Apolineo e Dionisiaco

Origem: Wikipedia, a enciclopedia livre.
Os Bebados (Triunfo de Baco) por Diego Velazquez , 1629.

O Apolineo e Dionisiaco e um conceito filosofico e literario  ou dicotomia , com base em certas caracteristicas da antiga mitologia grega . Muitos filosofos ocidentais e autores literarios tem utilizado esta dicotomia em trabalhos criticos e criativos. 

Na mitologia grega, Apolo e Dionisio sao ambos filhos de Zeus . Apolo e o deus da razao e o racional, enquanto que Dionisio e o deus da loucura e do caos. Os gregos nao consideravam os dois deuses como opostos ou rivais, embora, muitas vezes, as duas divindades foram entrelacadas por natureza.

O Apolineo e o lado da razao e do raciocinio logico. Por outro lado, o Dionisiaco e o lado do caos e apela para as emocoes e instintos. O conteudo de todas as grandes tragedias e baseado na tensao criada pela interacao entre esses dois.

Filosofia alema [ editar | editar codigo-fonte ]

Embora o uso dos conceitos de Apolineo e Dionisiaco seja notoriamente ligado a O Nascimento da Tragedia   de Nietzsche , os termos foram usados antes dele na cultura alema . [ 1 ] O poeta Holderlin  os utilizou, enquanto Winckelmann falou de Baco , o deus do vinho.

Nietzsche usou o conceito na estetica , que mais tarde foi desenvolvido filosoficamente, aparecendo pela primeira vez em seu livro O Nascimento da Tragedia , que foi publicado em 1872. Sua premissa principal foi de que a fusao dos " Kunsttriebe " ("impulsos artisticos") Dionisiaco e Apolineo formava as artes dramaticas, ou tragedias . Ele continua a argumentar que esta fusao nao tenha sido alcancado desde as tragedias gregas antigas. Nietzsche afirma que as obras de Esquilo e Sofocles representam o apice da criacao artistica, a verdadeira realizacao da tragedia; ele afirma que e com  Euripides que a tragedia comeca sua queda (" Untergang "). Nietzsche critica o uso do racionalismo socratico (a dialetica ) por Euripides, em suas tragedias, alegando que a infusao da etica e razao rouba da tragedia sua fundacao, o fragil equilibrio de Dionisiaco e Apolineo.

Para continuar a divisao, Nietzsche diagnostica a Dialetica Socratica como sendo doente, na forma em que ela trata de observar a vida. O academico dialetico e diretamente oposto ao conceito de Dionisiaco, porque ele so busca negar a vida; ele usa a razao para desviar, mas nunca para criar. Socrates rejeita o valor intrinseco dos sentidos e das ideias ''superiores'' da vida. Nietzsche afirma em " A Gaia Ciencia " de que, quando Socrates bebe a cicuta, ele ve a cicuta como a cura para a vida, proclamando que ele tem estado doente por um longo tempo. (Artigo 340.) Em contraste, a existencia do Dionisiaco constantemente procura afirmar a vida. Seja em prazer ou dor, sofrimento ou a alegria, a inebriante folia de Dionisio tem para a vida em si supera a doenca Socratica e perpetua o crescimento e o florescimento visceral da forca da vida.

A interacao entre o Apolineo e o Dionisiaco e aparente, Nietzsche afirmou, em O Nascimento da Tragedia , na tragedia grega : o heroi tragico do drama, o protagonista, se esforca para fazer ordenar seu destino injusto, e ele morre insatisfeito no final. Para o publico de tal drama, Nietzsche afirmou, esta tragedia nos permite o sentido subjacente da essencia, o que ele chamou de "Unidade Primordial", que revive a nossa natureza Dionisiaca ? que e quase indescritivelmente prazerosa. No entanto, mais tarde, ele abandonou este conceito dizendo que era "...um fardo com todos os erros da juventude", o tema geral foi uma especie de consolo metafisico ou conexao com o coracao da criacao.

Diferente das ideias sublimes de Kant , o Dionisiaco e todo-inclusivo, em vez de afasta-lo do espectador como uma sublime experiencia. As necessidades sublimes distanciam a critica, enquanto o Dionisiaco exige um grau de experiencia. De acordo com Nietzsche, a distancia critica, que separa o homem de suas emocoes mais proximas, origina-se nos ideais Apolineos, que separa-lo de sua essencial conexao com o eu. O Dionisiaco abraca a natureza caotica de tal experiencia como importante; nao apenas por si proprio, mas como ele esta intimamente ligado com o Apolineo. O Dionisiaco amplia o homem, mas apenas na medida em que ele percebe que ele e um e o mesmo com todas as demandas da experiencia humana. A divindade unica e de extrema importancia na visao Dionisiaca, pois esta relacionado com o Apolineo, porque ele enfatiza a harmonia que pode ser encontrado dentro de uma experiencia caotica.

Leituras pos-modernas  [ editar | editar codigo-fonte ]

A ideia de Nietzsche tem sido interpretada como uma expressao da consciencia fragmentada ou instabilidade existencial por uma variedade de modernos e pos-modernos escritores, especialmente Martin Heidegger , Michel Foucault e Gilles Deleuze . [ 2 ] [ 3 ]  De acordo com Peter Sloterdijk , o Dionisiaco e o Apolineo formam uma dialetica; sao contrastantes, mas isto nao significa que Nietzsche queria que um fosse mais valorizados que o outro. [ 4 ]  E sim a primordial dor, nossa existencia ser determina pela dialetica Dionisiaco\Apolineo. 

A utilizacao do Apolineo e do Dionisiaco em um argumento sobre a interacao entre a mente e o ambiente fisico, fez Abraao Akkerman ter apontado para as caracteristicas masculina e feminina da dialetica. [ 5 ]

Na antropologia [ editar | editar codigo-fonte ]

A antropologa Ruth Benedict , usou os termos para caracterizar culturas que valorizam a moderacao e modestia (Apolineo) e outras ostensivas e o excesso (Dionisiaco). Um exemplo de uma cultura Apolinea na analise de Benedict sao os povos  Zuni em oposicao aos Dionisiacos povos Kwakiutl. [ 6 ] O tema foi desenvolvido por Benedict em sua obra principal , Padroes de Cultura .

Versao de Paglia  [ editar | editar codigo-fonte ]

A academica americana de ciencias sociais,  Camille Paglia , escreve sobre o Apolineo e o Dionisiaco em seu best-seller,  Sexual Personae  (1990). [ 7 ] As grandes linhas de seu conceito e emprestado de Nietzsche, admitido influencia, embora as ideias de Paglia divirjam significativamente.

Os conceitos de Apolineo e o Dionisiaco compoem uma dicotomia que serve como base da teoria da arte e cultura de Paglia. Para Paglia, o Apolineo e luz e estruturadora, enquanto o Dionisiaco e escuro e ctonico (ela prefere Ctonico para Dionisiaco ao longo do livro, argumentando que este ultimo conceito tornou-se sinonimo de hedonismo e e inadequado para os seus objetivos, declarando que "o Dionisiaco nao e nenhum piquenique."). O Ctonico esta associado com o sexo feminino , selvagem/natureza caotica e sexo sem restricao/procriacao. Em contraste, o Apolineo e associado com o sexo masculino, a clareza, o celibato e/ou a homossexualidade, a racionalidade, solidez, juntamente com o objetivo orientado para o progresso: "Tudo otimo, na civilizacao ocidental, provem da luta contra nossas origens." [ 8 ]

Ela argumenta que ha uma base biologica para a dicotomia Apolineo/Dionisiaco, escrevendo: "A disputa entre Apolo e Dionisio, e a disputa entre o superior cortex e o antigo limbico e cerebro reptiliano." [ 9 ] Alem disso, Paglia atribui todo o progresso da civilizacao humana para a masculinidade, revoltando-se contra as forcas da natureza Ctonico e virando-se para o traco Apolineo de ordenar a criacao. O Dionisiaco e uma forca do caos e da destruicao, que e o irresistivel e sedutor, o estado caotico da natureza selvagem. A sociedade e construida na rejeicao ou combate aos Ctonicos pelas virtudes Apolineas, que seria a suposta razao para o predominio de homens (incluindo assexual e homens homossexuais; e mulheres lesbicas ) na ciencia , a literatura , as artes, a tecnologia e a politica. Como um exemplo, Paglia afirma: "A orientacao masculina da Atenas classica era inseparavel de seu genio. Atenas tornou-se grande, mas por causa de sua misoginia ." [ 10 ]

Referencias

  1. Adrian Del Caro, " Dionysian Classicism, or Nietzsche's Appropriation of an Aesthetic Norm ", in Journal of the History of Ideas , Vol. 50, No. 4 (Oct.
  2. Michael, Drolet. The Postmodernism Reader . [S.l.: s.n.]  
  3. Postmodernism and the re-reading of modernity By Francis Barker, Peter Hulme, Margaret Iversen, Manchester University Press,1992, ISBN 978-0-7190-3745-0 p. 258
  4. Thinker on Stage: Nietzsche's Materialism, translation by Jamie Owen Daniel; foreword by Jochen Schulte-Sasse, Minneapolis, University of Minnesota Press, 1989.
  5. Akkerman, Abraham (2006). ≪Femininity and Masculinity in City-Form: Philosophical Urbanism as a History of Consciousness≫ . Human Studies . 29 (2): 229?256. doi : 10.1007/s10746-006-9019-4  
  6. BENEDICT, R. (1932), CONFIGURATIONS OF CULTURE IN NORTH AMERICA.
  7. Paglia, Camille (1990).
  8. Paglia, 1990, p. 40
  9. Paglia, 1990, p. 96
  10. Paglia, 1990, p. 100.