Portugues
do Brasil
(abreviado como
pt-BR
[
2
]
ou simplesmente
PB
), tambem conhecido como
portugues brasileiro
, e o termo utilizado para classificar a
variante
da
lingua portuguesa
falada pelos mais de 203 milhoes de
brasileiros
que vivem dentro e fora do
Brasil
[
1
]
. E, de longe, a mais falada e escrita variante do portugues, tradicionalmente descrita por gramaticos prescritivistas e filologos, ainda que estudos modernos da Linguistica, como o
projeto NURC
, venham apontando significativas disparidades entre a gramatica tradicional e o portugues brasileiro de fato, inclusive em suas variedades de prestigio. Tais diferencas, bem como outras caracteristicas particulares do portugues brasileiro, o distanciam nao so do
portugues europeu
, como tambem das demais
linguas romanicas
, o que tem levado alguns estudiosos a interpreta-lo como uma lingua.
[
3
]
No decorrer da sua historia, o portugues brasileiro incorporou emprestimos de termos indigenas, especialmente do
tupi antigo
,
[
4
]
mas tambem de linguas africanas, sobretudo do
ioruba
,
quicongo
,
quimbundo
e
umbundo
,
[
5
]
com
dialetos italianos
,
alemaes
e
espanhois
, e inumeros exemplos mais, em casos regionais. Muitas diferencas do portugues brasileiro em relacao ao
portugues europeu
sao apontadas como tendo origem nesse contato, enquanto que outras sao apontadas como conservacao de caracteristicas do portugues quinhentista que nao ocorrem em Portugal da mesma maneira.
[
nota 1
]
Ha varias diferencas entre o
portugues europeu
e o portugues brasileiro, especialmente no
vocabulario
,
pronuncia
e
sintaxe
, principalmente nas variedades
vernaculas
; nos textos formais as diferencas tambem existem, mas sao bem menores. Devido a forte influencia que o portugues brasileiro sofreu de outros idiomas, especialmente do tupi, a diferenca entre a linguagem escrita e a falada se tornou bem maior do que a do portugues europeu.
[
6
]
Adotado pelo Brasil e por alguns outros paises, o
Acordo Ortografico de 1990
tem por base criterios
foneticos
,
fonologicos
,
etimologicos
e
tradicionais
, desconsiderando muitas particularidades linguisticas desses paises.
O portugues brasileiro e falado nao so no Brasil mas em muitos outros paises pela importancia que tem na
America Latina
e no
hemisferio Sul
, alem de sua grande
diaspora
, de notavel presenca em paises como
Estados Unidos
,
Portugal
,
Paraguai
,
Reino Unido
,
Japao
,
Italia
,
Espanha
,
Alemanha
,
Canada
e
Argentina
[
7
]
. No entanto, a difusao do portugues brasileiro mundo afora nao conta com os mesmos
suportes que o portugues europeu recebe de Portugal
, que, por sua vez, nao beira a mesma magnitude de politicas de difusao linguistica alemas, espanholas, francesas, inglesas e companhia.
[
8
]
Linguas indigenas americanas ou amerindias
editar
Antes da chegada dos portugueses, estima-se que cerca de 1 500 linguas diferentes eram faladas no territorio que veio a ser o
Brasil
. Essas sao agrupadas em familias, classificadas como pertencentes aos troncos
tupi
,
macro-je
e
aruaque
. Ha familias, entretanto, que nao puderam ser identificadas como relacionadas a nenhum destes troncos, sao elas:
caribes
,
panos
,
macus
,
ianomamis
,
muras
,
tucanos
,
catuquinas
,
chapacuras
,
nambiquaras
e
cadiueu-guaicurus
. Evidentemente, o facto de duas sociedades indigenas americanas falarem linguas pertencentes a uma mesma familia nao faz com que seus membros consigam entender-se mutuamente.
[
9
]
Lingua Portuguesa
Ultima flor do Lacio, inculta e bela,
Es, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu vico agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, o rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camoes chorou, no exilio amargo,
O genio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac
[
10
]
[
11
]
Apesar de o Brasil ter sido descoberto oficialmente em 1500 pelos portugueses, sua
colonizacao
europeia so comecou efetivamente em 1532. No mesmo ano, o rei de Portugal,
Joao III
, organizou a primeira expedicao com objetivos de colonizacao. Foi comandada por
Martim Afonso de Sousa
e tinha, como metas, povoar o territorio brasileiro, expulsar os invasores e iniciar o cultivo de
cana-de-acucar
no Brasil. Com isso, a
lingua portuguesa
passou a ser usada factualmente no territorio hoje conhecido como Brasil. Ao mesmo tempo, outras nacoes europeias vieram para o Brasil, como a
Franca
e a Holanda (que chegou a instalar uma colonia na regiao que e hoje o Estado de
Pernambuco
).
[
13
]
No inicio da
colonizacao portuguesa no Brasil
, a lingua dos amerindios
tupinambas
(
tronco tupi
) era falada numa enorme extensao de territorio ao longo da costa atlantica. No
seculo XVI
, ela passou a ser aprendida pelos portugueses, que, de inicio, eram uma minoria entre a populacao local. Aos poucos, o uso dessa lingua, chamada de "
brasilica
", se intensificou e generalizou-se de tal forma que passou a ser falada por quase toda a populacao que integrava o sistema colonial brasileiro. Com o decorrer do tempo, ela se modificou e, a partir da segunda metade do
seculo XVII
, passou a ser chamada de "
lingua geral
".
[
14
]
Era a
lingua de contato
entre
amerindios
de diferentes linguas e entre amerindios e portugueses e seus descendentes. A lingua geral era, assim, uma
lingua franca
no atual territorio brasileiro.
Essa foi a primeira influencia que a lingua portuguesa recebeu no Brasil. Como tal, deixou algumas marcas no vocabulario popular falado atualmente no pais. A lingua geral possuia duas variantes:
- A
Lingua Geral Paulista
: originaria na lingua dos
amerindios
tupi
de
Sao Vicente
e do alto rio
Tiete
, passou a ser falada pelos
bandeirantes
no
seculo XVII
. Dessa forma, ouve-se tal idioma em locais em que esses amerindios jamais estiveram, influenciando o modo de falar dos brasileiros.
- O
nheengatu
(do tupi
ie’engatu
, "lingua boa") e uma lingua
tupi-guarani
que foi, durante a epoca
colonial
, falada na
Amazonia
(atualmente, continua a ser falada apenas no noroeste do
estado
do
Amazonas
e na
Venezuela
). O nheengatu e uma lingua de comercio que foi desenvolvida ou compilada pelos
jesuitas
portugueses
nos seculos XVII e XVIII, tendo, como fundamentos, o vocabulario e a pronuncia
tupinamba
e, como referencia, a gramatica da lingua portuguesa, tendo sido o vocabulario enriquecido com palavras do
portugues
e do
castelhano
.
Com a saida dos holandeses em 1654, o portugues passou a ser a unica "Lingua de Estado" do Brasil.
[
16
]
No fim do
seculo XVII
, os
bandeirantes
iniciaram a exploracao do interior do continente, e descobriram
ouro
e diamantes. Devido a isso, o numero de imigrantes portugueses no Brasil e o numero de falantes da Lingua Portuguesa no Brasil passaram a aumentar, superando os falantes da lingua geral (derivada do tupinamba). Em 17 de agosto de 1758, o
Marques de Pombal
instituiu o portugues como a lingua oficial do Brasil, ficando proibido o uso da
lingua geral
. Nessa altura, devido a evolucao natural da lingua, o portugues falado no Brasil ja tinha caracteristicas proprias que o diferenciavam do falado em Portugal.
[
17
]
No
seculo XVII
, por conta da intensificacao do cultivo de
cana-de-acucar
, houve um grande fluxo de escravos vindos da
Africa
, que se espalharam por todas as regioes ocupadas pelos
portugueses
e que trouxeram uma influencia lexical africana para o portugues falado no Brasil. Para se ter uma ideia, no
seculo XVI
foram trazidos para o Brasil 100 mil negros. Este numero salta para 600 mil no
seculo XVII
e 1 milhao e 300 mil no
seculo XVIII
. A influencia lexical africana veio principalmente da
lingua ioruba
, falada pelos negros vindos da Nigeria, e do
quimbundo
angolano.
[
18
]
Com a
transferencia da corte portuguesa para o Brasil em 1808
, como consequencia das
invasoes francesas
, ocorreu uma
relusitanizacao
no falar da cidade do
Rio de Janeiro
, que passou a ser a capital do pais. Acompanhando a familia real, chegaram ao Rio de Janeiro cerca de 15 mil portugueses. Essa
relusitanizacao
expandiu-se e influenciou outras partes do Brasil. O sotaque carioca e seu dialeto (com "s" chiado e silabas atonais fechadas e tonicas abertas), ainda guarda profunda influencia portuguesa provinda deste periodo.
[
19
]
Em 1822, o Brasil tornou-se independente. Com isso muitos imigrantes europeus, como alemaes e italianos, chegaram ao pais. Em numeros absolutos os italianos formaram a maior corrente migratoria no pais. Deste modo, as especificidades linguisticas dos imigrantes italianos interferiram nas transformacoes da lingua portuguesa no Brasil. Assim, palavras foram agregadas de outros idiomas europeus.
[
20
]
Nos anos seguintes, a lingua local ora era designada de
lingua brasileira
, ora de lingua nacional, portugues ou lingua portuguesa. Ja em 1826, o politico
Jose Clemente Pereira
apresentou um projeto em que propunha que os diplomas dos medicos cirurgioes fossem redigidos ≪em lingua brasileira, que e a mais propria≫, se bem que essa designacao nao se tornou pratica comum.
[
21
]
Na segunda metade do
seculo XIX
ocorreu uma tentativa, dos autores
romantistas
, de criar uma
personalidade literal
brasileira. Entretanto, o movimento que consagrou rapidamente a norma brasileira foi o
modernismo brasileiro
. Esse foi um movimento de nacionalizacao que rompeu com o
parnasianismo
e com a imitacao do padrao tradicional do portugues, privilegiando as peculiaridades do falar brasileiro. O modernismo brasileiro nasceu no dia 11 de fevereiro de 1922, com a
Semana de arte moderna de 1922
, sendo alvo de muitas criticas, como as de
Monteiro Lobato
, que consideravam-no caricato.
[
22
]
A posteriori
, o movimento representou uma verdadeira renovacao da linguagem, na busca de experimentacao, na liberdade criadora e na ruptura com o passado. O evento marcou epoca ao apresentar novas ideias e conceitos artisticos.
[
23
]
A questao do nome da lingua seria praticamente encerrada no Brasil com a
Constituicao de 1988
em que e referido que ≪A lingua portuguesa e o idioma oficial da Republica Federativa do Brasil≫.
[
21
]
Ha varias ideias acerca de quando comecaram a divergir o portugues do Brasil e o de Portugal. O professor titular da
Universidade de Sao Paulo
Ataliba Teixeira de Castilho
disse numa entrevista ao Jornal da Unicamp:
[
24
]
- Ha varias posicoes sobre isso. Uns dizem que a partir do
seculo XIX
comecou a ser construida uma gramatica do portugues brasileiro, quer dizer, uma nova lingua, distinta do portugues europeu. Mas, se analisar o portugues medieval, como fez a minha mulher Celia Maria Moraes de Castilho em sua tese de doutorado, descobre-se que aquilo que se explicava como um abrasileiramento do portugues, na verdade, ja se encontrava la, sobretudo nos documentos do
seculo XV
. Ou seja, esse portugues veio para o Brasil e foi preservado. Nos estamos fazendo mudancas gramaticais a partir dessa base. Ja Portugal, a partir do
seculo XVIII
, imprimiu um novo rumo a lingua. Por isso e que muito do que aqui sobreviveu nao existe mais la. Eles e que estao diferentes, nao nos.
[
25
]
pt-BR
e um
codigo de lingua
para o
portugues brasileiro
, definido por
normas ISO
(ver
ISO 639-1
e ISO 3166-1 alpha-2) e
normas Internet
(ver "IETF language tag").
Ainda que o lexico brasileiro seja o mesmo que o do
portugues europeu
, existe uma serie de
regionalismos
que podem gerar confusao e desentendimentos entre os falantes das duas variantes. Ha ainda as palavras que, apesar de estarem dicionarizadas em ambos os paises (Brasil e Portugal), nao sao utilizadas por um ou por outro, gerando a mesma estranheza quando ouvidas ou lidas por um falante da outra variante.
Sao os chamados "brasileirismos" que derivam diretamente da
lingua tupi
ou que por ela foram influenciados, como acontece com alguns
sufixos
que, segundo alguns autores, funcionam mais como
adjetivos
do que como sufixos, ja que nao alteram a constituicao morfologica e fonetica da palavra a que se ligam. Sao exemplos destes
sufixos
o -acu (grande), -guacu (grande) e -mirim (pequeno) nas palavras
arapacu
(passaro de bico grande),
babacu
(palmeira grande),
mandiguacu
(peixe grande),
abatimirim
(arroz miudo) ou
mesa-mirim
(mesa pequena). Existem, no entanto, verdadeiros sufixos, como -rana (parecido com) e -oara (valor gentilico) nas palavras
bibirana
(planta da familia das
anonaceas
),
brancarana
(mulata clara) ou
paroara
(natural do
Para
) e
marajoara
(natural da
Ilha do Marajo
,
Para
).
Outros exemplos sao:
- toponimos
:
Ipanema
,
Tijuca
,
Ceara
,
Taquara
,
Para
e
Curicica
;
- nomes ou sobrenomes de pessoas:
Araci
,
Jandaia
e
Iara
;
- substantivos
peculiares da
fauna
e
flora
: como
cupim
,
mandioca
,
jacaranda
,
abacaxi
e
caraiba
;
- nomes de utensilios,
crencas
e fenomenos da
natureza
:
urupema
,
tipoia
,
moqueca
,
mingau
,
iracema
,
guri
e
xara
;
- enfermidades
:
catapora
(
varicela
)
Existem influencias de outras linguas amerindias nao tupis que se falavam no pais a data da chegada dos
portugueses
e com as quais houve contato. Os indios de lingua tupi chamavam de
tapuia
os indios de fala nao tupi, termo este que tambem foi adotado pelos colonizadores portugueses para se referir aqueles indios.
O trafico de
escravos
, especialmente da
Africa
para os
engenhos
brasileiros, trouxe consigo, mormente de povos
bantos
, toda uma serie de termos que em breve seriam acrescentados ao portugues brasileiro. Duas linguas africanas foram as que tiveram maior influencia: o
ioruba
, proveniente em grande parte da atual
Nigeria
e que e chamado de
nago
em ritos
religiosos
afro-brasileiros
e com influencia especialmente na
Bahia
; e o
quimbundo
, proveniente da atual
Angola
e mais rico de vocabulario e de expressao no resto do pais.
[
27
]
Dialetalismos portugueses
editar
Ha outros brasileirismos aparentes que nao passam de formas dialetais portuguesas, oriundas das regioes que forneceram os colonos portugueses que foram antepassados de parte significativa da populacao do Brasil, como os
Acores
e as varias provincias portuguesas. O resultado foi
prosa
em vez de
conversa
ou
salvar
por
saudar
(ou dar a salvacao, como ainda se diz em algumas regioes de Portugal).
Ha palavras novas (neologismos, que designam novos objetos, invencoes, tecnicas, etc) que tem uma formacao distinta da que se verificou em Portugal. Sao exemplos
onibus
por oposicao a
autocarro
,
trem
por oposicao a
comboio
, ou
bonde
por oposicao a
electrico
.
Outros exemplos sao
gol
(pt
golo
, do ingles
goal
),
esporte
(pt
desporto
(obs.: desporto se usa no Brasil, mas e, na atualidade, incomum), do ingles
sport
), xampu (pt
champo
, do ingles
shampoo
).
A tabela abaixo ilustra outras diferencas lexicais:
Brasil
|
Portugal
|
abridor de garrafas
ou
saca-rolhas
|
saca-rolhas
|
abridor de latas
|
abre-latas
|
acougue
|
talho
|
agua-viva
ou
medusa
|
agua-viva, alforreca
ou
medusa
|
agua sanitaria
|
agua sanitaria, lixivia
|
AIDS
|
SIDA (Sindrome de Imunodeficiencia Adquirida)
|
alho-poro
|
alho-porro
|
alo?
|
estou?
|
amerissagem
|
amaragem
|
aquarela
|
aguarela
|
arquivo (de computador)
|
ficheiro
|
atacante
|
avancado
|
aterrissagem
|
aterragem
|
acostamento
|
berma
|
banheiro, toalete, lavabo, sanitario
|
casa de banho, lavabos, quarto de banho, sanitarios, w.c.
|
bonde
|
electrico
|
brocolis
|
brocolos
|
cafe da manha
|
pequeno almoco
|
calcinha
|
cuecas femininas
|
caminhao
|
camiao
|
caminhonete, van, perua
|
carrinha
|
camiseta
|
camisola
|
camisola
|
camisa de dormir
|
canadense
|
canadiano
|
cancer
|
cancro
|
caqui
|
diospiro
|
carona
|
boleia
|
carro conversivel
|
carro descapotavel
|
carteira de identidade
|
bilhete de identidade/ BI
|
cilio, pestana, celha
|
pestana
|
concreto
|
betao
|
descarga
|
autoclismo
|
decolagem
|
descolagem
|
diretor (de cinema)
|
realizador
|
dublagem
|
dobragem
|
durex, fita adesiva
|
fita-cola, fita adesiva
|
escanteio
|
pontape de canto
|
esparadrapo, bandeide (band-aid)
|
penso, penso-rapido
|
estacao de trem
|
gare, estacao
|
estrada de ferro, ferrovia
|
caminho de ferro, ferrovia
|
favela
|
bairro de lata/favela (quando referencia ao Brasil)
|
fones de ouvido
|
auscultadores, auriculares, fones
|
freio, breque
|
travao, freio
|
gol
|
golo
|
gole
|
golo
|
goleiro
|
guarda-redes
|
grama, relva
|
relva
|
grampeador
|
agrafador
|
guitarra
|
guitarra eletrica
|
isopor
|
esferovite
|
israelense, israelita
|
israelita
|
maio
|
fato de banho
|
mamadeira
|
biberao
|
metro
|
metro, metropolitano
|
Moscou
|
Moscovo
|
mouse
|
rato
|
nadadeiras, pe-de-pato
|
barbatanas
|
nitrogenio
|
azoto, nitrogenio
|
onibus
|
autocarro
|
Papai Noel
|
Pai Natal
|
pebolim (ou toto)
|
matraquilhos
|
perua, van
|
carrinha
|
pinha, fruta-do-conde
|
anona
|
polones, polaco
|
polaco
|
privada sanitaria, vaso sanitario ou privada
|
retrete ou sanita
|
salva-vidas
ou
guarda-vidas
|
salva-vidas
ou
nadador-salvador
|
sanduiche
|
sandes ou sanduiche
|
secretaria eletronica
|
atendedor de chamadas
|
sorvete
|
gelado
|
sunga
ou
calcao de banho
|
calcoes de banho, calcao de banho
|
tcheco, checo
|
checo
|
tela
|
ecra (TV) ou monitor (computador)
|
(telefone) celular
|
telemovel
|
terno
|
fato
|
tiro de meta
|
pontape de baliza
|
torcida
|
claque
|
trem
|
comboio
|
violao
|
guitarra
|
zagueiro
|
defesa central
|
Os fonemas usados no portugues do Brasil sao, muitas vezes, diferentes dos usados no portugues europeu, ou seja, uma mesma palavra tem notacao fonetica diferente no Brasil da dos outros paises lusofonos. Existem varios dialetos dentro do portugues brasileiro e o europeu, entretanto, dentro de cada padrao, esses dialetos compartilham as mesmas peculiaridades basicas do ponto de vista fonetico. O portugues brasileiro utiliza 34 fonemas, sendo treze vogais, dezenove consoantes e duas semivogais.
|
Fonema *
|
Caracteristicas foneticas
|
Exemplos **
|
Vogais
|
/a/
|
Aberta, central, oral, nao arredondada.
|
a
tomo,
a
rte.
|
/?/
|
Semiaberta (dialetalmente semifechada possivel no Rio de Janeiro), central, oral (possivelmente nasal quando na silaba tonica antes de consoante nasal), nao arredondada.
|
p
a
no, r
a
mo, l
a
nho.
|
/??/
|
Semiaberta, central, nasal, nao arredondada.
|
an
tes,
am
plo, mac
a
,
am
bito,
an
sia.
|
/?/
|
Semiaberta, frontal, oral, nao arredondada.
|
m
e
trica, p
e
ca.
|
/e/
|
Semifechada, frontal, oral, nao arredondada
|
m
e
do, p
e
ssego.
|
/?/
|
Semifechada, frontal, nasal, nao arredondada
|
s
em
pre,
em
bolo, c
en
tro, conc
en
trico, t
em
, tam
bem
.**
|
/?/
|
semiaberta (dialetalmente aberta possivel no Rio de Janeiro), posterior, oral, arredondada
|
o
tima,
o
va.
|
/o/
|
Semifechada, posterior, oral, arredondada
|
r
o
lha, av
o
.
|
/o/
|
Semifechada, posterior, nasal, arredondada.
|
om
bro,
on
tem, c
om
puto, c
on
sul.
|
/i/
|
Fechada, frontal, oral, nao arredondada
|
i
tem, silv
i
cola.
|
/?/
|
Fechada, frontal, nasal, nao arredondada.
|
s
im
ples, s
im
bolo, t
in
ta, s
in
crono.
|
/u/
|
Fechada, posterior, oral, arredondada
|
u
va,
u
tero.
|
/?/
|
Fechada, posterior, nasal, arredondada.
|
alg
um
, pl
um
beo, n
un
ca, ren
un
cia, m
ui
to.
|
Consoantes
|
/m/
|
Nasal, sonora, bilabial
|
m
arca.
|
/n/
|
Nasal, sonora, alveolar
|
n
ervo.
|
/?/
~
/??/
|
Nasal sonora palatal ou Aproximante palatal nasalizada (varia com o falante)
|
arra
nh
ado.
|
/b/
|
Oral, oclusiva, bilabial, sonora
|
b
arco.
|
/p/
|
Oral, oclusiva, bilabial, surda
|
p
ato.
|
/d/
|
Oral, oclusiva, linguodental, sonora
|
d
ata.
|
/t/
|
Oral, oclusiva, linguodental, surda
|
t
elha.
|
/g/
|
Oral, oclusiva, velar, sonora
|
g
ato.
|
/k/
|
Oral, oclusiva, velar, surda
|
c
arro,
q
uanto.
|
/v/
|
Oral, fricativa, labiodental, sonora
|
v
ento.
|
/f/
|
Oral, fricativa, labiodental, surda
|
f
arelo.
|
/z/
|
Oral, fricativa, alveolar, sonora
|
z
ero, ca
s
a, e
x
alar.
|
/s/
|
Oral, fricativa, alveolar, surda
|
s
eta,
c
ebola, espe
ss
o, e
xc
esso, a
c
ucar, au
x
ilio, a
sc
eta.
|
/?/
|
Oral, fricativa, pos-alveolar, sonora
|
g
elo,
j
arro.
|
/?/
|
Oral, fricativa, pos-alveolar, surda
|
x
arope,
ch
uva.
|
/?/
|
Oral, vibrante, sonora, uvular. Inumeros
alofonos
pelo territorio nacional, costuma ter esta exata pronuncia apenas em Santa Catarina, no Parana, no Rio de Janeiro, no Espirito Santo e na Zona da Mata Mineira como resultado da maior influencia europeia na regiao.
|
r
ato, ca
rr
oca.
|
/?/
|
Oral, vibrante, sonora, alveolar
|
va
r
iacao.
|
/?/
|
Oral, lateral aproximante, sonora, palatal. Ausente no
dialeto caipira
e socioletos de baixo prestigio por todo o territorio nacional, possuindo como alofonos
/j/
e
/l/
em tais ambientes.
|
cava
lh
eiro.
|
/l/
|
Oral, lateral aproximante, sonora, alveolar
|
l
uz.
|
Semivogais
|
/j/
~
/??/
|
Oral, palatal, sonora
|
u
i
vo, m
ae
, ar
e
a, t
em
, tamb
em
, viv
em
.
|
/w/
~
/w?/
|
Oral, velar, sonora. Uso como
/?/
vocalizado possui como alofono
/?/
no dialeto caipira e
/?/
em certos regionalismos do dialeto gaucho, como o original do portugues europeu.
|
a
u
tomatico, move
l
, p
ao
, freq
u
ente, fal
am
.
|
Comparacao com portugues europeu
editar
Alguns autores sugerem que o portugues do Brasil seguiu as caracteristicas do portugues europeu do Centro-Sul.
[
28
]
No entanto, dados historicos provam que a grande maioria dos
imigrantes portugueses
que se instalaram no Brasil durante nao so o periodo colonial mas tambem no periodo pos-colonial eram oriundos das regioes Norte/Nordeste do pais, o que sugere que o portugues do Brasil podera ter uma grande influencia dos dialetos setentrionais de Portugal.
[
29
]
Alguns aspectos conservadores e inovadores da fonetica brasileira:
Na maior parte do Brasil, os -s e -z em final de palavra ou diante de consoante surda sao realizados como [s] (como em "atras" ou "uma vez") ou como [z] diante de consoante sonora ("desde"), em vez de [?] e [?] como em Portugal.
As
vogais
atonas permaneceram abertas, perpetuando "mais uma vez a pronuncia de Portugal antes das grandes mutacoes foneticas do
seculo XVIII
".
[
30
]
Por outro lado, certas inovacoes foneticas ocorridas no portugues europeu no
seculo XIX
foram ignoradas no Brasil: manteve-se a pronuncia [ej] em
ditongos
como do "ei" em "primeiro", versus a pronuncia [?j]; a pronuncia do "e" tonico como [e], versus [?], em palavras como "espelho" ou "vejo".
[
31
]
Entre outros, assinalam-se os seguintes:
Desaparicao da oposicao entre timbre aberto e fechado nas vogais tonicas
a
,
e
e
o
seguidas de consoante nasal (ex: "venia" vs. "venia", "Antonio" vs. "Antonio");
O mesmo fenomeno ocorre nas vogais das silabas pretonicas (ex: o primeiro "a" de cadeira, pronunciado /a/ no Brasil e /?/ em Portugal);
Vocalizacao do "l" velar, como em "animal", que em algumas regioes e pronunciado [??ni?maw].
[
32
]
Os fenomenos fonologicos do PB que nao ocorreram no PE ora sao apresentados pelos tupinologos como provas da influencia tupi, ora pelos africanistas como influencia das linguas dos escravos. Alguns autores, porem, contestam a tese de que esse tipo de influencia tenha sido determinante, preferindo interpretar tais mudancas foneticas como "desenvolvimento ou a realizacao de tendencias latentes, embrionarias ou incipientes na lingua-tronco",
[
33
]
porquanto tais fenomenos sao encontrados em outras linguas neolatinas:
- ensurdecimento e queda do
r
final: ocorre tambem em
frances
,
provencal
,
catalao
,
andaluz
, etc.;
- ieismo (e. g. *
mu
i
er
por
mu
lh
er
ou *
traba
i
o
por
traba
lh
o
): no frances, em espanhol, no galego, em Portugal, em dialetos crioulos portugueses;
- reducao de
nd
a
n
nos
gerundios
(e. g. *
anda
n
o
em vez de
anda
nd
o
): efetuou-se no catalao antigo, aragones, italiano centro-meridional;
- alguns casos de
epentese
(e. g., *
f
u
lo
por
flor
ou *
que
laro
por
claro
): aparece na evolucao do latim nas diversas linguas romanicas;
- terminacao verbal atona desnasalizada (e. g. *
amar
o
por
amar
am
): ocorre o mesmo em alguns falares do
Norte de Portugal
, como o do
Baixo Minho
;
- queda ou vocalizacao do
l
final (e. g. *
fina
w
em vez de
fina
l
): possivel de ouvir tambem em algumas zonas do
Alto Minho
, no
Norte de Portugal
, e da
Madeira
, em
Portugal Insular
.
Nota: o asterisco (*) marca as palavras ortograficamente incorretas
A nasalizacao e muito mais presente no portugues brasileiro que no europeu. Isso e especialmente perceptivel em vogais antes de /n/ ou /m/ seguidos de vogal; no PB, sao pronunciadas com tanta nasalizacao quanto as vogais foneticamente nasalizadas, enquanto no PE quase nao tem nasalizacao. Pelo mesmo motivo, vogais abertas (que nao ocorrem em nasalizacao no portugues em geral) nao ocorrem antes de /n/ ou /m/ no PB, mas ocorrem no PE. Isso pode afetar a escrita das palavras, sendo a explicacao para a maior parte das duplas grafias permitidas pelo
Acordo Ortografico
, como
harmonico
[???m?niku] e
harmonico
[a??moniku]. Um outro caso e a distincao que o PE faz entre
falamos
[f??l?mu?] e
falamos
[f??lamu?], enquanto os brasileiros pronunciam os dois tempos verbais como [fa?l??mus].
De acordo com muitos historiadores, entre eles os celebres
Teodoro Sampaio
,
Mario de Andrade
e
Roquette-Pinto
, a nasalacao da maior parte dos falares brasileiros e uma heranca tipicamente indigena.
[
34
]
Que as linguas autoctones desta parte das
Americas
, especialmente o
tupi
, eram muito nasais, e indiscutivel.
[
34
]
No livro
Aspectos da musica brasileira
, de Mario de Andrade, ha a seguinte citacao de Teodoro Sampaio:
(...) O vicio da nasalacao, herdado do indio, leva ainda hoje o brasileiro a fazer nasais sons que em
vocabulos portugueses
absolutamente nao o sao brasileira e um vicio que os indios exclusivamente nos herdaram.
Uma excecao importante e a maior cidade do pais,
Sao Paulo
, onde, supostamente pela influencia da forte imigracao italiana, a nasalizacao de vogais tonicas antes de consoante nasal nao ocorre. Dessa forma, a palavra
homens
e pronunciada em Sao Paulo com um /o/ oral, nao nasal, ao inves do /o/ nasal ouvido em grande parte do Brasil. Isso e tornado especialmente relevante pela condicao de Sao Paulo como grande centro da midia brasileira, sede das principais emissoras de televisao (a excecao da
Rede Globo
), o que faz com que essa pronuncia nao nasal seja ouvida em boa parte da programacao nacional de televisao e radio.
Um fenomeno relacionado ao ja descrito e uma divergencia de pronuncia da consoante representada por
nh
. No PE, a pronuncia e sempre [?], mas, em boa parte do Brasil, e realizada como a semivogal nasalizada [j?].
[
35
]
Exemplo: manhazinha [m??j???z?j??].
A reducao de vogais e uma caracteristica fonetica notavel da lingua portuguesa, mas sua intensidade e frequencia sao variaveis entre a variante europeia e a brasileira.
De forma geral, os brasileiros pronunciam as vogais de forma mais aberta que os portugueses, mesmo quando estao reduzindo-as.
[
36
]
Nas silabas seguintes a tonica, o PB geralmente pronuncia o O como [u], o A como [?] e o E como [i]. Alguns dialetos do PB seguem esse padrao tambem nas vogais anteriores a silaba tonica.
Em contraste, o PE pronuncia o A atono principalmente como [?], elide (nao pronuncia) algumas vogais atonas ou as reduz a uma vogal [?] (um som que nao existe no portugues do Brasil). Por exemplo, a palavra setembro e [se?t?b?u]/[s??t?b??] no Brasil mas [s(?)?t?b?u] em Portugal.
A principal diferenca entre os dialetos internos do Brasil e a presenca frequente ou nao de vogais abertas em silabas atonas. Em geral, os dialetos do
Sul
-
Sudeste
sempre pronunciam E e O atonos como [e] e [o], isso quando nao sao reduzidos a [i] e [u]. Nesse caso a pronuncia pode variar de palavra para palavra ou ate de falante para falante. Em contraste, nos sotaques do
Norte
e
Nordeste
ha muitas regras complexas, ainda nao muito estudadas, que determinam a pronuncia aberta de E e O em posicao atona em muitas palavras. Exemplo: “rebolar”, que se fala [hebo?la] no Sudeste e [h?b??la] no
Nordeste
.
Uma outra diferenca perceptivel, mesmo que pequena, entre os dialetos e a frequencia de nasalizacao das vogais antes de M e N. No Norte-Nordeste, sao nasalizadas quase sempre, enquanto no Sul-Sudeste podem permanecer nao nasalizadas se forem atonas. Um exemplo famoso e a pronuncia de
banana
. No Nordeste se fala [b???n??n?], enquanto no Sul a pronuncia e [ba?n??n?].
Palatalizacao de /di/ e /ti/
editar
Uma das tendencias mais notaveis do PB moderno e a
palatalizacao
de
/d/
e
/t/
na maioria das regioes; esses sons sao pronunciados como
[d?]
e
[t?]
(ou
[d?]
e
[t?]
), respectivamente, antes de
/i/
. A palavra
presidente
, por exemplo, se fala
[p?ezi?d?t?i]
nas regioes brasileiras em que esse fenomeno ocorre, mas
[p??zi?d?t(?)]
em Portugal.
Essa pronuncia deve ter comecado no
Rio de Janeiro
e ainda e frequentemente associada a essa cidade, mas atualmente e a norma em muitos outros estados e grandes cidades, como
Belo Horizonte
e
Salvador
. Recentemente, foi difundida para algumas regioes do estado de
Sao Paulo
(talvez pela imigracao), onde e comum para a maioria dos falantes abaixo de 40 anos, em media. Sempre foi a norma na comunidade japonesa do Brasil, por ser tambem uma caracteristica da
lingua japonesa
. As regioes que ainda preservam o
[ti]
e o
[di]
nao palatalizados se localizam principalmente no Nordeste e no Sul do pais, por conta da influencia maior do portugues europeu (no Nordeste) e do
italiano
e do
espanhol
(no caso do Sul).
Epentese em encontros consonantais
editar
O PB tende a desfazer
encontros consonantais
em que a primeira consoante nao seja
/r/
,
/l/
, ou
/s/
por meio da insercao da vogal
epentetica
/i/
, que tambem pode ser caracterizada, em certos contextos, como um
xeva
.
[
37
]
Esse fenomeno acontece predominantemente em posicao pretonica e com os encontros consonantais
ks
,
ps
,
bj
,
dj
,
dv
,
kt
,
bt
,
ft
,
mn
,
tm
e
dm
, isto e, encontros consonantais que nao sao comuns em portugues. Exemplo: "opcao":
[?p?s????]
>
[?pi?s????]
).
No entanto, algumas regioes brasileiras (como
Minas Gerais
e partes do Nordeste) apresentam uma tendencia oposta, de reduzir a vogal atona
[i]
em uma vogal muito fraca, o que faz com que
partes
ou
destratar
sejam frequentemente realizados como [pahts] e
[dst?a?ta]
. Esse fenomeno pode ocorrer ainda mais intensamente em vogais atonas pos-tonicas (exceto as finais), causando a reducao da palavra e a criacao de encontros consonantais:
pratica
>
prat'ca
;
maquina
>
maq'na
;
abobora
>
abobra
;
cocega
>
cosca
).
[
38
]
Supressao do R e vocalizacao do L
editar
Na maioria das regioes do Brasil,
[?]
(o som do digrafo RR) e enfraquecido a
[χ]
ou
[h]
, e o som representado pela letra R em fim de silaba (qualquer que seja esse som no dialeto em questao), quando esta no fim de verbos, costuma ser suprimido em contextos nao formais. Assim, matar e correr sao normalmente pronunciados como
[ma?ta]
e
[ko?he]
. Isto tambem e visto em PE, mas com menos frequencia.
[
39
]
Paralelamente, o som
/l/
em fim de silaba e pronunciado como
[u?]
em quase todos os dialetos do pais. Esses fenomenos, combinados com o fato de que
/n/
e
/m/
nao ocorrem em fim de silaba em portugues (sendo substituidos pela nasalizacao da vogal anterior), fazem com que o PB tenha uma fonologia que favorece fortemente silabas abertas. Na quase totalidade do
Brasil
, a letra 'r' possui fonologia de
[h]
, como exemplo a palavra "porta" fica pronunciada
['pohta]
. Os unicos locais em que isso nao ocorre e em
Sao Paulo
,
Parana
,
Santa Catarina
e
Rio Grande do Sul
, talvez por conta da grande imigracao portuguesa,
italiana
,
alema
e
eslava
.
Dialetos do portugues brasileiro
editar
A fala popular brasileira apresenta uma relativa unidade, apesar das dimensoes continentais do Brasil. A comparacao das variedades dialetais do portugues brasileiro com as do
portugues europeu
leva a conclusao de que aquelas representam em conjunto um sincretismo destas, ja que quase todos os tracos regionais ou do portugues padrao europeu que nao aparecem na lingua culta brasileira sao encontrados em algum dialeto do Brasil.
Ha pouca precisao na divisao dialetal brasileira. Alguns dialetos, como o
dialeto caipira
, ja foram estudados, estabelecidos e reconhecidos por linguistas tais como
Amadeu Amaral
. Contudo, ha poucos estudos a respeito da maioria dos demais dialetos, e atualmente aceita-se a classificacao proposta pelo
filologo
Antenor Nascentes
. Em entrevista ao jornal da UNICAMP,
[
24
]
o linguista
Ataliba Teixeira de Castilho
diz que o padrao do portugues paulista espalhou-se pelo Brasil. "Se voce olhar mapas que retratem os movimentos das bandeiras, das entradas e dos tropeiros, vera que os paulistas tomaram varias direcoes, para Minas e Goias, para o Mato Grosso, para os estados do sul. Tudo isso integrava a Capitania de Sao Paulo. Na direcao do Vale do Paraiba, eles levaram o portugues paulista ate
Macae
, no estado do
Rio de Janeiro
. Era paulista a lingua que se falava no Rio de Janeiro. Isso mudou em 1808, quando a populacao do Rio era de 14 mil habitantes e D. Joao VI chegou com sua Corte, cerca de 16 mil portugueses. Nao eram portugueses quaisquer. Eram portugueses da Corte. Seu prestigio fez com que imediatamente a lingua local fosse alterada.
A primeira celula mais marcante do portugues brasileiro surgiu em Minas Gerais com a exploracao de pedras preciosas, quando bandeirantes paulistas, escravos, indios e europeus criaram um jeito de pronunciar que se espalhou pelo pais atraves do comercio e outras formas. Os principais dialetos do portugues brasileiro sao:
- Baiano
? falado predominantemente na
Bahia
, mas utilizado em regioes de
Sergipe
e de
Minas Gerais
.
[
40
]
Possui duas variantes principais, que sao a soteropolitana-litoranea (mais ao leste, norte e oeste) e a catingueira (mais ao centro e sul);
[
41
]
- Brasiliense
? dialeto utilizado em
Brasilia
e em sua
area metropolitana
.
[
42
]
- Caipira
? falado na regiao que compreende o
interior de Sao Paulo
, sul de
Goias
, o extremo norte do
Parana
, parte do
Mato Grosso
e
Mato Grosso do Sul
, sul de
Minas Gerais
e
Triangulo Mineiro
;
[
40
]
- Costa Norte
ou cearenses ? falado basicamente no
Ceara
, no
Piaui
e em partes do
Maranhao
;
[
40
]
- Carioca
? proprio da cidade do
Rio de Janeiro
e sua
regiao metropolitana
;
[
40
]
- Florianopolitano
ou manezes ? e um dialeto, derivado do sulista e do gaucho e com caracteristicas do
dialeto acoriano
, utilizado na
Regiao Metropolitana de Florianopolis
e em regioes do litoral catarinense.
[
40
]
- Fluminense
ou sudestino (
ouvir
) ? dialeto usado principalmente no Espirito Santo, na regiao serrana e no norte do estado do Rio de Janeiro, com falantes no sudeste de Minas Gerais;
[
40
]
- Gaucho
ou guasca ? predominantemente no
Rio Grande do Sul
, contudo falado em regioes de
Santa Catarina
;
[
40
]
- Mineiro
ou montanhes ? utilizado principalmente nas regioes central e leste de
Minas Gerais
;
[
40
]
- Neutro
? geralmente usado nos
meios de comunicacao
em massa pelos seus profissionais, mas tambem usado em algumas regioes urbanas brasileiras e em cursos de portugues para estrangeiros;
[
43
]
[
44
]
- Nordestino
(
ouvir
) ? falado em boa parte dos interiores da
Regiao Nordeste do Brasil
,
[
40
]
como em
Pernambuco
,
Alagoas
,
Paraiba
,
Rio Grande do Norte
, parte de
Sergipe
, parte do
Piaui
, parte do
Maranhao
, sul do
Ceara
e norte da
Bahia
.
[
45
]
Possui diferencas linguisticas - subdialetos, sendo os tres principais: litoraneo, ou oriental, se estendendo desde
Aracaju
ate
Natal
; do interior, falado nas regioes do agreste e da caatinga; e dos cocais (ocidental), falado em partes do Piaui e do Maranhao;
- Nortista
? utilizado em todos os estados da
bacia do rio Amazonas
(excetuando-se somente a regiao do
arco do desflorestamento
).
[
40
]
Considera-se que tenha ate seis subdialetos: o cametaes, utilizado na regiao de
Cameta
e em algumas regioes da
Ilha do Marajo
; o bragantines, falado na
regiao de Braganca
; o metropolitano amazonico, falado nas capitais
Belem
e
Manaus
; e as tres zonas de contato fronteirico oiapoques,
[
46
]
roraimes
[
47
]
e
acreanes
.
[
nota 2
]
[
48
]
- Amazonico Ocidental
? utilizado na regiao
amazonica ocidental
extrema, nomeadamente:
Sudoeste Amazonense
, incluindo a regiao de
Boca do Acre
e em todo o Estado do
Acre
, que compartilham aspectos historicos-culturais importantes, como, uma vez pertencendo a
Confederacao Peru-Boliviana
, o Primeiro
Ciclo da Borracha
e o
Fuso Horario do Acre
, sociologicamente, e considerada uma regiao homogenea. Diferindo do dialeto nortista tradicional, no qual a realizacao fonetica do "s" sempre ha som de
ch
, na Amazonia Ocidental, somente havera o som de
ch
cuja palavras o "s" se encontre no meio da palavra, como exemplos;
costa
,
festa
ou
destino
, assim como aquela observada no
dialeto da costa norte
. Dentro do
Interior do Brasil
, e uma das poucas areas onde a realizacao fonetica do "r" se assemelha aquela observada no dialeto carioca (aberta), outros exemplos interioranos consoantes onde se observa este fenomeno:
dialeto brasiliense
e
dialeto belo-horizontino
.
[
49
]
- Paulistano
? utilizado basicamente na
Macrometropole de Sao Paulo
(com excecao dos municipios falantes do dialeto caipira);
[
40
]
- Recifense
ou mateiro ? utilizado na
Regiao Metropolitana do Recife
, e em areas proximas;
[
40
]
- Serra amazonica
[
50
]
ou do arco do desflorestamento ? utilizado no sul e leste da regiao Amazonica (nas regioes montanhosas, por isso Serra Amazonica): centro e sul de
Rondonia
, norte de Mato Grosso, oeste, centro e norte do
Tocantins
, sudoeste do
Maranhao
e sudeste do
Para
. Sao marcantes as diferencas entre o dialeto desta regiao e o da bacia amazonica;
- Sertanejo
? utilizado nos estados de
Goias
, sul de
Mato Grosso
, em parte do Tocantins, e em parte do
Mato Grosso do Sul
;
[
40
]
- Sulista
? utilizado em todo o
Parana
, com excecao da regiao norte, praticamente todo o estado de
Santa Catarina
e no sul do estado de
Sao Paulo
.
[
40
]
Diversos linguistas tem estudado os varios dialetos do portugues brasileiro e verificam que os dialetos individuais se podem agrupar em grupos maiores e estes, por sua vez, em dois grandes grupos - o do norte e o do sul. Na
Nova Gramatica do Portugues Contemporaneo
(1996) Celso Cunha e Lindley Cintra citam
Antenor Nascentes
sobre este assunto:
"De acordo com Antenor Nascentes e possivel distinguir dois grupos de dialectos brasileiros ? o do Norte e o do Sul -, tendo em conta dois tracos fundamentais:
a) abertura das vogais pretonicas, nos dialectos do Norte, em palavras que nao sejam diminutivos nem adverbios em mente: pegar por pegar, correr por correr;
b) o que ele chama um tanto impressionisticamente ≪cadencia≫ da fala: fala ≪cantada≫ no Norte, fala ≪descansada≫ no Sul.
A fronteira entre os dois grupos de dialectos passa por ≪uma zona que ocupa uma posicao mais ou menos equidistante dos extremos setentrional e meridional do pais. Esta zona se estende, mais ou menos, da foz do rio Mucuri, entre Espirito Santo e Bahia, ate a cidade de Mato Grosso, no Estado do mesmo nome.≫"
[
51
]
Assim, de acordo com as suas caracteristicas (maior ou menor semelhanca entre eles), os dialetos do portugues brasileiro acima mencionados podem ser agrupados do seguinte modo:
Grupos de Dialetos
[
45
]
[
52
]
[
53
]
[
54
]
- Norte
- Sul
- Dialetos Hibridos
Os dialetos das cidades de
Sao Paulo
e
Rio de Janeiro
sao os que tem maior exposicao nacional, devido a condicao de centro economico e midiatico das duas cidades. O dialeto paulistano e apontado como o mais prestigioso entre os brasileiros,
[
55
]
enquanto que o dialeto do Rio de Janeiro
[
56
]
e apontado com maior frequencia como possivel dialeto padrao brasileiro.
[
57
]
Desde a decada de 1960, o dialeto usado como padrao na midia e definido como sendo
neutro
, por carregar elementos comuns a maioria dos sotaques do Brasil.
[
43
]
[
44
]
Desde 1945, existiam duas normas ortograficas para o portugues: uma em vigor no Brasil e outra nos restantes paises lusofonos. A maior parte das diferencas diz respeito as consoantes "mudas", que haviam sido eliminadas da escrita no Brasil. Por exemplo, as palavras
acao
e
atual,
que em Portugal eram grafadas
accao
e
actual
, mas ditas como no PB.
Portugues europeu antes do Acordo Ortografico de 1990
|
Portugues brasileiro antes e depois do Acordo Ortografico de 1990
|
accao
|
acao
|
baptismo
|
batismo
|
contacto
|
contato ou contacto (menos usado)
|
contactar
|
contatar ou contactar (ainda comum em Norte e Nordeste)
|
direccao
|
direcao
|
electrico
|
eletrico
|
facto
|
fato ou facto (usado apenas como formalismo)
|
optimo
|
otimo
|
Com a implementacao do
Acordo Ortografico de 1990
, aprovado pela
Assembleia da Republica
portuguesa e assinado pelo
Presidente da Republica
a 21 de julho de 2008, a maioria das consoantes mudas foram tambem eliminadas da ortografia oficial do portugues europeu, restando apenas um numero pequeno de palavras que admitem ortografia dupla, geralmente quando a consoante e muda no portugues europeu, mas pronunciada no portugues brasileiro (por exemplo, em
recepcao
), ou vice-versa (por exemplo, em
facto
).
Ate a entrada em vigor do
Acordo Ortografico de 1990
, em janeiro de 2009, o
trema
era usado no portugues brasileiro para assinalar que a letra
u
nas combinacoes
que
,
qui
,
gue
e
gui
, normalmente muda, deve ser pronunciada. Exemplos:
sanguineo
(pronuncia-se
/sa?gwinju/
) e
consequencia
(pronuncia-se
/kose?kw?sja/
).
Com a entrada em vigor no novo
Acordo Ortografico da Lingua Portuguesa
a partir de 1º de janeiro de 2009 o trema deixou de ser usado, a nao ser em nomes proprios e seus derivados. Palavras como
linguica
,
sequestro
,
tranquilo
deixam de ter trema. No entanto, o
acento
continua a ser usado em palavras estrangeiras e seus derivados:
Muller
,
mulleriano
e
Bundchen
sao exemplos.
Ate 2012 no Brasil e ate 2014 em Portugal, vigorou um periodo de adaptacao, durante o qual tanto a antiga ortografia do
Formulario Ortografico de 1943
e da
Reforma Ortografica de 1911
respectivamente, como a nova do Acordo Ortografico de 1990 foram oficialmente aceitas como validas.
A ortografia do
portugues europeu
ja nao utilizava o trema, reservando-o para palavras derivadas de nomes estrangeiros, como
mulleriano
(do antroponimo
Muller
).
Devido a diferenca de pronuncia entre o portugues falado no Brasil e o falado em Portugal, as proparoxitonas que no Brasil recebem acento circunflexo, por terem a vogal tonica fechada, em Portugal recebem acento agudo, por terem a vogal tonica aberta. Observe:
Portugues europeu
|
Portugues brasileiro
|
comodo
|
comodo
|
fenomeno
|
fenomeno
|
tonico
|
tonico
|
genio
|
genio
|
Note-se que existem excecoes a esta regra, com palavras proparoxitonas a receberem acento circunflexo em ambas as normas:
femea
,
estomago
, etc. (Em algumas variantes de portugues europeu, particularmente no Norte de Portugal, a pronuncia de fato e
femea
e
estomago
, apesar da grafia.). A grafia dupla, entretanto, e permitida, embora nao recomendada para ocasioes em que se deve seguir aquela ou esta norma do pais em questao (como em concurso publicos)
[
58
]
Na
lingua portuguesa
, todas as
palavras
possuem uma
silaba tonica
: a que recebe a maior
inflexao de voz
. Nem todas, porem, sao marcadas pelo
acento grafico
. As
silabas
sao subdivididas em tonicas, subtonicas e atonas.
De acordo com as teorias tradicionais, o
acento
no portugues e abordado nos seguintes aspectos.
A
silaba tonica
e a mais forte da
palavra
. So existe uma
silaba tonica
em cada palavra.
- O guarana - A silaba tonica e a ultima (na). A palavra e, portanto,
oxitona
.
- O taxi - A silaba tonica e a penultima (ta). A palavra e, portanto,
paroxitona
.
- A propolis - A silaba tonica e a antepenultima (pro). A palavra e, portanto,
proparoxitona
.
A silaba tonica sempre se encontra em uma destas tres silabas: na ultima (a palavra e oxitona), na penultima (paroxitona) ou na antepenultima (proparoxitona).
A
silaba subtonica
so existe em
palavras
derivadas, que sao as que provem de outra palavra. Coincide com a tonica da
palavra primitiva
, ou seja, a silaba tonica da palavra primitiva se transforma em subtonica da derivada.
- Guaranazinho - A silaba tonica e zi, e a subtonica, na, pois era a
tonica da primitiva
(guarana).
- Taximetro - A silaba tonica e xi, e a subtonica, ta, pois era a tonica da primitiva (taxi).
- Propolina - A silaba tonica e li, e a subtonica, pro, pois era a tonica da primitiva (propolis).
Todas as outras silabas sao denominadas de
atonas
.
Teoria moderna do acento
editar
Ja as teorias modernas tem uma visao mais abrangente no que tange a questao do acento. De acordo com a teoria do acento, as palavras sao divididas em pes, nos quais ha um elemento preponderante, que recebe o nome de cabeca. Por exemplo, a palavra parafuso se divide em dois pes: (pa.ra)(fu.so). Cada pe possui seu cabeca, no caso, o cabeca do primeiro pe e PA e o do segundo, FU. Entretanto, o cabeca do segundo pe possui maior intensidade que o do primeiro, sendo o pico de intensidade da palavra. Assim, em vez da ideia de silabas tonicas e subtonicas, temos a nocao de acento primario (fu) e acento secundario (pa).
Um outro aspecto considerado sao os tipos de pes, como seguem:
- Troqueu silabico
- E um pe de duas silabas, com o cabeca a esquerda. E o caso da lingua portuguesa e bem representado em (pa.ra)(fu.so). O troqueu silabico e sensivel a intensidade.
- Troqueu moraico
- E um pe de duas moras, com o cabeca a esquerda. A mora e uma unidade de duracao da silaba. Por exemplo, uma silaba curta como pe possui uma mora, enquanto uma silaba longa como "feet" (pes, em ingles) possui duas moras. Feet e um exemplo de troqueu moraico. O troqueu moraico e sensivel ao peso (silabas com mais de uma mora sao chamadas silabas pesadas e aquelas que tem apenas uma mora, silabas leves).
- Iambo
- Todo iambo e sensivel ao peso. E composto ou por duas silabas leves ou uma silaba leve e uma pesada. A proeminencia, diferente do troqueu, recai sobre o elemento da direita. Exemplo de lingua iambica e o frances, como, por exemplo, na palavra analogie, que pode ser dividida nos pes (a.na)(lo.gie), sendo os elementos proeminentes NA e GIE, este ultimo o mais proeminente da palavra.
Esta teoria contraria a teoria tradicional em alguns aspectos. Um deles esta citado anteriormente sobre a silaba subtonica. Retomando o exemplo de guarana - guaranazinho, que, na teoria tradicional tem "na" como silaba subtonica e "zi" como tonica. Ja a teoria do acento afirma que nao pode haver choque de acentos. Ou seja, o acento secundario nunca e vizinho do acento primario. Isto foi constatado tambem em estudos da fonetica acustica. Se separarmos os pes troqueus, como e o caso do portugues, teremos dois pes bem formados e um pe degenerado (pe que nao segue a formacao esperada): (gua)(ra.na)(zi.nho). Pela estrutura acentual do portugues, a silaba proeminente em (ra.na) sera RA e em (zi.nho), ZI. Assim, temos, como acento secundario da palavra guaranazinho, a silaba RA e, como acento primario, a silaba ZI.
O portugues falado informal raramente usa o
adverbio
"sim". Geralmente, no lugar dele e preferido o verbo em questao, como no exemplo:
- ? Ce foi na prefeitura?
- ? Fui.
E comum se incluir a forma verbal "nao e" (ou sua contracao "ne") no fim de perguntas, com funcao de enfase. Por isso e comum responder a perguntas do tipo dizendo-se simplesmente "E". Isso revela uma tendencia no portugues brasileiro de responder nao a uma pergunta literal, mas ao que o interlocutor quis saber pela pergunta. Nao se deve pensar, no entanto, que nao existiria a hipotese de uma resposta como "Sim, fui."
E comum no Brasil fazer uma negacao dupla com "nao" no inicio e no fim da frase, como em "Nao e, nao". Em algumas regioes, o primeiro "nao" desse par, atono, e pronunciado como
num
[n?]. E tambem comum que se omita o primeiro "nao", o que resulta numa ordem de palavras para negacao inversa a prevalente em Portugal. Exemplo: "Vou, nao".
No portugues europeu, os
pronomes
demonstrativos tem tres formas, correspondentes ao grau de proximidade do falante (isto/isso/aquilo, este/esse/aquele). No portugues brasileiro, os pares "isto" e "isso" e "este" e "esse" sao com frequencia usados indiferentemente a norma coloquial (na culta, a regra e a mesma). Na forma falada, fundiram-se na segunda forma.
[
59
]
Talvez para desfazer a ambiguidade gerada por essa fusao, e comum que o pronome demonstrativo venha acompanhado de um adverbio que indique a proximidade (
esse aqui
/
esse ai
, substituindo
este
/
esse
).
Artigo definido antes do possessivo
editar
Em todas as variantes do portugues, e facultativo o uso de
artigo
definido antes de
pronome
possessivo:
o meu filho
e
meu filho
sao ambos corretos. No entanto, e dito que no Brasil, em comparacao a Portugal, ha uma preferencia maior pela ausencia do artigo.
[
60
]
Em algumas regioes do Brasil, o
pronome de tratamento
voce
ganhou estatuto de pronome pessoal, e nessas areas houve uma quase extincao do uso do
tu
e do
vos
. O
voce
em Portugal e uma forma de tratamento semiformal; ja no Brasil e a forma mais comum de se dirigir a qualquer pessoa, excetuando-se pessoas mais velhas ou, em situacoes formais, superiores hierarquicos ou autoridades (nesses casos e empregada a forma de tratamento
o senhor
ou a
senhora
).
Os pronomes
voce
e
voces
requerem formas verbais de terceira pessoa, o que reduz o numero de flexoes do verbo em relacao aos pronomes. Quanto menor e o numero de flexoes que o verbo faz em relacao aos pronomes, mais necessario se faz o preenchimento do sujeito pronominal, para se ter maior precisao. Isso torna o portugues brasileiro mais parecido com as linguas de pronome pessoal obrigatorio como o
frances
, o
alemao
e o
ingles
. Alem disso, o uso do "voce" torna ambiguo o pronome "seu", que pode se referir tanto a terceira pessoa como a segunda. Para desfazer a ambiguidade, intensificou-se o uso da contracao "dele". Na lingua falada informal, o pronome "seu" e usado unicamente para a segunda pessoa.
- Apesar do pouco uso do pronome reto
tu
no portugues falado na maior parte do Brasil, o seu correspondente pronome obliquo
te
ainda e amplamente utilizado no portugues brasileiro, frequentemente em combinacao com formas pronominais e verbais de terceira pessoa. Apesar de dominante mesmo entre falantes escolarizados, o uso de
te
com
voce
e condenado pelas gramaticas normativas usadas nas escolas brasileiras e e evitado na linguagem formal escrita.
- Na linguagem informal, mesmo nas regioes que usam o pronome voce, o modo imperativo do verbo concorda com o pronome tu ("Anda", em lugar de "Ande", mas "Nao anda" em vez de "Nao andes"). E interessante notar que, no caso dos verbos ser e estar, os imperativos de segunda pessoa
se
e
esta
nunca sao usados pelos brasileiros; as formas de terceira pessoa
seja
e
esteja
sao usadas em substituicao.
- O pronome possessivo
teu
tambem e ocasionalmente usado no portugues brasileiro para referir-se a segunda pessoa, embora seja muito menos comum do que o obliquo
te
. A combinacao
voce/te/teu
no portugues brasileiro falado assemelha-se em natureza a combinacao
voces/vos/vosso
encontrada frequentemente no portugues europeu coloquial.
- O
tu
e amplamente utilizado nas regioes
Norte
,
Nordeste
(excluindo Bahia e
Sergipe
),
Sul
e no
Rio de Janeiro
, mas conjugado frequentemente na 3ª pessoa do singular:
Tu fala
,
tu foi
,
tu e
, excetuando-se as formas em que a silaba tonica e a ultima, como
tu 'tas
. Em algumas regioes do Sul (sul, sudoeste e oeste do Parana, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e do Norte (Para), o uso do
tu
na forma culta (conjugado na 2ª pessoa do singular) e ate bem mais usado que o
voce
.
- Na maior parte da regiao Sul, do Norte e do Nordeste (excluindo a Bahia), o tratamento por
tu
e mais comum, usando-se os
pronomes pessoais obliquos
de forma mais consistente (p.ex.
para ti
, com o mesmo significado que teria
para voce
).
- Em parte da
Regiao Sul
(especialmente em
Santa Catarina
) e do Nordeste, muitas vezes conjuga-se o pronome pessoal
tu
com o que aparentemente seria a mesma forma utilizada na 3ª pessoa do singular do preterito imperfeito do subjuntivo para referir-se ao preterito perfeito do indicativo. Ex:
"Tu fizesse isso?", "tu comesse no bar ontem?"
. Na verdade, isto e a contracao da forma da segunda pessoa do preterito perfeito do indicativo:
fizeste → fizes'e; comeste → comes'e
, em que o "t" desaparece mas nao se altera o som precedente de /s/.
Uso dos pronomes pessoais e formas de tratamento
|
1.ª pess. sin.
|
Eu
|
falo
|
|
2.ª pess. sin.
|
Tu
|
falas
|
Brasil: informal em algumas regioes; nas outras, restrito a servico religioso e arcaismo historico
Portugal: informal
|
3.ª pess. sin.
|
Ele/Ela
Voce
O senhor/A senhora
A gente
|
fala
|
Voce no Brasil: informal e semiformal (por exemplo, no trato com um desconhecido); aparece tambem nas formas ce e oce, mesmo em situacoes semiformais
Voce em Portugal e algumas regioes brasileiras: semiformal
O senhor/A senhora: sempre formal
A gente: sempre informal
|
1.ª pess. pl.
|
Nos
|
falamos
|
|
2.ª pess. pl.
|
Vos
|
falais
|
Brasil: usa-se somente em formalidades, servico religioso e arcaismo historico.
Portugal: usa-se (pouco) nos dialetos setentrionais e galegos (tambem se usa muito formalmente, como no Brasil)
|
3.ª pess. pl.
|
Eles/Elas
Voces
Os senhores/As senhoras
|
falam
|
Voces: usado como plural tanto de "voce" como de "tu", em todo o espaco geografico do portugues
Os senhores/As senhoras: sempre formal
|
|
voce
(padrao)
|
voce
(coloquial)
|
tu
(padrao)
|
tu
(coloquial)
|
tu
(coloquial sulista)
|
Presente
indicativo
|
fala
|
falas
|
fala
|
Perfeito
indicativo
|
falou
|
falaste
|
falou
|
falaste,
falasse,
falou
|
Imperfeito
subjuntivo
|
falasse
|
falasses
|
falasse
|
Imperativo
positivo
|
fale
|
fala,
fale
|
fala
|
fala, fale
|
Imperativo
negativo
|
nao fale
|
nao fale,
nao fala
|
nao fales
|
nao fale, nao fala
|
Reflexivo
|
parece-se/
se parece
|
se parece
|
pareces-te/te pareces
|
se parece, te parece
|
Quando o pronome voce substituiu o tu no portugues brasileiro, sendo usado em situacoes informais, passou a ser usado com muito mais frequencia do que era antes. Isso acelerou seu processo historico de reducao (a partir de
vossa merce
), dando origem as formas
oce
e
ce
. Em Portugal, onde
voce
continuou a coexistir com
tu
, esse pronome de tratamento foi sempre usado com menos frequencia do que no Brasil. Alem disso, em Portugal e usado em situacoes mais formais, o que tambem atua contra sua reducao, da mesma maneira que o pronome formal
usted
em espanhol, que tambem nao tem reducao equivalente.
Oce
e registrado em Cabo Verde,
[
64
]
mas
ce
so ocorre no portugues brasileiro.
A forma ce e usada na lingua falada do Brasil como pronome fraco,
[
65
]
de maneira analoga ao pronome frances
tu
. Enquanto isso, as formas oce e voce exercem papel de pronomes fortes, de maneira analoga a
toi
em frances. Por isso,
ce
jamais e objeto de verbo e nao aparece em posicao de foco,
[
66
]
o que torna impossiveis construcoes como *"Queriam ce" em lugar de "Queriam oce/voce". A forma oce e associada aos dialetos
caipira
e
mineiro
.
A forma uce, outra das variantes, e encontrada principalmente no dialeto mineiro, e, como as formas "oce" e "voce", exerce tambem papel de pronome forte.
Ce e oce sao formas nao padrao e nao sao aceitas na lingua escrita, mas sao de uso corrente mesmo nos falares cultos.
[
65
]
A forma ce, em especial, e amplamente usada na televisao, sendo notavel na fala de personagens de telenovelas brasileiras.
Voceismo, Queismo e Gerundismo
editar
Alguns autores, mesmo brasileiros, relatam o que consideram vicios corriqueiros da sintaxe do portugues brasileiro, como o voceismo
[
67
]
[
68
]
(uso excessivo do pronome degenerado voce, advindo de vossa merce), queismo (uso excessivo do pronome relativo que como ligacao entre oracoes)
[
69
]
e gerundismo
[
70
]
(uso excessivo do gerundio como tempo verbal).
O
gerundismo
(abuso do gerundio) e fenomeno linguistico relativamente recente no Brasil.
[
70
]
Exemplos:
- Nos estaremos lhe enviando um fax com os detalhes.
- Nos vamos estar lhe enviando um fax com os detalhes.
O
voceismo
em detrimento de pronomes atonos, obliquos, sujeito oculto ou da segunda pessoa. Este parece ser um vicio das traducoes do You, segunda pessoa provinda do ingles, visto que muitos documentos traduzidos contem um excessivo uso deste pronome informal, como nas EULAS de softwares.
- Voce
pode trazer o chocolate que pedi para
voce
trazer e
voce
nao trouxe.
- "
Voce
podera adquirir Conteudo nos nossos Servicos gratuitamente ou por um valor, sendo cada um referido como uma “Transacao”. Cada Transacao constitui um contrato eletronico entre
voce
e a Apple, e/ou entre
voce
e a entidade fornecendo o Conteudo nos nossos Servicos. Contudo, caso
voce
seja um cliente da Apple Distribution International e
voce
adquira um App ou um livro, a Apple Distribution International e o comerciante registado; isto significa que
voce
adquire[...]
[
71
]
".
O
queismo
referente ao uso excessivo do pronome relativo que:
- “O reporter
que
gravou a materia sobre o candidato eleito,
que
desagradou o publico, tambem quer
que
haja recontagem dos votos”. Melhor seria: "O reporter, autor da materia sobre o candidato eleito rejeitado pelo publico, tambem quer a recontagem dos votos".
[
69
]
Ha no
Sudeste
e no
Sul
do Brasil uma tendencia de se omitir o uso dos pronomes reflexivos em alguns verbos, exemplo:
eu lembro
ao inves de
eu me lembro
, ou
eu deito
ao inves de
eu me deito.
Em particular, verbos que indicam movimento como
levantar-se
,
sentar-se
,
mudar-se
, ou
deitar-se
sao normalmente tratados como nao reflexivos na fala coloquial daquelas regioes. O uso da voz passiva analitica e tambem muito mais comum em PB do que em outras variantes como, por exemplo, dizer-se
a partida foi disputada
do que
disputou-se a partida
ou
se disputou a partida
.
A colocacao dos pronomes atonos e diferente na fala do Brasil e na de Portugal.
[
72
]
O PB e uma variante com forte tendencia
proclitica
, preferindo-se sempre o uso da
proclise
(pronome antes do verbo). A
enclise
(depois do verbo) e usada em formalidades e alternativamente em oracoes imperativas (como em "faca-me o favor"), e a
mesoclise
, possivel nos tempos simples do futuro, mui pouco utilizado na oralidade de ambos dialetos, com excecao de contextos liturgicos onde o portugues vernaculo, que privilegia essa colocacao pronominal, e adotado. O PE, por sua vez, apresenta-se como uma variante mais enclitica, sendo uma excecao habitual as frases na negativa.
- Exemplos
PB
|
PE
|
Eu o convido
|
Convido-o
|
Ele me viu
|
Ele viu-me
|
Eu te amo
|
Amo-te
|
Ele se encontra
|
Ele encontra-se
|
Me parece
|
Parece-me
|
Vou o encontrar
|
Vou encontra-lo
|
No PB falado, os pronomes obliquos 'o', 'a', 'os' e 'as' praticamente nao sao usados, sendo quase sempre substituidos pelos pronomes pessoais do caso reto ('ele', 'ela'…).
[
73
]
Entretanto, o uso dos pronomes obliquos e mais comum na fala culta quando eles se seguem a um infinitivo e sao transformados respectivamente em 'lo', 'la, 'los, 'las'. Na linguagem formal escrita, o uso dos obliquos de terceira pessoa e obrigatorio em qualquer caso.
Um aspecto conservador do PB em relacao ao PE e a dominancia da construcao
estar
+
gerundio
, em lugar da construcao
estar
+
a
+
infinitivo
, que se tornou dominante em Portugal. Nas variantes dialetais portuguesas a norte do rio Tejo, o gerundio perifrastico combinado com verbos como
estar
e
andar
, (que da ideia de acao durativa ou de movimento reiterado) tem vindo a ser substituido pelo infinitivo do verbo antecedido pela preposicao
a
(e. g.
estou a fazer
em vez de
estou fazendo
). No Brasil este fenomeno tambem existe, mas e mais raro e aplica-se a um numero mais reduzido de contextos gramaticais, em geral, para combater o vicio do gerundismo, muito condenado pelos falantes da norma culta.
Portugues brasileiro
|
Portugues europeu (a norte do Tejo)
|
Observacoes
|
Eu estou cantando
|
Eu estou a cantar
|
Este tipo de estrutura e tao usada que pode dar a ideia de que em Portugal nao se usa gerundio
|
A vida vai moldando a pessoa…
|
A vida vai moldando a pessoa…
|
Neste caso (verbo ir, expressando mudanca gradual), e sempre usado o gerundio em qualquer regiao
|
O governo continua defendendo…
|
O governo continua a defender…
|
Ha casos (como nos verbos
continuar
e
acabar
) em que no Brasil tambem se pode nao usar o gerundio
|
A partir de 10 reais!
|
Desde 10 euros!
|
Neste caso, o infinitivo vingou pelo uso disseminado
|
Muitas palavras, sem perderem o seu significado tradicional, enriqueceram-se com uma ou mais acepcoes novas no
Brasil
. Por exemplo,
virar
tambem significa
transformar-se em
e
prosa
e tambem utilizado com o sentido de
loquaz
,
conversador
ou
gabarola
.
[
74
]
De acordo com alguns linguistas brasileiros contemporaneos (Bortoni, Kato, Mattos e Silva, Milton M. Azevedo,
[
75
]
Perini
[
76
]
e, mais recentemente, e com grande impacto, Bagno), o portugues brasileiro seria uma lingua caracterizada pela
diglossia
. Essa teoria afirma que ha uma forma B, que seria a formula
vernacula
, lingua materna de todos os brasileiros, e uma forma A (portugues brasileiro padrao), adquirido atraves da escolarizacao. A forma B representa uma forma simplificada da lingua (em termos gramaticais, mas nao foneticos) que poderia ter-se desenvolvido do portugues do
seculo XVI
, com influencias amerindias e africanas, enquanto a forma A seria baseada no portugues europeu do
seculo XIX
(e muito parecida com o portugues europeu padrao, com diferencas pequenas de ortografia e gramatica).
Mario A. Perini
, linguista brasileiro, chega a comparar a profundidade das diferencas entre as formas A e B do portugues brasileiro com as das diferencas entre o espanhol padrao e o portugues padrao. No entanto, essa proposta e polemica e nao tem aceitacao ampla, nem entre gramaticos, nem entre academicos.
Segundo a teoria, a forma B seria a forma falada do portugues brasileiro, evitada somente em fala muito formal (interrogacao judicial, debate politico), enquanto a forma A seria a forma escrita da lingua, evitada somente em escrita informal (como em letras de musicas ou correspondencia intima). Mesmo professores de portugues usariam a forma B ao explicar a estrutura e uso da forma A; nas provas, entretanto, a forma A e exigida dos alunos.
A forma B seria a usada em cancoes, filmes, telenovelas e outros programas de teve, embora a forma A as vezes seja usada em filmes ou telenovelas historicos, para fazer a linguagem empregada parecer mais elegante ou arcaica.
Na maioria as obras literarias seriam escritas na forma A. Teria havido tentativas de escreve-las na forma B (como a obra ‘’
Macunaima
’’, de
Mario de Andrade
, ou ‘’
Grande Sertao: Veredas
”, de
Guimaraes Rosa
), mas e afirmado que no presente a forma B so e usada em dialogo. A forma A, nao obstante, e muito usada mesmo em dialogo informal, especialmente em obras traduzidas. A forma B e mais comum de ser encontrada em livros infantis, mas somente os escritos originalmente em portugues.
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portugues
e o
frances
. Sendo ambas
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Notas
- ↑
Como a preferencia, por parte de todos estratos sociais, pela enclise (me chamo) em favor da proclise (chamo-me) e outros tracos abordados em profundidade mais abaixo.
- ↑
a forma
acrianes
e preferivel, assim como variacoes da palavra "acriano"; no entanto, com lei estadual, apenas no estado do Acre "acreano" e permitido.