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Opiniao: Principe saudita corre risco de ser um paria na cupula do G20 - 29/11/2018 - UOL Noticias

Opiniao: Principe saudita corre risco de ser um paria na cupula do G20

23.out.2018 - Príncipe saudita, Mohammed bin Salman (à dir.), encontra membro da família do jornalista assassinado Jamal Khashoggi no palácio real, em Riad - AFP
23.out.2018 - Principe saudita, Mohammed bin Salman (a dir.), encontra membro da familia do jornalista assassinado Jamal Khashoggi no palacio real, em Riad Imagem: AFP

Tamer Fakahany*

29/11/2018 04h00

Na maioria das cupulas internacionais, a discordia e geralmente mostrada do lado de fora, quando os manifestantes entram em confronto com a policia a alguma distancia dos corredores do poder.

Mas e quando a questao espinhosa esta dentro da propria bolha?

Todos os olhos estarao voltados para o principe herdeiro da Arabia Saudita, Mohammed bin Salman, enquanto a cupula do Grupo dos 20 (G20) se inicia em Buenos Aires no final desta semana. O principe, que parou em varios paises arabes ao longo do caminho, aterrissou na Argentina na quarta-feira (28).

Em questao esta o assassinato do colunista do Washington Post Jamal Khashoggi e as alegacoes de que o principe ordenou sua morte dentro do consulado saudita em Istambul no mes passado. Havera lideres que nao querem ser pegos em uma situacao de sorriso ao lado do principe saudita.

E uma oportunidade de fotos que pode causar graves consequencias, ate nojo, e ter repercussoes concretas em casa ao parecer exonerar ou legitimar o homem que as agencias de inteligencia norte-americanas concluiram que ordenou o assassinato.

Isso nao sera um problema para o presidente americano, Donald Trump, que atraiu a ira bipartidaria no Congresso dos EUA por efetivamente dar ao principe um passe livre em nome de sua politica "America Primeiro", baseada nas reivindicacoes amplamente exageradas de Trump sobre os contratos e investimentos militares sauditas nos Estados Unidos.

Pode ser que Trump se esforce para abracar o lider saudita de fato enquanto outros se afastam, tratando-o como um paria.

Como tempero adicional, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que manteve a pressao internacional sobre a Arabia Saudita, tambem deve comparecer. O principe saudita pediu uma reuniao com Erdogan a margem da cupula, segundo Ancara.

A Arabia Saudita tambem esta sob crescente pressao sobre o Iemen, onde os esforcos para acabar com a guerra que o principe herdeiro instigou estao ganhando certa forca. Milhares de civis foram mortos em ataques aereos da coalizao liderada pela Arabia Saudita, e o grupo de ajuda Save the Children disse recentemente que cerca de 85 mil criancas com menos de cinco anos de idade podem ter morrido de fome ou doenca na guerra civil.

No entanto, nao foram os horrores do conflito no Iemen que provocaram indignacao em todo o mundo.

O que aconteceu com a morte de Khashoggi que provocou declaracoes de pessoas como o conservador e outrora infalivel amigo de Riad, o senador norte-americano Lindsey Graham, de que o principe herdeiro estava "desequilibrado"?

Em parte, foram as conexoes de Khashoggi com politicos e jornalistas ocidentais, que mantiveram a pressao, de acordo com a H.A. Hellyer, associado associado senior do Royal United Services Institute e do Atlantic Council.

“Tornou-se realmente dificil para os partidarios do principe darem uma boa olhada em algo como isto. Eu acho que e muito mais sobre isso, eles nao podem concordar com isso, nao tem como analisar uma saida ou explicar como sair disso", disse Hellyer.

Outros lideres mundiais com sangue nas maos receberam atencao indesejada em diferentes cupulas e, em alguns casos, ate foram expulsos.

O ditador da Siria, Bashar Assad, condenado em todo o mundo por massacrar seu proprio povo, foi suspenso da Liga Arabe.

O homem que transformou a guerra civil da Siria em favor de Assad, o presidente russo, Vladimir Putin, foi ele mesmo expulso do G8 apos a anexacao da Crimeia pela Russia em 2014, onde os problemas entre Russia e Ucrania estao se formando novamente nesta semana. Desde entao, Trump convocou Moscou para ser convidada de volta e os dois lideres realizaram sua propria cupula em Helsinque no inicio deste ano.

O principe Mohammed deve manter conversas bilaterais com Putin neste fim de semana no G20. Putin nao criticou a Arabia Saudita, nem o principe herdeiro, durante todo o desastre da morte de Khashoggi. Isso nao e surpresa, ja que o Reino Unido culpou diretamente a inteligencia militar de Moscou de um plano proprio no exterior: o envenenamento de um ex-espiao russo e sua filha na Inglaterra. A Russia nega qualquer envolvimento.

Depois, houve o ja morto lider libio, Muammar Gaddafi, que boicotou os encontros da Liga Arabe por causa de uma serie de guerras e ofensas.

E a Assembleia Geral das Nacoes Unidas, por decadas, hospedou lideres em sua sede na cidade de Nova York, que Washington considerou como inimigos. Houve protestos, mas o palco internacional deu a esses chefes de Estado uma plataforma chave.

O principe Mohammed precisa deste G20. Antes do rompimento do escandalo com Khashoggi, o principe herdeiro proclamava a Arabia Saudita como uma grande nacao reformista economica, geopolitica e aspirante. Embora o apoio da administracao Trump pareca ser inabalavel, outros estao revoltados. O projeto do principe Mohammed para modernizar a Arabia Saudita corre algum risco em termos de adesao internacional.

Ele seduziu o mundo dos negocios com promessas de uma oferta publica inicial para a estatal petrolifera estatal Saudi Arabian Oil Co., conhecida como Saudi Aramco, sugerindo que teria uma avaliacao de US$ 2 trilhoes. Mas a oferta foi adiada repetidamente.

Pouco depois do assassinato de Khashoggi, o principe herdeiro organizou uma conferencia internacional pre-planejada que foi grandiosamente anunciada como a "Davos no deserto". Mas isso foi em sua terra natal. Aqueles que compareceram o fizeram por dependencia economica ou por apoio regional dos aliados do Golfo Arabe. Outros permaneceram longe. Havia algumas empresas, investidores e banqueiros dos EUA na cupula, mas eles eram executivos de nivel medio e nao CEOs que conquistavam manchetes, muitos dos quais desistiram.

Talvez a incredulidade do principe herdeiro sobre a denuncia mundial e seu desejo de ser visto como um ator global, nao como um paria, seja a razao pela qual ele se arrisca a ser evitado e condenado ao ostracismo em Buenos Aires. E com Trump e Putin apoiando o reino, ele deve ser recebido de bracos abertos por dois dos mais poderosos jogadores do mundo.

* Tamer Fakahany e vice-diretor de coordenacao global de noticias da AP e ajudou a dirigir a cobertura internacional da organizacao por 15 anos.