por Gabriel Soares, e impossivel uma pessoa entender-se”.
[
carece de fontes
]
Antes de surgirem aldeamentos na bacia do
Rio da Prata
, os paulistas ja percorriam o sertao, buscando, na preacao e venda dos indigenas, o meio para sua subsistencia (a grande captura de indigenas
guaranis
ocorreu em 1632, quando os Bandeirantes voltaram ao Paranapanema e levaram cativos para Sao Paulo os remanescentes dos indigenas na Vila do Espirito Santo. Nesta ocasiao a maioria de guaranis ja haviam sido enviadas para as Missoes ao sul. A Capitania de Paranagua, pertencente aos sucessores de Pero Lopes de Sousa se estendia do Paranapanema ao Rio da Prata. Em 1709, Paranagua foi unida a Sao Vicente e Santo Amaro para formar a Capitania de Sao Paulo). As tribos vitoriosas nas guerras ofereciam-lhes os prisioneiros em troca de armamentos. Essa “vocacao interiorana” era alimentada por condicoes geograficas, economicas e sociais. Sao Paulo, separada do litoral pela muralha da
Serra do Mar
, voltava-se para o sertao, cuja penetracao era facilitada pela presenca do
Rio Tiete
e de seus afluentes, que comunicavam os paulistas com o interior. Alem disso, apesar de afastada dos principais centros mercantis, sua populacao crescera muito porque boa parte dos habitantes de
Sao Vicente
havia migrado para la quando os canaviais plantados no litoral por
Martim Afonso de Sousa
entraram em decadencia, na segunda metade do seculo XVI, arruinando fazendeiros.
[
carece de fontes
]
O historiador britanico Russell-Wood identificou os paulistas como pertencendo a um grupo etnico, em oposicao a metropole, ligado a terra, e com sentimento nativista: “Os paulistas eram uma anomalia para os portugueses natos. De um lado, eram de ascendencia portuguesa, falavam portugues, praticavam o catolicismo, eram capazes de feitos heroicos, demostravam coragem indiscutivel, e sua vila de Sao Paulo tinha os equipamentos administrativos e institucionais e edificios publicos ? tanto civis quanto religiosos ? de uma vila portuguesa. De outro lado, muitas vezes, tinham sangue amerindio, falavam as linguas indigenas, tomavam indias como esposas e concubinas, opunham-se as autoridades civis e religiosas e mostravam desdem aos representantes da Coroa e aversao a leis, alvaras e ordens-regias. Debate e acirrado sobre se e a ascendencia comum ou a cultura e consciencia de pertencimento compartilhadas a caracteristica diferencial mais importante. De acordo com qualquer uma das definicoes, os paulistas constituem um grupo etnico. Foi precisamente este senso de ‘ser outro’ que perturbava, no Brasil, a Coroa portuguesa e ate os colonos portugueses natos. Autossuficiencia, distancia, inacessibilidade, mobilidade e independencia de espirito tornavam-nos refratarios ao controle regio”.
[
14
]
Os mais famosos bandeirantes nasceram no que e hoje o estado de
Sao Paulo
. Foram em parte responsaveis pela conquista do interior e extensao dos limites de fronteira do Brasil para alem do limite do
Tratado de Tordesilhas
, acordo firmado entre
Portugal
e
Espanha
com a intencao de dividir a posse das terras do
Novo Mundo
. Com isso todo o
Centro Oeste
passou a pertencer ao Brasil, sendo criadas, em 1748, as capitanias de
Goias
e de
Mato Grosso
, e o Brasil foi expandido, tambem para o sul de
Laguna
. O proprio
Robert Southey
observou, a esse respeito, que:
“
|
Enquanto os espanhois, no Paraguai, deixaram-se ficar onde os pusera Irala, tratavam de resto as descobertas que os primeiros conquistadores haviam feito, indiferentes viam perder-se cobertas de nova vegetacao as picadas que estes tinham aberto, e quase esqueciam os habitos e a propria lingua da Espanha, continuavam os brasileiros, por dois seculos, a explorar o pais; meses e anos passaram estes obstinados aventureiros pelas florestas e serranias a cacar escravos ou a procurar ouro e prata, seguindo as indicacoes dos indios. E afinal, lograram assegurar-se a si e a casa de Braganca, as mais ricas minas, a maior extensao da America do Sul, de toda a terra habitavel, a regiao mais formosa
[
15
]
|
”
|
No entanto, os resultados destas expedicoes foram desastrosos para os povos autoctones, ora reduzidos a servidao, deslocados e descaracterizados na sua identidade cultural, ora dizimados, tanto pela violencia dos colonos como pelo contagio de doencas para as quais os seus organismos estavam desprovidos de defesas.
[
16
]
As reducoes organizadas pelos
jesuitas
no interior do continente foram, para os paulistas, a solucao para seus problemas: reuniam milhares de indios adestrados na agricultura e nos trabalhos manuais, mais valiosos que os ferozes
tapuias
, de “lingua travada” (as Reducoes eram espanholas dos “Adelantados” e nao eram portugueses). No seculo XVII, o controle holandes sobre os mercados africanos, no periodo da ocupacao do Nordeste pelos holandeses, interrompeu o trafico negreiro (Os holandeses ocuparam as colonias portuguesas na Africa, exatamente para trazerem mais escravos para o Brasil). Os colonos voltaram-se para a escravizacao do indio para os trabalhos antes realizados pelos africanos (o Nordeste estava ocupado pelos holandeses e somente apos Nassau negociar com os produtores foi possivel o retorno agricola). Com a procura houve elevacao nos precos do escravo indio, chamado o “negro da terra”, que custava cinco vezes menos do que os africanos. (O preco equivalente de um escravo na Africa ate 1850 era de um saco de cafe e era vendido no Brasil por 40 sacos de cafe). Os paulistas nao teriam atacado as missoes durante dezenas de anos seguidos se nao contassem com o apoio (ostensivo ou velado) das autoridades. Embora nao se saiba bem quais as expedicoes promovidas pela Coroa e quais as de iniciativa particular, sendo tambem imprecisa a designacao de entradas e bandeiras, o traco comum a todas foi a presenca, direta ou indireta, do poder publico (explicado com Raposo Tavares).
[
carece de fontes
]
A acao dos bandeirantes foi da maior importancia na exploracao do interior brasileiro, bem como na manutencao da economia da colonia, fosse pelas suas consequencias para o comercio, fosse porque a captura de indigenas fornecia mao de obra para a
agricultura
, principalmente
cana-de-acucar
. Para alem disso, nao pode deles ser dissociada a descoberta de metais preciosos em varios pontos, metais esses que marcaram o papel do
Brasil
no conjunto do
Imperio Portugues
ao longo do
seculo XVIII
.
[
carece de fontes
]
Houve tres tipos de bandeiras: as de tipo
apresador
, para a captura de indios (chamado, indistintamente, “o gentio”) para vender como escravos; as de tipo
prospector
, voltadas para a busca de pedras ou metais preciosos e as de
sertanismo de contrato
, para combater indios e negros (
quilombos
).
[
carece de fontes
]
De inicio, eram aprisionados os indios sem contato com o homem branco. Posteriormente, passaram a aprisionar os indios catequizados, reunidos nas
missoes jesuiticas
. Grandes bandeirantes apresadores foram
Manuel Preto
e
Antonio Raposo Tavares
, que forneciam indios as fazendas do Brasil que utilizavam de mao de obra escrava e que nao contavam com suficiente quantidade de escravos negros.
[
carece de fontes
]
A palavra “paulista”, alias, segundo comenta o livro
Ensaios Paulistas
, Editora Anhembi, Sao Paulo, 1958, pagina 636, se deve ao
Visconde de Barbacena
: “Quer-nos parecer que a este governador-geral se deve o mais longinquo emprego ate hoje divulgado do adjetivo ‘paulista’, ocorrente numa ordem expedida em 27 de julho de 1671.” O gentilico deve ter-se generalizado rapidamente. Na documentacao municipal de Sao Paulo aparece pela primeira vez em ata de 27 de janeiro de 1695".
[
carece de fontes
]
“Sertanista” e palavra que aparece em 31 de dezembro de 1678. “Bandeira” aparece a 20 de fevereiro de 1677 quando o sucessor de Barbacena narra que “os
indios
do vale do
Rio Sao Francisco
haviam degolado varias bandeiras de paulistas. Uma consulta do
Conselho Ultramarino
de 1676, relativa a
Sebastiao Pais de Barros
, ao se referir a sua expedicao, fala da ≪sua bandeira, como eles (os paulistas) lhe chamavam”. Ja da palavra “bandeirante” o mais longinquo emprego que se conhece e muito mais recente. Verifica-se num documento assinado pelo capitao-general
Conde de Alva
em 1740. Impressa, parece ter sido pela primeira vez em 1817, por
Aires do Casal
.
[
carece de fontes
]
Muitas vezes, o governo financiava a expedicao; outras vezes, limitava-se a fechar os olhos para a escravizacao dos indios (ilegal desde 1595), aceitando o pretexto da “guerra justa”. Dom
Francisco de Sousa
patrocinou as bandeiras de
Andre de Leao
(1601) e
Nicolau Barreto
(1602) que se estendeu por dois anos. Teria chegado a regiao do
Guaira
, regressando com um numero consideravel de
indios
, que algumas fontes estimam em 3 000. Em agosto de 1628, quase todos os homens adultos da Vila de Sao Paulo estavam armados para investir contra o sertao. Eram novecentos brancos e 3 000
indios
, formando a maior bandeira ate entao organizada, com destino ao Guaira, para expulsar os jesuitas espanhois e prender quantos indios pudessem.
[
carece de fontes
]
A partir de 1619, os bandeirantes intensificaram os ataques contra as reducoes jesuiticas, e os artesaos e agricultores guaranis foram escravizados em massa. No entanto, muito antes de surgirem os primeiros aldeamentos na bacia do Prata, os paulistas ja percorriam o sertao, buscando na preacao do indigena o meio para sua subsistencia.
[
carece de fontes
]
Essa “vocacao interiorana” era alimentada por uma serie de condicoes geograficas, economicas e sociais. Separada do litoral pela muralha da
Serra do Mar
, Sao Paulo voltava-se para o sertao, cuja penetracao era facilitada pela presenca do
Rio Tiete
e de seus afluentes que comunicavam os paulistas com o distante interior. Alem disso, apesar de afastada dos principais centros mercantis, sua populacao crescera muito. E que boa parte dos habitantes de Sao Vicente haviam migrado para la quando os canaviais plantados no litoral por
Martim Afonso de Sousa
entraram em decadencia, ja na segunda metade do seculo XVI, arruinando muitos fazendeiros.
[
carece de fontes
]
Ligados a uma cultura de subsistencia baseada no trabalho escravo dos indios, os paulistas comecaram suas expedicoes de apresamento (ou preacao) em 1562, quando
Joao Ramalho
atacou as tribos do vale do Rio Paraiba. O bandeirismo de preacao tornou-se uma atividade altamente rendosa. Para os paulistas, atacar as reducoes jesuiticas era a via mais facil para o enriquecimento.
[
carece de fontes
]
Diante dos ataques, os jesuitas comecaram a recuar para o interior e exigiram armas de fogo ao governo espanhol por meio das quais conseguiram deter o avanco dos bandeirantes na
Batalha de M'Borore
, em 1641.
[
17
]
[
18
]
Em 1696, os bandeirantes organizaram um ataque contra as
reducoes jesuiticas entre os chiquitos
, na
Bolivia
. Em resposta, os jesuitas formaram uma milicia com cerca de 500 nativos, que foram reforcados por cerca de 130 soldados enviados de
Santa Cruz de la Sierra
que derrotaram a incursao, matando 130 dos invasores e libertando cerca de 1 500 nativos que tinham sido capturados para serem vendidos como escravos.
[
19
]
- 1557 ? Os espanhois edificam
Ciudad Real
, proximo a foz do
Piquiri
, no
Parana
, a entao
Republica do Guaira
.
- 1562 ?
Joao Ramalho
ataca as tribos do
Rio Paraiba do Sul
, enquanto os jesuitas ajudam a dissolver a
Confederacao dos Tamoios
.
- 1576 ? Os espanhois fundam
Vila Rica
, na margem esquerda do rio Ivai.
- 1579 ?
Jeronimo Leitao
ataca as aldeias das margens do Anhembi (Tiete).
- 1594?1599 ?
Afonso Sardinha
e
Joao do Prado
investem contra as tribos do
Rio Jeticai
.
- 1595 ? Uma carta regia proibe a escravizacao dos indigenas.
- 1597 ?
Martim Correia de Sa
parte do Rio de Janeiro e chega ao
Rio Sapucai
ou Verde.
- 1602 ?
Nicolau Barreto
percorre os sertoes do Parana, Paraguai e Bolivia, atingindo as nascentes do
Rio Pilcomayu
.
- 1606 ?
Manuel Preto
segue rumo ao sul, a frente de uma bandeira.
- 1607 ? Outra expedicao, dessa vez chefiada por
Belchior Dias Carneiro
, dirige-se para o sul do Brasil.
- 1610 ? Jesuitas castelhanos fundam os povoados de Santo Inacio e Loreto, na margem esquerda do
Rio Paranapanema
(
Missoes jesuiticas no oeste do Parana
).
- 1619 ?
Manuel Preto
ataca aldeias de Jesus, Maria e Santo Inacio (provincia do
Guaira
)
- 1620 ? Os jesuitas iniciam o povoamento do atual
Rio Grande do Sul
, com duas administracoes: a provincia do Tape, com
sete "povos"
, e a do Uruguai, com dez reducoes.
- 1623-1630 ? Onze aldeias compoem a provincia do Guaira, limitada pelos rios Paranapanema, Itarare, Iguacu e Parana (margem esquerda).
- 1626 ? Surge a provincia do Parana, com sete reducoes, entre os rios Parana e Uruguai.
- 1628 ?
Manuel Preto
e
Antonio Raposo Tavares
destroem as
reducoes do Guaira
, em varias campanhas que terminam em 1633.
- 1631 ? Os jesuitas criam a provincia do Itatim a sudeste do atual
Mato Grosso do Sul
.
- 1633 ?
Antonio Raposo Tavares
inicia a invasao do atual Rio Grande do Sul.
- 1639 ? A Espanha concede permissao para que os
indios
se armem.
- 1640 ? Os jesuitas sao expulsos de Sao Paulo.
- 1641 ? Os bandeirantes sao derrotados na
Batalha de M'Borore
.
[
17
]
[
18
]
- 1648 ? Uma expedicao chefiada por
Antonio Raposo Tavares
percorre as regioes de Mato Grosso do Sul, Bolivia, Peru (chegando ao Pacifico) e Amazonia, retomando a Sao Paulo em 1652.
- - Gabriel de Lara chega com sua bandeira a regiao de Paranagua e ali funda o povoado de Nossa Senhora do Santissimo Rosario, atual cidade de Paranagua, no litoral do parana.
- 1658 ? A bandeira de Manuel Lourenco de Andrade atinge a ilha de Sao Francisco, onde o bandeirante e seus companheiros fundam a vila de Nossa Senhora da Graca do Rio Sao Francisco, atual Sao Francisco do Sul, no litoral norte de Santa Catarina.
- 1661 ?
Fernao Dias Pais Leme
atravessa os sertoes do sul ate a
Serra de Apucarana
.
- 1670 ?
Bartolomeu Bueno de Siqueira
atinge Goias.
- 1671-1674 ?
Estevao Ribeiro Baiao Parente
e
Bras Rodrigues de Arzao
cruzam o sertao nordestino.
- 1671 ?
Domingos Jorge Velho
chefia uma expedicao ao Piaui.
- 1673 ?
Manuel Dias da Silva
, o "Bixira", atinge Santa Fe, nas missoes paraguaias.
- 1675 ?
Francisco Pedroso Xavier
destroi
Vila Rica del Espiritu Santo
(a sessenta leguas de Assuncao).
- 1689 ?
Manuel Alvares de Moraes Navarro
combate tribos do Sao Francisco e chega ao Ceara e ao Rio Grande do Norte. Convocado pelo governo-geral,
Matias Cardoso de Almeida
enfrenta os "
indios
bravos" do Ceara e do Rio Grande do Norte em sucessivas campanhas que terminam em 1694.
Destacaram-se nas expedicoes para aniquilar os quilombos do
Nordeste do Brasil
, no
seculo XVII
, incluindo o
Quilombo de Palmares
, os bandeirantes
Domingos Jorge Velho
e
Fernao Carrilho
.
[
carece de fontes
]
O numero de entradas notaveis de origem paulistana cresceu consideravelmente depois de 1660. Diz Ensaios Paulistas, editora Anhambi, Sao Paulo, 1958, pagina 635: "Citam-se das de
Fernao Dias Pais
na Apucarana, a de
Luis Pedroso de Barros
, morto em pleno
Peru
, a de
Lourenco Castanho Taques
ao sertao dos Cataguazes, territorio de
Minas Gerais
, as de
Sebastiao Pais de Barros
e
Pascoal Pais de Araujo
no alto Tocantins. O extraordinario
raid
de
Francisco Pedroso Xavier
ao norte do Paraguai e sul de Mato Grosso, os de
Luis Castanho de Almeida
e
Antonio Soares Pais
, no centro de Goias, a enorme jornada de
Domingos Jorge Velho
, indo, em 1662, estabelecer-se no Piaui, na confluencia do Parnaiba e do Poti, acompanhado, mais ou menos contemporaneamente, por
Francisco Dias de Siqueira
, o
Apuca
, devassador das terras maranhenses. Lembremos ainda as expedicoes de
Manuel de Campos Bicudo
ao sul de Mato Grosso, de seu filho
Antonio Pires de Campos
, o primeiro
Pai Pira
, em terras mato-grossenses e goianas, de
Bartolomeu Bueno da Silva
, o primeiro
Anhanguera
, em territorio dos dois atuais grandes Estados do Centro, de
Manuel Dias de Lima
no Paraguai e em regiao hoje argentina, etc.".
[
carece de fontes
]
O historiador
Capistrano de Abreu
comenta que ≪ao tempo em que os conquistadores se batiam contra os indios de Paraguacu e Ilheus, prosperava a volta de Sao Paulo um grande numero de vilas:
Mogi das Cruzes
,
Santana de Parnaiba
,
Taubate
,
Guaratingueta
,
Itu
,
Jundiai
,
Sorocaba
, todas anteriores a 1680, ao grande exodo do ultimo quartel do seculo XVII. Cada vila demandava destino diverso: as do Paraiba do Sul apontavam para as proximas Minas Gerais; Santana de Parnaiba e Itu para Goias (
Guaiaz
) e Sorocaba para os campos de pinheiros em que ja surgia
Curitiba
. Bastou o descobrimento do ouro para mobilizar toda essa forca ? ouro corrido, mas em abundancia: a populacao que acudiu procedeu toda ou quase toda do planalto, especialmente do Rio Paraiba do Sul, onde a estreiteza do vale, entre a Mantiqueira e a cordilheira maritima, produzia o efeito de condensador. E, com a vitoria dos
emboabas
, mais tarde, Sorocaba e Itu assumiram seu papel historico, Tiete abaixo ate a barra, Rio Parana ate o Rio Pardo, por este ate o Rio Paraguai, Sao Lourenco, Cuiaba, atingindo-se descobertos em que o ouro se apanhou as arrobas. E as dificuldade da viagem, que, desde Araritaguaba ou Porto Feliz, pedia quatro a cinco meses, atraves de mais de cem saltos, cachoeiras, corredeiras, entaipavas. Cuiaba e Mato Grosso, para nao sucumbir, terao que se desligar de Sao Paulo.
[
carece de fontes
]
O governador
Antonio Pais de Sande
escreveu ao Rei em 1693 sobre os paulistas: "Sao briosos, valentes, impacientes da menor injuria, ambiciosos de honra, amantissimos da sua patria, beneficos aos forasteiros e adversissimos a todo ato servil, pois ate aquele cuja muita pobreza lhe nao permite ter quem o sirva, se sujeita antes a andar muitos anos pelo sertao em busca de quem o sirva, do que a servir a outrem um so dia". Tinha razao: provam as rebelioes contra Salvador Correia, o aniquilamento das missoes, a expulsao dos jesuitas, as desavencas com os espanhois e as sublevacoes contra a alteracao da moeda.
[
carece de fontes
]
Podia haver distintas opinioes. Pois em carta datada de 19 de julho de 1692, o governador do Estado do Brasil,
Antonio Luis Goncalves da Camara Coutinho
, escreveu ao rei sobre as extorsoes que cometera
Francisco Dias de Siqueira
nas aldeias de indios reduzidos no
Maranhao
:
"Os paulistas saem de sua terra e deitam varias tropas por todo o sertao e nenhum outro intento levam mais que cativarem o gentio da lingua geral, que sao os que ja estao domesticados, e nao se ocupam do gentio de corso porque lhes nao servem para nada; assim que o intento destes homens nao e o servico de Deus nem o de Vossa Majestade e com pretextos falsos, passam de uns governos para outros e se lhes nao fazem mostrar as Ordens que levam. Enganam aos governadores, como este capitao Francisco Dias de Siqueira fez ao governador do Maranhao
Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho
, dizendo-lhe que ia a descobrir aquele sertao por minha ordem, que tal nao houve nem tal homem conheco, e com este engano pedem mantimentos, armas e socorro e depois com elas vao conquistar o gentio manso das aldeias e o gado dos currais dos moradores. Com que estes homens sao uns ladroes destes sertoes e e impossivel o remedio de os castigar, porque se os colherem, mereciam fazer-se neles uma tal demonstracao que ficasse por exemplo para se nao atreverem a fazer os desmandos que fazem. Assim que me parece inutil persuadi-los a que facam servico a Vossa Majestade porque sao incapazes e vassalos que Vossa Majestade tem rebeldes, assim em Sao Paulo, onde sao moradores, como no sertao, donde vivem o mais do tempo; e nenhuma Ordem do governo geral guardam, nem as leis de Vossa Majestade".
[
carece de fontes
]
As bandeiras de prospeccao nasceram na metade final do seculo XVII. Na decada de 1690, foi descoberto
ouro
nas Serras Gerais, o chamado Sertao do Cuiete, hoje o estado brasileiro de
Minas Gerais
. A interiorizacao do povoamento deu origem as capitanias de Minas Gerais (separada da Capitania de Sao Paulo ainda na decada de 1720), Mato Grosso e Goias. Os principais bandeirantes de prospeccao foram
Fernao Dias Pais
,
Antonio Rodrigues Arzao
,
Pascoal Moreira Cabral
e
Bartolomeu Bueno da Silva
. Havia tambem figuras como
Carlos Pedroso da Silveira
, socios e procuradores dos bandeirantes, com papel igualmente importante.
[
carece de fontes
]
Atualmente, varias ruas, pracas, monumentos e nomes de espacos publicos fazem referencia aos bandeirantes, em Sao Paulo.
[
12
]
As homenagens aos bandeirantes comecaram ainda no
seculo XVIII
, por cronistas como
Gaspar da Madre de Deus
e
Pedro Taques de Almeida Pais Leme
, que trataram de enaltecer a figura do bandeirante.
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Depois de passarem longos anos esquecidos, os bandeirantes foram resgatados em diferentes momentos historicos. A construcao desse imaginario
ufanista
em torno dos bandeirantes ganhou forca no final do
seculo XIX
, quando a entao provincia de Sao Paulo buscava se afirmar no cenario politico nacional. Naquela altura, a economia de Sao Paulo crescia com o desenvolvimento da
cafeicultura
, porem a elite paulista prosseguia sem grande poder politico, que estava ainda concentrado na capital da monarquia, o
Rio de Janeiro
. Em consequencia, a elite paulista aderiu fortemente ao movimento republicano em busca de maior poder. Foi nessa esteira que surgiu a exaltacao da figura do bandeirante, como forma de justificar uma maior forca politica paulista, pois os bandeirantes teriam sido os "herois" que garantiram a unidade brasileira.
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Porem, o advento da
Republica
em 1889 tambem nao acarretou na maior forca politica que a elite paulista buscava conquistar, e por isso ela continuava promovendo a valorizacao do seu passado. Historiadores como
Afonso d'Escragnolle Taunay
,
Alfredo Ellis Jr.
e
Alcantara Machado
, todos eles comprometidos politicamente, buscavam realcar as peculiaridades dos bandeirantes. Ellis Jr. referia-se aos bandeirantes como um "povo superior (a raca Planaltina)" ou pertencentes a uma "raca de gigantes". As atrocidades cometidas pelos bandeirantes contra os
povos indigenas
nao recebiam a atencao necessaria desses historiadores. Segundo Silvia Lopes Raimundo, na obra de Taunay a escravidao indigena e plenamente justificada, porquanto "a ideia de exito na conquista territorial redimiria os bandeirantes de toda e qualquer culpa em relacao a violencia praticada".
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Darcy Ribeiro
, citando Simonsen, fala em 300 mil indios capturados e escravizados pelos bandeirantes paulistas, nao obstante a maioria dos paulistas da epoca serem descendentes de indios pela linha materna, e serem falantes de uma lingua de base
tupi
.
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Porem, o momento historico para a exaltacao da figura do bandeirante surge na
decada de 1930
. O presidente
Washington Luis
, representante da oligarquia paulista, foi derrubado pela juncao de forcas de
Minas Gerais
e do
Rio Grande do Sul
, que alcou
Getulio Vargas
a presidencia. Sao Paulo novamente perdeu seu poder politico, e os bandeirantes surgem outra vez como elemento de uniao dos paulistas.
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Segundo Katia Maria Abud, "no recrutamento dos cidadaos para pegar em armas, convinha omitir a divisao de classes e os interesses de grupos. Uma causa maior se levantava, e ela tinha o irresistivel apelo de um heroi historico".
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Segundo Raimundo, esse periodo foi marcado por um forte sentimento de superioridade de Sao Paulo em relacao ao resto do pais, e o estado era metaforicamente tratado como "a locomotiva que carrega vinte e dois vagoes". Nesse contexto, o bandeirantismo surgia como o modelo de brasilidade, com base na busca de Sao Paulo pela hegemonia politica do Brasil.
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Durante a
Revolucao de 1932
, surgiu a expressao "
paulista de quatrocentos anos
", "pela qual as familias mais antigas cultuavam sua ancestralidade e acreditavam pertencer a uma raca privilegiada".
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Livros sobre a
genealogia
paulista foram relancados e, segundo Raimundo, "podemos dizer que esse grupo foi buscar na genealogia do seculo XVIII os elementos necessarios para a afirmacao de uma tradicao inventada".
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Porem, menos da metade da populacao de Sao Paulo era descendente de colonizadores. Era necessario, portanto, ampliar o privilegio para que
imigrantes
,
negros
e
indios
tambem pegassem em armas. No fim, Sao Paulo perdeu a guerra de 1932, porem o mito bandeirante continuou. Segundo Adub, "O paulista se alimenta dessa mitologia para elaborar sua propria imagem, criando uma alegoria de igualdade, se nao fisica, pelo menos moral, que acaba disfarcando os conflitos de classe".
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